Não era a primeira vez que eu tinha queimado uma pessoa, porém, foi a primeira vez que eu queimei uma pessoa que parecia ter gostado de mim. Elena não estava morta, mas ela também não estava muito bem. Não foi preciso tocar em sua pele para perceber o quanto devia estar quente, todas as partes visíveis de seu corpo que antes era bem branco, agora estava vermelho. Sua mão que havia tocado a minha estava com bolhas por toda parte e sua respiração estava bem fraca.

Procurei minhas luvas de couro pela mochila e as coloquei rapidamente nas minhas mãos, logo depois peguei Elena no colo e fui correndo para as escadas. Se eu não fizesse alguma coisa imediatamente ela iria morrer.Peguei as chaves que estavam em seu bolso e pude ver o número do apartamento dela, 704, ou seja, sétimo andar.

Eu mais pulava do que subia, três degraus de uma vez só. Eu ficava sussurrando pedidos desculpas para o corpo imóvel de Elena enquanto via os degraus passando pelos meus pés, eu sei que ela nunca será capaz de me desculpar mas eu tinha que tentar.

Depois de alguns minutos eu cheguei ao meu destino, a porta com o número 704 estava bem a minha frente, as chaves estavam nas minhas mãos, as minhas mãos pareciam estar esmagadas, tudo que eu queria era tirar essa luva e rasga-la em pedaços. Parecia que a cada segundo que eu passava com essa luva minha mão ficava mais dormente. Porém eu tentei ignorar esse detalhe enquanto tentava abrir a porta.

Quando eu finalmente consegui abrir a porta, o que não foi fácil pois eu carregava uma pessoa e estava tremendo por causa do medo ou qualquer outro sentimento do tipo que tomava conta de mim, eu entrei sem nem reparar no lugar e procurei o banheiro. Ao chegar coloquei Elena na banheira e liguei a água gelada, ela soltou um suspiro aliviado ao sentir a água entrar em contato com sua pele.

– Me desculpe Elena, eu juro que não queria que isso acontecesse com você.- Eu pedia enquanto via a água cobrir todo o seu corpo, menos a cabeça, e desligava a torneira.

– O-o que aconteceu?- Ela perguntou após alguns minutos de silêncio e foi praticamente impossível evitar que um sorriso aparecesse no meu rosto. Ela estava frágil, mas viva.

– Eu te explico tudo depois, primeiro você tem que se recuperar. Vou pegar um gelo para colocar na sua mão.- Eu disse e ela automaticamente, com muito esforço, levantou sua mão e se assustou a vê-la queimada e com bolhas.

Fui a cozinha e peguei alguns gelos na geladeira, coloquei em um copo largo e voltei para o banheiro. Peguei a mão dela e a coloquei dentro do copo, novamente ela soltou um suspiro.

– C-como v-você f-fez para me q-queimar?- Ela perguntou com um pouco de medo. Oh droga, como eu queria que ela não tivesse medo de mim.

– Eu, bem, eu tenho esse "dom" desde pequeno, eu consigo queimar tudo e todos em que eu toco por muito tempo, por isso eu sempre evitei fazer contato com as outras pessoas. Eu sou um monstro e a última coisa que eu queria era que você descobrisse isso dessa forma. Não se preocupe, eu vou embora e prometo que você nunca mais terá que me ver.- Eu digo e ela fica um tempo pensativa.

– Benjamin você não é um monstro, apenas uma pessoa especial e eu não quero e nem vou deixar você ir embora. Principalmente agora, eu fiquei bastante curiosa com esse seu "dom".- Ela diz com um pequeno sorriso.

– Agora, me ajude a levantar. Não aguento mais ficar nessa água.- Ela pede e eu a levanto com cuidado, entrego uma toalha para ela e saio do banheiro ao perceber que ela queria tirar a roupa molhada do corpo.

Ao sair fechei a porta e um pequeno sorriso ficou no meu rosto. Como é bom saber que Elena está bem.