Herança escrita por Janus


Capítulo 54
Capítulo 54




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     Duas semanas depois...
     O anel de destruição pulsava ritmicamente, o que dava calafrios para os presentes – devidamente afastados a uma distância que eles julgavam ser segura. Hotaru tinha vindo novamente para acompanhar o treino das juniores. Como faltavam apenas duas semanas para o grande torneio – embora já acreditasse que o termo "torneio" não poderia ser aplicado – estava curiosa para saber como as jovens guerreiras – e guerreiros – se comportariam neste último treino. Não haveria mais nenhum outro.
     - Sinta a natureza de seu poder, Anne. Não tente controla-lo, simplesmente sinta-o.
     Titã permanecia de olhos fechados, demonstrando uma certa paz. Em nada se parecia com àquela guerreira que tinha visto semanas antes, fazendo um esforço enorme para controlar aquele poder assustador. O anel não parecia querer escapar ou pular de suas mãos como daquela vez, e ela não parecia estar segurando carvões em brasa como antes.
     Mas isso mudou quando ela abriu os olhos.
     - Droga – disse ela entre dentes cerrados – droga... DROGA!
     A intensidade do pulsar mudou completamente, bem como o seu brilho. Agora parecia uma força com vida própria, totalmente sem controle. Ele começou a balançar em suas mãos e a agir como se fosse puxado de um lado para o outro. As sailors e cavaleiros próximos a ela, começaram a dar passos para trás, como se já tivessem visto aquilo antes e soubessem o que esperar.
     - Saturno... acho melhor nos afastarmos um pouco – disse sailor Moon, que também veio assistir ao treino. Mais atrás, encostada em uma árvore, estava sailor Mercúrio. Ainda achava estranho ela ter vindo. Segundo as crianças, raramente um dos seus pais aparecia por ali, para não causar pressões psicológicas. Ela estava incrivelmente calma observando a cena.
     Podia-se ver que Titã estava ficando apavorada pela perda crescente de controle do anel de destruição. Ele puxava de um lado para o outro, como se quisesse se libertar das mãos que o seguravam. Que estranho... ela nunca enfrentou nada disto com o seu anel de devastação, que aparentemente era idêntico a esse.
     - NÃO CONSIGO! – gritou ela quase em pânico – PRECISO DISPARAR!
     - Consegue sim – disse Sohar pondo a mão direita em seu ombro. Ele estava atrás dela, e assim como Mercúrio não demonstrava nenhum receio ou temor pela súbita e provavelmente comum perda de controle de seu poder – pare de olhar para o brilho do anel e volte a sentir o poder dele. Você está se enganando com os seus olhos. Ele não está fora de controle, você é que está com pressa de usa-lo. Pare de aperta-lo com os dedos e o segure suavemente, como uma taça de cristal.
     Ela olhou para trás para encara-lo de frente. Era claro que não estava acreditando no que ele tinha dito. Mas ele estava certo! Era assim que ela controlava o seu poder. Exatamente assim.
     O anel continuou a ser puxado de um lado para outro, ainda querendo agir por vontade própria.
     - Ele vai escapar – disse Anne – se eu afrouxar as mãos ele vai escapar!
     - Ele não existe fora do contato com os seus dedos – disse Sohar suavemente – pare de achar que é algo físico. É apenas uma manifestação de seu poder. Afrouxe suas mãos. Agora!
     Ela o fez, mesmo não acreditando. O brilho do anel diminuiu na mesma hora, bem como a sua louca dança descontrolada. Anne estava surpresa com aquilo, tinha recuperado o controle.
     - Há um limite para quanto você pode controla-lo – disse ele calmamente – é isso que você tem de fazer daqui para a frente. Invoca-lo e lentamente, a cada treino, intensificar mais e mais a concentração de energia, até controla-lo completamente. Dispare-o agora contra aquela rocha.
     Titã apontou o anel para a rocha e ocorreu uma concentração de energia no centro deste, como se poeira brilhante fosse atraída por ele. Logo depois um jorro de energia branca saiu de seu centro atingindo a pedra em cheio. Diferente da última vez em que a tinha visto usando o seu poder, não houve nenhuma explosão gigantesca. A pedra apenas ficou muito queimada onde foi atingida. Apenas isso.
     - Nossa! – exclamou Anne – eu nunca consegui controlar a intensidade dele antes.
     - Aumente a concentração de energia agora, até sentir que ele ameaça sair de seu controle.
     O anel voltou a aumentar o seu brilho. Quando começou a tremer um pouco, o brilho diminuiu, e Titã sorria de alegria. Ela disparou novamente contra a pedra e desta vez ela se partiu em três partes.
     - FINALMENTE! – gritou ela de alegria – EU POSSO CONTROLAR MEU PODER!
     - Agora pare, antes que você se sinta cansada.
     - Porque? – ela olhou para ele sem entender – eu vim aqui para treinar. E quero treinar enquanto puder, especialmente agora que descobri como usar meu poder.
     - Você precisa estar descansada para o treino que tenho em mente. Venha comigo.
     A contragosto, ela fez o anel desaparecer e o seguiu até ficarem em frente aos outros.
     - Bem crianças – começou ele, entrando na roda que eles formaram - esse é o último treino antes de teste final. E ele vai ser para valer. É por isso que Amy está aqui – ele apontou para ela – não vai haver nenhum dispositivo de segurança, e espero, nenhuma misericórdia – ele olhou diretamente para Hotaru, o que a fez imaginar porque tinha sido convidada a vir – da parte de ninguém.
     - Nós vamos lutar contra a minha irmã de novo? – perguntou Titã.
     - De novo não – disse ele sem olhar para ela – mas sim, pela primeira vez. Ela se segurou muito no primeiro confronto. Tanto que foi pega de surpresa por Joynah. Desta vez, eu estou pedindo para que ela lute de verdade, sem ficar imaginando de que maneira atacar para não machucar muito.
     - Tem certeza disto, Sohar? – perguntou ela sorrindo – elas podem se machucar feio.
     - Por isso que Amy está aqui, e também a princesa. Se algo grave ocorrer, ela usará os seus poderes de cura.
     - Quer dizer que eu não vou participar?
     - Não princesa, não vai. Pode ir ficar do lado da Amy.
     - Bolas! – disse caminhando lentamente para ela.
     - Pai... ela... não lutou para valer daquela vez?
     - Não Allete – respondeu ele estreitando os olhos – nem vocês. Comecem quando quiserem, e não parem enquanto ela estiver de pé.
     Ele se afastou deles e foi na mesma direção em que estavam Mercúrio e sailor Moon.
     - Podemos nos "machucar feio"? - perguntou Miranda sorrindo – somos oito contra um... e você não se deu tão bem assim da outra vez.
     - Cuidado Miranda – disse Titã – você ainda não conhece minha irmã. Ela é uma outer, não se esqueça.
     - Ninguém vai começar? – perguntou Fobos.
     Sem aviso, Saturno deu um salto, atingindo cerca de cinco metros de altura. Materializou sua alabarda em sua mão e, em um arco descendente, emitiu do fio da lâmina deste um tipo de arco luminoso que cortou o ar até atingir o centro do semi círculo que seus oponentes formavam logo abaixo, jogando todos longe com a onda de choque resultante da explosão. Desta vez ela sabia o que teria de enfrentar, as jovens sailors não.
     Conforme ela descia de volta, percebeu que Titã tinha conseguido erguer o seu escudo – mas só protegeu a ela própria – e Terra tinha saltado para longe. Todos os outros foram pegos de surpresa. Não era a toa que aquelas duas eram as líderes de suas equipes. Sua primeira estratégia tinha dado certo: ela quebrou a chance deles atuarem como equipe – algo que ela percebeu ser muito respeitável – agora tinha que partir para a segunda parte.
     Ela atacou o anel de defesa de Titã com a sua alabarda, com todo o poder que tinha direito. Foi como se duas forças ancestrais entrassem em conflito. O impacto desta no seu escudo gerou outra onda de choque, muito maior que a primeira. Notou, pelo canto dos olhos, que o solo ondulava com a onda, e o fazia ritmicamente, pois, estranhamente, enquanto ela mantinha a pressão sobre o escudo dela, mais e mais ondas de choque surgiam. Era como se ela estivesse em um braço de ferro consigo mesma.
     Ela não pôde manter a pressão, pois percebeu que algo brilhante se aproximava dela. Usando a alabarda como bastão, ela rebateu essa luz – foi quando percebeu que era o ataque de Miranda – para o chão, o que levantou muita poeira, exatamente como ela queria. Ela não precisava ver para atacar – e eles também não podiam vê-la. Fez um arco horizontal com sua alabarda e emitiu o arco de luz da mesma forma, o que iria obrigar uns cinco ou seis deles a desviarem. Seu problema agora era Titã as suas costas.
     Problema facilmente resolvido, pois, assim que ela lançou o seu ataque, deu outro salto, e, percebeu que tinha calculado com precisão. Os ataques de Ariel e Europa passaram onde ela estava antes e acertaram Titã em cheio, que, aparentemente, tinha acabado de abaixar o seu escudo. Mas ela não teve tempo de ver se tinha ficado fora de combate, pois notou que lá vinha aquela bola luminosa enorme de Joynah. Como chamavam aquilo mesmo? Bola Terremoto? Bom, não importava. Ela estava no ar e, como não podia voar, seria impossível se desviar daquilo. Assim, decidiu rebater a mesma de volta para a dona, para ver se ela podia enfrentar aquilo.
     Mentalmente, ela registrou para nunca mais tentar fazer aquilo de novo. Quando ela usou a sua alabarda para rebater aquilo da mesma forma que fazia com os ataques das outras, a mesma explodiu na sua cara, fazendo todo o seu corpo tremer como se estivesse sendo amassado por rolos compressores enormes – aquele ataque era diferente de tudo o que já tinha visto antes, era quase como se fosse algo físico. Não era a toa que era chamado de bola terremoto! Parecia mesmo que ela estava no meio de um – arremessando-a em rodopio diretamente para o chão, como se estivesse fazendo um salto mortal para trás.
     No último minuto, ela conseguiu aterrissar com os pés – Joynah deve ter morrido de inveja – e girou sua alabarda para lançar um semi círculo luminoso como contra ataque. Sailor Terra fez o que ela esperava, tentou voar por cima do círculo, e foi atingida em cheio por outro semi circulo que ela tinha feito logo em seguida, este de forma vertical. O som do impacto chegou a impressiona-la. Esse, ela devia ter sentido.
     Só que, novamente não pode aferir o resultado. Desviou-se de um jato de lava incandescente que passou a milímetros de seu rosto – desta vez, as crianças estavam lavando aquilo mais a sério – e foi colhida por um tornado nas suas costas, sendo arremessada, rodopiando, para cima. Enquanto usava seus conhecimentos de "bailarina" - adquiridos no período em que esteve lutando naquela dimensão - para evitar de ficar tonta, ela imaginou que aquilo tinha sido um ataque coordenado, o jato de lava serviu apenas para joga-la diretamente no meio do tornado.
     Nada mal, para novatas. Saturno sorriu ao perceber que novamente Miranda lançava o seu caleidoscópio contra ela, achando que estava tonta demais para esboçar alguma reação. Estava na hora de mostrar quem é que estava lutando para valer ali, bem como quem era realmente a sailor da Destruição.
     Conforme partia ao meio o ataque da sailor Miranda, ela fez uma rápida análise da situação lá em baixo – puxa! Ela estava bem alta... aquele tornado era potente mesmo – um dos cavaleiros de Marte estava se recuperando agora do seu primeiro ataque. Titã também estava de pé, com um anel branco nas mãos. Hum... ela ia recuperar as forças de alguém. Devia ser do outro cavaleiro, desacordado perto de uma árvore. Mais afastados, na borda da clareira, ela viu sailor Moon, Mercúrio e Sohar, observando a luta. Sailor Moon estava sentada no chão, abraçando os joelhos, como se estivesse bem descontraída – e, com certeza, estava.
     Mercúrio devia estar preocupada com a filha. Ariel estava rodopiando de novo, para lançar um segundo ataque. Europa também estava lançando sua nevasca e Calisto já tinha lançado outro jato de lava. Só que todas elas se esqueceram de ver em que direção ela estava indo. Ela já tinha começado a cair quando elas atacaram, de forma que erraram o alvo. Saturno nem se incomodou com aquilo. Seu alvo primordial não era nenhuma delas. Enquanto descia, ela viu a sailor Terra se levantando do golpe que atinha derrubado. De todas, ela era a mais perigosa. Quando tocou o chão, ela já estava com as duas mãos em forma de concha, pronta para o seu megaraio.
     Era hora de mostrar os novos truques que tinha aprendido nestes anos em que esteve "fora". Sorrindo com um certo cinismo, ela passou a sua alabarda para a sua mão esquerda, e apertou firmemente o punho direito. Um anel brilhante se formou ao redor deste, com três cores. Ela apontou o punho diretamente para sailor Terra e gritou:
     - Argolas de Saturno!
     Uma seqüência de anéis – ou argolas – coloridas foi lançada por aquele que envolvia o seu punho, os primeiros prenderam os pulsos de sailor Terra, impedindo-a sequer de começar o seu ataque. Os restantes se fixaram em seus tornozelos, joelhos, ombros, até no pescoço. Ela ficou totalmente imobilizada com aquilo. Percebeu que as outras ficaram surpresas, e, momentaneamente, estáticas. Grande erro. Ela já tinha começado a girar a sua alabarda, e, da ponta da lâmina, um circulo se formava. Ela fez um movimento para frente com a alabarda girando e este círculo foi arremessado contra sailor Terra, sendo que a alabarda não saiu de suas mãos.
     Sailor Terra tentou um grande esforço para se libertar, mas não conseguiu. Foi colhida pelo circulo rodopiante e, como se ficasse presa neste – na verdade, ela ficou presa dentro do círculo, como aquelas assistentes de malabaristas que lançam facas – foi junto com ele em direção a algumas árvores. Ninguém a viu atingi-las, mas viram as mesmas serem duramente golpeadas em suas bases, sendo que pelo menos três delas, uma atrás da outra, caíram, como se fossem cortadas por um lenhador gigante. Se isso não a deixasse fora de combate, nada mais o faria.
     Subitamente, os outros começaram a entender o que estavam realmente enfrentando. Titã gritava algo para eles, mas todos permaneciam parados, olhando incrédulos para o que ela fez. Um dos cavaleiros de Marte – na verdade, o único que ainda estava de pé – começou a correr em direção aonde caiu a sailor Terra. Herochi... isso foi idiotice. Saturno fez um arco com a sua alabarda e o atingiu em cheio com o semi círculo que se projetou desta.
     Três fora. E, principalmente, sailor Terra estava fora de combate, e Titã ainda não conseguia mandar as outras se organizarem. Melhor para ela. Agora, tinha de derrubar sua querida irmã de criação. O resto seria mais fácil.
     - Argolas de Saturno – disse ela novamente lançando as argolas contra Titã.
     Titã não se moveu. Apenas tocou na sua tiara e seu visor apareceu. Será que ela ia perder tempo analisando o que era aquilo? Sem se defender, ela começou a ser imobilizada pelas argolas. Seus pés e braços estavam firmemente presos. Saturno começou a girar sua alabarda exatamente como tinha feito antes. Titã continuava sem esboçar reação, mas, parecia que dizia alguma coisa. Devido a distância, não podia ouvir, e, não importava.
     Ela percebeu movimento atrás de si. Era um brilho intenso, o ataque de Miranda. Ela se desviou e se preparou para lançar o seu "círculo da morte" contra ela, quando percebeu que tinha caído em uma armadilha. Sailor Ariel e Sailor Calisto a atacaram ao mesmo tempo. Ariel dando um golpe com a perna por cima, e Calisto por baixo. Uma acertou o seu antebraço esquerdo, e a outra o braço do mesmo lado, forçando-a a soltar a alabarda e a se contorcer de dor. Seu ombro fora deslocado com aquilo. Sentiu uma potente joelhada nas suas costas, devia ter sido Europa, já que Miranda ainda estava na sua frente e Titã ainda devia estar presa.
     Europa e Calisto eram mesmo filhas de sua mãe. Qualquer uma delas era mais forte que ela, provavelmente só perdendo em força física para Júpiter, Urano e logicamente para sailor Terra, a irmã mais velha. Ela caiu de cara no chão há cerca de cinco metros de distância. Não tinha tempo para sentir dor – apesar dos protestos de seu ombro esquerdo e das suas costas, onde foi atingida sem piedade – ela se pos de joelhos rapidamente e numa rápida e necessária avaliação viu que as três que a golpearam estavam lado a lado, cada uma iniciando o seu ataque. Miranda estava lançando o seu golpe contra as argolas que prendiam Titã, e a estava libertando com isso. Todas elas, sem exceção, estavam usando visores. Foi por isso que Titã acionou o seu. Para um contato melhor e perfeita coordenação com elas. Droga! Não esperava por aquilo. Ponto para as novatas. Agora estava com o braço esquerdo imobilizado e sem a sua alabarda.
     Calisto lançou o seu ataque primeiro. Mesmo sabendo o que iria acontecer depois ela não tinha escolha. Pulou por cima deste ataque e foi novamente colhida por um tornado que a arremessou as alturas. Já estava ficando comum aquela luta aérea. Logo em seguida ela sentiu o seu corpo tremer de frio com o ataque de sailor Europa, tanto que seus músculos começaram a se retesar contra a sua vontade.
     Ela conseguiu controlar sua queda e aterrissou com os pés, embora com o joelho esquerdo dobrado. Seu corpo estava todo dormente e saía vapor pelo seu nariz com a sua respiração. Todo o ar ao seu redor estava em uma temperatura abaixo de zero. Titã já estava livre, e um anel amarelo já surgia em suas mãos e Miranda tinha se posicionado atrás deste. Saturno estreitou os seus olhos e observou com critério a situação.
     Estava sem poder usar o braço esquerdo, sem a sua alabarda, e com o corpo muito duro e dormente, provavelmente sem grande capacidade de movimentos. Ainda tinha cinco oponentes em condições razoáveis. Iria precisar de uns dez minutos para se recuperar do frio ao qual foi submetida.
     Ela não iria perder aquela briga. Não podia.
     Se elas a vencessem, iriam talvez ficar confiantes demais, o que poderia induzi-las a subestimarem seus oponentes.
     Ela ergueu a mão direita acima da cabeça, ainda com um joelho dobrado e quase sem equilíbrio. Os dedos desta semi dobrados, como se segurasse algo invisível neles. Todo o céu começou a escurecer e trovões podiam ser ouvidos, apesar de não haver nenhum raio caindo. Súbito, como se a gravidade do local estivesse em rebeldia, pedras pequenas começaram a flutuar, assustando as jovens sailors. Em seguida foi como se uma bomba subterrânea tivesse explodido. Uma enorme quantidade de solo foi lançada ao ar, golpeando as sailors no processo por várias vezes seguidas. Foi cerca de dez centímetros de solo, porém com tal ímpeto e velocidade que três delas foram nocauteadas. Sobrou ainda consciente apenas Titã e Calisto. Calisto estava muito machucada e sangrava um pouco pelo canto de sua boca, Titã mal conseguia se mover.
     Só que ela também não estava lá em perfeitas condições. Tinha usado quase tudo neste último golpe. Se uma daquelas duas resolvesse ataca-la não poderia se defender. Sentiu alguém tocar no seu ombro – felizmente, aquele não estava deslocado – e olhou assustada na direção do mesmo. Era sailor Moon, com um sorriso um tanto amarelo. Não podia culpa-la, tinha acabado de estraçalhar as suas melhores amigas. Viu ela erguer o seu cetro e invocar a sua cura lunar. Ao mesmo tempo, a dor em seu ombro foi diminuindo, até que sentiu que podia move-lo novamente. Mercúrio já estava examinando os desacordados. Logicamente que primeiro foi ver como estava a sailor Ariel.
     Cerca de meia hora depois todos estavam sentados no chão, formando um círculo, como se estivessem reunidos em um acampamento, a noite, e fizessem roda em torno de uma fogueira. Mas não era isso que estava no centro, era Sohar, observando eles sem expressão alguma no rosto. Todos um pouco cabisbaixos e, de uma certa forma, decepcionados. Mesmo sailor Saturno estava assim.
     - Estão todos bem – disse sailor Mercúrio – mas, por favor... nunca mais repita isso Sohar. Sei que todos precisavam encarar esse tipo de coisa, só que, daqui para frente, vamos deixar para quando não sentirem puderes em usar tudo o que tem.
     - Quantas vezes você passou por isso? – perguntou olhando friamente para ela – quantas vezes lutou sem ter realmente vontade de faze-lo?
     Ela apenas ficou em silêncio, e não conseguiu sustentar o seu olhar. Acabou se sentando no chão, um pouco mais afastada das crianças.
     - Crianças, este foi o último treino. Daqui para frente, estão por conta própria. Vocês devem decidir se vão treinar, praticar, ou, simplesmente ficar alertas. Fui incumbido de ensinar a usarem seus poderes, em qualquer situação, e, isto eu já lhes ensinei. Na verdade, ensinei mais do que devia. Só para recapitular, vamos ver se todos perceberam o que ocorreu. Joynah, pare de mastigar um pouco e preste atenção.
     - Sim? - Sailor Terra olhou para ele, fazendo um certo esforço para afastar o olhar da caixa de comida que tinha entre as pernas. Tinha ficado muito debilitada com o combate e com a surra que levou.
     - Por que você foi derrotada? – perguntou ele cruzando os braços e a encarando.
     - Eu – ela ficou indecisa – hesitei para atacar...?
     - Não – disse ele sem emoção alguma – você é a líder do grupo um, e, em nenhum momento, eu percebi você tentando reagrupa-lo. Tentou encarar Hotaru sozinha, sem apoio, sem nem imaginar o que ela iria fazer. Você ignorou tudo o que tentei lhe ensinar. Lembre-se disto! Apesar de ser a mais poderosa, você tem pés de barro. Seja prudente ao usar seu poder.
     - Sim... pai.
     Ela ficou cabisbaixa, visivelmente envergonhada.
     - Herochi – ele o olhou e apertou os lábios, como se soubesse que seria o próximo a ser chamado – sabe porque foi posto fora de combate?
     - Eu... me preocupei mais com a sailor Terra do que com o inimigo.
     - Não – ele sorriu – não é crime ou erro cuidar de alguém ferido. Mas é preciso definir prioridades. Devia ter pedido cobertura ou atacado Hotaru para ter folga para poder se mover em direção a ela. Podia também ter dado cobertura para as outras, que estavam sem ação naquele momento.
     - É... eu devia. Não vai acontecer mais.
     - Se acontecer, pode muito bem ser que tudo o que consiga sejam flores em seu túmulo – ele estava cada vez mais frio conforme falava, o que chamava a atenção de todos ali – não existem muitos motivos para usarem estes poderes, exceto o de defender ou atacar. Se forem fazer qualquer um dos dois, preocupem-se primeiramente com isto. Senão, fujam o mais rápido que puderem.
     Olhou ao redor, detendo-se em cada um deles. Cada um, na sua vez, abaixou a cabeça, com exceção de sailor Saturno.
     - Quanto as outras cinco, meus parabéns. Atenderam aos pedidos de Anne para aquele último ataque. Mas, não deram cobertura para ela e Rita enquanto preparavam o golpe final. Nunca achem que o oponente está fora de combate. Suzette, você podia ter lançado um segundo tornado enquanto ela estava caindo.
     - Sim... é verdade. É que... eu... não quis faze-lo.
     - Eu sei – disse ele simplesmente – bem crianças. É isso. Só quero ver vocês vestidas assim de novo no dia do teste. Até lá, façam o que bem entenderem.
     Ele sorriu fracamente e começou a andar, sendo acompanhado por sailor Mercúrio.
     - Pessoal... eu... sinto que ele ficou desapontado com a gente.
     - Não sailor Calisto – disse sailor Saturno – não foi com vocês. Foi comigo.
     - Com você?
     - Sim... não fui objetiva, e perdi tempo me exibindo. Ele queria que eu os derrubasse em cinco minutos. Só precisava usar o meu ataque principal logo de cara, e nocautear as que ainda ficassem de pé.
     - Que ataque principal é esse?
     - Qualquer dia eu te conto, Europa. Bom, vocês vão ainda fazer aquele piquenique?
     - É melhor fazer enquanto ainda temos o que comer – disse sailor Moon olhando para sailor Terra, que já estava devorando a segunda caixa de comida.


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