Eu continuei um tempo caminhando pela estrada, que já havia aumentado a algum tempo mas mesmo assim tudo que eu via era o infinito, alguns carros que passavam e o cimento por onde eu pisava. Minhas pernas imploravam por descanso e todos os membros do meu corpo estavam doloridos demais para continuar. Eu estou levando uma mochila comigo, pesada, o que não é nem um pouco favoravel na situação que me encontro agora. Mas eu não podia abandona-la agora, tudo que tenho está dentro dela.

Antes da minha última cidade, eu tinha morado em mais duas. Nunca conheci meus pais e nem sei quem eles são. Cresci em um orfanato, quando tinha três anos de idade eu sem querer toquei em uma das crianças que vivia lá e no mesmo minuto ela morreu. Depois daquele dia eles me isolaram, ninguém era permitido a chegar perto de mim, eu me culpei por cinco anos pelo que tinha acontecido e ver as pessoas me ignorando só piorava o que eu sentia. Mas quando completei oito anos, fui obrigado a sair daquele orfanato, daquela cidade, daquele país. Não me lembro muito bem para onde me levaram mas lembro-me perfeitamente que era praticamente uma prisão. Era um quarto pequeno, dentro de um prédio construído inteiramente de aço, o que não era nescessario afinal diferente das pessoas, os objetos em que toco demoram para queimar, tempo o suficiente para eu desencostar minha mão, os alimentos também queimam facilmente porém sempre antes de qualquer refeição eu coloco uma luva de couro, serve como uma barreira. Infelizmente eu não consigo ficar com a luva o tempo todo. 

Depois de passar seis anos naquele quarto, sendo tratado como um animal selvagem, as autoridade decidiram me levar para outra cidade, bem pequena, na qual vivi os últimos oito anos até ter que sair ontem. Mesmo tendo 22 anos, sinto como se eu tivesse 80, passei por tanta coisa, tanto sofrimento, tanta tortura, tanta morte ao meu redor que sinto uma vida completamente acabada. Porém foi graças a essas dores que hoje eu aprendi a ser forte, que aprendi a seguir em frente e deixar o passado para trás. 

- Ei, quer uma carona?- Pergunta uma voz feminina que sai de dentro de um carro preto, estacionado ao meu lado. A mulher que dirigia era jovem, devia ter alguns anos a mais do que eu. Era loira e tinha belos olhos verdes.

Abri rapidamente a porta do carro dela, se eu demorasse um pouco mais poderia ter provocado um incêndio, me sentei no banco ao seu lado e fechei com a mesma rapidez que abri. Logo depois apoiei minhas mãos no meu colo, sem ricos.

- Eu me chamo Elena, moro em Vancouver você está indo para lá, certo? Ah não precisa responder, pelo caminho que você estava indo é claro que ia para lá.- Ela diz concentrada na estrada mas ao mesmo tempo em mim. 

- Sim, eu estava indo para Vancouver.- Digo com a minha voz rouca pela falta de uso.

- Qual seu nome?

- Benjamin.- Eu respondi, eu me lembrava que esse era meu nome. Todos me chamavam assim, mas eu não fazia a mínima idéia do sobrenome que deveria vir depois dele.

- Você não é muito de falar, não é? Não tem problema, que tal cantarmos uma música então?- Ela perguntou com um enorme sorriso no rosto e aumentou um pouco o volume no rádio, uma música animada estava tocando Elena acompanhava cantando junto. Era uma cena realmente encantadora, ver uma pessoa tão animada me fez bem, me fez esquecer um pouco do meu monstro interior, me fez me sentir um pouco mais humano.