Chegar em casa foi fácil. Depois de carinhos e beijos com o Noah, que havia terminado com sua namorada, eu estampava meu rosto com um sorriso. Era muito bom sentir que pelo menos algo estava dando certo.

-Oi Hanna! -eu cumprimentei a menina com roupas Channel e óculos Gucci.

-Spencer, está tudo bem? -ela pausou, mexendo em seus cabelos claros -Nunca te vi tão feliz assim!

-Ah, é a vida -me gabei. Os saltos de Hanna faziam barulho andando pelo corredor de Rosewood High, enquanto as duas se dirigiam aos seus devidos armários.-Você andou falando com a Aria? Ela não retorna minhas mensagens.

-Sim... -ela pausou, pensando nas palavras certas -Ela está bem brava com você, Spencer. Não sei o que você fez, mas foi algo ruim. Sugiro que se desculpe.

Foi ai que eu me lembrei que Hanna não sabia do caso de Aria com Mr. Fitz. Aria somente disse que saíra da aula dele porque "ele não dava livros bons", o que era uma bela mentira. Mas Hanna não lia os livros que ele dava, então ela ignorou.

Concordei com Hanna e fui para a aula de Geografia, ainda um pouco cansada devido a noite de ontem.

.

-Filhas, eu tenho uma notícia importante. -minha mãe parou. Ela fazia uma reunião familiar (convocada pela mesma) burocrática por causa de sua carreira, advogada, e isto me deixava nervosa, mesmo eu não sabendo a razão. Ela havia pedido que todos nós, inclusive Melissa, minha irmã, para falar de algum assunto que ela não quis dar nenhum spoiler. -Bem, isto me dói dizer mas.. -ela pausou, e seus olhos já estavam aguados. Melissa pegou um lenço de pano e entregou para ela. -Obrigado, filha. -ela agradeceu. -Não vou atrapalhar vocês, sei que cada um tem suas coisas. -ela estava enrolando e atrapalhando ainda mais. -Eu e seu pai iremos nos separar.

O silêncio na sala era agressivo. Meu pai estava lá, como uma estátua. Eu sabia que ele já havia traído minha mãe com a Sra. DiLaurentis, e que na verdade Alison era minha meia-irmã. Mas eu achava que tudo havia dado certo.

-Por que, mãe? Pai? -eu perguntei. Estava curiosa, e por alguma razão estranha Melissa estava super calma, como se já soubesse disso.

Na verdade, se ela soubesse eu não iria me assustar. Até porque, mamãe e Melissa sempre iam ao shopping juntas e várias atividades, das quais nunca me incluíam.

-Você não entende filha, é coisa de adulto. -minha mãe falou. E eu fiquei com raiva. Já tinha idade o bastante para ter que fazer tudo de ruim, mas saber uma única razão para o desentendimento dos meus pais eu não sabia.

Levantei da cadeira e subi para o meu quarto, às pressas. Minha cama ainda estava desarrumada, e a minha escrivaninha também. Peguei meu celular e procurei "Aria". Foi ai que lembrei que ela não iria falar comigo sobre. Eu e a Hanna não éramos assim tão ligadas, então fiquei somente olhando para a parede marfim enquanto meus olhos lagrimejavam.

Bipe. Olhei para o meu celular. Que seja Aria, que seja Aria, torcia. "Mensagem anônima", dizia. Estremeci. O que -A queria agora? O que mais ele poderia fazer para me derrubar?

Acho que vem de família.

-A

Olhei ao anexo. Meu pai estava com Sra. DiLaurentis, e eu sabia que a imagem era recente por causa da camisa nova dele. Ele nunca tinha usado, eu pensava, mas percebi que ele já usara, e usara para ela. Uma batida na porta de madeira me fez tremer um pouco, e eu disse que poderia entrar.

-Filha, eu me desculpo por isto. -meu pai pausou. Ele parecia nervoso, como se estivesse lá forçado. E talvez tivesse, na verdade. -Eu não queria que vocês soubessem assim. -Ele pasou. -Nós tivemos uns desentendimentos e sua mãe achou melhor nós separarmos, sabe? -pensei um pouco na foto que -A havia mandado. Será que seria estes tipos de 'desentendimentos'?

-Pai, que tipo de desentendimentos? -eu pausei, enquanto ele pensava na resposta -Você traiu ela? -eu não queria perguntar isto. Parecia tão direto, rude até. Mas eu queria saber, e eu sabia que tinha que tentar.

-Não filha! -ele respondeu quase rápido de mais. -Não tínhamos mais paixão, só.

Ele me deu um beijo na testa, e depois saiu do quarto, fechando a porta.

Então minha mãe não sabia da traição. Se ela soubesse, algo iria mudar? Meus pais tinham se acasado com separação de bens, então eu acreditava que não mudaria nada. Se ela não soubesse, tudo ficaria na mesma, e eles iriam continuar a se separar. Por isto, escolhi ficar de boca fechada.

.

Ao entrar no banheiro da escola, ainda com a traição do meu pai que descobrira ontem a noite na minha cabeça, ouvi alguém chorando.

-Oi? Alguém está ai?-perguntei, tentando descobrir quem era a pessoa que estava chorando. Era engraçado até como este banheiro era o lugar onde as pessoas choravam.

-Sai daqui! -a voz de alguém que eu não esperava estava amarga, e eu corri para a porta que saíra a voz.

-Aria! O que aconteceu?

-Sai daqui! -ela gritou para mim, balançando a mão.

-Aria, eu vou estar aqui sempre para você. -eu sentei do lado dela, e a acariciei.

-O Ezra... ele.. -ela pausou, ainda chorando -Eu vi ele hoje no corredor.. beijando uma mulher...

-Aria, eu sei que não é o que você quer ouvir, mas, ele é um safado. -eu estava com cada vez mais raiva do Ezra, ele se metia em problemas e sempre chateava a Aria.

Nós continuamos conversando por um tempo, Aria estava muito triste com Ezra, e eu estava ficando cada vez mais brava com ele. Como ela pudera mexer com os sentimentos de uma menina assim? Era simplesmente horrível.

Ao sair do banheiro, fui até o meu armário pegar meus livros, mas quando olhei no relógio já havia passado o horário da saída da última aula. Eu ficara muito tempo com Aria.

Senti um cheiro forte de perfume masculino. Dizia algo como sexy. Olhei para o corredor, mas não havia ninguém lá. Ouvi passos e vi aqueles cabelos negros, aqueles olhos e um típico terno e uma maletinha. Mr. Fitz. No calor do momento, ainda com raiva dele, fui até ele com passos largos e dei um tapa na cara dele. Ele olhou para mim com uma cara de assustado, se perguntando o por quê daquilo.

-Por quê..? -ele começou a perguntar, mas eu o interrompi.

-Por quê você faz isso com a Aria? -ele me olhou confuso, e seus olhos penetraram em mim de uma forma, e quando eu estava começando a levantar minha mão para bater nele mais uma vez, ele pegou meu pulso, e sua mão era quente, seu rosto era bonito, e aquela barba mal-feita passou a ser um charme, um charme que eu não conseguia parar de perceber, e ela vinha mais para perto, e seus lábios colaram nos meus...

-Não.. - eu comecei a me repor, porque eu sabia que aquilo era errado, ele era da minha melhor amiga -Você não pode....

E ele me soltou, e minha vontade era beijar ele mais e mais, e eu não sabia porque, eu sabia que ele era um safado, mas ele era tão mais tão lindo...

Virei e corri para a saída, com os livros desengonçados no meu braço, e eu estava tremendo.

A rua estava vazia, e o vento era frio no começo do outono. Tentei organizar meus pensamentos: Ezra era um safado, e quando Aria fez as pazes comigo eu ferrei com tudo, e eu estava com Noah mais beijara Ezra. Por que eu fazia isso, por quê? Parecia que eu queria que isso acontecesse, acabando tudo de bom que eu via, como se o que eu encostasse eu destruía.

Bipe. Bipe. Olhei para o meu celular, com a tela brilhando. "Uma nova mensagem". Não poderia ser -A. Eu esperava que não fosse.

Sou praticamente a baleia Moby Dick para você!
-A

Estremeci. Por quê -A estava sempre certo?