O Teste – A Essência da Condição Humana escrita por KWriter


Capítulo 1
Capítulo 1 – Teste: Apresentação Conturbada


Notas iniciais do capítulo

Ele é algo basicamente Introdutório'



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O Teste

2033. Esse é o primeiro ano do Teste Educacional Mundial, os jovens com de 16 a 20 anos saem de seus países e se deslocam para o Brasil, o país onde o teste é feito. O Brasil é o país escolhido, pois com o fim do capitalismo e a ascendência do gerencialismo foi o país que mais evoluiu em educação, saúde e tecnologia.

Isso era o que dizia em um folheto que recebi quando adentrei o lugar onde eu iria fazer o meu exame há uns cinco minutos. Estou em uma antiga escola que mais parece uma prisão. Não estou longe de casa, isso é encorajador. Moro em Fortaleza, um lugar atalmente controlado pelas indústrias têxteis. E vim fazer a prova em São Paulo, a terra da garoa e da sustentabilidade.

Na viagem de avião para cá vim com as pessoas as quais iriam fazer o teste junto comigo. Quarenta adolescentes em um avião que rodara o mundo todo para pegar cada passageiro. Todos diferentes, culturas e fisionomias; ideais e valores. Eu fui o último a entrar, eu e uma garota forte, alta e de cabeça raspada que me lembrava de lutadores da época do meu pai.

Falando nisso, meu pai disse que o mundo mudou após a Grande Guerra de 2015. Boa parte da Terra se reduzira a cinzas. Culturas, países e nações foram extintas em segundos. Havia mais de 8 bilhões de pessoas, a maioria se mobilizou à essa matança que durou cerca de um mês. 500 milhões. Isso foi o que restara na Terra. 500 milhões de pessoas que até hoje choram a perda de seus entes queridos. Meu pai, como um covarde, não foi à guerra a qual foi convocado. Não tenho vergonha disso, mas a minha mãe foi uma entre tantas vítimas inocentes que morreram nesta guerra sem sentido.

–Ei Lucas... Trolho, não vai entrar para fazer o exame? – Um garoto com excesso de espinhas e olhos verdes penetrantes me olhava rindo com um nervosismo tão perceptível que eu diria que ele se drogou antes do Teste.

Estávamos, nós dois, à frente de uma mesa com um Fiscal sentado. Ele nos dirigiria para a sala de aplicação do Teste. Pisquei os olhos várias vezes para voltar à realidade. E assim voltei para o mundo chato e real.

–Oi, Baunder, não... vou no banheiro. Depois nos vemos lá dentro. Tchau.

Ele dá piscadas fortes e rápidas e depois fala novamente com o mesmo olhar drogado.

–Se não vier agora vai perder o lugar do meu lado...

Solto todo o ar que havia em meus pulmões e me viro indo para o local onde cartazes diziam onde seria o banheiro masculino. Os corredores estão lotados de pessoas para todos os lados. Pessoas que gritam uma com as outras; outros excessivamente arrumados que estão tendo uma crise de pânico; um grupo garotas conversando em um canto olhando para outro grupo de garotos conversando em outro canto que também olham para elas: patético.

Não acredito que o mundo é tão superficial assim.
Chego ao banheiro masculino e vou até as pias e lavo o meu rosto com a água fria, excessivamente, ansiando que aquilo jogasse os meus pensamentos para outro mundo.

Uma bolinha de papel molhado atinge a minha cabeça e instintivamente olho para trás, me arrependendo logo depois de olhar. Lily e Paul se comiam no banheiro, como sempre.

–Ei... Lucas... Trolho, não esquece... ahhh... guarda um canto... pra nós dois... –Paul falou.
–Mais rápido Paul! Mais rápido! – Lily soltava gritinhos entre respirações ofegantes.

Meus olhos queriam se fechar, mas eu não conseguia fechá-los. Só conseguir pronunciar uma única palavra e correr logo em seguida: –Okay!

Dou uma corrida curta tentando fugir daquele lugar para fazer aquelas imagens desaparecerem da minha mente: impossível. Não consigo acreditar que duas pessoas que se conheceram em menos de duas semanas possam fazer sexo uma com a outra. Eles me disseram que do voo para Holanda, que pegaram o Paul; para o voo para New York, que pegaram a Lily; foi amor à primeira vista. Sinceramente, não entendo e não acredito.

Quando mal percebo já estou de frente com a sala do exame novamente. Estou ofegante. Faltam quinze minutos para começar a aplicação do exame. Depois de alguns pulinhos de encorajamento... eu consigo entrar na sala.

É uma sala simples. Paredes pintadas de amarelo-claro, com uma lousa digital, antiga, e com quarenta cadeiras desconfortáveis. Ligeiramente normal para uma sala de Testes Educacionais.

A maioria das cadeiras já está ocupada, então me dirijo para o mais próximo que consigo de Baunder e da portuguesa Milena, minha paixão secreta. Sento meio de mau jeito, abaixo cabeça e deixo os meus pensamentos voarem mais uma vez.

Será que se eu fosse alto e bonito como o Paul a Milena me notaria? Não sei. Talvez se eu conseguisse dar um “oi” para ela sem gaguejar ela me daria uma chance... O que estou pensando? É impossível.

Aqui nessa sala há pessoas de todos os estilos e fisionomias... será que o teste não é só o tradicional teste escrito? Eu acho que ele começou desde que pus o meu pé naquele avião. Deve ter sido.

Pelo que entendi o teste tem uma duração de quatro horas. Isso é o suficiente para uma avaliação superficial, mas por que fazer nos conhecer tanto tempo antes? Isso não seria ruim: a maior afinidade entre os participantes? Não sei. Assim que eu puder eu interrogo o Fiscal.

Um burburinho se inicia na sala. Visualizo o relógio que está acima da lousa digital: faltam menos de dez minutos.

–Lucas. Lucas! Trolho me escuta! Tô muito tenso. Eu deixei a minha namorada na Suíça sozinha... será que ela tá me traindo com alguma mulher, de novo?

Olho para Baunder, que fala de assuntos tão pessoais e tão vergonhosos tão alto que me faz admirá-lo pela sua estúpida coragem.

–Trolho, se acalma. Se ela te trair de novo não vai ser com uma mulher...

O olhar dele se encheu de esperanças.

–Não? –Os olhos verdes se arregalaram mais uma vez.

Um silêncio adentrou a sala, a porta se abriu era o Fiscal. Em um sussurro respondi: –Não, vai ser com duas.

Milena que estava ao meu lado deixou escapar um sorrisinho modesto e singelo. Acho que estou apaixonado.

Então a porta se abre mais uma vez, mas dessa vez, em um som absurdo. Eram Paul e Lily, pareciam exaustos. Os macacões padronizados que nos deram, para fazermos o Teste, totalmente desregulados e mostrando algumas partes do corpo adolescente e apaixonado – todos os garotos usavam macacões pretos com linhas vermelhas nas laterais; E todas as garotas usavam macacões vermelhos com linhas pretas nas laterais. O casal discutiu com um garoto da Angola que era alto e forte, mas tão sereno que os deixou sentar um ao lado do outro para sentirem a presença e calor humano mutuamente. Algumas pessoas riram da ação de Paul e Lily. É, quem sabe, o amor à primeira vista talvez exista.

Concomitantemente, o Fiscal que estava com um terno impecável distribuía em cada mesa os Cadernos de Questões para o teste. Ele pede para que não os abramos antes de ele dar as instruções devidas. Todas as pessoas estão tensas, sem exceção. Ocorre um silêncio desconfortante até o Fiscal retomar a palavra.

–Todos vocês têm entre 16 e 20 anos. Foram trazidos a dedo para o 1º Teste Educacional Mundial – algumas pessoas deram urros. –Vocês já são campeões apenas por estarem aqui...

Houve um burburinho e risinhos histéricos que aumentaram na sala. Um garoto, com quem eu nunca havia conversado se levantou. Eu estou no meio da sala, ele se sentava no canto à minha direita. Ele era baixo, do meu mesmo tamanho, mas aparentava ser forte. Seus músculos saltavam no macacão.

–Sim, ótimo. Mas chega de baboseiras – o garoto tem sotaque alemão –Não dirá o que realmente veio dizer? Já deu o horário de fazermos o exame.

Ele sentou-se, novamente, na sua roda de amigos onde algumas garotas sorriam e o enviavam beijos de longe. Uns o chamavam de Chuck, ele mandava piscadelas para o seu grupinho de fãs. Aquilo me deu nojo. O Fiscal ficou o olhando sem ação.

–Garoto, logo logo o teste será aplicado. Se eu fosse você não estaria tão ansioso assim.

Chuck se encolhe em sua cadeira com os comentários do Fiscal. Soltei um longo sorriso, internamente.

–Vou explicar coisas sobre o Teste que vocês só poderiam saber agora e se o tempo acabar e vocês não souberem de tudo será pior para vocês.

Levanto a cabeça: faltam dois minutos e diminuindo.

–Este teste é um teste de média duração, que foi desenvolvido para evitar nos nossos adultos futuros, vocês, certa desordem que sempre ocorreu na transição de geração para geração. Eu o chamaria de Teste de Aptidão Moral. Ele avalia o quão humano cada um de vocês...

A garota forte e alta de cabeça raspada se levanta da cadeira a impulsionando para trás com rapidez.

–Não vou mais fazer este Teste! Que droga de Teste de Aptidão... Sei lá o quê! Vou embora! Quem quiser ir também...

Ela anda pisando com força, os passos sendo ressoados no chão de granito. Quando ela chega à porta e tenta a abrir, não consegue. Ela empurra, bate com o ombro... parece que o tempo parou com a gravidade da tensão. Algumas pessoas se levantaram de suas cadeiras. Chuck olhava para seus amigos em busca de ação, nada. Nada.

Até que a porta se abre sozinha. Sem tempo para reação da garota alta e forte um Fiscal adentra a sala com uma pilha de papeis que esvoaçam atrás dele.

Eu não entendo o que acontece direito a seguir, acho que a minha mente começa a me pregar peças. O corpo do novo fiscal parece que é um tipo de holograma, ou um tipo de fantasma. Ele muda e remonta a sua forma à medida que cada garoto e garota põem os olhos em cima dele.

O Fiscal estranho para ao lado do Fiscal que estava ditando sobre o Teste. Olho para o relógio acima da cabeça dos Fiscais: Cinco, quatro...

–Que o Teste...

O Fiscal que ditava sobre o Teste tocou no outro Fiscal e ele se desfez em um jogo de pixels e luzes. Papeis voaram por longo de toda a sala. O Fiscal ficou paralisado por um ou dois segundos, assim como toda a sala, e se recompôs gritando:

COMECE!

A sua forma não era mais a mesma... ao mesmo tempo as paredes e chão piscavam... nada parecia fazer o menor sentido. A cabeça do Fiscal crescia e crescia até ficar do tamanho de uma bola de basquete e redonda como tal. Os dentes ficaram pontudos como os de um tubarão. Ele soltou uma risada exacerbada. Os braços se alongaram e os membros ficaram finos. Os dedos alongados e a mão fina lembrava a mão de um sapo. Seu corpo começou a ter uma tonalidade verde clara e ele não tinha mais um nariz. Tudo isso ocorreu em questão de segundos.

Mas a minha atenção estava voltada à sala. As paredes começavam a se tornar de metal. Um metal negro como o de um submarino. O chão começou a ficar da mesma forma. A lousa digital era como uma longa janela de vidro e mostrava uma tarde de verão na cidade de São Paulo. A única coisa que não mudou foi o relógio digital acima dela. O relógio marcava: meio-dia e um minuto.

O Teste REALMENTE começara. Senti calafrios das pontas dos dedos dos pés à ponta dos cabelos.


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Notas finais do capítulo

Esperem por mais atualizações :D



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