"Você pode estar brava pela manhã

Eu retirarei o que eu disse

Só não me deixe aqui sozinho"

– Come Back To Bed (John Mayer)

Pov. Austin

– Idiota - Ally resmungou enquanto caminhávamos até a sala.

Incrível como é uma das primeiras coisas que ela fala quando me vê. Em nenhum momento falamos sobre a nossa conversa naquele dia,ou sobre o beijo. Eu sei que ela não estava bem naquele dia,e fiquei feliz por poder ajudá-la.

Mesmo assim falta alguma coisa no olhar dela.

Ally estava extremamente incomodada com algo,e eu queria poder saber o que era,mesmo depois daquela noite,sinto que ela ainda não tinha me falado tudo. E agora ela caminhava descontraidamente ao meu lado,mirando o chão,como se cuidasse cada passo que dava.

E eu,bom,eu ainda estava a observando. E fazendo de tudo para ser discreto o suficiente,para que ela não percebesse.

– Por que tá me olhando assim ? - ela perguntou voltando seu olhar para mim. Talvez eu não fosse assim tão discreto.

– Você parece distante - respondi dois segundos depois.

– Eu nunca sou completamente presente - ela disse olhando para o chão novamente.

Abri minha boca para lhe fazer outra pergunta,mas já tínhamos chegado na porta da sala,e parecia que estávamos realmente atrasados. O professor de cálculo - Sr. Laurent - estava parado nos encarando. Ele deveria ter visto quando já estávamos no corredor,e nada animados para aula,caminhávamos quase lentamente.

– Entrem - ele gesticulou para a porta aberta e rapidamente passamos por ele,que ainda nos encarava um pouco bravo por não darmos tanta importância para sua aula.

É claro que ele não perdeu a oportunidade de começar a fazer um discurso sobre atrasos,horários e de como os jovens de hoje em dia deveriam se importar mais com a escola.

Ele parecia tão animado em tagarelar. Duvido que alguém estivesse ouvindo de verdade.

Lola - uma garota da turma - estava escrevendo cartinhas para o namorado que se sentava do outro lado da sala. As cartas passavam de mão em mão até chegar a ele.

Outro garoto da turma - cujo nunca prestei muita atenção,mas acho que se chama Jason - estava cochilando.

Detalhe importante : Ele se sentava bem na frente do Sr. Laurent. Mas parecia que o velho ignorava totalmente qualquer reação da turma. Ele se importava mesmo com aquele falatório.

Ally estava com fones de ouvido e olhava pela janela. Seus pensamentos pareciam longe e ela estava totalmente concentrada neles. Droga,nesses momentos,eu gostaria de poder ler mentes.

Depois de uns 5 ou 10 minutos,ele finalmente começou a aula de verdade.

( ... )

A água gelada passava pela minha garganta causando quase um pequeno choque. Eu estava totalmente suado e com a respiração ofegante. Estava acabando de sair do treino de futebol.

Fui direto até o vestiário para tomar um banho e trocar de roupa,antes de ter que voltar pra casa. O treinador precisou chamar muito a minha atenção dessa vez. E acho que todo mundo do time tinha percebido o quanto eu estava distraído.

Minha cabeça não estava ali. Eu não queria estar ali. Não mais. Mesmo assim,decidi cumprir meu compromisso com o time mesmo que não estivesse muito confortável com isso.

A água do chuveiro escorria pelo meu corpo tirando toda aquela sensação de cansaço. E também a tensão que se formava. Eu não estava dando meu melhor e podia prejudicar o resto do time com isso. Respirei fundo e desliguei o chuveiro.

( ... )

– Cara,você parece acabado - Dez disse enquanto tomávamos um café no Starbucks.

– É,eu sei disso. Obrigado por me fazer sentir melhor - disse ironicamente.

Ele deu uma risada abafada tomando mais um gole do seu cappuccino.

– As coisas estão pesadas lá em casa - murmurei - Não sei nem mesmo o motivo,mas meus pais estão ainda mais estranhos depois que voltaram de viagem.

Dez me ouvia atentamente. Esse era o melhor ponto da nossa amizade,que já durava muitos anos. Sabíamos escutar um ao outro.

– Eles brigaram ?

– Acho que sim. Nem vejo muito meu pai. Ele fica encerrado naquele maldito escritório,enquanto minha mãe fica perambulando pela casa.

– Não perguntou á ela ?

– Claro que sim. Mas ela disse que é só um problema no trabalho,e que isso deixou meu pai "estressado" - fiz aspas na última palavra - Se fosse assim,ele estaria sempre estressado. Ele nunca deixou de ser frio e centrado.

Meu melhor amigo ruivo assentiu. Ele conhecia meu pai. E também sabia que eu não gostava de falar muito nele.

– Ei,que tal um cinema pra relaxar ?

Pov. Ally

Trancada no quarto novamente.

Me sentia uma prisioneira.

Mas o que eu poderia fazer ? Não tinha mais absolutamente nada que pudesse me tirar dali. Minha mãe está na livraria agora. Eu me ofereci para a ajudar,mas ela recusou imediatamente. Sabia que ela ainda estava - no mínimo - magoada comigo.

Penny apenas respondia á minhas perguntas seriamente. Nenhuma brincadeira,nenhum riso,e ela nem mesmo tentava me tirar da "fortaleza" que esse quarto havia se tornado pra mim.

Eu não queria ser mais um fardo pra ela. Mas era exatamente o que eu sentia. E novamente eu me sentia fraca por não poder fazer nada pra mudar isso. Mais não iria voltar a chorar. De maneira alguma isso aconteceria novamente tão cedo.

Eu precisava apenas respirar fundo e levantar a cabeça. Não era tão díficil,era ? No criado-mudo do lado da minha cama,meu celular começa a vibrar,e logo o som de uma música do John Mayer começa a tocar. O peguei rapidamente. Era uma ligação de Trish.

– Oi Trish - atendi.

– Ally ? Que bom que atendeu ! Tá fazendo algo de importante agora ?

– Se ficar deitada na cama lendo um livro for considerado importante,eu acho que sim - do outro lado da linha,ela deu uma risadinha.

– Você não pode ficar trancada nesse quarto o dia todo. Precisa ver o sol,sabia ?

– Posso ver pela varanda - respondi rapidamente.

– Deixa de ser engraçadinha. Que tal irmos no cinema ?– ela perguntou,e podia ouvir a esperança na sua voz.

– Tudo bem,não parece ser tão ruim ... - mal terminei minha frase e podia ouvir um gritinho de animação dela.

– Esteja pronta em 1 hora,vou pegar o carro do meu pai e passo aí,ok ?– podia imaginar a cena de Trish sorrindo animada para o telefone.

Apenas disse um "ok" e desliguei.

Minha mãe ia gostar de saber que eu enfim,saíria daquele lugar. Mandei uma mensagem a avisando. Ela não respondeu imediatamente,deveria estar ocupada atendendo um cliente.

Dei um pulo da cama e fui em direção ao meu armário e encontrar uma roupa para vestir. Peguei minha jeans favorita, e uma blusa azul estampada. Deixei meus cabelos soltos,e passei um pouco de lápis nos olhos e um batom.

( ... )

Sabe aquele sorrisinho irritante e sarcástico ? Foi a primeira coisa que eu vi no rosto dele quando Trish e eu nos aproximávamos da pequena fila para comprar os ingressos.

– Está me seguindo,Dawson ? - Austin perguntou ainda com aquele sorrisinho.

– Não acredito que tenho o azar de te encontrar aqui.

Ele riu mais uma vez. Um grande idiota,obviamente.

Trish que estava ao meu lado,também riu. Traidora.

– Acho que essa sessão vai ser interessante - ele murmurou enquanto se virava para comprar o ingresso.

É,parece que é isso que eu ganho por querer sair de casa. Cinema com um idiota.