Crossbreed escrita por LGustavo, maralice-chan


Capítulo 3
A caminho de casa


Notas iniciais do capítulo

Dark não sabe nada sobre o que o espera no lugar para onde está indo. Ele também não sabe nada sobre o vampiro que o conduz. Tudo parece ter sido decidido sem perguntarem nada a ele, mas talvez haja uma maneira de fugir ao seu destino...



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I

Ainda era noite quando Dark se deu conta de que acabara de sair de Campbell. Finalmente estava deixando aquele distrito, mas isso não lhe trazia a satisfação que imaginara que sentiria quando finalmente acontecesse. O vampiro a sua frente não falava nada, apenas lhe chamava a atenção quando Dark diminuía o ritmo. Não que o garoto desejasse uma conversa com o vampiro. Não. Depois do que aconteceu na casa de Marvollo, tudo o que ele queria era uma oportunidade para esmagar o crânio dele. Porém, mesmo um vampiro recém despertado como ele, sabia que havia uma enorme diferença de forças entre ele e seu algoz. Não podia pensar no vampiro de outra maneira.

— Falta pouco mais de uma hora para o amanhecer.  — O vampiro disse olhando para o céu que já começava a clarear. — Temos que encontrar um lugar para passar o dia.

— Tem medo do sol? — Dark debochou.

— É, eu tenho. — o vampiro disse encarando-o com impaciência. — E você também tem. É um vampiro agora, lembra?

Dark virou o rosto como se ao deixar de encarar o vampiro a sua frente, pudesse se esquecer de que agora era como ele.

— Vamos! — o vampiro chamou. — Tem uma mina ali.

Os dois seguiram em silêncio até a mina. Assim que entraram, o vampiro bloqueou a entrada com pedaços de madeira e guiou Dark até o fundo.

— É uma mina abandonada. — ele explicou. — Ficaremos seguros até o anoitecer.

O vampiro agachou-se encostando-se contra a parede e fechou os olhos, pronto para dormir. Dark ficou parado olhando para ele.

— Ei! — chamou — Ei!

— Não me chame de “ei”! — o vampiro disse sem abrir os olhos. — Meu nome é Raven.

— Ei, Raven! Quando chegaremos na sua casa?

— Á nossa casa. — o vampiro abriu os olhos com mau humor. — Você é da família agora. É nossa casa. Chegaremos lá na metade da noite.

— E como é lá? — Dark perguntou meio sem jeito.

— Você verá. — Raven disse baixinho, depois tornou a fechar os olhos e não os abriu mais.

Dark agachou-se ao lado de Raven, mas não muito perto.Estava cansado e faminto, contudo o que mais o incomodava era a dor de saber que jamais teria a chance de ser a pessoa que sonhara. Jamais seria humano de novo, se é que algum dia havia sido, e os filhos de Marvollo jamais o perdoariam.

Os olhos lacrimosos de Giovanna não saiam de seus pensamentos. Ela nunca o perdoaria. Enrico também não. Os dois haviam sido seus únicos amigos. Não. eles haviam sido mais que isso. Eles e Marvollo haviam sido a família que Dark nunca tivera, mas sempre desejara. Agora tudo estava perdido. Não havia, de fato, uma razão para Dark continuar vivo. Perdera tudo. Tudo...

Era isso! Dark se levantou num pulo. Depois olhou receoso para Raven que dormia ao seu lado. O vampiro não se movia. Parecia sem vida como uma estátua de cera. Aliviado, o garoto dirigiu-se sorrateiramente até a entrada da mina e rapidamente liberou-a. Do lado de fora o sol começava a espalhar seus raios por sobre os morros em torno da mina. Dark olhou para trás, as trevas o aguardavam, todavia a luz libertadora do sol o convidava.

Sem pensar na dor ou no que o aguardava depois, Dark saiu da mina e parou de braços abertos esperando ansioso que o sol saísse completamente por detrás dos morros e lhe estendesse seus braços luminosos.

II

Raven não era do tipo que dormia o dia todo. Ao contrário da maior parte de sua família que só abria os olhos quando o sol recolhia suas últimas mechas de luz, Raven costumava acordar ainda á tardinha. Gostava de observar o lento crepúsculo de seu abrigo para só então sair para caçar.

Quando abriu os olhos, Raven não notou nada demais. Estava seguro no escuro fundo da mina. Todavia, o fundo não parecia mais tão escuro assim. Ele olhou para os lados como se buscasse algo, mas não se lembrava exatamente de que. Até que notou que sua solidão na ida era o habitual, mas na volta era simplesmente o fracasso.

— Dark!? — Levantou-se de um pulo vasculhando a mina com seus olhos vermelhos. Seu olhar se deteve em direção a entrada clara demais para sua segurança e logo ele entendeu.

Raven cerrou os dentes e rosnou baixo, enraivecido. Outro fracasso. Detestava fracassar. Um buscador experiente e competente como ele não fracassava mais do que uma vez. E eis que esse era seu segundo fracasso. Como explicaria aquilo ao pai e à mãe?

Praguejando em silêncio e enumerando mentalmente as dicas que perdera de que o garoto era um suicida, Raven se dirigiu à entrada da mina. O sol ainda banhava a relva curta que crescia ali. No meio dela de joelhos no chão, braços abertos e cabeça jogada para trás, estava ele. Raven arregalou os olhos. O jovem vampiro não estava morto ou sequer queimado. Apenas um leve bronzeado se via em sua pele descoberta.

Raven parou no batente da entrada, onde o sol não alcançava, e olhou aturdido para o vampiro recém despertado. Dark pareceu notar seus movimentos e abriu os olhos.

— Por que não me disse? — Era uma acusação. — Por que não disse que ainda não posso morrer pela luz do sol?

Raven guardou silêncio. Nenhum recém despertado resistira à luz do sol por menor que fosse a quantidade de sangue ingerida na primeira refeição. Não era para Dark estar ali de braços abertos sob o sol e ainda vivo.

— O que é você? — Raven perguntou baixinho.

O cheiro era claramente o de um mestiço, embora houvesse umas notas diferentes que Raven não sabia identificar. Talvez o pai do menino fosse um dos caçadores. Isso explicaria. Isso explicaria, não era…?

— Vamos! — Raven chamou quando o sol se recolheu por completo.

III

Dark estava cabisbaixo e pensativo. Fora difícil decidir a morte e, ainda assim, ela não viera. Por quê? Raven não explicava nada, apenas insistia em que ele continuasse andando. Normalmente Dark teria exigido uma explicação, mas ele estava tão infeliz e tão deprimido que, na verdade, não queria mesmo muita conversa.

— Chegamos. — Raven anunciou.

O garoto levantou os olhos para o que parecia ser a sede de uma grande fazenda do Estado da Virgínia. A casa de três patamares era branca e possuía a arquitetura típica da época colonial. Ao redor estendia-se uma imensidão de terras cultivadas e um grande bosque aos fundos da casa.

— Você mora em uma fazenda? — Dark perguntou meio surpreso.

— Nós moramos. — Raven disse apontando para si e Dark. — Mas lembre-se: as aparências enganam.

E enganavam mesmo. Assim que se aproximaram da entrada da fazenda, Dark notou que ali não era uma fazenda qualquer. A fazenda parecia mais uma base militar, ou um presídio. Havia muros altos com arame farpado, câmeras de segurança e soldados armados em guaritas altas. A portaria possuía vidros escuros á prova de balas, câmeras e sistema de identificação por reconhecimento óptico. Assim que Raven se postou diante da câmera para o reconhecimento, Dark teve certeza de que o lugar não era o lar que o vampiro descrevera brevemente durante a viagem. Raven sempre falara daquele lugar como uma casa familiar, um lar. Mas ali era tudo, menos aquilo.

Quando o portão de chapas pesadas escorregou para o lado, dando passagem para os recém chegados, Dark se viu recepcionado por cinco homens vestidos de preto, coletes à prova de balas, capacete de choque e pesadas armas de fogo empunhadas. Na cintura, eles traziam longas espadas embainhadas.

— Seja bem vindo, irmão. — Dark ouviu uma voz baixa e estranhamente melodiosa vindo de trás dos soldados. Os mesmo afastaram-se abrindo caminho para uma mulher esguia de pele negra, porém pálida, que vinha calmamente em direção aos recém chegados com as mãos atrás das costas. Ao contrário dos soldados, ela não trazia nenhum aparato militar fora a espada pendurada displicentemente na cintura fina coberta por tecidos leves que formavam uma estranha combinação de cardigã e um traje oriental. Seus pézinhos vinham enfiados em meias de algodão e chinelos baixos. — Vejo que não falhou em sua missão. E aqui está ele… — Seus olhos meio prateados se fixaram em Dark.— Nosso novo irmãozinho…

— O nome dele é Dark. — Raven informou com um tom que, para Dark,  pareceu meio desafiador.

— Mas que nome apropriado…! — Ela deu um meio sorriso zombeteiro. — Ela sempre foi tão espirituosa…

— Ela quem? — Dark perguntou.

— Sua mãe. — Ela disse com falsa meiguice. — Certamente o Raven lhe contou sobre ela…?

— Achei melhor o pai contar. — Raven disse com amargura.

— E por que ele se daria ao trabalho? — a meiguice exagerada na voz da mulher fazia com que Dark tivesse a impressão de que ela estava constantemente debochando de Raven e dele também. — Eu conto, meu docinho. — Ela disse olhando nos olhos de Dark.

— Você não. — Raven se adiantou e pôs-se entre ela e Dark. — Qualquer um, menos você, Azalee.

— Qualquer um mesmo..? — Ela sorriu em triunfo. — Até Pietro?

Dark viu Raven arreganhar os dentes num rosnado baixo que pareceu sair bem do fundo de sua garganta.

— Até ele seria melhor. — rosnou.

— Se você diz… — Ela deu de ombros e afastou-se. — Deixem nossos irmãos entrarem e se acomodarem. — disse aos soldados por cima dos ombros. — aproveitem que esta noite está tranquila. — ela virou-se para eles brevemente e sorriu. — Amanhã poderá ser bem diferente…

Raven novamente rosnou baixo enquanto a assistia se afastar.

— Vamos, Dark. — ele disse seguindo em frente. — Vou arrumar um lugar para você ficar.

IV

Dark não chegou nem perto da grande construção colonial que avistou de longe. Raven o levou para uma construção baixa no meio do bosque. O lugar mais parecia um pavilhão de presídio com suas alas e corredores com celas de ambos os lados. Raven levou Dark para uma pequena cela no final do corredor. As outras celas pareciam vazias, mas Dark não chegou a ver muito, pois as portas eram de chapas grossas com pequenas aberturas no alto com vidros e grades.

— Achei que você estava me trazendo para uma casa, não para um presídio… — Dark alfinetou.

— Encare esse lugar como um berçário. — Raven disse sem se abalar. — Quando aprender andar e falar, poderá ir para casa para ficar com as crianças maiores.

— Com papai e mamãe…? — Dark debochou.

— Isso mesmo. Com papai e mamãe. — Raven abriu um estreito armário que mais parecia um armário de vassouras. — Aqui você tem três pares de uniforme, tem botas, roupas de baixo e toalha.

— Uniforme? — Dark balançou a cabeça consternado — Olha cara, você pode até chamar isso aqui de casa, mas cada minuto que passa, percebo mais que estou numa prisão.

— Prisão não. — Raven suspirou. — Um exército. O exército da nossa família.

— Um exército…? Você vai me explicar o que está acontecendo aqui? E o que aquela Azalee estava falando? O que tem minha mãe?

Raven o encarou por um tempo, então sentou-se na ponta da cama estreita. Dark sentou-se ao seu lado.

— Tudo começou há muito tempo….

 


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Notas finais do capítulo

A história de Dark finalmente é revelada, mas isso não explica por que ele é tão diferente dos outros mestiços.



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