"Quando você sentir o meu calor

Olhe nos meu olhos

É onde meus demônios se escondem

( ... )

Não quero decepcionar você

Mas meu destino é o inferno

Embora tudo isso seja para você

Não quero esconder a verdade

Não importa o que criamos

Ainda somos feitos de ganância"

– Imagine Dragons (Demons)

Pov. Ally

Acordei com meu celular tocando uma música alta. O maldito despertador.

Tentei me ajeitar um pouco na cama, e minha coluna reclamava por eu ter dormido de mal jeito,mais uma vez. Peguei o celular e desliguei o despertador. Olhei a data que estava escrita na tela grande. Já era sexta-feira de novo.

Mas não era exatamente isso que me incomodava.

Amanhã,seria sábado. E teria aquela droga de festa,qual eu não estava nem um pouquinho animada para ir. Mesmo assim,fui idiota o bastante pra não conseguir dizer não para o Austin.

Passei praticamente a noite toda pensando nisso. Eu simplesmente não recusei,porque no fundo eu não queria recusar. Não tinha outra pessoa no meu lugar,me fazendo falar e fazer coisas que eu não desejava.

Acontece que eu não podia olhar pra ele, e dizer que não.

Parecia fácil,mas não era. E eu nem sei mais o por que. E a mais ou menos 15 horas atrás,decidi que não tentaria entender ou coisa assim. E depois de ler mais alguns livros antes de dormir, percebi que na maioria das vezes,a personagem principal,é um pouquinho mais corajosa do que eu geralmente sou.

E então,fiquei pensando : "Por que não ?" E fiz a idiotice de apenas escolher deixar as coisas acontecerem. Sem pressão,ou sem tentar mudar ou adivinhar o futuro.

E ainda com muita relutância,levantei da cama.

Pov. Austin

– Quer mais alguma coisa,meu amor ? - Mamãe perguntava enquanto brincava com os cabelos de Emma. Hoje era praticamente o último dia dela em Miami,e também o dia que Mimi fazia de tudo para agradar a peste.

– Por que não dá comida na boca dela ? - Perguntei.

Emma revirou os olhos.

– Isso se chama amor,ok ? - Ela falou. - Que foi ? Já tá com ciúmes,maninho ?

Ao nosso lado,mamãe riu e passou umas das mãos no meu cabelo também.

– Se vocês quiserem posso levar vocês pra passearem mais tarde. Que tal um parquinho ? - Mimi riu. - As vezes parece que vocês tem 6 anos ainda.

Não olhei,mas tenho certeza que Emma tinha fechado a cara igual a mim,pois nossa mãe deu uma gargalhada.

– Austin,come logo, precisa ir pra escola. - Emma falou enquanto se levantava do seu lugar. Ela cruzou os braços e ficou me olhando. - Algum problema ?

– Sim. - Ela franziu a testa. - Você. O que está fazendo ?

– Eu vou até a escola com você. - Ela sorriu,animada.

– Não vai não.

– Vou sim.

– Não,não vai.

– Sim,eu vou.

– Não,você ... Ah,esquece. Por que você quer ir ? - Perguntei já me levantando do meu lugar também.

– Quero falar com a Ally. - Ela disse,caminhando até a porta da cozinha.

– Sobre o que ?

– Te interessa ?

– Muito.

Emma estreitou os olhos. A essa altura,já estávamos na sala de estar,e praticamente fazendo o jogo do sério. Ela enfim sorriu,e começou a gargalhar igual uma louca.

– Do que está rindo ?

– Nada. - Ela murmurou enquanto se sentava no sofá. Deu dois tapinhas no lugar ao seu lado,e eu me sentei ali. - Sabe,você ainda não me falou nada sobre vocês dois.

– Como assim ?

– Você fala coisas sobre saber o que é o amor,mas duvido que você saiba.

– Espera,nós não vamos ter esse tipo de conversa. - Falei,enquanto tentava me levantar dali. Ela segurou meu braço,e voltei a me sentar. - E eu realmente não sei por que você começou com isso.

– Eu acho que você está completamente perdido agora. - Ela disse. Estava sentada de lado no sofá,e mantinha uma expressão séria. Se ela não tivesse certa no que estava dizendo,eu estaria rindo por ela estar parecendo uma médica falando.

– E se eu tivesse ? O que você saberia ? Acho que já perdi a conta de quantos namorados você já teve. E com certeza seu pai não gostaria de saber disso.

– Nosso pai. - Ela corrigiu. - E sim,isso é verdade. Mas as pessoas mudam.

Gargalhei.

– Espera um minuto, você está namorando um cara britânico ? Aquela gente da Inglaterra é estranha. - Ela ficou quieta por um momento,e olhou em volta com um olhar totalmente inocente. - Espero que ele seja de uma família rica,aí quem sabe o papai aprove.

– É,talvez. - Ela murmurou. - Mas sei lá,ele não é exatamente o que o papai gostaria que fosse. - Ri mais uma vez. - Você não deveria estar rindo. Nosso pai teria adorado que você e a Kira ficassem juntos. - Fiz uma cara de nojo. - Então,não fale de mim.

– Tudo bem. Mas aonde você queria chegar com essa conversa ?

Emma pareceu pensar por um instante.

– Você já pensou ... - Ela pausou. - Já pensou em realmente se apaixonar ?

Me levantei rápido do sofá.

– Tudo bem, isso é muito embaraçoso. Tenho que ir pra aula.

– Austin - ela chamou enquanto caminhava atrás de mim. - Estamos na mesma situação aqui seu idiota !

E ela me seguiu até o carro. E quase o caminho todo foi falando sobre como estava na Inglaterra,e coisas assim. Emma parecia um pouco embaraçada de falar sobre aquilo. E de qualquer jeito,tentou desviar do próprio assunto.

Nunca pensei que nós dois teríamos algo em comum.

Me encostei num dos muros do colégio,na entrada. Emma estava do meu lado,e parecia muito determinada a falar com a Ally sobre sei lá o que.

E então eu a vi.

Estava saindo do carro de Jimmy,junto com a Kira,e parecia extremamente desconfortável por isso. Ela sorriu,quando nos viu.

– Talvez você esteja certa sobre esse lance de se apaixonar. - Falei para Emma.

( ... )

– Austin ? Tá me ouvindo ? - Ally chamou enquanto estalava os dedos na minha frente.

– Ah,sim. Eu só tava pensando.

Pensando no que minha irmã disse,aquela peste. E também estava curioso para saber o que ela tinha falado para Ally. Nunca se sabe o que Emma pode fazer.

Ela tinha saído agora com minha mãe,para dar uma última volta pela cidade. Já que ela vai embora amanhã de manhã.

Ally e eu estávamos estudando na minha casa.

– Bom,eu estou tentando te explicar sobre a droga da Revolução Francesa a quase meia hora. Podia prestar atenção, não é ? - Ela fechou o livro com força e o jogou em algum canto do quarto. Acabei rindo da sua cara de brava.

– Tá. Estudar não está dando certo. - Afirmei e ela assentiu. - Podíamos fazer outra coisa.

– Tipo o que ?

– Sei lá. Conversar ?

– Na verdade,acho que a gente já conversa demais todos os dias. - Ally se levantou do chão,aonde ambos estávamos jogados.

Ergui meu tronco para cima a fim de me levantar.

– Pode me ajudar aqui ? - Perguntei para ela.

Ally cruzou os braços,mas logo estendeu uma mão tentando me ajudar. A puxei e ela acabou caindo em cima de mim.

A segurei pela cintura, tentando a impedir de sair dali.

– Austin - ela começou - Isso não parece muito bom. Digo,essa posição.

– É. Nunca se sabe o que pode acontecer. - Falei. - Quer dizer,tem uma cama bem ao lado.

Ela assentiu e enfim,levantamos. Ela parecia um pouco corada quando a olhei de novo,e aquilo me fez sorrir.

Acabamos em cima da cama,conversando sobre qualquer coisa. Minha cabeça estava no colo dela,e Ally não reclamou nem um pouco disso. E depois de mais alguns minutos,fizemos um jogo de perguntas e respostas.

– Primeiro beijo ? - Perguntei.

– Molhado. Nojento. - Ela respondeu e eu ri.

– Primeira vez ? - Me senti meio estranho por perguntar isso. Mas sim,eu queria saber se ela já tinha feito sexo com algum cara.

Ela ficou quieta.

– Sabe, - começou - Esse não é o tipo de pergunta que se faz.

– Por que não ?

– Pessoal demais.

Foi então que eu comprovei que sim,ela já tinha feito sexo com algum cara.

– Você ainda não me falou nada. - Ela disse,depois de mais um tempo em silêncio.

– E o que você quer saber ?

– Alguma coisa simples. Como foi seu primeiro beijo ? Eu já te falei sobre o meu.

– Foi horrível. Eu levei um tapa na cara. - Ela riu alto. - Sério. Não foi legal.

Ela continuou gargalhando.

– Estou tentando imaginar essa cena. - Ela disse,ainda rindo.

– Se eu fechar os olhos,ainda consigo sentir a mão daquela garota na minha cara. - Falei.

Ela riu de novo. E depois de alguns segundos,acabei rindo junto com ela. E a verdade é que eu estava rindo da risada dela. Era quase contagiante.

– Você deveria cantar alguma coisa pra mim. - Disse depois da sessão de risos ter acabado.

– Por que ?

– Porque da última vez,fui eu. Agora é sua vez.

Ela resistiu um pouco. Fez cara feia,e quase me bateu,dizendo que não gostava de cantar para pessoas.

– Tudo bem,mas só um pedacinho. - Ela falou,e eu assenti.

– Prometo que toco uma música pra você na próxima.

Ela deu um sorriso largo,e logo começou :

I can survive

With you by my side

We're gonna be alright

This is what happens

When two worlds collide

E enquanto a ouvia cantar, de olhos fechados, percebi o quanto gostava de ouvir sua voz. O quanto gostava de a ver sorrindo. E então,finalmente entendi o que a Emma queria dizer sobre se apaixonar.

– Você foi ótima. - Disse sorrindo.

Ela retribuiu o sorriso enquanto abria os olhos,devagar. Parecia tão relaxada quando cantava. Parecia até mesmo mais feliz.

– No que está pensando ? - Perguntou.

Olhei para o teto. E senti as mãos dela no meu cabelo. E enfim,falei :

– Estou tentando entender esse lance de se apaixonar.