Herança escrita por Janus


Capítulo 20
Capítulo 20




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     - Parece que você está se readaptando bem a vida "normal".
     - Bem Serena... não posso dizer que é difícil. Pelo menos, já consigo dormir tranqüila, sem ter pesadelos ou acordar sobressaltada com qualquer coisa. Sabia que a Anne ronca?
     - Sério?
     - Sim – Hotaru riu – dá para ouvir do meu quarto. Acabei me acostumando a fechar a porta, para ter um pouco de sossego. Acho que vou pegar o quarto de hóspedes para mim. Pelo menos, fica mais distante dela.
     A princesa voltou a observar as fontes do shopping que tanto chamavam a atenção de sua amiga. Desde que se sentaram naquele banco para "apreciar a vista" – como ela mesmo tinha dito – tinha ficado intrigada com o interesse dela naquilo. Ela ficava quase que hipnotizada quando as via, de tal forma que não falava nada, e, sempre parecia estar distraída quando começava a puxar conversa.
     - Ainda não me disse o que achou de minha irmã...
     - Como? Desculpe, estava distraída...
     - Já chega! – ela se pos de pé, com as duas mãos na cintura, a encarando – estou cansada disto. O que é que estas fontes tem de tão especial? Além de serem lindas e serem feitas de cristal azulado?
     Hotaru a encarou e, sem controle, começou a rir.
     - O que é tão engraçado?
     - Desculpa... – ela riu mais um pouco – é o jeito que você perguntou. Serena... continua curiosa como sempre. Bem que Setsuna me avisou sobre vocês...
     - O que ela disse? – agora ela estava um pouco receosa. Voltou a se sentar ao lado dela e ficou esperando pacientemente que ela respondesse.
     - Hum... apenas que vocês são mais curiosas que suas mães, e, já que, no momento ela é a única com uma vida amorosa ainda um tanto mal definida, é o principal alvo de vocês. Pelo menos até alguma das meninas conseguir arrumar um namorado.
     - Nós não somos tão curiosas entre nós não... – disse ela com um leve sorriso.
     - E... se eu te contar que Anne já tem um novo pretendente?
     - Quem é? É bonito? Eu conheço? Onde mora? Eles já se beijaram? Você viu os dois juntos? Anne está...
     - Já respondeu minha pergunta – ela riu – obrigada.
     Serena abaixou a cabeça de vergonha, tinha ficado levemente corada.
     - Só quero ver como vocês vão conseguir ficar de olho nela sem que ela perceba...
     - Droga! É mesmo... ela pode nos sentir. Ah.. quer saber? Dane-se. Não vamos ficar caindo em cima dela, não. – ela cruzou os braços e ficou olhando para a frente, aparentemente observando o movimento no shopping – Ela tem todo o direito e privacidade de cuidar de sua vida como bem entender, sem ser vigiada por um monte de curiosas. Qual o nome dele?
     - Não vou contar nada – Hotaru a olhou de uma forma um tanto maliciosa – escuta! Você não ia me desafiar para uma guerra?
     - Combate simulado – disse ela – sim, eu ia. Ainda está a fim?
     - Lógico! Quero ver esses novos jogos que você andou comentando tanto. Até a Anne gosta deles.
     - Então vamos – ela pos-se de pé, puxando-a pela mão – é no andar de cima. Mas vamos ter de pegar uma fila um pouco grande...
     Grande era uma forma um tanto singela de se reverenciar a fila... aquilo era enorme! Quando chegaram ao local onde ficava os jogos virtuais, havia, na entrada, um monte de mesas circulares com muitos jovens sentados nestas. Serena disse que aquelas mesas eram usadas por quem estava esperando na fila, que, aproveitava e pedia algum lanche ou até jantava de vez. Não havia nada daquilo quando tinha partido... os jogos eram feitos em casa, e a ligação em rede entre eles também ocorria a partir destes. Não haviam locais públicos assim para isso. A rainha havia mesmo cedido as pressões para retomar o crescimento econômico, permitindo o desenvolvimento destas modalidades comerciais de lazer.
     O sucesso disto era evidente. Com certeza, as conseqüências em termos de avanços tecnológicos deveria ter sido grande. Durante a maior parte do Milênio de Prata, depois do período em que os criminosos perigosos foram exilados no décimo planeta, a Terra tinha enfrentado uma grande e até monótona estagnação. Foi como parar no tempo em termos de avanços ou desenvolvimento. Não havia motivo. Boa saúde, sem miseráveis, equilíbrio social... e, logicamente, um lento e praticamente inexistente avanço em termos de aprimoração. Não foi a toa que o clã BlackMoon pôde ataca-los de forma tão brutal e terrível.
     - Acho melhor deixarmos para outro dia...
     - Que nada! Em meia hora chega a nossa vez. Você vai ver. Arrume uma mesa para esperarmos, eu vou pegar ingressos e já volto.
     Ela não pôde argumentar – como sempre ocorria, pelo que se lembrava – e, meio a contragosto, procurou por uma mesa vazia. Curiosamente, várias mesas ficaram vazias ao mesmo tempo, pois seus ocupantes estavam seguindo para a entrada da área onde ficavam os tais – e, para ela, cada vez mais intrigantes – jogos virtuais.
     Ela sentou-se em uma das mesas recém liberadas e aguardou Serena retornar. Esta veio cerca de um minuto depois, com dois cartões na mão. Deu um deles para ela, e colocou o outro na bochete de sua cintura.
     - Eu pedi dois sucos de uva para gente – disse ela – enquanto esperamos. Daqui a pouco devem chegar.
     - Obrigada – agradeceu olhando curiosa para o cartão. Ele tinha um tipo de tela no canto superior, onde estava escrito a palavra aguardar. O resto do cartão era preenchido com um desenho de jovens em uma posição de ataque, portando armas modernas ou antiquadas – e bonitas – espadas. Que belo incentivo a violência aquele... Em uma era que, sua fundadora achou ser o começo da paz eterna - Como permitiram esse tipo de jogo? – perguntou ela agora intrigada. Quando Serena a convidou para jogar aquilo, imaginou que seria talvez uma luta simulada no estilo arena, não muito diferente de lutas de academia. Bom, talvez tivesse um pouco de "vale tudo" a mais.
     - Alguém conseguiu provar que, se alguém estiver disposto a fugir da realidade, vai usar qualquer meio possível. Os jogos violentos apenas eram os que estavam mais a mão. Eles eram sintomas, não a causa da doença chamada "violência urbana". A prova é que a criminalidade não aumentou, apesar destes jogos estarem disponíveis já há um bom tempo.
     Uma bandeja flutuante com dois copos de um líquido avermelhado parou ao lado das mesas que elas estavam usando. Os mesmos estavam dentro de um tipo de redoma transparente. Serena pegou o seu cartão monetário e o inseriu na fenda de uma projeção da bandeja e a redoma se abriu. Ela pegou os dois copos e colocou um em frente a Hotaru. A bandeja flutuante seguiu seu caminho.
     - As vezes eu sinto uma certa nostalgia do tempo em que pessoas traziam os nossos pedidos – comentou ela bebericando o líquido.
     - Então devia ir no restaurante da Lita. Lá ainda é quase tudo manual.
     - Foi o que me disseram. Mas só vou lá quando for a Joynah que estiver cozinhando.
     - Daqui há dois dias – sorriu Serena bebendo quase metade de seu copo – no mesmo dia em que vamos visitar àquelas ruínas.
     - Ruínas?
     - Não te contaram ainda, não é? Acharam umas ruínas ao sopé das montanhas ao norte, e ficaram os últimos quarenta anos escavando por lá. A parte já devidamente estudada foi aberta ao público, e nossa escola agendou uma excursão para lá. Não preciso dizer que Anne andou deixando todo mundo maluco com sua vontade de ir até lá.
     - Imagino – ela riu – faz parte da história do Japão?
     - Creio que não. Não se parece em nada com outras descobertas ou com o que os estudiosos sabem a respeito. Lembro que vi uma reportagem uma vez, comentando que elas se parecem mais com ruínas romanas. A mesma reportagem comentou, no final, que elas tem mais semelhança com o pouco que se sabe sobre as ruínas do Milênio de Prata na Lua.
     - Talvez uma antiga cidade do Reino da Terra... – arriscou ela.
     - Foi o que a Anne achou. Luna também concorda com ela, e por isso insistiu em irmos até lá.
     - Ela já foi?
     - Não. Disse para lhe contarmos depois, o que prova que ainda não esteve lá. Mudando de assunto, o que você vai fazer, Hotaru?
     - Fazer? Como assim?
     - Bom, você voltou para ficar, certo? O que vai fazer? Arrumar um emprego, estudar, morar sozinha... já decidiu o que vai fazer de sua vida?
     - Ah... não. Ainda não pensei nisso. Talvez eu faça como a Mina, assumindo uma função no castelo. Ela é a chefe de segurança de lá, e a capitã da guarda da cidade, como sailor Vênus, lógico.
     - Ou então, como Haruka e Michiro, embaixadoras de Cristal Tóquio na Terra, e representantes do planeta como sailors.
     - É... algo neste estilo. Como sei o que estamos para enfrentar, talvez eu acabe pedindo uma função que me deixe a par de tudo o que ocorre. Parece que vocês ainda não sabem o que eles – ela deu uma ênfase toda especial para esta palavra – querem.
     Serena balançou o seu copo, para misturar melhor o líquido. Ficou um pouco pensativa com o que ela tinha dito.
     - Estamos apenas na defensiva e totalmente no escuro – comentou ela, olhando para o tampo da mesa, com os olhos um pouco vidrados – só Mina e mamãe tem a visão total das coisas. Estranho... agora que pensei nisto é que me toquei que não falaram nada para a gente. Não estamos participando muito deste assunto.
     - Talvez porque vocês não possam ajudar. Lá em casa também notei que Haruka e Michiru também não ficam estudando estes casos. Mesmo esse mais recente que aconteceu no sábado, elas apenas receberam uma mensagem de Amy e fizeram uns poucos comentários.
     - É frustrante! – Serena tinha acabado de beber todo o seu copo – eles não fazem nenhuma ameaça real. Tirando o que aconteceu na Lua, não fizeram nenhuma menção de ameaçar ninguém... alias, preferem simplesmente assustar as poucas testemunhas.
     - Droga... – murmurou.
     - Que disse?
     - Nada... apenas praguejava um pouco.
     - Como eles são?
     - Eles? Impiedosos. Parece que não se incomodam muito com o que fazem. Até hoje não sei porque dominaram àquele mundo. Ninguém conseguiu descobrir objetivo no que fizeram enquanto estavam no controle. Não ficaram explorando seus recursos, não usaram como base... não sei. Assim como não sei porque vieram para cá. Parece que, a única coisa que queriam fazer lá eram aqueles fantasmas negros, que eles chamam de sombras.
     - Eles... faziam aquelas coisas? Como?
     - Eu não sei explicar direito... tinham um tipo de fábrica, onde coletavam muitos minerais. Haviam grandes tanques como os nossos aqui nas estações de tratamento de água. Dentro do complexo, haviam tubos de vidro gigantes, onde eu vi muitos destes fantasmas em formação. Eram como amebas se desenvolvendo. Talvez seja isso mesmo o que sejam... criaturas irracionais ou, quando muito, com a inteligência de um animal doméstico, criado apenas para obedece-los como soldados.
     - Não são muito inteligentes não... nem muito fortes.
     - Você nunca enfrentou centenas de milhares deles. Eles atrapalham muito a sua concentração.
     - Hum... eu já enfrentei sim – confessou ela – na Lua, quando as novas sailors surgiram. Estávamos para perder quando sailor Urano e o Treinador nos ajudaram.
     - Entendeu agora? Não sei quantos foram criados, mas deve ter sido um número assombroso.
     - Será que estão fazendo o mesmo aqui?
     - Duvido. Aquela fábrica causava uma poluição incrível, sem contar com o cheiro de podre que exalava.
     - Calma ai que ainda não jantei!
     - Desculpe – riu ela – depois de tudo o que passei, duvido que tenha alguma coisa que possa estragar o meu apetite.
     - Ah não... – disse Serena ao mesmo tempo em que um som era ouvido. Ela abriu sua bochete e, remexendo lá dentro, soltou um belo palavrão.
     - Você cresceu mesmo... – cutucou Hotaru.
     - Não enche! – ela olhou ao redor para se certificar de que ninguém estava prestando atenção, e pressionou a base de seu brinco direito, que, Hotaru reparou que era idêntico ao seu brinco de sailor Moon. Na mesma hora, um visor surgiu do nada em seu olho direito.
     - Mas... como?
     - Brinquedo do Orion – respondeu ela – com certeza, ele já deve estar fazendo um para você – pode falar – disse ela atendendo a ligação – mãe? Estamos no shopping... ...íamos jogar um pouco... ...não vi ela não, já tentou na casa da Anne? ...acho que sim, afinal, ela não é a manequim preferida dela? ...como assim a Luna não sabia disto? Já sei! tenta na casa da Joynah. As vezes, ela aparece lá as segundas, para aprender a cozinhar um pouco. tá bom, eu dou o recado para a Hotaru. Beijinho mãe, eu te amo!
     - Coisa importante? - perguntou Hotaru quando ela pressionou o brinco novamente, fazendo o visor desaparecer.
     - Nada não, apenas a Diana que sumiu de novo sem avisar ninguém. A Luna está subindo pelas paredes atrás dela. Eu já disse para darem um comunicador de sailor para ela...
     - Será que ela não está investigando alguma coisa suspeita? Pelo que me lembro, ela é bem esperta e responsável nestes assuntos.
     - Por que acha que Luna está tão preocupada? – sorriu ela de uma forma um pouco amarga – ela já nos avisou de cinco ou seis locais em que os fantasmas estavam prestes a aparecer. Queria saber como ela consegue executar suas funções de forma excelente e ser uma péssima adolescente comportada.
     - É de família. Ah sim... acho que ouvi você falando que sua mãe tinha um recado para mim.
     - É mesmo! Quase esqueci. É para você ir falar com ela lá pelas nove da noite.
     - Finalmente! Estou tentando uma audiência desde que cheguei aqui, mas ela estava sempre falando que eu preciso descansar um pouco mais. Andei até achando que ela não gostava mais de mim.
     - Não pense besteiras, Hotaru. Mamãe passou os últimos anos implorando a Haruka e Michiru para tentarem descobrir o que tinha acontecido com você. Todas vez que elas iam para Kinmokusei, elas tentavam descobrir uma pista a mais do que tinha lhe acontecido. As starlights já estavam ficando de cabelos brancos. Bem, pelo menos, as outras duas. Só que ela ainda é a rainha e a líder suprema das sailors. Andou estes dias apertando todo mundo para descobrir o máximo possível o que tinha acontecido com você, para analisar o que você falou e até mesmo pesquisando sobre a nave que você usou para vir até aqui. Ou seja, ela vai te dar um senhor abraço e te botar na fogueira, porque ela deve ter um monte de perguntas.
     - Parece que ela mudou um pouco... mas ainda não tem o senso de urgência necessário para algumas coisas.
     - Acredite em mim, ela tem sim. Mas ela te conhece muito bem. Todas as outer, alias. Sabe que vocês sempre escondem um detalhe ou outro, e, desta vez, ela andou tentando descobrir algumas coisinhas antes.
     - Quer dizer que ela está preparada? Vai ser interessante – Hotaru sorriu, de uma forma um pouco maliciosa.
     Um som chamou a sua atenção. Ele vinha do cartão. Notou que Serena abriu sua bochete e pegou o cartão dela. Naquele vídeo, onde antes estava escrito aguardar, agora dizia acesso livre.
     - Vamos lá? – perguntou Serena, com os olhos estranhamente penetrantes.
     - Vamos. Sempre quis saber como você se sairia lutando sem limites.
     - Cuidado com o que deseja...
     Elas se levantaram e seguiram – junto com muitos outros – para dentro da área reservada aos simuladores. Hotaru ficou em frente a um tipo de cilindro grande, com uma porta aberta. Serena a empurrou por trás para que ela entrasse e ajudou-a a vestir o aparelho. Era basicamente um suporte para algo que ficava ao lado de seus olhos, embora um pouco mais para a frente. Na mesma armação, havia um tipo de fone projetor de som para os ouvidos. Também vestiu luvas que subiam até os seus cotovelos e botas – ela teve de tirar os sapatos para vesti-las – para os pés. Com isso, ela poderia interagir no mundo virtual, bem como "sentir" o mesmo.
     - Te encontro lá dentro – disse Serena para ela, que, agora, estava completamente cega – eles vão ligar a anti gravidade para que você possa andar aqui sem bater nas paredes. Não se incomode que a sensação passa rápido. Eu vou estar no time azul.
     Ela ouviu ela sair do cilindro e a porta se fechar, logo depois. Sentia-se como uma boba ali dentro, usando aquele "capacete" esquisito com duas pontas laser – parecia – apontadas para os seus olhos e um par de luvas que não combinavam nada com a sua roupa. Súbito, sentiu um frio na barriga, como se estivesse no topo de uma montanha russa. Um sensação de enjôo logo a invadiu, mas, logo passou. Vagamente teve a sensação de estar flutuando. Seus olhos foram atingidos violentamente com uma luz e, então, ela... ela estava em um mundo totalmente diferente.
     Era um labirinto, na verdade. E ela estava vendo este através de um óculos ou visor, já que aparecia uma mira diante de seus olhos e algumas informações no canto direito da tela. Incrível! Muito, mas muito real mesmo. Olhou para as suas mãos e viu que estava vestindo um tio de uniforme – muito justo no seu corpo - haviam adornos amarelos na manga deste, nos tornozelos e na sua cintura também. Foi quando ela reparou que seu corpo estava muito mais... esbelto! Como aquele jogo podia saber a forma de seu corpo?
     "Soldados, o inimigo penetrou nossas defesas."
     O som foi incrivelmente real.
     - Vamos – disse um rapaz que apareceu do seu lado – a princesa está naquele time, temos que atacar com tudo agora ou não vamos ter chance.
     Ele saiu correndo pelo corredor do labirinto. Após hesitar por alguns instantes, foi atrás dele. Não demorou muito para alcança-lo. Ele estava encostado em uma parede, logo ao lado de uma abertura, a arma em punho – onde estava a arma dela? – apontada para o chão. Podia ver luzes rápidas passando pela porta. Ele estava usando um uniforme igual ao dela – devia estar no seu time – e um tipo de visor da cor azulada que cobria os seus dois olhos. Ela devia estar usando um igual. Ele era uma gracinha...
     - Me dê cobertura! - disse ele.
     Meio que por instinto, ela tentou procurar na sua cintura com a mão e encontrou uma arma, igual a que ele estava usando. Ao lado do coldre dela, havia cinco peças verdes redondas.
     - O que é isso? – perguntou ela.
     - Granadas – disse ele – já jogou isto antes?
     - Não... – ela sorriu – primeira vez!
     - Que ótimo...
     Ela pegou uma das granadas e pensou um pouco.
     - Essas granadas explodem no impacto?
     - Só se você regular assim - respondeu ele olhando para a abertura da porta – há um botão para regular o tempo.
     - Prepare-se – disse ela sorrindo – vou te dar a cobertura que pediu.
     Ele olhou para ela curioso. Ela sorriu e lançou a granada na parede em frente a porta, usando-a como tabela para que esta entrasse pela abertura. Dois segundos depois, um clarão e um show de luzes coloridas que lembravam fogo irromperam pela abertura. Ela se colocou a frente desta abaixada e começou a disparar.
     - Menos três – disse ela logo em seguida, observando três lápides no corredor – quantos são?
     - Vinte – respondeu ele – é a primeira vez que joga esse jogo mesmo?
     - Este aqui – ela sorriu – é. Vamos.
     Por cerca de meia hora, Hotaru encurralou e foi encurralada por muitos oponentes, mas não viu Serena em parte alguma. Até que, de repente, desviou-se praticamente por instinto de uma saraivada de tiros que passaram muito perto.
     - Nada mal, Hotaru – disse Serena – nada mal mesmo.
     - É a princesa – disse o seu colega de equipe, agachado na parede ao lado dela – deve ser a última inimiga. Pelo registro de contagem, está dezenove a dezoito. É só vencer ela que o jogo termina. Só que ela é especialista em atacar de surpresa.
     Serena devia estar atrás da parede no fim do corredor, ou então, dando a volta para pega-los por trás.
     - Ainda tem granadas?
     - Tenho uma – disse ele.
     - Se eu disparar em uma granada, ela explode?
     - Lógico!
     - Ótimo. Jogue ela sem armar no fim do corredor.
     Ele o fez, a mesa ficou rolando no chão até bater na parede oposta. Hotaru ficou prestando atenção aos sons. Não parecia que alguém estivesse correndo. Serena não devia estar lá.
     - Não vai disparar?
     - Não. Ainda não. Ela deve estar dando a volta. Vamos dar um susto nela.
     - Como assim?
     Serena andava pelo corredor devagar, muito devagar para não fazer barulho. Nunca houve um combate em que ela tinha sido a única sobrevivente, o que indicava que Hotaru era muito boa. Mas cometeu um erro. Lançou a granada para foça-la a se mover, mas, como não estava muito próxima dela, preferiu ficar parada. Ficou surpresa dela não ter detonado, bom truque.
     Só estava esperando eles se aproximarem. E... era agora! Estava ouvindo passos no piso indicando a aproximação deles. Ela se preparou. Os passos ficavam mais próximos. Perfeito! Era só botarem a cabeça a vista e levariam laser no meio dos olhos. Deviam estar pensando que ela não devia mais estar ali.
     Os passos pararam, mas pararam muito próximos. Deviam estar encostados na parede. Era agora. Ela saltou indo diretamente para a parede oposta, disparando pelo corredor. Viu os dois, e sabia que iria acertar um, mas, ao mesmo tempo, percebeu que iria perder. Era permitido fazer aquilo?
     Hotaru estava montada nos ombros do rapaz... que droga! Havia disparado pelo corredor, em um arco que, ela sabia, iria atingir qualquer um que estivesse próximo. Mas não atingiu Hotaru, pois estava mais alta do que esperava. Ela teve tempo de ouvir ela debochando, antes de levar o tiro fatal.
     - Touche, princesa...
     Hotaru sentiu seu corpo pousar no chão novamente, e o cilindro estava lá, de volta. Tinha sido incrível! Nossa! Fantástico mesmo. Começou a tirar a tralha que estava vestindo e, após uma certa confusão, descobriu como abrir a porta. A princesa estava lá, de braços cruzados, olhando para ela. Os outros jogadores estavam andando em direção a saída.
     - Parabéns – disse ela um pouco seca.
     - Eu te avisei...
     - Avisou nada! – ralhou ela – ora bolas! Como eu nunca pensei em fazer isso?
     - Vamos... – ela a pegou pelo cotovelo – eu tenho uma audiência com sua mãe, lembra? Não quero chegar atrasada.
     - Ainda temos tempo.
     - Eu sei... mas, mesmo assim, prefiro chegar cedo.
     - Moça! – um rapaz a estava chamando.
     - Sim? Ho! É você...
     Ele parou em frente a elas e recuperou um pouco o fôlego antes de prosseguir.
     - Você... você foi incrível. Muito mesmo. Nunca estive no time vencedor antes. Como se chama?
     - Hotaru – disse ela – e você?
     - Shion – disse ele – você tem um bonito nome.
     - Você também... Desculpe, mas eu tenho de ir. Talvez a gente se encontre de novo.
     - Espero que seja no mesmo time – disse ele.
     - Nossa! Ele é uma graça – disse Serena olhando para trás enquanto era quase arrastada pela Hotaru - Porque está fugindo dele?
     - Se eu começar a conversar, não vou parar enquanto não conseguir o código de seu comunicador. E se fizer isso, vou perder a hora com a sua mãe. Além disso, prefiro que ele é que fique atrás de mim – ela sorriu.


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