Herança escrita por Janus


Capítulo 56
Capítulo 56




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     Escola. Rotina diária na vida de um adolescente. Ir a escola, estudar, aproveitar o intervalo para curtir um pouco, estudar mais ainda, voltar para a casa, estudar para o dia seguinte...
     Rotina monótona esta. Mas esta mesma monotonia era o que determinava a formação de conhecimentos básicos que os jovens teriam um dia quando estivessem em um meio em que não adiantava colar em provas, usar cálculos escondidos, nem nada. O Mercado de trabalho.
     No século XXX, as avaliações eram para os alunos perceberam onde estavam fracos, para se aprimorarem. Ninguém era reprovado por isso. A tarefa de reprovar, ficava quando tentassem um emprego sem se prepararem.
     Mas nesse momento, isso não passava pela cabeça de Rita e Allete, que tentavam de tudo para que Suzette lhes desse algumas "dicas" sobre qual eram as respostas certas da nova prova surpresa que fizeram.
     Anne e Serena, contudo, não estavam muito interessadas nisto. Primeiro porque não estavam na mesma classe, e segundo porque no local em que estavam, era muito bom observar os meninos – cada gatinho lindo – jogando futebol na quadra.
     Para a princesa era mais uma forma de causar ciúmes no Yokuto. Especialmente agora que a mãe dele sabia que namoravam. Agora ele não tinha desculpa nenhuma para se fazer presente, e nem para voltar cedo para casa. Podiam namorar até as oito da noite – isso porque ele e o irmão tinham que voltar para treinarem.
     Na verdade... todos estavam treinando agora. Até ela e Diana! E Diana estava realmente surpreendendo com sua agilidade. Demais mesmo.
     - Olha aquele ali! – disse Anne com corações nos olhos para um dos atacantes que estava prestes a fazer um gol.
     - Hum? – ela o olha, mas o aperto que Yokuto dá na sua cintura a obriga a não comentar nada. Que ótimo! Podia ficar assim o dia inteiro – desculpe Anne, mas eu já estou com o meu gatão aqui...
     - E a Joynah? Questionou Yokuto ao notar que ela não estava por ali. De fato, nem seu irmão estava.
     - A Joynah está na classe. Sinto-a muito bem ali. Disse que estava um pouco cansada e queria tirar um cochilo.
     - Também! Com o treino puxado que a sailor Júpiter está dando para as filhas...
     - Não é nada comparado ao que a mamãe Haruka faz comigo... ou o que a sua mãe deve estar fazendo com você e seu irmão.
     - É.. – ele concordou – nisso você tem razão. E o Herochi?
     - No banheiro – respondeu ela quase sem se incomodar.
     - Há...
     Continuaram a observar o jogo e ficaram em silêncio, pelo menos, até o sinal tocar indicando que o intervalo acabara. Sem meios de evitar, começaram a voltar para a classe. Yokuto acabou indo também ao banheiro, de forma que as duas seguiram tranqüilamente para seus lugares. Tinham mesmo tempo antes da professora chegar.
     Mas assim que chegaram na sala, um som inconfundível preencheu seus ouvidos.
     Zzzzzzzzzzzzzzzzzz...
     Serena arregala os olhos ao notar de quem era o ronco: Joynah! com é que ela consegue dormir na sala de aula, e justo na aula da pior das professoras? Tinha que fazer alguma coisa, do contrário a mesma a mataria depois achando que era sua culpa ela ter dormido.
     -Eí, Joynah, acorda. Acorda. Acorda!
     Zzzzzzzzz...
     - Saco! Mas que tanto essa garota dorme?
     - Vai ver, está sonhando com o seu príncipe - dizia Anne, com um sorriso largo de uma ponta a outra para Serena.
     - Príncipe? Duvido muito, eles ficaram juntos metade do intervalo até que ela subiu de volta para sala, e o que nós encontramos? Que bela soneca, isso sim! Deve estar dormindo desde então, e se não a acordarmos, ela vai ter problemas!
     E ela falava sério, já que o intervalo já havia terminado e os demais alunos já haviam retornado para a sala.
     - Anda, acorda! Acorda, sua gorda! Acorda!
     Zzzzzzz...
     - Mas como ronca!
     - Parece até você – disse Serena sorrindo.
     - COMO É! – Anne pos as mãos na cintura, irritada pelo comentário. Será mesmo que ela roncava?
     - Você me ouviu! Parece até você roncando. E você ronca alto! Ainda me lembro do acampamento no ano passado..
     - Aquilo foi um urso!
     - Que veio atrás de você pensando que era um amigo dele...
     - AH, não começa! Anda Joynah, acorda logo!
     Ela balançava a amiga, mas esta não dava sinais de que queria acordar. Na verdade, parecia até que murmurava alguma coisa.
     - Essa não vai acordar fácil.
     - Os outros alunos estão chegando...
     Ela observa a porta e percebe o que ela disse. Seus colegas entravam por esta e se dirigiam aos seus lugares. Apenas um ou outro observava a cena ali com certa curiosidade, mas não se incomodavam muito. Não era assim excepcional um aluno deitar a cabeça na mesa e ficar parecendo que estava dormindo. Especialmente depois do lanche.
     - E agora?
     - Boa pergunta. Só queria saber com o que ela está sonhando. Deve ser algo bom, pois está sorrindo como uma criança.
    

-x-

 

     Que lindo era aquele campo. Onde ficava?
     Não sabia. Sua única noção daquele lugar era que ficava em um parque. Aonde, não sabia.
     E que lindas flores aquelas! Ele havia dito que, mesmo depois que o lugar aonde aquelas flores ficavam foi destruído, a antiga dona havia criado um canteiro no mesmo local, e dele nasciam belas plantas. Em alguns anos o canteiro cresceu tanto junto com o parque, que já tinha mais da metade do parque original.
     E como aquelas flores eram lindas!
     - Niichan! Niichan! - a pequena garotinha cuja cor dos cabelos parecia se perder em meio as flores, corria em direção a um rapaz.
     - Ai... lá vem ela!
     Como o esperado, a pequena menininha vem correndo e salta, e o mesmo se prepara para pegá-la, só que este se posiciona mais do que o normal. E não é para menos, visto que depois que ele a pega, dá alguns passos para trás como se tivesse sido empurrado com mais força do que o normal!
     - Ouch! Assim você me mata, gordinha!
     - Eu não sou gorda! - ela fazia uma cara de choro, cobrindo o rosto.
     - E-eí, espera um pouco, eu só estava brincando, desculpa, vai!
     Ele retira o bracinho dela do rosto, e a mesma estava com um olhar sapeca, mostrando a língua para ele.
     - Engraçadinha. O que você acha de eu te jogar o mais alto que puder e ver o que acontece?
     - Você não vai conseguir! Otousan mal consegue me levantar, e... e... as cadeiras se quebram quando eu me sento, ninguém quer brincar comigo e... e... - ele encosta a cabeça no ombro do rapaz, e o mesmo escuta um choro começando.
     Tadinha. Afinal, que culpa ela tinha de ter nascido assim?
     Ele a ajeita melhor nos braços e, afastando sua cabeça de seu ombro, olha novamente para ela. Até que ele a arremessa para o alto.
     E como foi alto!
     Parecia que tinham arremessado uma bola de baseball para as alturas, por assim dizer... fora que uma bola de baseball não gritava.
     - AAAAAAHHHHHHHHH! AAAAAAAHHHHHHH! - ela para um instante para respirar, confirmando que realmente estava a uma altura de mais de dez metros do chão. - Eu... eu tô voando!
     - Ai, ai... um, dois, três.
     O jovem flexiona os joelhos, dando um salto em seguida. Um salto poderoso.
     Para a surpresa da garotinha, ele já estava lá, ao lado dela, puxando-a para junto de si. Pouco depois, ambos estavam caindo, tocando suavemente o chão.
     - Niichan! Ei fiquei com tanto medo e... e... com é que você fez aquilo? Que legal, me ensina?
     - Eu sou bastante forte, gordinha!
     - Não me chama de gordinha!
     - Joynah...
     Ele se senta no gramado, colocando aquela garotinha em seu colo, olhando-a firmemente. Como sempre ela entende aquilo como uma brincadeira, jogando-se por completo em cima dele e enchendo-lhe de cócegas.
     - Há!Há! Para! P-p-para, gordinha! P-para!
     - Só se você prometer que não vai mais me chamar de gorda!
     - Há! Há! Tá, eu paro, mas para com isso!
     - Promete?
     - Tá, eu prometo!
     Ela cessa a tortura, deixando-o estirado na grama. Poucos segundos depois ela torna a encará-lo, com um sorriso mais sapeca ainda.
     - Você não toma jeito. Vem cá.
     Ele a deita ao seu lado, colocando a cabeça da mesma sobre seu peito, e ela o abraça, descansando.
     - Niichan... eu sou normal?
     - Claro que é . Por que a pergunta?
     - Então... por que eu peso tanto?
     - Todo mundo pesa um pouco, até Okaasan.
     - Mas... mas eu peso muito! Minha cama quebra toda hora, eu já quebrei a cama de Okaasan uma vez, não tenho nenhum brinquedo inteiro... - embora não estivesse olhando diretamente para ela, ele sente que algumas lágrimas estavam se formando em seu rosto -... e todo mundo fica me chamando de gorda!
     - Joynah... - ele puxa a cabeça da mesma um pouco mais, enquanto massageia sua cabeça. -... você é tão normal quanto qualquer pessoa. A diferença é que você tem qualidades especiais, as quais só eu e poucas pessoas conseguimos enxergar. As outras pessoas pensam que você é estranha justamente por que não conseguem enxergar como você é especial. Não ligue para eles.
     - Snif... mas é que eles me deixam triste... tão triste!
     - Olhe para lá - ele aponta para algumas pessoas que estavam olhando para eles - eles estão me observando, tentando adivinhar como foi que eu pulei tão alto. Ou então devem achar que tomaram sol demais.
     - E como foi que você fez isso?
     - Como, não, mas por que eu fiz isso? Por que eu tenho uma grande responsabilidade.
     - Responsabilidade?
     - É. Cada um de nós tem algo importante para fazer, seja pequeno ou grande. Muitas vezes nós temos coisas grandes para fazer, mas no entanto as outras pessoas não enxergam isso. Para aquelas pessoas, eu sou um alienígena. Elas não se dão ao trabalho de querer saber o que eu faço, o porque disso... nada. Julgam-me apenas pela primeira impressão que tem de mim. A propósito, eu sou um alienígena?
     - Não! Você é meu niichan! Ninguém vai te chamar de esquisito por que eu não vou deixar!
     O rapaz puxa a garotinha, abraçando-a enquanto a mesma chorava, de uma forma mais calorosa do que a anterior.
     - E eu não vou deixar que ninguém se divirta ás suas custas, irmãzinha. Não vou permitir... jamais. Independente do que os outros digam, você é especial para muitos... e para mim. Se você é diferente de outras pessoas, é por que tem um caminho especial pela frente. Suas futuras responsabilidades te deram poderes para enfrentá-las da melhor forma possível.
     - Poderes? Que poderes?
     - Acredite em mim, vai! Eu estou sentindo uma coisa muito especial dentro de você, como se fossem grandes poderes prontos para despertar!
     - Mas... mas como eu vou saber quando a minha responsabilidade chegar?
     - Não se preocupe. Afinal, grandes poderes trazem grandes responsabilidades.
     - Você é estranho.
     - E quem não é?
     Ela sai de cima dele, e mais uma vez se enfia no meio das flores. Como eram bonitas! Tinha que perguntar para niichan se poderia levar algumas para Okaasan e Otousan! Será que o dono daquele lugar deixava?
     Alguns pequenos insetos passam perto da menina. Eram lindos, frágeis e belos em sua simplicidade. Borboletas!
     A pequenina começa a correr atrás delas, tentando capturar uma.
     - Não foge, quero te mostrar pro meu niichan! Não foge!
     O rapaz já estava há quase dez minutos dando boas risada com a cena. Ela insistia, caia, levantava e corria novamente, insistindo em pegar aquele inseto.
     Ele se levanta, indo até um vendedor de doces. Se a conhecia direito, logo, logo iria desistir e estaria pedindo algum doce para ele...
     - Niichan, olha só o que eu peguei!
     - Pegou, é? Espera um pouco - ele paga o moço, notando rapidamente que o mesmo estava com os olhos arregalados e uma expressão de terror nos mesmos - a gente come esse doce enquanto você me mostra o que você pegou, tá...!
     Realmente ela havia conseguido. Abriu a mão para que ele visse o que ela havia conseguido pegar, uma borboleta. E pela tonalidade e variedade das cores, deveria ser a mais bonita. Realmente, deve ter sido uma bela pegada. Pena que ele não tinha ali com ele alguma forma de registrar o sorriso dela de satisfação.
     Mas o fato da mesma está a alguns centímetros do chão, voando com um belo par de asas - as quais pareciam ser de borboletas - iria ficar em sua memória por toda a eternidade.
     Será que okaasan acreditaria se ele dissesse que não tinha nada a ver com isso?
     Claro que não.

 

-x-

 

     Zzzzzzzzzz... niichan...
     Anne coloca delicadamente a sua unha no nariz de Joynah, enquanto que Serena coloca no ouvido, tentando acordá-la. Mas não conseguiram resultado. Elas já haviam tentado de tudo. Cócegas, beliscão, dizer que o namorado estava próximo... nada.
     - Niichan... não vai embora, fica comigo mais um pouco! - Para a surpresa de ambas, ela se levanta bruscamente e agarra a pessoa que estava mais próxima dela: Anne. Ela, por sinal, fica incrivelmente vermelha, visto que a turma inteira estava olhando-a agora.
     - JOYNAH! Me larga!
     - Joynah, tá todo mundo olhando... e a professora também - e, quando percebe isso, Serena se senta, fingindo que não tem nada a ver com a confusão que estava armada.
     - Princesa, me ajuda!
     - Hã? Eu te conheço?
     - Joynah, se você não me largar agora, eu... eu...
     Nesse ínterim, metade da turma estava cochichando sobre se lembrar sobre "aquela" garota que dispensava todo mundo...
     - Glup! Joynah, agora você passou da conta! Me larga!
     - Niichan, não vai embora, por favor! Eu gosto tanto quando você fica comigo - E, para finalizar a cena, Joynah aumenta a força do abraço, ficando mais próxima do que os padrões morais da média da turma podia aceitar, e dando um largo e caloroso beijo na bochecha de Anne...
     - Oh-Oh - últimas palavras de Serena, antes de abaixar a cabeça, fingindo que nunca havia visto aquelas duas na vida.
     - Hmm? O que eu estou fazendo? E por que estou te abraçando, Anne?
     - Joynah - Anne começou a falar, calmamente - você estava dormindo e dizendo algo do tipo "Oniichan ou niichan", e é por isso que me agarrou.
     - Niichan? O que isso significa?
     - É um tratamento antigo para se referir a um irmão mais velho.
     - Irmão? Mas... eu não tenho irmão mais velho! Nunca tive, pelo menos até onde eu me lembro!
     - Disso eu não sei... e quer fazer o favor de me SOLTAR!
     Ninguém imaginava que Anne fosse tão forte, quando se livra dos braços de Joynah, enquanto retorna ao seu lugar, bufando


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