Não se apaixone por um idiota escrita por Lua Barreiro


Capítulo 9
Paquitona


Notas iniciais do capítulo

Vocês são tão lindos com estes comentários gatosos



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— Você é tão linda. — Ele falou ainda segurando a minha cintura fortemente.

Tudo é extremamente estranho, eu nunca imaginei que isso poderia acontecer. Só nos meus planos estúpidos de adolescência, que foram se quebrando e transformando-se em ódio aos poucos. Mas, desde o jardim até a lagoa, o ódio passou a se quebrar e novamente se transformar em outro sentimento, desta vez algo completamente desconhecido. Agora estamos aqui completamente conectados por este algo. Para ele pode ser que tudo isto não passe de um objetivo idiota de me conquistar e reconstruir seu ego patético.

Eu deveria não deveria me render.

Mas me rendi.

Eu não resisto a Philips Mackenzie.

Eu estou apaixonada por ele.

Felizmente eu posso controlar esse sentimento palermo e distinguir o fato de que ele não está apaixonado por mim, eu não seria panaca o suficiente para me entregar e ser apedrejada por um garoto tão arrogante quanto ele.

Panaca, uma gíria realmente jovial, demasiadamente utilizada no século vinte e um. Mas que eu posso utilizar, afinal eu sou uma paquitona.

Santo deus, eu estou conversando com o meu subconsciente de novo. Preciso que psicólogos venham me buscar e me tranquem em um manicômio.

— Obrigada. —Agradeci enquanto tirava sutilmente suas mãos do meu corpo.

Meu rosto poderia ser facilmente comparado a de um uacari. Minha respiração também estava falhando e os pelos dos meus braços encontravam-se todos arrepiados.

— O que foi? — Segurou meu braço direito.

— Eu (...)— Pausei— Eu já vou.

— Por quê?

— Não sei, só quero ir embora. — Sou uma grande mestra em dar motivos para me livrar de algo. Não é necessário agradecimento e nem prêmios por minha atuação.

— O.K. — Sussurrou.

Peguei minhas roupas que estavam jogadas no chão e me vesti, ele fez o mesmo. Desmontou a toalha que havia colocado com alguns aperitivos e fomos para o carro. A noite já estava quase no fim, mal havíamos percebido o tempo passar. Com o pesar de a noite estar muito gélida ele me ofereceu a sua jaqueta e eu não fiz a mínima questão de recusar já que meus lábios estavam extremamente roxos.

— Eu não te entendo. — Afirmei.

— Não é necessário, você não precisa entender as pessoas. Precisa apenas lidar com elas.

— Mas, como vou lidar se eu não entendo.

— Viva o momento.

Revirei os olhos.

—Você sempre tem uma frase de efeito assustadoramente brega para usar?

Eu já tentei terminar discussões com frases de efeito, mas digamos que também não sou boa nisso. Na verdade, eu não poderia nem usar a palavra boa nesta frase.

Um dos exemplos disto foi minha discussão com Beatriz Willians na segunda série:

— Você é feia, sua mãe é feia. Sua família é boboca. — Ela falou enquanto sapateava encima dos meus cadernos.

— A família que é boboca por último, é boboca melhor.

Foi nesse momento que eu virei a minha cara e sai pisando forte, como se tivesse acabado de destruir todos os sentimentos e memórias boas daquela garota e minha missão tivesse sido cumprida com muita honra. Mas, na realidade todos meus antigos amiguinhos só estavam rindo da minha cara de leitão.

Eu era uma criança colossalmente gorda.

— Comprei uma revistinha de frases de efeito.

— Sério?

— Não. — Semicerrou os olhos.

— Tá. — Fiz o mesmo.

A partir daí ficamos nos encarando com os olhos semicerrados até ele quase raspar o carro no meio fio. Então paramos e fomos em silêncio até a minha casa, me despedi com um simples aceno de mão e ele correspondeu.

Segui com o mesmo trajeto de sempre: Pegar comida e subir para o meu quarto, sem cumprimentar nenhum dos amigos da minha mãe.

E como de costume ninguém liga para a minha falta de educação.

Joguei-me na cama sem ao menos me apresentar para o chuveiro, meus olhos se fechavam gradativamente até eu finalmente dormir. O dia amanheceu escuro, significando que provavelmente o céu iria desabar mais tarde.

Vesti calças de sarja e uma bota, juntamente com o meu moletom preto. Prendi meus cabelos em um único rabo e desci rapidamente. Quando estava abrindo a porta para ir até o escopeta, fui milagrosamente interrompida pela minha mãe.

Nós não nos falamos a várias semanas, é como se eu nem tivesse ficado em seu útero por nove meses de sua vida.

— Eu te amo.

Eu não respondi, apenas fechei a porta e saí. Deixava-me nervosa tomar atitudes deste tipo, mas eu não me sinto mais à vontade dizendo que a amo. É como se eu estivesse me declarando a um completo estranho.

Então corri até o carro e tentei ligar o motor de forma excessivamente agressiva, ele até ligou mas no frio o escopeta fica mais lerdo que de costume e o costume é que ele seja completamente lerdo.

Isso faz com que hoje ele esteja imóvel.

Acho que terei que desaposentar o meu triciclo da barbie novamente.

Em plena tempestade.

Estacionei meu veículo brilhante e rosa no meio de todos os outros carros sem graça, por que a vida não tem sentido se você não tiver um automóvel de uma legitima Drag Queen. Entrei apressadamente, já que eu não gosto de me atrasar. Não que eu me importe com a matéria, eu só não gosto que os outros fiquem me encarando enquanto eu ando igual um boneco inflável.

Cheguei a tempo, porém o único lugar que restava era ao lado de Miles, aquela peituda mais burra que uma marmota.

Sentei-me tentando ignorar o fato de que eu estava abancando ao lado de uma vadia. Ela também parecia me ignorar passando aquele maldito-batom-cheira-a-morango-gostoso. Coloquei meus fones enquanto o professor estava de costas para os alunos, assim ele não poderia enxergar meu ato criminoso.

Continuamos o dia normalmente, ninguém falava comigo e eu não falava com ninguém. Todos faziam campanhas para se autopromover a rainha/rei do baile de outono. Eu apenas observava e organizava aos cenários mais simples, o meu talento artístico não é algo que se preze.

O período terminou sem nenhuma novidade, sem nenhuma conversa. Tudo voltou ao normal, todos me ignoravam. Principalmente o Mackenzie.

Isso seria um pivô para que eu sentisse raiva dele, mas eu não consigo. O fato dele me fazer se apaixonar por ele e depois simplesmente me ignorar é tão estupido.

Philips Mackenzie você é um idiota e eu poderia gritar isso para o mundo sem nenhum problema.

Voltei para a casa com a minha bicicleta, dessa vez sem jardim, sem lagoa. Com o tamanho esforço pude sentir que a parte de baixo do meu braço estava endurecida. Desci da bicicleta e continuei o percurso a pé.

Meu condicionamento físico está um lixo.


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Notas finais do capítulo

51 FOCKIN COMENTÁRIO, SEUS CARALHUDOS. MUITO OBRIGADA PORRAAA ♥ ♥ ♥