The G-files - depois do Filme escrita por giveluvbadname


Capítulo 2
Quando o estranho encontra o esquisito




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ATENAS, GRÉCIA
08:41AM

Scully tentou despertar o parceiro, em vão. Teria ficado preocupada se ele não parecesse estar tão bem debaixo daquelas cobertas. Ela mesma estava morta de calor. Pensou no risco de sair daquela cama e explorar o local, afinal, nem fazia idéia de onde estava. Arriscaria, então. Levantou-se cuidadosamente, e saiu do quarto, não sem antes reparar no quanto eram bonitas aquelas paredes e aquele teto. O morador com certeza era alguém de muito bom gosto.

Mu estava de pé há bastante tempo. Na verdade, não chegou realmente a dormir. Tinha mesmo ficado "fresco demais para um tibetano", como dizia seu amigo do templo acima. Não conseguiu de jeito nenhum achar uma boa posição para dormir naquele futton, e o salão não era escuro o suficiente, e podia ouvir todos os ruídos externos. Enquanto remoía a noite mal dormida, percebeu que não estava mais só em sua cozinha.

Scully parou exatamente quando viu a pessoa que seria o dono daquele lugar. Nunca em toda a sua vida havia visto alguém com aquela aparência. Não era nada inumano, lógico, mas nem mesmo os punks e glams aos quais estava acostumada a ver circular pelas ruas conseguiam aquele visual. Existe uma enorme diferença entre uma pessoa caracterizada e alguém que simplesmente é do jeito que é. E lá estava um estranho rapaz - demorou para decidir que era um rapaz e não uma moça - de longos cabelos lilases, uma veste que parecia grega e belo, na essência da palavra... seu momento de contemplação foi interrompido quando o rapaz decidiu falar.

"Vejo que está bem..." - Mu estudou a figura da mulher parada à porta da cozinha, meio desconcertado pelo jeito que ela o olhava - "Por que não se senta e come alguma coisa? Deve estar com fome, não?"

A natureza desconfiada de Scully não teve a menor chance contra a aura convidativa de Mu. Estava decidida a arrancar dele tudo o que precisava saber, mas assim que ele a chamou para sentar, ela foi, sem hesitar, e calada. E quando ele lhe sorriu... bom, ele não tinha as sobrancelhas, e isso a fez deixar escapar uma exclamação muda de espanto, que Mu logo percebeu.

"Eu imagino que você deva estar confusa com o que está vendo. E deve estar cheia de perguntas também."

Vendo que ela nem piscava enquanto ele falava, e que olhava fixamente para sua testa, Mu decidiu ser mais didático, não que aquilo fosse usual para ele: pegou uma das mãos de Scully e a levou até onde estariam suas sobrancelhas, caso as tivesse. Ela arregalou os olhos, completamente chocada com a pele lisa que tocou. Mu riu da surpresa dela. E, pasmem, Scully acabou rindo junto.

Da mesma porta onde ela esteve antes, Mulder assistia à cena, incrédulo como jamais foi ou esteve em toda a sua vida.

"Ei, ei! O que é isso?" - Mulder se aproximou, sem cerimônia - "Que lugar é esse, o que é que estamos fazendo aqui?" - E completou, no auge da indignação, virando-se para Scully - "E quem é esse?"

Scully parou de rir imediatamente, mas não conseguiu se expressar, afinal, ela mesma não sabia nenhuma resposta. Mu ficou um tanto surpreso com aquela reação, mas entendeu que o homem estava confuso e perdido, era natural que ficasse nervoso. Tratou de começar a falar antes que tivesse que dominá-lo na frente da moça.

"Acalme-se, por favor. Por que não se senta? Deve comer algo. Então, eu direi meu nome e o que houve com vocês." - Mu piscou, o que fez com que Mulder quase desse um passo para trás.

Ainda pensando em que tipo de homem pisca quando fala com outro, Mulder resolveu obedecer. Na verdade estava faminto. Mas não iria começar a comer enquanto não soubesse pelo menos o nome daquela figura estranha. Aliás, como era estranho aquele rapaz, o que será que Scully estava achando?

"Bom, para começar, meu nome é Mu." - Os dois olharam para ele, pelo jeito estranharam muito o nome - "Sou tibetano, por isso o nome. E vocês estão em Atenas, na Grécia."

"Na cidade de Atenas?" - Scully olhou em volta, procurando janelas - "Mas aqui é tão silencioso, nem parece que estamos no meio de Atenas..."

"E não estamos. Estamos na cidade de Atenas mas aqui é um lugar um pouco... afastado, digamos." - Mu informou, sem querer dar mais do que eles poderiam saber.

"E como viemos parar aqui?" - Foi a vez de Mulder falar - "Por que eu não me lembro de como saímos da Antártica? Eu nem sequer sabia como íamos voltar para casa..."

"Eu imagino que vocês não tinham mesmo como voltar para casa, senhor..."

"Mulder, me chama de Mulder."

"Mulder, isso. Bom, eu estava por lá, e os encontrei caídos no meio do gelo, ao lado de uma cratera. E os trouxe para cá."

Mu parou de falar e, enquanto bebia um pouco mais de seu chá, aproveitou para estudar a reação dos dois ao que disse. Sentia que lá vinham mais perguntas e que não poderia responder mais nada sem antes falar com Atena, então essa era sua deixa para sair.

"Queiram me desculpar, mas vou precisar sair. Fiquem à vontade, eu não irei demorar, mas se isso acontecer, pedirei a um dos meus vizinhos para vir até aqui checar se precisam de alguma coisa."

E Mu saiu, antes que tivessem tempo de retrucar. Subiu as escadas mais rápido que de costume, secretamente torcendo para encontrar Shaka no meio do caminho. Não queria deixar aqueles dois sozinhos, pareciam ser gente de bem mas dava para ver que sabiam fazer as perguntas certas. Sabia que podia contar com Aldebaran para ficar com eles, mas conhecia seu amigo, acabaria falando mais do que o devido.

"Deixou os estranhos sozinhos no seu templo, Mu?" - Era Shaka, parado na escadaria de touro.

"Oh, Shaka, bom dia..." - Mu cumprimentou, agradecido por tê-lo encontrado tão rápido - "Vinha me ver?"

A pergunta de Mu foi totalmente despretensiosa, Shaka sabia, mas mesmo assim sentiu as faces corarem.

"Eu... vinha ver se estava precisando de ajuda. Sentí que os dois acordaram, e imaginei que iria ver Atena logo cedo..." - Shaka finalmente percebeu, aliviado, que Mu nem chegou a notar seu desconforto - "...e que não seria bom deixá-los sozinhos no templo."

"Leu a minha mente, como sempre!" - Mu sorriu, inocentemente, fazendo as faces do virginiano corarem novamente - "Eu ia mesmo te pedir ajuda, você pode ficar com eles enquanto falo com Atena? Não vou te atrapalhar?"

"Não, Mu, de forma alguma." - Shaka esboçou um sorriso - "Vou para lá então. Um deles parece bem alterado, suponho que seja o homem?"

"Ele acordou um pouco confuso..." - Mu riu ao se lembrar da reação da mulher à sua aparência - "E me parece um pouco territorial em relação à companheira. Sei pouco sobre eles, porque se perguntasse..."

"Acabaria permitindo que eles fizessem perguntas também, eu sei." - Shaka completou.

"Exato. Incrível como você me entende." - Mu voltou a subir as escadas, depois de acenar levemente para Shaka - "Vou indo... obrigado pela ajuda!"

Shaka suspirou, vendo o amigo subir as escadas rapidamente. Ele não fazia idéia mesmo. Tocou a própria face, sentindo-a quente ainda. Seria ele cego, inocente demais, ou simplesmente indiferente? Preferiu deixar para lá o que sentia no momento e ir cuidar do favor que Mu lhe pediu.

Na pequena cozinha de Mu um debate acontecia. Mulder havia acabado de descobrir que era sábado, portanto, um dia depois de ele mesmo ter ido até a Antártica resgatar a parceira. Mas o que o sábado tinha a ver com isso, afinal? Bom, obviamente ele estava quase ficando doente de necessidade de saber como é que um rapazinho de cabelos lilás e sem sobrancelhas fez para levá-los do Pólo Sul até a Grécia em apenas algumas horas, assumindo que os dois passaram uma noite inteira naquela enorme cama. Estava inconformado com a falta de informações. E Scully nem ligava!

"Scully!" - Mulder estalou os dedos na frente dela, tentando chamar atenção - "Acorda! Você realmente não está preocupada com o que está acontecendo?"

"Mulder..." - Scully olhava ao redor, reparando em cada detalhe nas pedras das paredes e do lugar - "Mulder, nem mesmo sei o que está acontecendo! Estamos vivos e bem, e não me parece que alguém vai nos atacar, não vejo motivo para me preocupar..."

"Eu não acredito nisso!" - Mulder se levantou, apenas para dar de cara um um rapaz loiro que acabava de entrar.

"A senhorita está certa. De fato, estão no melhor lugar possível no momento, considerando que ontem estavam quase à morte por hipotermia. Foram encontrados por Mu na Antártica, estou certo?" - Shaka se aproximou da mesa e sentou-se no lugar que Mu ocupara antes.

"Viu?" - Mulder voltou-se para Scully - "Ontem, Scully, aquele rapaz nos trouxe ontem para cá!" - Mulder passou as mãos pelos cabelos, impaciente. - "Ontem mesmo eu cheguei lá e te tirei daquela nave, e passamos a noite aqui, na Grécia! Quer saber? Acho que fomos teleportados, então." - Mulder terminou, com seu usual sarcasmo.

"Mulder..." - Scully advertiu, sorrindo.

"Bom," - Shaka resolveu manifestar-se - "foi teletransporte, sim. Especialidade de Mu. Creio que já repararam que ele é 'diferente', então não vejo motivos para negar os meios que usou para resgatá-los." - O sorriso de Scully morreu com a declaração de Shaka - "Mas me fale desta nave, senhor..."

"Mulder. E ela é a Scully." - Mulder informou, os olhos bem abertos devido ao espanto - "A nave..."

"Mulder, que nave? Não tinha nave nenhuma..." - Scully tentou emendar.

"Claro que tinha!" - Mulder replicou, indignado - "Você viu! O que achava que era aquela coisa?"

"Uma base militar, ora, eu não sei!" - Scully respondeu, desconfortável com o assunto.

"Mu comentou que nos achou ao lado de uma cratera na neve." - Mulder desistiu de argumentar com a parceira e resolveu encontrar apoio no rapaz loiro. - "A propósito, qual é o seu nome?"

"Shaka."

"Certo. Então, fomos encontrados pelo seu amigo ao lado dessa cratera. A nave de onde eu tirei a agente Scully aqui foi o que deixou aquela cratera, porque estava sob a neve, sabe..."

"Agente?" - Foi a vez de Shaka ficar curioso - "Agentes... vocês são policiais?"

"Não policiais, agentes. Agentes federais. Trabalhamos para o FBI, nos Estados Unidos."

"Oh, perdoe-me a ignorância. Vivemos bastante reclusos aqui. E Mu me fez pensar que eram casados. Trabalham juntos então?"

"Sim." - Scully confirmou e olhou para fora por uma pequena janela - "Acha que podemos ir lá fora? Eu queria dar uma olhada na cidade..."

"Desculpe mas teremos que esperar até Mu voltar." - Shaka informou, calmamente - "Por favor, não pensem que estão presos ou algo assim, é para sua própria segurança."

"Ok, se não podemos sair por enquanto, então me fale mais sobre o teletransporte do seu amigo Mu." - Mulder não perdeu tempo.

Shaka suspirou desanimado pela segunda vez naquela manhã. Preparou rapidamente em sua mente um enorme discurso sobre o poder da mente e a espiritualidade, já que não pretendia revelar a identidade de cavaleiro de Mu. Sabia que convenceria pelo menos um deles, e o que não fosse convencido pelo menos teria algo para pensar por algum tempo. Era o tempo de Mu retornar com as instruções de Atena. E se pôs a falar, tirando as mais diversas reações dos dois.

To be continued...


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