CASA DE CAPRICÓRNIO
SANTUÁRIO - ATENAS, GRÉCIA
11:17 PM

Depois de passar um bom tempo explorando todas as sacolas de compras, os agentes finalmente se renderam ao cansaço do dia. Scully mal disfarçou um bocejo e levantou-se, indo para o quarto.

"Já vai dormir?" - Mulder perguntou sem se mexer de onde estava.

"Hum... sim, por que?" - Scully parou na porta do quarto.

"Não acha que devíamos falar sobre essa sua viagem?"

Ele não usou um mau tom, mas foi o suficiente para despertar uma certa irritação na agente. Scully voltou para a pequena sala e sentou-se na mesinha, em frente ao parceiro. Ele apenas a olhava.

"Mulder, não é 'essa minha viagem' e você sabe disso. Sabe muito bem que não estamos aqui em férias..."

"Pois não parece, você provavelmente está adorando." - Ele a cortou.

"Como eu estava dizendo," - Scully repetiu, ignorando o sarcasmo dele - "Não estamos em férias. Eu não vou passar o dia brincando no Japão, temos que descobrir o que era aquilo que você injetou em mim. Além disso estas pessoas querem saber o que era... er, o que houve no pólo sul. Mulder, isso é sério!"

"Eu já disse que injetei uma vacina em você, Scully, uma vacina que foi posta nas minhas mãos para salvar a sua vida de um vírus alienígena. Qual a dúvida, afinal?"

"Como assim 'qual é a dúvida'? Mulder, eu preciso saber exatamente o que era, se haverá efeito colateral, se ainda está em mim..."

"Acha que eu injetaria algo em você que fosse te prejudicar?"

"Mulder," - Scully suspirou, não queria brigar - "Escuta, eu não estou duvidando de você, é só que... bom, você tem alguma garantia sobre o que tinha naquela seringa?"

Mulder ficou mudo. Não tinha resposta para aquela pergunta, era uma questão técnica sobre a qual não teve tempo de ponderar.

"Não estou te culpando, Mulder, por favor, eu te devo a minha vida e falo sério. Mas você precisa entender que eu realmente necessito isolar este caso. Ok?"

"Está bem. Você tem razão, me desculpe." - Mulder passou a mão no rosto, cansado.

"Ótimo." - Scully se levantou - "Eu só não entendo uma coisa..."

"O que é?"

"Em todo o tempo que trabalhamos juntos, você sempre me pareceu ansioso pelo dia em que eu desse o braço a torcer e resolvesse crer em certas possibilidades. Agora que eu finalmente tenho bons motivos para considerar toda essa loucura você parece estar detestando a idéia. Por que?"

"Eu não sei te dizer." - Ele respondeu, simplesmente - "Estamos cansados, melhor dormir."

Scully entrou no quarto, intrigada com a falta de resposta do parceiro. Ela tinha uma idéia do que o incomodava, só não imaginava a dimensão. Ela mesma já havia se sentido como ele provavelmente se sentia agora, quando ele trabalhava em parceria com outras pessoas. Especialmente com Diana Fowley.

xXx

"Agente Mulder!"

Mulder abriu os olhos lentamente ao ouvir. A primeira coisa que viu foi o rosto do cavaleiro de Câncer.

"E então, que tal descobrir se consegue se mexer?" - Máscara provocou, sorrindo cinicamente.

Mulder tentou se erguer apoiado em um cotovelo, mas a dor que sentiu no braço e nas costas o fez paralisar. Milo, que veio junto com Máscara, fez uma careta, imaginando a dor do agente.

"E não é que ele ficou travado mesmo?" - Milo segurava a muito custo a risada - "Não é como se estivesse assim tão fora de forma, hein, agente Mulder? Nem está acima do peso..."

Máscara lançou um olhar de advertência para Milo, que parou com a gracinha antes mesmo de começar.

"Falta de cortesia, grego mal educado." - Voltou-se para Mulder - "Agente Mulder, pode deixar que apesar das babaquices o Milo sabe como aliviar dores musculares num piscar de olhos. Vai se sentir como novo."

Mulder não teve tempo para concordar, Milo aplicou rápidos golpes com o dedo indicador em alguns pontos nos ombros e na lateral de seu abdomen. Doeram como o inferno, mas para sua surpresa, a dor horrível que sentia nos ombros, braços e lombar praticamente desapareceu.

"Olha, não fique assim feliz tão depressa, eu só te anestesiei um pouco. Em algumas horas vai doer tudo de novo..." - Milo disfarçava mas estava sem-graça. Normalmente não gostava quando as pessoas o olhavam com tanta gratidão.

"Por isso que viemos te buscar. Vai se exercitar um pouco com a gente, pra ver se não morre de dor nas próximas vezes que exagerar no esforço físico." - Máscara, se queria dar risada não demonstrou.

"Er..." - Mulder não sabia como reagir - "vou me trocar então, esperem só um pouco." - E levantou-se, sentindo um pouco as pernas. Mas de jeito nenhum demonstrou a dor, sabe lá onde o garoto de escorpião ia colocar o dedo dessa vez...

xXx

À medida que se aproximavam da arena, Mulder ia ficando mais apreensivo. Pelo que havia visto, o que aqueles rapazes chamavam de treino era algo que podia muito bem incapacitar alguém da idade dele. Não tinha jeito de não pensar em braços e pernas quebrados quando olhava para Aldebaran, por exemplo. Recebeu um tapinha nas costas do cavaleiro italiano, que sorria largamente quando chegaram ao terreno da arena.

"Bom dia cavaleiros. Agente Mulder." - Foram cumprimentados polidamente por Shina.

"Bongiorno, shina."

"Chegaram cedo hoje, Maschera."

"Trouxemos o agente Mulder para um pouco de exercício."

"É vero, agente Mulder? Não me diga que esses dois te arrastaram até aqui, não preferia estar descansando?"

"Não, eu..." - Mulder ia responder mas não houve chance.

"Ele precisa se exercitar. Amanheceu todo dolorido só por causa das caminhadas de ontem, está com os musculos cheios de toxinas. Vai doer tudo de novo se não fizer alguma coisa..." - Milo disparou.

"Oh. Bom então, agente Mulder, se me permite, sugiro que venha se exercitar conosco. Acho que vai ser mais produtivo do que treinar com esses dois." - Shina convidou, estreitando os olhos para Milo e Máscara.

Mulder arregalou os olhos, ainda mais apreensivo. Se lembrava com clareza de como eram os treinos daquelas amazonas. Não se importaria nem um pouco em ficar meditando elementos com a ruiva, mas não tinha certeza sobre a loira e só de lembrar da italiana lutando...

"Não se preocupe, agente Mulder, serão apenas exercícios." - Se Mulder pudesse ver o sorriso de Shina sob a máscara...

xXx

Fizeram uma viagem extremamente rápida e confortável. Scully pensou que estaria exausta mas se sentia muito bem disposta para o dia que teria pela frente. Fizeram um pequeno trajeto de helicóptero até um aeroporto privativo, onde embarcaram em um jato provavelmente supersônico. Em poucas horas estavam em Tokio, na sofisticada fundação Graad.

Aiolia a estava apresentando a algumas pessoas e muitos recursos. Estava realmente espantada com o alcance daquele lugar. Imaginava como seria se Quantico tivesse ao menos um pouco daquelas ferramentas, quantos crimes seriam solucionados em menos da metade do tempo, e quantos erros de análise seriam facilmente evitados. Aiolia explicava com entusiasmo tudo o que ela perguntava. Aquele era realmente o elemento do jovem cavaleiro, ele parecia se encaixar totalmente no meio científico. Tinha tanto conhecimento, era espantoso.

"Agente Scully, já passaram duas horas, creio que a análise da primeira coleta de sangue já esteja feita. Vamos ver? Além do mais, acabou de tirar mais sangue, acho que seria bom parar um pouco e descansar, o que acha?" - Aiolia, sempre gentil, sugeriu.

"É verdade. Se sofreu hipotermia e em pouco tempo coletou sangue duas vezes, seria prudente comer algo e ir mais devagar com as caminhadas."

Scully olhou, espantada, para o dono da voz. Em quase todos os aspectos ela poderia dizer que era Saga ali na sua frente, mas uma coisa que os diferenciava se fez notar imediatamente: os olhos. Fisicamente idênticos, mas nos daquele rapaz ela não via o mesmo que via nos de Saga. Naqueles ela via um brilho sagaz de quem parecia que estava lhe destrinchando a alma.

"Desculpe, fui indelicado em não me apresentar primeiro." - Estendeu a mão para cumprimentar Scully - "Sou Kanon, cavaleiro de Gêmeos."

TO BE CONTINUED...