Herança escrita por Janus


Capítulo 28
Capítulo 28




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     - Está bom agora?
     Ele leu o relatório devagar. Avaliando a sua forma de escrever, os erros de ortografia, e a clareza do mesmo. Balançou a cabeça em sinal de aprovação, mas, ainda havia um pequeno problema.
     - Incidente, é com "c", e não com "s" – comentou ele.
     - Mas que droga! Porque não me deixam ditar o relatório? Porque tenho de usar o teclado virtual, e sem corretor ortográfico? – bufou Joynah, já bem irritada com aquilo.
     - Eu não sei, filha – disse o seu pai, sorrindo – mas acho que você andou fazendo alguma coisa errada ontem, para sua mãe te mandar fazer isso desta forma. O que foi?
     - Deixa para lá... – disse ela, ficando um pouco encabulada – acho que sei exatamente o que foi. É só acertar isso que está bom?
     - Fica aceitável – disse ele – nada mal para o seu primeiro relatório. Espero que não precise fazer muitos.
     - Eu também – disse ela – que coisa chata! Aposto que quando começaram, nunca fizerem nada deste tipo.
     - A Amy mantinha um diário, que acho que pode ser encarado como um tipo de relatório. Na verdade, todos os dados do museu das sailors foram obtidos deste diário. Como já deve ter visto ele é bem detalhado...
     - É... bastante – concordou – mas mesmo assim espero não ter que fazer isso sempre. Que coisa chata! Tira toda a alegria de ser uma sailor. Vamos ter mesmo de fazer isso?
     - Sim.
     - Espero que da próxima vez eu possa ditar o mesmo...
     Seu pai não comentou nada. Seu desejo de que ela não tivesse que fazer muitos relatórios assim, era mais uma vontade de que não precisasse atuar muito. Aquilo não era diversão, era perigo! Era uma função perigosa aquela, a de defender o reino, e, por conseqüência, o resto do planeta. Ele não queria – nenhum dos pais queria aquilo – que seus filhos se envolvessem na questão. Tudo bem que eram sailors, e os meninos já tinham também nascido com poderes, mas... não era para ser necessária a ajuda deles. Eram só crianças... crianças com um futuro – esperavam – muito normal pela frente.
     Apesar disto, ele as treinou. Treinou como nunca tinha treinado alguém antes. A usarem seus poderes, a atuarem em equipe, a compreenderem o que realmente tinham se tornado, embora, ainda achasse que tinha fracassado nesta última. Treinou-as para serem capazes de se defenderem. A visita que fizeram ao passado confirmou que tinha feita um bom trabalho.
     Infelizmente, fizera o seu trabalho bem demais. As crianças acabaram ficando acima das expectativas. O que estava lhe causando um tormento terrível. O que aconteceria no dia em que, enfrentando um oponente, nenhum de seus pais estivesse por perto para dar apoio? Como as crianças iriam reagir em uma situação em que não pudessem vencer? Uma situação em que tivessem que sacrificar suas vidas?
     - Pai?
     - Desculpe, filha. Eu estava divagando. Já terminou?
     - Sim – ela parecia feliz – posso tomar o café da manhã agora?
     - Pode – disse ele sorrindo – suas irmãs já devem estar na mesa. Sua mãe as fez ficar quietas já faz uns vinte minutos...
     - Faz tempo que elas não brigam... deviam estar com saudades. Estou curiosa para saber quem venceu...
     - Vá até lá e descubra. E filha...
     - Sim? – perguntou ela, já a meio caminho da porta de saída do pequeno escritório que tinham em casa.
     - Não ande com o girociclo na calçada. Ele não é nenhuma bicicleta... lembre-se disto.
     - Hum... me pegaram de novo, não é?
     - Mais uma multa e perde sua licença. E se dirigir sem ela, vai ficar presa por uma semana. Não pense que sua posição junto a família real pode lhe dar alguma imunidade não...
     - Tá bom pai, eu vou manter a cabeça fria daqui para a frente...
     Ela voltou até onde ele estava sentado e lhe deu um beijo na face. Logo em seguida seguiu correndo até a mesa de jantar para tomar o café da manhã com as irmãs. Seu pai releu o relatório dela, desta vez prestando atenção no que ele transmitia. E ficou muito, mas muito preocupado.
     Ele não sentiu nada! Não sentiu a energia daquela criatura. E temia que as outras pessoas com capacidades para perceber coisas estranhas também não tivessem sentido nada. Era na verdade uma certeza. Se algum deles, Sume, Haruka, Michiru, Setsuna, Ray, até mesmo a jovem Anne, tivessem sentido algo, alguma coisa, por menor que fosse, teriam dado algum tipo de alerta. E Diana não teria de passar por todo aquele perigo.
     Diferente de todos os oponentes do passado este de agora era totalmente oculto. Podia agir nas sombras, sem despertar suspeitas. Era por isso que mesmo agora, dois anos depois do primeiro incidente oficial – que ocorreu na Lua – ainda não havia nenhum tipo de alerta ou comunicado a respeito para a população. Eles não sabiam de absolutamente nada, exceto que alguns "incidentes isolados" estavam ocorrendo ultimamente, e para os quais a resposta oficial era a de que provavelmente eram causados por algumas criaturas que haviam ainda sobrado da guerra Blackmoon. Uma desculpa esfarrapada, mas que estava, ao menos por enquanto, satisfazendo as pessoas.
     Como explicar para as pessoas comuns que àqueles a quem se acostumaram a confiar sua segurança, e até as suas vidas, estavam completamente impotentes para agir? Que não tinham absolutamente a menor idéia do que estava ocorrendo? Como usar as outer senshi para cuidar daquilo se nenhuma delas conseguia prever onde seria o próximo ataque? Mesmo as crianças estavam um pouco curiosas por esta "má vontade" de agir deles. Suas filhas algumas vezes lhe perguntavam sobre aqueles incidentes. E ele não sabia mais inventar desculpas. Muito menos sua esposa.
     Quem eram esses "generais de Klarta"? E porque estavam usando tal título? Esse Klarta seria mesmo aquele planeta destruído há tanto tempo atrás? Onde sua mãe e seu pai pereceram? Ou seria um nome coincidentemente idêntico para significar alguma outra coisa?
     Se podiam agir assim, totalmente despercebidos, o que estavam fazendo nestes últimos dois anos? Alias, nos últimos cinco anos, que era quando Amy tinha determinado que a primeira leva dos fantasmas negros teriam vindo, através do portal da Lua, após examinar a energia residual destes, lá onde o mesmo se abria na Terra – hoje, embaixo da estátua de sailor Moon, na praça das sailors.
     Cinco anos atuando... sendo que, nos primeiros três anos, absolutamente nada foi percebido, por ninguém! Quanta coisa podia ser feita neste tempo... mais do que o suficiente para se infiltrar e conhecer uma quantidade muito assustadora de pontos fracos a serem explorados...
     Podia continuar com essa crescente preocupação até chegar a beira do desespero. Conseguiria dezenas, centenas, milhares de perguntas. E, nenhuma resposta. Sem saber qual o objetivo deles ali, não havia como determinar alguma meta ou contra ofensiva. E, o que tinham para trabalhar não ajudava em nada a determinar este objetivo.
     No entanto, sabia que, respondendo a uma única pergunta, talvez todo o resto se esclarecesse. Uma pergunta simples, que todos eles se fizeram nos últimos dois anos: O que estavam cavando? Sabendo isso, saberiam também o porque de ainda permanecerem nas sombras. Saberiam como antecipar os seus passos. Saberiam como enfrenta-los e frustrar os seus planos.
     Mas essa, era a grande charada.
     - Querido, venha tomar o café da manhã!
     Sua querida esposa... ele a amava! Sempre conseguia lhe dar um atenuante para situações como aquela. Desligando o computador do escritório, ele saiu do cômodo, indo diretamente até a sala de jantar. Lá estavam elas, sua quatro beldades. Sua esposa e suas três lindas filhas – interessante como todas as três puxaram a mãe – tomando o café da manhã. Nada como um momento em família, para esquecer das dificuldades e obrigações que a ascendência que possuíam os condenava a ter.
     Ele só se lamentava realmente por suas filhas estarem agora, condenadas ao mesmo destino. Mas elas ainda podiam escolher, ao passo que ele e sua esposa, já fizeram a sua escolha. Muito tempo atrás.
     - Vai ficar ai babando ou vai se sentar? – disse Lita sorrindo para ele – sei que tem quatro estupendas modelos aqui, mas isso não é desculpa para ficar ai parado feito um bobão!
     - Desculpe – ele ficou levemente corado, mas agradeceu mentalmente por ela ter feito aquela brincadeira, para que suas filhas jamais pudessem imaginar o que ele estava pensando, ou sentindo.
     Lita, contudo, já devia ter percebido a sua preocupação. Iria falar com ele assim que elas saíssem. Teria dito na noite anterior, mas preferiu deixa-lo dormir em paz. Agora, que leu o relatório de Joynah e soube o que realmente aconteceu, sabia o porque dela ter ficado em silêncio. Nenhuma das crianças, aparentemente percebeu aquele detalhe. Nem Joynah, nem Diana, e nem a princesa Serena.
     Ninguém podia detectar a presença do inimigo. A não ser, talvez, apenas Diana. E isso porque era a única a conhecer o odor de um destes.
     - O que vocês deixaram para saciar minha fome? – perguntou ele assim que se sentou à mesa, observando os dois pratos quase vazios. Um de pãezinhos e outro com doce de feijão. Doce de feijão? As meninas detestavam aquilo...
     - Só isso – respondeu Marina, indicando os pratos com as mãos – as empadinhas de queijo já eram...
     Fazendo uma careta, ele pegou alguns dos últimos pães e doces e começou a come-los. Estavam ótimos! Pelo sabor, estava apostando que tinha sido Allete quem os tinha feito.
     - Gostou? – perguntou ela, sua filha Allete, com um sorriso de esperança.
     - Estão ótimos. Continua com a mão boa para fazer pãezinhos.
     - Obrigada!
     - Meninas – chamou sua esposa – está na hora. Coloquem seus pratos no lava louças e vão para a escola, acelerado!
     - Sim sargento! – disse Joynah batendo continência para ela. Lita, ao invés de ficar nervosa, apenas riu do gracejo da filha. Mas fingiu que as chutava para fora da sala, como se fosse mesmo um sargento.
     Naquele instante, uma luz vermelha começou a piscar em seu relógio. Olhou para ele, para confirmar. Os guardiões estavam sendo convocados para uma reunião no palácio. Como a luz estava piscando de forma intermitente, tinham cerca de uma hora para chegar. Mas não podiam faltar, pois era a luz vermelha que piscava. Ele terminou de comer o seu café da manhã, enquanto aguardava suas esposa voltar, que tinha ido ver suas filhas partirem, para dizer a ela que tinha sido chamado.
     Quando ela entrou na sala de jantar, seu olhar estava um pouco sério. Na sua pulseira, uma das pequenas jóias desta estava também piscando, na mesma cor vermelha. Não precisava que ela dissesse nada. Ela ficou subitamente intrigada, e, seguindo a direção de seu olhar, percebeu que ela estava vendo o seu relógio piscar também.
     - As inner e os guardiões? Convocados ao mesmo tempo? – perguntou ela, sabendo que a resposta a pergunta era desnecessária.
     - Acho que também as outer e as asteroid – disse ele terminando de beber o seu suco – só as crianças devem ter ficado de fora. Eu senti Hotaru no palácio, ontem a noite. A rainha deve finalmente ter conversado com ela. Além disso, tem o caso de Diana também. É mais do que o suficiente para se perceber que estamos com problemas. Bem grandes.
     - Será que não podemos viver o resto de nossas vidas sem ter que enfrentar mais uma guerra?
     - Não creio que "guerra" seja a palavra apropriada. Chame de instinto, se quiser. Mas eu acho que a causa de tudo isso não tem absolutamente nada a ver com a costumeira ambição de conquista. É mais como se estivéssemos no caminho de alguém. Alguém que está fazendo o possível para não nos perturbar muito.
     - Acha mesmo?
     - Pelo menos, é como agiram até o momento. Computador, faça um chamado para a casa dos Kurame.
     Pouco mais de vinte segundos depois, uma imagem holográfica de Sume aparecia no meio da sala de jantar. Amy, ou melhor, sailor Mercúrio estava do seu lado.
     "- Sohar? Estávamos já de saída..."
     - Eu imaginava. Sume, Amy, vão para lá como pessoas comuns.
     "- Como?" – perguntaram os dois, um pouco confusos com o seu pedido.
     - Vai ser um pouco estranho explicar a presença de todos nós ao mesmo tempo lá, não acha? O que as pessoas irão pensar, de verem todas as sailors e guardiões indo para o palácio ao mesmo tempo?
     "- É verdade" – disse sailor mercúrio – "isso vai chamar muito a atenção".
     "- Mas acho que os outros já estão a caminho" – disse Sume – "e, provavelmente transformados"
     - Avise os que puder. Algumas sailors ou guardiões não vão chamar a atenção. É comum uns ou outras aparecerem por lá. Nós também estamos de saída. Nos vemos lá.
     Antes da ligação ser encerrada, puderam ver sailor Mercúrio reverter, atendendo ao pedido dele.
     - Pensou rápido – disse Lita, sorrindo para ele – como um verdadeiro líder...
     - Lita... não comece com isso. Tente falar com Haruka e Michiru pelo seu comunicador, A Mina já deve estar no castelo, e a Ray... bom, acho que ela pode ir como sailor...
     - Se ela for a única sailor a aparecer por lá, vai nos dar uma bronca danada por não a termos avisado – disse ela divertida – seria como ir a uma festa e ser a única a estar com roupas chiques.
     - Hum... – murmurou ele, antevendo a cena – acho melhor você falar com ela.
     - Certo. Vamos indo? Posso falar com ela no caminho mesmo.
    

-x-

 

     - Calminha ai vocês dois! – disse ela enérgica – podem voltar e ficar aqui do meu lado. Melhor ainda! Quero os dois segurando na minha saia, AGORA! E Não soltem enquanto o flutuador não chegar.
     Os dois pequenos se aproximaram dela, com um olhar meio encabulado, meio de medo. Era raro verem a irmã assim, "brava", e por via das dúvidas era bom não dar margem para levarem uma sova. Cada um deles levou a pequena mão até a saia escolar dela e a apertou com força, como se fosse uma alça de transporte público, para dar maior segurança e firmeza aos passageiros.
     - Que lindinhos – disse uma moça que estava esperando junto com ela no ponto de parada – são seus... hum... sobrinhos?
     - Meus irmãos... – respondeu Suzette, com um sorriso igual ao da moça – gostaria que a aparência inocente deles se espelhasse para o interior. Ultimamente andam muito rebeldes, e precisam ser tratados com mais energia. SUME! O QUE FOI QUE A MAMÃE DISSE SOBRE ESTICAR O PÉ PARA O MEIO DA RUA?
     - Não está no meio da rua – respondeu ele, naquela pose desafiante típica de crianças em fase difícil.
     - Mas está fora da calcada. Pode ser perigoso.
     - Mas não tem carro vindo...
     - AI MEU DEUS! – bufou ela, olhando para cima – Como a mamãe tem tanta paciência? Bem, garotinho... – o encarou diretamente nos olhos - como sabe que não tem carro vindo? Você está olhando apenas para o seu pé, e não para a rua. Está vendo aquele girociclo azul lá? – apontou com a mão, mas ainda olhava para os seus olhos – ou aquele flutuador ali? – apontou com o polegar para trás – ou aquele transporte aéreo lá em cima – apontou com o indicador diretamente para o alto – de cor amarelada, com um estrela na parte de baixo, descendo bem aqui?
     Sume, a cada apontada de mão dela, virava o rosto na mesma direção. E, a cada vez, ficava um pouco mais impressionado com a incrível capacidade de perceber detalhes da irmã mais velha. Quando viu o transporte aéreo descendo, deu um pulo para trás de susto. Provavelmente nem sequer tinha imaginado que ele estava lá.
     - Desculpa – disse ele, abaixando os olhos – senhora!
     - Como!
     A outra moça que estava também no ponto, começou a dar uma risadinha, incapaz de se controlar com a cara de surpresa e ultraje que a menina ali na sua frente, tinha feito ao ser chamada de senhora pelo irmão mais novo.
     - Não fique chateada – disse ela – ele apenas está sendo educado. Por enquanto ele aprendeu que chamar uma mulher mais alta de senhora, é sinal de respeito.
     - É? – ela não estava acreditando muito – como sabe?
     - Sou estudante de psiquiatria infantil – respondeu a moça. As crianças fazem certas associações todas próprias entre determinadas palavras e seu significado no mundo dos adultos. Ele te chama de irmã ou mana?
     - Quase sempre – ela estava um pouco impressionada com o currículo da moça ali.
     - Viu? É raro ele a chamar de forma mais formal. Foi um sinal de respeito. E se quer uma opinião profissional, eu a parabenizo pela sua paciência. A maioria das irmãs o mandaria calar a boca.
     - E ela manda... – resmungou o pequeno Sume.
     - Isso é quando você me torra a paciência!
     - Você é muito mandona!
     - E você é um moleque irritante! Sempre perturbando com suas manhas. Como você era bonzinho no ano passado...
     A moça voltou a rir, observando a discussão ali. O pequeno Nathan apenas ficava quieto, vendo os dois brigarem. Acabaram parando de discutir quando o transporte pousou, e eles entraram. Nathan fez um "tchauzinho" para a moça do ponto.
     Ela os empurrou depressa para que se sentassem em um banco. Apesar de rápido, o transporte aéreo não era muito misericordioso com quem ficava de pé dentro dele. Fato raro – isso de ser obrigado a ficar de pé - naquela cidade, mas não incomum na hora de pico estudantil.
     E, essa era a hora.
     Suzette se agarrou na alça pendurada no corredor e agüentou firme os balanços feitos enquanto ele ganhava altura. Tinha lugar para se sentar, mas ia ficar muito longe dos irmãos. E, como estava responsável por eles, tinha que ficar próxima. Tomara que seus pais possam pega-los no fim do dia, ela não iria agüentar o sufoco que seria traze-los naquele tipo de transporte, durante a tarde, que estaria lotado de crianças que teriam saído da escola.
     Vinte minutos depois, o transporte pousava em frente a escola. Quase todos os passageiros desceram – também eram estudantes de lá, embora Suzette só conhecesse alguns de vista. Ela puxou os dois pequenos para fora e os manteve firmemente ao seu lado, um em cada mão. Não iria deixa-los sair correndo para entrar na escola. Quando ainda estavam na escolinha, era mais fácil, havia um adulto vigiando os pirralhos. Agora que entraram no ano letivo normal, entravam pelo mesmo portão que ela.
     Sua sorte, era que o prédio deles era separado do seu, com uma quadra própria. Mas ela não ficava tranqüila enquanto não os levasse até esta quadra.
     Olhando para a frente, viu a princesa andando de mãos dadas com a sua irmã, vindo na sua direção, quer dizer, na direção do portão de entrada, pela direção oposta a sua. A sua frente, Diana andava saltitando. Era raro ela chegar junto com aquelas duas... geralmente chegava bem mais cedo, e ficava batendo papo com Anne, que já devia estar lá dentro, lendo alguma coisa.
     - Bom dia – disse ela assim que chegou mais perto delas, praticamente parando em frente ao portão – ei!
     Seus irmãos correram para a frente e escaparam de suas mãos zelosas. O mesmo aconteceu com a pequena princesa, mas ela foi bem menos bruta com relação a sua irmã. Os três se encontraram e se abraçaram. Havia uma amizade muito forte entre aqueles pivetes. Em especial do Nathan e de Sereninha. Era comum ela o beijar na face, para dizer bom dia. Já o Sume não gostava daquilo nem um pouco, sendo um perfeito moleque de sete anos, que não se mistura muito com as meninas de mesma idade.
     Mas, logo, logo, aquilo iria mudar.
     - Bom dia, Suzette! – disse Diana pulando em cima dela, e a apertando com uma força incrível – bom dia, bom dia, bom, bom, bom, bom diaaaaaa!
     Ela quase caiu de costas com o impulso dela. Tinha, na verdade, montado em cima de si, incluindo as pernas, como os seus irmãos faziam quando abraçavam o seu pai, e, malandros, já tentavam um colinho também.
     Só que Diana era bem mais velha e pesada!
     - Ai Diana! – reclamou – o que deu em você hoje?
     - Estou feliz... feliz, feliz, feliz!
     Isso era óbvio. Bastava ficar feliz para as costas de suas amigas ficarem doloridas, seja por pular em cima delas, ou as abraçando com uma força que daria inveja até a Joynah.
     No entanto... até que era algo bonito de se ver. Ela gostava de compartilhar sua alegria com as amigas.
     - ungh - mas não de se sentir – Diana – disse entre dentes, para evitar de gritar de dor – tudo bem... me solta agora que preciso respirar um pouco.
     - Ai que bom! Deixa em ver quem mais já chegou para abraça-los também!
     - Que alivio – disse ofegando um pouco enquanto via ela se afastar para o interior da escola. A princesa apenas observou a tudo com um sorriso um pouco irônico – o que aconteceu para ela estar tão feliz assim?
     - A mãe dela... – disse enquanto olhava Diana correndo pelo pátio da escola, ao mesmo tempo em que via sua irmã e os irmãos dela indo para a área deles – ela decidiu participar mais da vida da filha. Confesso até que estou com um pouco de inveja... minha mãe, apesar de muito ocupada, sempre arruma um tempinho para mim. Mas... é tão pouco...
     Suzette olhou na mesma direção que ela, e sorriu também. Diana, muitas vezes parecia uma menininha com aquele jeito inocente de ver o mundo.
     - Vamos entrar?
     - Claro! Quero ver como a Anne vai reagir quando for agarrada por ela – disse com um sorriso malicioso, já antevendo o escândalo que ela faria, ao ser agarrada de uma forma despudorada por uma menina.


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