Visões De Sangue escrita por Tai chan


Capítulo 2
Capítulo 2: Peças se entrelaçam




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Estou na cozinha fuçando a geladeira para achar algo. Pego pouca coisa e faço sanduiches para nos dois. Coisa simples.

Acabo de terminar de por a mesa, logo que me viro Allan me assusta parado me olhando como se visse algo, como um fantasma. Seu olha frio me dá calafrios.

- Bem...! Eu fiz um sanduiche aqui, espero que esteja bom! – eu disse só mesmo para descontrair daquele ar pesado que estava em minha cozinha. – Sente-se!

Ele vira a cabeça um pouco para o lado sem parar de me olhar. Estou ficando constrangida.

- “Para de me olhar e senta logo!” – eu pensei.

No mesmo instante ele pisca balança a cabeça e anda até a mesa. Suspiro. Nos dois nós sentamos. Fico olhando para ele com um sorriso no rosto até ele dar a primeira mordida. Estou tão animada.

Esperava que ele dissesse algo como: “Hum... muito bom!” ou então “ Isso está gostoso!”. Mas ele simplesmente continuou comendo. Realmente parecia com fome. Desanimei-me e então fui comer também.

Mesmo a blusa que ele usava tivesse manga comprida, podia ver o numero tatuado em seu pulso esquerdo. Lembrava-me do regimento de Hitler, onde ele marcava seu presos com números indicando o setor em que eles estavam. Mas essa era diferente: “EX.856”. “EX”, o que significaria isso?

Allan percebe que estou olhando e a cobre imediatamente, fazendo-me voltar de meus pensamentos. Sem perceber havia perdido a fome, juntamente com ele que se levantou da mesa e se viro para ir embora.

- Espere! – digo eu sem perceber.

Ele vira somente a cabeça e me olha pelo canto dos olhos.

- Espere, por favor! – peço eu me levantando da mesa.

Agora ele está virado para mim. Olha-me com um olhar tão frio que chego a me arrepiar. Preciso muito saber sobre aquela tatuagem.

- Por que quer tanto que eu fique? – ele me pergunta.

- Bem... Eu... – digo sem ter respostas.

- Se não tem porque eu vou embora.

Allan se vira e anda em direção à saída. Mas não posso deixa-lo ir. Corro.

- Não vá...! – penso em algo para que ele fique e me conte tudo.

- Me dê um bom motivo! – Allan se vira e me olha.

- Estou com medo!

- Hum?

- Nunca fiquei sozinha nessa casa... Ela é tão grande... Sinto como se algo estivesse me observando... Algo muito ruim!

- Observando você diz! Mas o que poderia estar te observando?

- Não sei... Mas às vezes sinto como se algo ou alguém olhasse fixamente para mim.

- Pode ser só impressão sua.

Ele vira, mas eu agarro em sua manga. Estou forçando choro.

- Não vá, por favor. Você foi a única pessoa que consegui conversar desde que cheguei aqui! – falo com voz de choro.

- Espere, você está... – ele vira e olha para mim.

- Por favor... Eu perdi a única pessoa com quem podia conversar e agora estou sozinha... Não vá, por favor.

- Hmm...! Está bem... Eu vou ficar aqui!

Olho para ele com tanta felicidade que acho que foi possível perceber que estava fingindo. Puxo-o e vamos para a sala. Jogo ele na poltrona e sento no sofá ao lado. Estou olhando para ele com olhos brilhantes, apoio meus braços no braço do sofá e minha cabeça em minhas mãos. Allan parece vermelho, somente olha para o chão.

- Me fale de você! – eu peço.

- Não sei do meu passado. – ele me responde, fechando os olhos.

- Está mentindo!

- Há... Como sabe?

- Pelo jeito que fez com os olhos. Se estivesse falando a verdade teria olhado para mim. Mesmo que discretamente.

- Humm...!

- Anda fale sobre você!

- Primeiro você.

- Ham?

- Disse que se sentia sozinha e que perdeu alguém que era importante. Conte-me o que houve.

- Se eu te contar... Você me conta sobre você?

- Bem... Sobre isso...! Ah... Eu conto um pouco.

Balanço a cabeça confirmando com o que ele disse.

- Uma boa parte da minha vida eu não lembro. Meus pais se chamam Marcos Kamichi e Taiuya Kamichi. Eles disseram que não recordo-me de minha vida até meus quatorze anos porque sofri um acidente e perdi a memoria. A pessoa com quem conversava era minha mãe. Ela morreu um pouco antes de nos mudarmos para cá. Fiquei tão mal com isso que já fazem um mês e mal conversei com meus colegas de classe. Meu pai só fica trabalhando e a noite nossa conversa é: “Oi filha como foi a aula? Ah, bem pai!”, e só. Até a pouco eu usava somente roupas pretas, pensava nisso como uma forma de protesto contra meu pai. Todos os dias eram iguais: Ia de manhã para a aula, alguns dias tinha tempo integral, mas sempre que chegava da escola fazia os deveres trancada no quarto e de lá só saia para jantar. Resumidamente é só isso.

- Você disse que se mudaram depois que sua mãe morreu... Onde você morava?

- Nova Orleans. Não tinha uma vida legal lá também.

- Sua mãe... Como ela morreu?

- Não sei. Ninguém me contou a causa da morte. Ela se internou e morreu. Quando percebi já a estavam enterrando.

- Não achou isso estranho?

- Sim, mas pensei que deviam estar somente me protegendo.

- Seu pai... sabe com o que ele trabalha?

- Ele é um cientista. Mas e você?

- O que tem?

- Tem que me contar sobre seu passado.

- Não tem nada de bom para contar.

- Mas você tem que contar do mesmo jeito.

- Sabe aquele seu sanduiche! Estava muito bom... Onde aprendeu a fazer?

- Não muda de assunto! Você disse que ia contar.

- Eu... não posso!

- Como não? Eu te contei resumidamente minha vida. Agora é sua vez.

Allan abaixa a cabeça de um jeito tão triste, virando o rosto e o escondendo na sombra.

- Desculpe. Eu me exaltei! Já te forcei a te ficar aqui comigo... Não vou te forçar a me contar algo que não quer. – eu disse me levantando do sofá.

- Não. – ele disse me fazendo voltar. – Você está certa em querer saber sobre mim. Até porque estou na sua casa.

- Você vai me contar?

- Sim, mas só partes.

- Está bem!

- Pode perguntar o que quiser.

- Primeiramente, como você chegou naquela praia?

- Eu vim nadando.

- Desde que lugar do mar?

- Um pouco longe, após o fim dessa cidade.

- Como? Nenhum humano aguentaria nadar tanto tempo.

- Meu corpo é mais resistente.

- Ok. Porque tinham restos de correntes em suas mãos e pés.

- Eu... Não posso responder. Desculpe.

- Tá. De onde você vem, qual cidade ou lugar.

- Não posso dizer.

- Hmm... Ultima pergunta. O que significa EX?

- Bem... isso é...

Quando Allan estava para me contar a porta é destrancada. Me levanto e o puxo.

- Anda! Corre para o meu quarto. Fica lá até eu chegar!

Allan entra e fecha a porta. Meu pai vem de mansinho entrando em casa. Finjo estar assistindo televisão. Ele me vê. Estou mesmo assistindo televisão agora.

- Lara!? - meu pai me chama.

- Oi pai. Chegou cedo! – eu digo.

- Cedo? Sabe que horas já são?

- Bem...

- Anda mocinha, você tem escola amanhã.

- Tá pai.

Eu desligo a televisão e vou junto com meu pai para meu quarto.

- Boa noite querida! – diz ele me dando um beijo na testa. – Tenha bons sonhos!

- Boa noite pai.

Espero q ele entre no quarto para que eu entre no meu. Ao que entro vejo Allan olhando uma foto minha onde se encontram eu, minha mãe e meu pai, todos nós juntos.

- O que esta fazendo? – eu pergunto mesmo q soubesse o que ele fazia.

- Essas pessoas... São sua mãe Taiuya Kamichi e seu pai Marcos Kamichi? – ele me pergunta.

- Sim. Por que?

- Hum! Nada.

Allan coloca a foto no lugar e se vira para mim.

- Eu preciso ir embora. – diz ele.

- Não. Você não deve.

- Não posso mais ficar aqui.

- Não. Você não pode ir.

- Por quê?

- Ham...?

- Por que quer que um estranho fique em sua casa? Você não me conhece, mas mesmo assim insiste em que eu fique aqui com você. Por que faz isso?

- Eu... eu não sei...

- Não sabe?

- Eu realmente não sei. Mas alguém ou alguma coisa fica me dizendo que preciso de você. E mesmo que eu não saiba quem você é, tenho a impressão de que te conheço.

- Hmm...

- Por isso eu te peço... Não vá!

Allan esta me olhando. Estou parada na frente da porta do quarto e ele na minha frente. De cabeça baixa não posso vê-lo, mas escuto o barulho de minha cama. Allan está sentado olhando para fora da janela.

- Eu vou ficar. Mas não conte para ninguém que eu estou aqui! – disse ele.

- Está bem! Não contarei! – eu respondo.

Vou até ele e o olho com brilho nos olhos.

- Bem... Eu não posso dormir na mesma cama que você, então... – disse ele se levantando da cama e se sentando no chão.

- Hum...? Onde você pretende dormir então?

- Aqui mesmo.

- No chão?

- Eu não me importo.

- Mas eu sim. Vou pegar um colchão para você.

Puxo rapidamente um colchão extra que tinha embaixo do que eu dormia. Jogo por cima um lençol e um travesseiro. Pronto, uma cama quase estilo Japonês.

- Ok, agora podemos dormir. – disse eu.

- Não era preciso tudo isso. – ele me disse.

- Não poderia eu deixar você dormir nesse chão frio.

Allan faz uma cara como se alguém já tivesse dito essas palavras a ele. Eu sorrio e jogo um cobertor para ele.

- Aqui faz frio. É bom se cobrir.

Nos nós deitamos, eu em minha cama e ele no colchão que coloquei para ele. Estou virada para a parede da janela e ele para a parede onde estra encostada minha mesa de estudos. É bem tarde e a única luz que tinha em meu quarto era a da Lua.

- Allan. Está acordado? – eu pergunto.

- Sim. – ele responde.

- Você já teve medo de algo que não sabe o que é?

- Como assim?

- Sei lá. É como se algo ruim estivesse para acontecer, mas não sabe o que é.

- Sim.

- O que?

- Uma amiga... Deixou-me muito preocupado, e o pior vinha o tempo todo em minha mente.

- Hmm...

- Lara...

- Sim?

- Você... Esquece.

- O que foi?

- Nada.

Na hora que me viro para olha-lo vejo-o tirar um colar de dentro da camisa. Tinha dígitos parecidos com a tatuagem de Allan. “EX. 860” era o que tinha escrito no colar.

- O que é isso? – eu pergunto.

- O que? – ele se vira para mim.

- Essa colar.

- Ah! Era de uma amiga muito próxima.

- Que legal.

- Sim, ela me deu pouco antes de ir embora. Melhor dizendo... antes de ser levada embora.

- Você gostava dela?

- Sim. Quero dizer... como amiga ok!

Eu rio do desespero dele de me dizer que era só como amiga.

- Claro que sim! Hihi!

Allan fica vermelho e guarda o colar. Só fico olhando.

- Me diga.

- Oque foi?

- O que significa EX?

- Você já tinha me perguntado isso.

- Mas você não me respondeu. Diga-me... O que é essa tatuagem que você tem em seu pulso esquerdo.

- Eu não... Não posso dizer.

- Por que não.

- Porque... porque...

- Ok. Está tarde. Vamos dormir.

Viro-me para a janela novamente e fecho os olhos. Em pouco tempo já estava dormindo.

Tem uma sala branca. Com macas por toda a sala. Estou deitada em uma, está frio e estou seminua. Sinto meus pulsos e pés amarrados, mas por que estou ali? Não sou a única que está lá. Gritos aterrorizantes de um menino atravessam a sala. Eu o procuro por todos os lados, mas não o vejo. Então um grupo de pessoas de branco se forma. Estão trazendo algo. É o menino, não sei por que, mas me sinto feliz e ao mesmo tempo preocupada. As pessoas de branco o amarram ao meu lado. Ele grita e se debate na maca a fim de tentar se soltar. Sem obter sucesso. Todos na sala têm seu rosto censurado com preto então não pude identificar ninguém. Escuto som de algo rasgando. O menino faz sons que apresentam muita dor. Olho para o chão e vejo uma poça de sangue se formando. O garoto geme de dor ao retirarem um facão dele. Um homem de branco se vira para mim. Ele tem em mãos uma seringa com um liquido verde transparente. O Menino grita que não o tempo todo olhando para mim. Sinto-me assustada. No momento em que o homem injeta aquele liquido em mim sinto uma queimação muito forte e dolorosa. Grito bem alto. E acordo.

Sento-me rapidamente, estou soada. Olho de um lado para o outro. Allan não está em meu quarto. Troco de roupa já me arrumando para ir á escola. Ele não está em lugar nenhum da casa. Meu pai ainda dorme. Resolvo procurar na praia.


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