Incandescente escrita por Catiele Oliveira


Capítulo 8
7. Joe's Bar, Lisa, Empire Hotel.


Notas iniciais do capítulo

Capítulo baseado em fatos reais. Hahahahaha. Boa leitura e obrigada pelas reviews, meninas.



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POV Christopher Molina.

As luzes florescentes me deixavam angustiado. O lugar que eu mais odiava no mundo era um hospital, e cá estava eu, não conseguia deixar de me sentir culpado por isso. Eu sou o único culpado. Malditamente culpado. Quando eu pararia de ser tão bastardo assim? Ela havia me dito que não podia ficar naquele restaurante, ela simplesmente disse que é alérgica a frutos do mar. E eu ignorei, porque eu amo frutos do mar e ela nem comeria nada relacionado a isso.

Ela estava comendo um simples espaguete alho e óleo e eu devorando um delicioso purê de camarão e alguns siris. Foi bizarra a forma que seus olhos foram inchando aos poucos, Felipa começou a piscar com mais rapidez, estava tão emburrada... Eu só gosto de contestá-la. Então, de repente, sua pele alva como a neve ganhou uma pigmentação avermelhada por todo o lado. Ela deixou seu talher cair com força sob a mesa e levou a mão até o pescoço alisando a garganta. Sua voz saiu cortante e indistinta.

― Não me sinto bem... ― Tossiu duas vezes seguida. Foi tão rápido, em menos de um minuto. Parecia uma praga se espalhando por todo o lado. Felipa analisou sua mão, que agora estava tão vermelha quanto seu rosto. Entrei em pânico, graças a todas as deidades existentes minha reação fora rápida. E isso nos trouxe aqui, agora. Nesse hospital.

A poltrona que eu me encontrava sentado era dura e fria, assim como a face de Greg e Martha, meus sogros. Pareciam tão irritados... Eu não tinha a mínima condição de encara-los.

― Ela vai ficar horrível por uma semana inteira, se tiver sorte. ― Gregório murmurou baixo, Martha concordou. Ela estava uma pilha de nervos, todos esperavam uma resposta do seu alergista e do plantonista do dia, mas nenhum deles apareceram.

― A última vez que ela tivera uma relação alérgica fora no sétimo ano... Ela perdeu a primeira semana de provas inteira. ― Balbuciou minha sogra, essa fora a vez de Greg assentir.

― Eu não sabia que... O cheiro... Podia afetá-la também.

― Você vai se casar com ela... ― Greg dissera meio minuto depois, respirou fundo ― É melhor saber de algumas coisas.

― Ah sim. Melhor mesmo. Ela tem asma, alergia a fruto do mar e a poeira. Isso desencadeia uma série de problemas indesejáveis como rinite, sinusite etc. ― Engoli a saliva seca. Martha me olhava como se quisesse me matar. Fui salvo pelo médico que adentrou com rapidez a sala de espera.

― Como ela está? ― Me pus de pé. Ele deu um sorriso meio boca e analisou a prancheta em sua mão.

― Vai sobreviver. Não foi tão agressiva como costumava ser. Ela tomou dois comprimidos antialérgicos e uma injeção de Phenergan. Encontra-se naquele delicioso estado de sono. Vai durar durante toda a noite, amanhã que será difícil... As marcas no seu corpo estão ardendo e coçando muito. Então vai precisar da paciência da família para aguentar as noites de tormenta que virão. Muita toalha e banho molhado. Talco. E remédio. Receitei o uso oral, xarope fará um efeito mais rápido.

― Muito obrigado, doutor. ― Quis abraçar o médico, mas me contive. Observei enquanto Martha e Greg pediam para ver a filha. O médico consentiu, eles olharam para mim, mas nada eu poderia fazer. ― Tenho... Que ir... Ela vai dormir a noite toda...

― Vá, Molina.

xXx

Nina tinha seu corpo relaxado no sofá da sala, o rosto escondido atrás de uma revista. Quando ela ouviu o barulho da chave saltou com rapidez. Seus olhos brilharam a me ver. Por mais que recentemente estivesse irritada, compreendeu o motivo de eu precisar me casar. Sabia que eu tinha que honrar de alguma forma minha mãe e vingar tudo que a família de Felipa a fez passar.

― Meu amorzinho! Olha esse vestido! ― Ela correu em minha direção e virou a página da revista, era um vestido de noiva, bonito até ― Valentina Dior! A única, brilhante e talentosa estilista de Nova York! Ela precisa fazer o meu vestido de casamento! Como eu entro em contato com ela?

― Você por acaso vai se casar?

― Que grosso! ― Nina respondeu rapidamente com uma voz infantil. Fez um bico e deu de ombros ― Claro que eu vou. Em menos de um mês você vai colocar aquela coisinha para correr e eu tenho que preparar tudo desde já, meu querido.

― Não sei como você entrará em contato com Valentina Dior, Nina. ― Me limitei a responder. Afrouxei o nó na gravata e passei por ela rapidamente.

Enquanto subia os degraus com pressa ela me seguia tagarelando coisas indistintas. Andei pelo corredor com mais pressa e abri com força a porta do quarto. Os sapatos foram os primeiros a sair do meu corpo, seguido pela calça. Nina desfez o nó da minha gravata e desabotoou minha blusa.

― O que te deixou tão irritado?

― Não foi nada.

― Não minta amor... ― Sua voz soou bem próxima do meu ouvido. Nina acariciou minhas costas com as pontas de suas unhas grandes e vermelhas. Lentamente roubou um beijo suave.

― Eu quase a matei... ― Grunhi baixo, retirei seus braços do meu corpo ― Ela sufocou na minha frente. Se o Seattle Grace não fosse apenas uma quadra do shopping...

― Ela quem? A coisinha?

― Para de falar assim dela, Nina! ― Gritei. Nina arregalou os olhos assustada ― A Felipa. Que diabos! Deixe-me só!

― Ei Christopher! Eu não tenho culpa de você está fazendo uma merda atrás da outra, O.K? Estou indo para minha casa. Se você quer ficar brincando de casinha com a pirralha, tanto faz!

― Não... Nina... Volta aqui... ― E já era tarde. Como um furacão ela cruzou a saída do quarto. Bufei. Deixei meu corpo tombar na cama e apertei os olhos. Essa sensação de estar sendo tragado pela vida vai passar quando?

...

― Você já mandou entregar as flores, Alva? ― Ela assentiu calada. ― Sei que não concorda muito com meu modo de agir, mas...

― Mas o que, Christopher? Você nunca vai deixar de ser esse menino mimado, não é? ― Bufei. Alva deixou as flores que arrumava para enfeitar a sala de jantar e caminhou até a mim. ― Está com olheiras profundas, menino.

― Não dormi nada noite passada, estou me sentindo tão culpado... ― A sinceridade era gritante, até Alva conseguiu captar isso. Nós ficamos por breves minutos em silêncio.
― Não são flores que vão a fazer ficar melhor, você sabe disso. Precisa ir lá, dar algum tipo de assistência, afinal de contas essa jovem é sua noiva. Você vai passar o resto da sua vida ao lado dela, não vai? Porque na minha época isso era um casamento.

Fiquei calado. Ela sabia muito bem que não era assim, desde que pus meus olhos sobre Felipa em uma farmácia no subúrbio uma parte de mim não conseguiu esquecê-la, talvez fosse à semelhança que ela tem com minha falecida mãe. A forma como as palavras saem tão doces, mesmo quando são hostis, assim como eram as de Cecília. Isso me prendeu nela por alguns instantes. E claro, seu sobrenome. Como uma pessoa tão igual minha mãe poderia ter causado tanto sofrimento a ela?

No começo eu não sei o que me levou a tudo isso. Talvez só o prazer de fazê-la sentir na pele tudo que eu senti. Tudo que minha mãe sentiu. Mas ela nem era nascida quando essas coisas aconteceram! Mas, ainda assim, eu não podia esquecer que ela também era responsável. Afinal de contas, os inocentes pagam pelos erros dos pecados, não foi sempre assim? Enfim. Eu fui até o ápice de tudo, se era dinheiro que Gregório Sullivan precisava, era isso que ele teria. E como previ, desceu até o último nível. Esse homem já não tinha mais orgulho ou honra. Era um fracassado, provavelmente fracassaria com a vida da filha adolescente e da esposa, no fim eu estava e estou fazendo um favor às duas. Quando tudo acabar todos nós sairemos vencedor, apesar de um estar ganhando mais que outro.

― Eu vou dar uma volta. ― Disse por fim. Alva apenas assentiu.

Por incrível que pareça estava fazendo calor no inverno de Seattle, máximos dezesseis graus e isso me deixavam até feliz. Havia mormaço, apesar de nuvens negras estarem se formando ao sul, o que indicava que em breve teríamos chuva. Mas eu gostava das chuvas.

O trânsito era o mais desanimador. Liguei para Susan três vezes, minha secretária garantiu que tudo estava como deveria estar e nada sairia do lugar se eu tirasse um dia para mim. E eu realmente precisava disso; uma baita viadagem, diria Pablo, mas é verdade. Ao lembrar-me de meu melhor amigo, me fez pensar no que ele diria a respeito disso, a essa altura já poderia saber, já que minha noiva e sua mulher resolveram virar – melhores amigas para sempre – de uma hora para outra.

Quando dei por mim meu carro já ocupava uma vaga na entrada do Joe’s Bar. Sai do carro e andei o pequeno caminho até a velha porta de madeira. O lugar ainda tinha o mesmo cheiro de sempre, era aqui que eu costumava fugir das coisas. Primeiro da faculdade, depois de meu pai, de Nina, do mundo. Mas desde que a conheci eu não tinha tido a necessidade de estar aqui. Talvez porque ela me distraísse o suficiente.

Sentei-me em uma das primeiras cadeiras no balcão, era um novo barman. Ele me olhou por cima do ombro, fazia algum drink no liquidificador.

― Ei cara, o que você vai querer?

― Whisky. Cowboy. ― Ele riu. ― Duplo. ― Logo o liquido âmbar era despejado em um copo barato.

Enquanto eu virava o conteúdo tentava ignorar a queimação na garganta ― Mais ― Disse quando percebi que duas doses não seria o suficiente.

― São dez e quinze da manhã, amigo ― Ele informou desnecessariamente. Como se fosse à mamãe. Eu não queria uma mamãe, o ignorei.

― Você é casado? ― O barman me olhou curioso, negou enquanto enchia meu copo outra vez ― Nem eu.

― Mas vai ser em breve, certo? ― Meus olhos tombaram na grossa aliança de ouro branco no dedo anelar direito.

― Em breve. ― Concordei.

― Acho que você precisa da garrafa toda então. ― Eu ri, o barman se distanciou para entender um cara que com tantas cadeiras vazias resolveu se sentar ao meu lado.

― Uma Martine, por favor. ― Um cara com voz feminina.

― Dois ― Informei, a mulher ao meu lado tinha um rosto singular. Simples. Não era a mulher mais bonita que eu já havia visto, não era como Nina. Nem de longe como Felipa. Usava jaqueta de couro e maquiagem escura. Não ousei olhar para nenhum lugar abaixo de seu corpo, mas a curiosidade existiu ― Hey. ― Ela arqueou a sobrancelha quando a cumprimentei.

― Na foça, suponho ― Deixei uma risada oca escapar por meus lábios enquanto ela dizia.

― Talvez...

― Hm... ― Murmurou se pondo de pé. Agora eu pude reparar em seu corpo. Era magra, mas tinha nádegas adoráveis... Usava uma mini saia e meia calça, botas de salto alto. Ela parou de frente ao tiro ao alvo. Pegou alguns dardos e me olhou. Eu reconheceria aquele olhar de desafio em qualquer lugar. ― Quem perder paga a conta. ― E ao terminar sua frase lançou o primeiro dardo. Bem no centro do alvo, a parte branca e vermelha. Um sorriso malicioso passou por seus lábios, arqueou novamente suas sobrancelhas e estendeu um na minha direção ― Quer tentar?

Andei na sua direção. Um sorriso bobo brincava em seus lábios.

― Talvez eu erre de propósito, sou um cavalheiro e a dama sempre ganha. ― E então mirei e joguei. Meu dardo fincou no alvo e o balançou, o dela caiu.

― Uau. Achei que me deixaria ganhar sozinha, bonitão.

― Um empate deixa o jogo mais interessante, linda... ― Nos encaramos por alguns segundos e ela voltou a sorrir exibida.

― Então vamos fazer uma nova aposta.

― O que você sugere, amor? ― Eu estava começando a gostar de seu jogo. A morena de olhos faiscantes segurou minha mão direita, ela encarou a aliança e eu por algum momento eu achei que ela retrocederia.

― Acho que você não vai topar... ― Murmurou inocente.

― Você ainda não propôs.

― Eu e você, uma conta muito mais cara do que a desse bar. E uma bebida muito mais cara também. Hidromassagem...

― Você já esteve no Empire Hotel? ― Os olhos da mulher a minha frente brilharam, negou rapidamente e quanto menos esperei ela lançou seu último dardo para o alvo. Novamente acertou em cheio, com palminhas ela comemorou.

― Você ganhou! Simplesmente ganhou. Não há discussão sobre isso, vamos.

50 dólares fora depositado no balcão, a mulher ao meu lado não deixava de rir um minuto se quer. Nós praticamente corremos para longe do bar, quando cliquei para destravar o alarme do carro ela ficou deslumbrada. Era uma mulher fácil. Mas não importava, por hora era me distrairia do jeito que eu precisava.

Empire Hotel é simplesmente a imagem do mais luxuoso que há em Seattle. Apenas celebridades se instalam nele. A nata da sociedade. Os nobres. Os eleitos.

Descobri que o nome da mulher que se instalava comigo era Lisa e ela era mãe solteira, ganhava a vida como garçonete e nas horas vagas gostava de cantar. Era uma companhia interessante. Inteligente até, me surpreendi quando pude falar qualquer assunto que envolvesse qualquer coisa, mas não é bem como em “Uma Linda Mulher” e mais como “A última noite de solteiro”.

Foi fácil. Um telefonema e então Susan resolveu tudo para mim, a recepção do Empire entregou meu cartão-chave enquanto Lisa me esperava em nosso andar. Discrição era o ponto.

― Essa será a sua primeira traição? ― De repente ela estava séria demais.

― Mais ou menos. Apenas... Faça valer a pena, você consegue?

― Eu sou a garota que acerta dardos no alvo de olhos fechados... Valerá muito apena bonitão.


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Notas finais do capítulo

Não curti muito esse capítulo, porém descobrimos coisas interessantes sobre Chris e sua obsessão por vingança... Pobre Felipa... Logo teremos um casamento, docinhos... Beijos! Até a próxima.



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