Resident Evil: Experimento X escrita por Goldfield


Capítulo 10
Capítulo 23 e Epílogo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/4304/chapter/10

Capítulo 23

 

Nash Vs. Cammy; Guile Vs. Bison.

 

Cammy saltou e tentou atingir Nash com um chute aéreo. O lutador cobriu a face com os dois braços e conteve o golpe, preparando-se para reagir em seguida usando uma rasteira. Assim abaixou-se e girou sobre o chão com uma das pernas esticadas, mas a adversária pulou no momento exato, evitando ser atingida.

Bison somente ria enquanto observava a luta na mesma posição. Já Guile o examinava atentamente esperando o momento certo para investir, não percebendo, todavia, que o criminoso passara a flutuar, seus pés alguns centímetros acima do piso. Quando finalmente correu na direção do inimigo, erguendo um dos punhos para atingi-lo com um devastador soco, julgou que poderia nocauteá-lo de imediato caso o golpe surtisse efeito... Mas, para sua surpresa... Acabou passando direto por Bison, como se o corpo dele fosse somente um holograma ou coisa similar!

Na verdade o líder da Shadow Law havia se tele-transportado para outra parte da sala sem aparentar o mínimo esforço. Para piorar, estava agora atrás de William. Antes que o militar pudesse ter certeza do que ocorrera, atordoado, o oponente aproximou-se deslizando pelo ar e aplicou-lhe um impiedoso chute nas costas. Guile caiu num gemido, julgando que talvez tivesse agora uma ou duas costelas partidas. Virou-se então rapidamente, cuspindo sangue sobre Bison... Mas antes mesmo que o líquido rubro sujasse a farda do maníaco, ele já havia desaparecido novamente. A única coisa que permanecia inalterável era sua sinistra gargalhada.

         Pare com as brincadeiras, desgraçado! – irritou-se o soldado. – Não é homem o bastante para lutar comigo?

Simultaneamente, Nash bloqueava uma série de socos e chutes de Cammy, a loira aparentando uma leveza ágil e ao mesmo tempo força persistente em seus ataques. Combatia com os olhos bem abertos, inexpressivos, sem piscá-los. Estava mesmo imersa num transe profundo causado por Bison do qual tinha de ser libertada o quanto antes.

         Agente White, consegue me ouvir? – o amigo de Guile tentou comunicar-se com a moça.

Foi em vão, porém, pois ela continuou procurando atingi-lo de todas as formas com os braços e as pernas. O rapaz ainda conseguia evitá-los, mas não sabia por quanto tempo...

William continuava a tentar ferir Bison, porém ele era como um fantasma, algo intangível, desaparecendo e reaparecendo seguidamente em locais aleatórios, logrando assim sempre escapar dos golpes do adversário. Urrando, este tentou num dado momento atingi-lo com um chute giratório, porém o terrorista escapou mais uma vez no instante crítico, reaparecendo bem perto de Guile, logo às suas costas. Agarrou-lhe então o braço direito e cochichou junto a um de seus ouvidos:

         Desista enquanto ainda não sofre tanta dor!

E logo depois torceu o membro com incrível violência, o militar berrando enquanto tinha os ossos tirados do lugar. Caiu quase incapacitado de prosseguir lutando, gemendo num misto de sofrimento e raiva extremos. Ele precisava fazer Bison pagar, estava realmente disposto a fazê-lo comer grama pela raiz... Só tinha de se recuperar um pouco... E tentar ao máximo esquecer os latejantes ferimentos.

         M-maldito... – balbuciou, começando a levantar-se com dificuldade do piso.

         O que há, senhor Guile? – zombava o guerreiro do Psycho Power emanando sua aura negativa. – Não é mais capaz de me derrotar? Terá sido algum dia?

         V-vá... Se ferrar!

Bison então pisou nas costas doloridas de William, pressionando seu corpo contra o chão respingado de sangue com esforço e crueldade indescritíveis. Cerrando os dentes e contraindo os músculos, Guile estava determinado a resistir até o último suspiro, fazendo de tudo para não sucumbir antes de pelo menos dar uma boa lição ao inimigo.

Ainda engajado com Cammy, Nash notou o infortúnio do parceiro e desejou auxiliá-lo, porém ao mesmo tempo não poderia descuidar de White: a ferocidade dela nos ataques crescia a cada segundo. Subitamente recuou, mas o combatente sabia que a razão certamente seria apenas preparar um novo golpe. Dito e feito: ela logo retornou correndo e, estendendo uma das pernas, executou uma investida que por pouco não tirou o oponente do solo.

         Thrust Kick!

O poderoso chute destinava-se ao seu tórax, o qual Nash conseguiu proteger a tempo com os braços. Mesmo assim o impacto do ataque fez com que seu corpo retrocedesse alguns passos. Bufando, logo se posicionou novamente para lutar. Tinha de dar cabo de Cammy o mais rápido possível ou ao menos se aproveitar de alguma brecha para partir em socorro do amigo que, se não fosse logo ajudado, acabaria morrendo pelas mãos vis de Bison.

O vilão continuava a ferir e humilhar Guile, impedindo todas as suas tentativas de erguer-se do chão e revidar. O militar tinha de encontrar alguma maneira... Seu orgulho e sua própria vida dependiam disso.

         Pensando em desistir? – provocou Bison.

         Nunca!

Esforçando-se mais do que podia, William, num veloz movimento, repeliu uma das pernas do inimigo socando-lhe o joelho. O criminoso ficou atordoado por poucos segundos, porém foi tempo o bastante para que Guile conseguisse finalmente se levantar e colocar-se em posição defensiva, mesmo mal podendo permanecer em pé. Endireitou o pescoço, estalou as mãos, olhar fixo no repugnante adversário. Era hora de moê-lo.

Mordendo os lábios, tentou mover os dois braços para frente com força... Mas logo sentiu uma intensa fisgada no direito, retraindo-o. Esquecera-se de que fora quebrado, e qualquer ação que o envolvesse ficava assim impossibilitada. Não poderia efetuar o “Sonic Boom” e, gemendo, constatou que aquela sua idéia frustrada apenas dera tempo a Bison de recompor-se.

De fato, o chefe da Shadow Law já revidava:

         Psycho Crusher!

Em seguida saltou, seu corpo sendo tomado por uma camada de energia azul enquanto rodopiava no ar horizontalmente, um dos braços esticados na direção de Guile. A velocidade que assumiu fora incrível e William acabou não tendo tempo de desviar, ainda mais devido à dor em seu braço: foi atingido no peito pelo punho do oponente e praticamente atropelado por seu corpo, sendo atirado cerca de cinco metros até uma das paredes da sala, com a qual colidiu de costas. Fora completamente tomado por chamas também azuis, crepitantes, as quais, além de fazerem sua pele arder como nunca, pareciam afetar sua mente já cansada e confusa. Danificou mais algumas costelas com o impacto, caindo sentado no chão com o amparo do concreto frio atrás de si. Gritou, sangrando. O fogo anil desapareceu de si como por mágica, de súbito, mas o sofrimento permaneceu. E lá estava Bison novamente, flutuando, braços cruzados enquanto contemplava sua desgraça gargalhando.

         William! – bradou Nash ao testemunhar o que acontecia.

Com a face repleta de hematomas, exausto, trêmulo, chegando até a babar, Guile executou um novo esforço para se erguer do piso com as pernas bambas, o que acabou por calar a risada do inimigo. Este não esperava que ele fosse continuar lutando após ter levado tantos golpes e ferimentos, porém recusava-se a ser derrotado. Pois bem. Muito mais sério do que antes, Bison se dispôs a garantir que isso acontecesse de forma rápida e incrivelmente dolorosa, dando um fim à sua diversão. Aquele maldito já se mostrara petulante demais.

Ergueu o braço direito na direção do soldado, e o punho foi logo envolto por uma esfera de energia violeta. Precisava apenas concentrar um pouco mais dela e logo tudo estaria acabado...

Isto é, se a vidraça que separava a sala da sacada não houvesse sido quebrada com violência, milhares de cacos de vidro voando sobre o chão.

         Mas o que é isso? – Bison voltou a cabeça.

Até Cammy parou de lutar, afetada pela súbita reviravolta nos eventos que tinha início ali, e permaneceu de pé, imóvel, olhos focados numa parede enquanto aguardava novas ordens feito um robô. A atenção dos três demais lutadores já havia se transferido para a figura bestial que acabara de adentrar o recinto.

Verde e laranja, pêlos espessos, garras afiadíssimas, uma digna fera com algo de humano. Carlos Blanka. E, exibindo os dentes brancos e pontudos, deixava claro a que viera até ali. Mesmo assustados e sem compreenderem a situação, só a pose da criatura serviu para elucidar Nash e Guile que, aliviados, perceberam que só teriam de assistir de camarote ao que estava para acontecer. E seria algo nada bonito.

A tensão inativa durou mais alguns instantes, até que, urrando ameaçadoramente, o recém-chegado finalmente atacou.

Pulou sobre Bison, cravando-lhe as garras bem no peito. Por algum motivo, fosse a tremenda selvageria daquele que investia ou a perplexidade do terrorista, este não conseguiu reagir, gemendo de uma maneira seca, inexpressiva, como se apenas sentisse os golpes, mas não dor. Em seguida Blanka mordeu seu pescoço, sangue vertendo aos borbotões sobre ambos e ao redor do confronto. Depois voltou a usar as mãos, arranhando todo o corpo do inimigo com cortes profundos, raivosos. O criminoso era retalhado pelo ser mutante que ele mesmo indiretamente criara.

Por fim o brasileiro se desvencilhou do adversário numa cambalhota para trás, fitando-lhe ofegante devido a todo o vigor que gastara. Bison caiu de joelhos, sangue minando em praticamente todas as partes de seu corpo, boca aberta de modo atônito enquanto seus olhos inumanos encaravam a escuridão de sua própria aura. E, grunhindo, Blanka, logo depois de olhar para cada um dos presentes, desatou a correr na direção da porta dupla da sala, cruzou-a quase a derrubando e desapareceu pelas escadas rumo ao térreo. Ninguém o perseguiria. Seu objetivo, sua vingança, estavam cumpridos.

Agora a situação ficava por conta dos dois amigos inseparáveis da Força Aérea. E eles sabiam muito bem o que fazer.

Guile conseguira, num esforço quase sobre-humano, manter-se de pé durante todo o ataque de Blanka a Bison e, concentrando-se, julgou que poderia continuar assim por no mínimo mais um minuto. Trôpego, porém firme, William examinou seu braço direito quebrado, que latejava imensamente, e depois seu braço esquerdo quase intacto. Girou-o num breve exercício e lembrou-se das palavras de Vulcan Raven na Amazônia e das da misteriosa cigana pouco tempo antes. Era sim um grande guerreiro, e tinha de honrar isso. Sentindo-se pronto, moveu somente o membro não-ferido para frente com incrível velocidade e, mesmo sem acreditar-se plenamente maduro para aquilo, resolveu confiar um pouco em seu espírito.

         Sonic Boom!

Para sua surpresa, conseguiu criar a onda de energia apenas com um braço da mesma forma que Nash. O ataque luminoso cruzou o ar rapidamente rumo a Bison, ainda com a guarda baixa na mesma posição e, atingido e englobado pela súbita descarga de poder, foi arrastado por ela, ao mesmo tempo em que soltava um longo grito, rumo à mesma sacada pela qual Blanka surgira. Sem conseguir se agarrar a algo ou ao menos tentar frear o processo, o líder da Shadow Law despencou do alto do prédio rumo à noite, seu berro frustrado logo se tornando o mero eco de um demônio que perdera uma batalha que imaginara jamais capaz de perder.

Agora plenamente exaurido, William caiu sentado, respirando com dificuldade. Precisaria passar uns bons dias no hospital até poder encarar uma briga de novo, ainda mais uma como aquela. Riu para Nash, que se aproximava também com um sorriso na face. Haviam vencido.

         Cadê a loirinha? – Guile indagou olhando em volta.

Cammy desaparecera tão rápido quanto surgira, provavelmente aproveitando o momento de distração dos demais para escapar sem ser notada. Era quase certo que ainda se encontrava sob a influência de Bison, mas os dois lutadores ainda a trariam de volta para seu lado. De certa forma sabiam que ainda a veriam novamente.

         Será que é o fim do Bison? – inquiriu Nash, mãos na cintura.

         Tratando-se dele... Acho bem difícil... Mas pelo menos agora ele pensará muito bem antes de se meter com a gente!

William suspeitava que, apesar do triunfo que haviam acabado de obter, aquela história ainda não chegara ao fim. E, refletindo acerca disso, foi auxiliado pelo parceiro a se levantar e, apoiado a ele, iniciou o trajeto para fora do local.

 

Epílogo

 

Logo que cruzaram a porta de vidro que separava o exterior do interior do prédio, Guile e Nash tiveram as visões ofuscadas pelos fortes holofotes dos helicópteros que sobrevoavam a área naquele momento. Observando então o jardim do lugar, constataram que o Exército o havia cercado em peso, com soldados armados e veículos, desde jipes até alguns blindados, deslocando-se para lá e para cá. Os corpos dos guardas mortos anteriormente durante a infiltração eram rapidamente recolhidos; pelo visto o alto comando não tinha a menor intenção de deixar que a mídia e por conseqüência a população soubessem do que ocorrera ali.

Octopus, Raven e Burton conversavam entre si perto do muro, provavelmente a partir daquele ponto cada um seguiria seu próprio rumo. Por entre um grupo de combatentes surgiu o coronel Court, que se aproximou risonho da dupla recém-saída da construção. Ele estendeu a mão para ambos, até para Guile, que não tinha muitas condições de apertá-la, mas mesmo assim o fez junto com Nash. Em seguida ouviram o superior dizer:

         Ótimo trabalho, homens. Graças a vocês Bison foi derrotado e está presumivelmente morto. Os capangas dele escaparam, mas já os rastreamos e logo estarão sob custódia.

         Hei, como assim “presumivelmente”? – desejou esclarecer William, fazendo caretas devido a seus machucados.

         Vocês o atiraram do alto deste prédio, mas... Não encontramos o corpo.

         O desgraçado sobreviveu! – Guile concluiu de imediato. – Ele está vivo!

         Calma, cara... – preocupou-se o amigo, amparando-o, pois sabia que por enquanto ele não poderia se exaltar. – Teremos os devidos esclarecimentos mais tarde. Por enquanto você precisa de descanso, curativos e uma boa dose de soro!

         Antes disso, se ainda agüentarem... – oscilou o coronel. – Há alguém chegando especialmente para vê-los!

         Para nos ver? – estranharam os dois, falando ao mesmo tempo.

E foi com olhares intrigados que notaram a aproximação de um helicóptero aparentemente civil, azul e branco, que pousou sem qualquer empecilho numa parte do gramado. As hélices deixaram aos poucos de se mover e uma das portas da aeronave foi aberta, alguém caminhando para fora. Era uma mulher, seguida de dois guarda-costas de terno preto e óculos escuros. Ela usava uma camiseta branca sem mangas com um decote um tanto revelador, calças jeans e botas pretas, o cabelo castanho preso. Conforme chegou mais perto, os traços orientais de seu rosto ficaram plenamente perceptíveis.

         Boa noite – saudou, parando diante dos três militares norte-americanos.

         Boa noite – respondeu William. – A senhorita é?

         Chun Li Zang – ela revelou sorrindo. – Agente da Interpol. Estou investigando a Shadow Law há anos e creio ter feito uma descoberta que pode interessá-los.

         Deixe-me adivinhar... – brincou Nash. – Soube que o Bison estava aqui em Las Vegas? Bem, gracinha, se for isso, então chegou tarde demais!

         Não exatamente...

 

Poucos minutos depois, o trio e a chinesa estavam debruçados sobre um detalhado mapa do Sudeste Asiático disposto sobre uma das mesas do saguão do condomínio. Havia um círculo feito a caneta vermelha num determinado ponto, que naquele instante foi destacado por um dos dedos indicadores de Chun Li. Rindo de modo bobo, Guile afastou-se do grupo por um momento, esfregando o rosto e dando um leve soco numa parede. Simplesmente não podia acreditar naquilo.

         Vocês têm certeza de que descobriram mesmo a localização do quartel-general da Shadow Law?

         É quase certo que sim – confirmou Zang. – Nossos informantes nos levam a crer que a base principal de Bison esteja mesmo situada nesta região isolada do Camboja. As instalações provavelmente são subterrâneas, mas com essa pista, não deverá ser tão difícil averiguá-las!

         A senhorita caiu do céu! – Nash mal podia conter sua euforia. – Estávamos atrás dessa informação há tempos!

         Precisamos logo confirmar isso! – apressou-se William. – Coronel, queremos autorização para uma operação nas selvas do Camboja o quanto antes! Se Bison fugiu mesmo daqui, deve com certeza estar se dirigindo para lá!

         Mas antes precisará endireitar esse braço e as costelas, amigão! – colocando uma das mãos no ombro do parceiro, Nash lembrou-o de novo sobre seu estado. – Nada que uma rápida temporada num hospital não resolva!

         Há um hospital militar numa base aérea a poucos quilômetros daqui – informou Court. – O problema é que não conseguimos fechar todas as estradas nestas imediações e por isso a imprensa deve estar pronta aguardando alguém deixar a área para fazer mil perguntas!

         Estradas, certo? – o amigo de Guile ergueu uma sobrancelha. – Coronel, lembra-se daqueles caças que cogitamos requisitar?

         Lembro-me sim... Por quê?

 

Pouco depois um jato Harrier decolava verticalmente do condomínio, contendo três ocupantes: Nash, que o pilotava, Guile e Chun Li. Esta última estava bem empolgada com o passeio, a apertada cabine mal comportando sua agitação:

         Isto é muito divertido! Olhem só para Las Vegas lá embaixo! Parece até uma maquete!

         Nunca andou de avião antes, senhorita Zang? – riu Nash.

         Não desta maneira!

William, por sua vez, estava calado. Pensava em tudo que vivera aquela noite. Superara seus limites, aprimorara sua técnica, dera uma incomparável demonstração de resistência. As palavras da cigana estavam vivas em sua mente:

 

É um homem determinado, William... Determinado e corajoso... Também conhece o verdadeiro valor de uma amizade... Sua autoconfiança é outra qualidade a destacar, entretanto, é preciso que você saiba controlá-la, ou ela acabará se tornando sua ruína...

 

Dosar sua autoconfiança era algo que tinha mesmo de fazer. Ela quase o levara à morte por Bison, e esta teria realmente se concretizado se a misteriosa fera não houvesse surgido no último instante para subjugar o inimigo. Guile cogitou que aquela besta talvez representasse justamente seu temperamento, uma entidade descontrolada e bárbara que precisava ser domada. Disposto a isso dali em diante, relaxou na poltrona do caça e se recordou novamente da figura da cigana, associando-a sem mais nem menos à imagem de uma rosa vermelha com espinhos, sem saber o motivo... Teria algo a ver com quem ela realmente era?

Ignorando tal possibilidade, Guile fechou os olhos, tendo seu merecido repouso nos ares após uma longa e cansativa noite.

 

O sol raiava enquanto o conversível vermelho de Ken Masters seguia solitário por uma rodovia em meio ao deserto, tanto ele quanto Ryu, acomodados nos assentos, sentindo a agradável brisa da manhã chocar-se contra seus rostos desejosos de liberdade.

         O Fei Long foi muito gente boa de ter acertado nossa situação com a polícia, né, Ryu? – disse o jovem dirigindo o carro.

         Com certeza, Ken!

Nisso, os dois ouviram uma alta buzina atrás do veículo. Virando as cabeças, notaram um ônibus em grande velocidade forjando uma ultrapassagem e logo se distanciando vários metros à frente dos lutadores. O loiro fez questão de reclamar:

         Calma aí, apressadinho!

         Deve estar atrasado para chegar a algum ponto – especulou o japonês.

Foi imensa a surpresa da dupla quando o mesmo ônibus, dois minutos depois, parou junto ao acostamento da pista e deixou ali uma passageira, em seguida retomando seu trajeto em velocidade bem mais tolerável. Era como se o motorista do transporte quisesse apenas abandonar depressa a ocupante para depois seguir viagem de forma normal. Estranhando o fato, Ryu e Ken estavam dispostos a esquecê-lo já logo depois, quando a exata passageira que descera do ônibus começou a saltar e acenar freneticamente da beirada da estrada para os rapazes.

         Que doideira é essa? – riu Masters. – Será que o dinheiro dela só dava para pegar o ônibus até aqui e agora ela quer carona?

         Oh, não!

A exclamação negativa de Ryu se deu assim que ele reconheceu o típico traje colegial nipônico nas cores azul, branca e vermelha que a moça usava. Logo também identificou os tênis em seus pés e o inconfundível cabelo curto castanho com uma faixa rubra.

         É a Sakura, Ken!

         Quem?

         Sakura Kasugano, aquela estudante japonesa obcecada por mim, lembra?

         Ah, sim, agora eu lembro! Hum... Vamos dar carona para ela, vai! Ela é bem gatinha...

O conversível parou junto da garota mesmo contra a vontade de Ryu, e ela, com os olhos brilhando, saltou para dentro do carro imediatamente. Debruçada sobre o encosto do assento de Hoshi, perguntou-lhe, quase babando em cima de seu ídolo:

         E aí, Ryu, quando é que nós teremos aquela nossa luta?

O japonês deu um tapa na testa e simultaneamente Ken soltou uma gargalhada. O carro logo desapareceu pela rodovia, passando por uma placa com a inscrição “Você está deixando o estado de Nevada, volte sempre!” conforme o dia se consolidava.

 

Seis meses depois.

Em pleno coração da Amazônia, uma fera corria indomável pela selva, desviando das árvores e arbustos em seu caminho. Tornava-se cada vez mais parte da floresta, uma criatura que tinha aquele meio como novo e duradouro lar. Saltando sobre troncos caídos, girando o corpo ao agarrar cipós entre as copas altíssimas, Blanka, mesmo não sendo mais humano, sentia-se melhor do que em qualquer ocasião de quando o fora. Aquela era sua nova condição e ganhara uma nova casa, uma nova rotina em que a palavra liberdade regia todas as suas ações. E não pretendia abandonar tal existência tão cedo.

 

Manhattam, Nova York.

Por entre as ruas e avenidas movimentadas, uma alma solitária seguia alheia a tudo e todos. Caminhando a passos padronizados, corpo coberto por uma capa vermelha dos pés até a cabeça, já vagava há meses sem direção, sua vida desprovida de qualquer sentido. Dentro de seu inescapável transe, procurava novamente de modo desesperado a voz de seu mestre, ao menos um murmúrio, um sussurro que a pudesse levar até ele. Já atravessara campos, estradas, pequenas e grandes cidades em busca do mínimo indício, da mais simples orientação. Porém nada encontrara.

Até aquela tarde.

         Querida...

O chamado sedutor viera das profundezas de um beco sombrio pela frente do qual Cammy passava naquele momento, paredes pichadas e latas de lixo abarrotadas de matéria em decomposição. Parou diante da viela e, obedecendo ao primeiro estímulo que recebia em muito tempo, avançou na direção da voz. Deixou-se mergulhar na escuridão, desbravando o trajeto até o final, buscando seu mestre a qualquer preço.

         Minha linda...

E, da penumbra, ele surgiu mais lindo e poderoso do que jamais fora, com seus olhos brancos convidando-a de forma irrecusável a abraçar seu corpo coberto pelo uniforme vermelho. Assim seus braços o cingiram e, recostando os cabelos loiros numa das ombreiras metálicas de seu guia, sentiu profundo êxtase por tê-lo finalmente reencontrado, por estar novamente junto dele.

Seu sofrimento havia terminado.

 

Complexo de pesquisas Arklay.

A porta da sala foi aberta discretamente pelo lado de fora, as luzes do corredor iluminando de leve seu escuro interior. O indivíduo adentrou-a e, tomando cuidado para trancar a fechadura silenciosamente por dentro, em seguida acendeu uma pequena lanterna para conseguir visualizar o ambiente. Retirou os óculos escuros, guardando-os num dos bolsos do jaleco, e então passou o facho de claridade sobre uma cama, estante de livros, mesinha... Até deter-se de frente para uma escrivaninha.

Passou a examiná-la minuciosamente e acabou surpreendido quando, ao abrir uma gaveta, um minúsculo pedaço de papel voou sobre o chão. Revelando-o sob o foco de luz, constatou se tratar de uma pequena nota que por muito pouco não lhe passara despercebida. Apanhou-a com a mão livre e, aproximando dela a lanterna, leu seu conteúdo:

 

G = T + X

X = Sherry

 

Nesse repentino vislumbre, as coisas nunca fizeram tanto sentido para Albert Wesker.

 

FIM

 

Luiz Fabrício de Oliveira Mendes – “Goldfield”.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Resident Evil: Experimento X" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.