Asas das sombras escrita por Wonderwall


Capítulo 6
Uma coberta de estrelas.




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Assim que Anne chegou ficamos todos sentados ali na sala comendo alguma coisa. Bom, meu pai, a namorada e minha mãe, estavam bebendo. Incrível como os adultos acham qualquer desculpa para beber, acho isso um absurdo, eu tinha voltado a enxergar, e o que meus pais fazem? Vamos beber!

Anne e eu ficamos completamente deslocados ali, e com fome. Mas, teríamos que esperar até a hora do jantar, por que? Por que os adultos ainda riam beber mais, e conversar um pouco mais, e beber um pouco mais, e assim iriam sentir fome e lembrar que nós ainda estávamos presentes ali naquela casa, sempre assim.

Olhei para Anne e ela parecia pensar a mesma coisa que eu: tédio. Sorri para ela, nao sei por que, mas ela sorriu envergonhada de volta. Suspirei e voltei a olhar para minha mãe, que agora falava algo do tipo: O transito hoje estava horrível, eu odeio o meu carro, o preço da gasolina subiu. Entre outras coisas, que vai por mim, nao eram legais.

- Quer ir lá pra fora? - perguntei para Anne.

Ela já havia ido a minha casa algumas vezes, nunca fui na dela, mas me sentia a vontade onde quer que fosse, com a presença dela.

- Claro, mas só se Philip prometer não me sujar! - ela disse e nós rimos. Phil adorava a Anne, eles tinham um laço muito lindo, e sempre um sentia falta do outro. Descobri isso quando estava no hospital, Anne havia passado um bom tempo comigo, e nos aproximamos bastante.

Levantei e ergui a mão na direção dela, para ajuda-la a se levantar, entrelaçamos os dedos e saímos da sala com todos os seres presentes ali nos olhando e aposto que com o pensamento: que belo casal.

O quintal estava excepcionalmente mais lindo do que a dois anos atrás. Haviam arvores, mas nenhuma que retirasse a vista do manto da noite, haviam alguns bancos feitos de cimento, uns gnomos sorridentes, e minha mãe deveria ter aumentado, estava bem maior. Phil estava em sua casinha e quando nos viu foi de encontro a Anne, que lhe deu um abraço carinhoso, mas em seguida ele voltou para sua casinha.

- Eu acho que Phil é um cão de palavra! - Ela riu com o comentário.

- Acho que ele é um cão de latido, não de palavra.

Sorri junto com ela, seu sorriso era muito lindo, muito mais do que eu pudera imaginar em tão pouco tempo que a gente se conhece.

- Sabe, quando nada disso havia acontecido, eu sempre me sentava no telhado, gostava de ficar olhando as estrelas. Depois do acidente, achei que não iria mais poder fazer isso, mas mesmo assim, ia sempre no telhado, me sentia mais perto das estrelas. - ela me olhava enquanto eu falava, o que me fez enrubescer e desviar o olhar para outra direção.

- Eu gosto das estrelas, mas você nunca me falou que as via dessa forma.

Fiquei envergonhado e não tive coragem e olhar para ela, apenas sorri e olhei para o céu novamente.

- Quando você veio até a escola e te levaram para o hospital, eu fui ver onde você estava, achei suas coisas.

Minhas coisas? Oh não, ela devia ter visto meu caderno. Droga, ninguém nunca havia visto meu caderno antes.

- E, o que achou? - perguntei.

- Sua mochila e um caderno. Os devolvi a sua mãe.

- Obrigado por se preocupar.

- Você desenha muito bem, mesmo sem enxergar fez desenhos incríveis e...

- Er.. Obrigado, eu acho. Não sabia nem o que estava desenhando... - Cortei-a.

- Dylan, tinham três desenhos meus.

Paralisei no mesmo momento em que ela falou isso. Como assim tinham três desenhos dela? Eu era cego, nunca havia a visto antes, como eu poderia ter desenhado ela?

- Como assim? Nao pode ser!

- E se quer saber eram perfeitos. Exatamente como sou! Você era mesmo cego?

- Não acredito que esta me...

- Calma bobo - ela me interrompeu - Estou brincando. Acho que você tem pensado de mais em mim!

Rimos juntos mas logo em seguida veio um silencio que pareceu durar horas. É, era essa a verdade, eu acho que havia pensado nela. Quando estava no telhado, quando estava no quarto e até no hospital. Essa era a verdade. Eu não consegui parar de pensar nela.

Olhei para ela, que estava observando Phil. Suspirei e voltei a olhar para o céu, nesse momento ela deitou sua cabeça em meu ombro e senti que meu coração iria sair pela boca, nunca havia ficado assim por nenhuma garota. Será que eu estava ficando apai...

- Dylan, Anne. o jantar esta servido! - Minha mãe apareceu na porta, é, ela havia bebido algumas doses a mais que o normal, estava tonta e engraçada.

Anne e eu nos levantamos e entramos dentro de casa arrancando novamente o olhar daqueles embriagados. Sentei a mesa do lado de minha mãe, Anne se sentou ao meu lado, e quando como que tinha na mesa. fiquei boquiaberto. Era um Mix com todos os tipos de comida que eu mais gostava. Não hesitei, comecei a comer como nunca havia comido antes, e se quer saber, aja o que houver, coxinha de frango com catupiry sempre será meu prato favorito.

A sobremesa será pizza de chocolate, churros e pudim. Depois de tudo acho que ficaria uns trinta quilos mais gordo. Os adultos estavam conversando novamente na mesa e só eu e Anne ali vegetando deslocados.

Após o jantar, minha mãe pediu que eu fosse levar Anne até sua casa, pois a hora já estava um pouco adiantada. A obedeci, e se quer saber, gostei de receber essa ordem. Infelizmente Anne não morava tão longe da minha casa, eram só cinco bairros depois, demorou só quarenta minutos para chegar na sua casa, que era linda. Verde bebê com detalhes brancos. Anne morava apenas com a mãe, então a casa nao era muito grande. O portão era um gradeado branco e a faixada tinha uns dois metros de grama até chegar na porta de entrada.

- A noite foi ótima, Dylan. Obrigada.

- Por nada, que bom que gostou. - Sorri.

- E parabéns por ter voltado a enxergar. - Ela falou carinhosamente.

Então, nossos rostos começaram a se aproximar automaticamente, eu estava hipnotizado pelos olhos dela e ela provavelmente pelos meus, já sentia sua respiração quando a mãe dela apareceu na poeta e nos interrompeu.

- Anne, entre. Já esta tarde. Oi Dylan, como vai? Soube da novidade, parabéns jovem! - Falou a Sra. Callie.

- Obrigado Sra. Callie. - A respondi. - Melhor você entrar, sua mãe pode ficar brava. - Falei voltando-me para Anne,e reparando que a mãe dela já havia entrado.

- Sim, é verdade, tchal Dylan! - Ela falou e quando ia se virando para entrar em sua casa eu puxei seu braço e roubei um beijo em sua bochecha.

Ela sorriu e me deu um beijo na testa. Fiquei ali olhando ela entrar em sua casa e me dar um silencioso "boa noite".

A noite fora mais curta do que eu imaginava, mas havia gostado. Ainda mais por ter sido protegido pelo manto da noite.


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