Epitáfio escrita por Ana Carol M
– Thomas Burduchi, senhorita... – e ele foi olhar meu túmulo, mas assim como eu, ficou surpreso por estar em branco – Primeiro quero que saiba que não fui eu que a enterrei e vou explicar tudo que puder. Vou fechar seu túmulo e iremos procurar seus registros. Está bem?
Concordei com a cabeça. Ele estava na defensiva, isso me passava confiança e depois de me dar sua jaqueta quentinha para vestir, não me importei se ele me faria algum mal. Afinal eu havia sido enterrada, o que poderia ser pior?
Fiquei em silêncio observando Thomas colocar o corpo tostado de uma garota no caixão que antes era meu. E depois a enterrou. Eu não fiz perguntas, embora aquilo tenha me parecido errado, aquela garota merecia um túmulo só dela e não o meu que já era usado.
– Vamos? – ele perguntou com gentileza.
Eu o segui até um casebre na entrada do cemitério. Ele abriu um livro imenso sobre uma escrivaninha velha e começou a folhear. O lugar era meio sujo, tinha o sofá, um fogão a lenha, que era da onde saia a fumaça e livros, vários livros.
– Garota, você já percebeu que morreu, não é? – Thomas me encarava com seriedade e estava preocupado com minha reação. E apesar de ficar chocada com aquelas palavras eu sabia a resposta.
Acenei tristemente com a cabeça que sim. Ele me encarou mais um pouco, talvez esperando que eu saísse gritando ou que finalmente atirasse alguma coisa nele e corresse pra fora daquele lugar.
– Você deve ter sido enterrada esta manhã, mas morreu ontem à noite. – ele procurou pelas páginas do livro, em documentos e em pastas, mas por fim desistiu.
– Não tem nada aqui. Nenhum registro seu – ele parecia preocupado, mas me convidou a sentar em um sofá e se sentou na poltrona em minha frente – Normalmente isso não acontece, geralmente há registros, enfim, o que eu vou te explicar não é fácil de entender. Por isso você tem que prestar muita atenção. Ok?
Acenei que sim.
– Ótimo. Nós dois, e há muitos outros lá fora, fazemos parte de algo muito parecido com uma maldição e quando morremos nós voltamos assim, como criaturas incríveis. A maioria de nós é mordido por um determinado animal, que logo você saberá identificar, durante a vida humana. Outra parte, bem menor e quase rara nasce da união humana com um de nós. Logo também, você entenderá por que. Quando acordamos da morte não lembramos mais de quem éramos e nos tornamos irreconhecíveis aos olhos dos nossos antigos parentes. Nós temos que seguir em frente, portanto quero que vá pensando em um nome pra você.
Novamente concordei, ele me ajudou a tomar banho e depois me deu roupas limpas de homem. Ou seja, ficaram pelo menos três vezes maior que eu.
– Amanhã compraremos roupas novas pra você. Estou disposto a responder suas perguntas, se você tiver alguma.
Acenei que não. E ele ficou me olhando, parecia que pela primeira vez aquilo havia acontecido. Ele me explicou sobre ficar mais forte a noite e sobre os outros de dia. E acabou que surgiu uma pergunta importante em minha cabeça – O que nós somos?
– Semi-humanos.
Ficamos nos encarando, ele sabia que eu não havia entendido, mas queria que eu perguntasse. Só que novamente eu não o fiz.
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