A Seleção-Interativa escrita por Alice Zahyr


Capítulo 43
Chamas, cinzas e chuva - Parte Final


Notas iniciais do capítulo

HEEEEEEEEEEY GENTE!!!!!! Eu super amei esse capítulo e me apaixonei mais ainda pelo Jason hehe. Espero que vocês gostem!

Link do vestido de casamento da America:

http://www.conversafeminina.com.br/wp-content/uploads/2012/05/Vestido-de-noiva-estilo-princesa.jpg



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Hoje é o grande dia.

Dez dias se passaram desde a despedida de Samantha. De lá pra cá, tudo no castelo transformou-se numa espécie de maratona. Anne, Mary e Lucy corriam com os preparativos do vestido e das roupas das damas de honra. May será uma delas, e isso encheu meu coração de orgulho. Minha família chegou ao castelo ontem á noite, mas não pude passar o tempo que queria com eles porque Silvia, que estava cuidando de mim oficialmente, me proibiu de dormir tarde. Segundo ela, princesa com olheiras dava má sorte ao casamento. E eu meio que: "Sério isso?" Mas por fim ela estava certa. Eu consegui levantar sozinha, abrir as cortinas e respirar fundo enquanto observava os jardins palaciais sendo divinamente enfeitados.

TOC, TOC, TOC.

– Entre - eu disse. A porta se abriu vagarosamente, mas eu mantive meus olhos no horizonte, me permitindo pela última vez pensar em alguém que eu nunca poderia ter.

– Filha? - uma mão segurou o meu braço e eu me virei. Era meu pai. Eu lhe dei um forte abraço e um largo sorriso - Bom dia, princesa! - eu ri - Está tão nervosa quanto eu pensei que deveria estar ou está apenas tentando ficar nervosa por que na verdade deveria estar nervosa, mas não está?

– Hum... Sou uma artista, pai, tenho várias faces - eu desconversei, fazendo uma careta e imitando sua expressão.

– Eu fiquei preocupado com você. Não parecia muito feliz ontem no jantar. O que é muito estranho, já que isso é o que você mais sonhou desde que... Bem, desde que eu te entendo como selecionada - ele disse, me fazendo olhar para o lado para desviar as lágrimas. Mas meu pai percebeu. Afinal, ele era o meu pai. E me conhecia melhor que qualquer outro. - Filha... Por que está fazendo isso? Não é o seu conto de fadas?

– E-eu... Eu... - tentei falar, mas minha voz falhou. Incapaz de esconder as lágrimas, me afaguei nos braços do meu pai e deixei que elas rolassem, liberando todos os sentimentos que eu vinha tentando esconder desde o início, quando Jason me deixou.

– Não é o seu conto de fadas - ele concluiu, pensativo - Mas, minha filha, você não é de desistir. Vai mesmo se casar com alguém que não ama? Eu sei que não é por causa de joias, dinheiro, ou fama. Eu - ele segurou meu rosto - quero te ver feliz.

– Pai, não é como se eu não amasse Maxon... É que... Eu não quero perder o que me resta.

– Mas o que te resta te faz feliz? - ele perguntou. Eu dei uma risada fraca.

– Em parte. - eu assumi. Respirei fundo, e enxuguei as lágrimas dos meus olhos, me sentindo um pouco melhor depois de encharcar a camiseta do meu pai - Eu te arrumo muitas outras dessas - ele riu.

– Tudo o que eu quero é ver a minha filha feliz. Não vou te pressionar para fazer o certo, porque no amor nem tudo que parece certo nos faz feliz, mas sempre que você precisar de mim, é só chamar. Mesmo que eu não seja um "super terapeuta de Illéa" - ele imitou a voz de Clarkson divertidamente, e então foi em direção á porta do meu quarto.

– Os seus conselhos são os melhores do mundo – eu falei, sorrindo. Então ele saiu, me deixando só com meus próprios pensamentos.

Mas quando ele fechou a porta, outra pessoa rapidamente abriu. Era Silvia, que vinha afobada com uma prancheta na mão, duas sacolas gigantes da Mimissié Vontue (lê-se "mimissí vontú" uma marca francesa de vestidos) e um rolo de tecido branco no braço. Ela conversava em espanhol com alguém pelo celular, enquanto falava, pela escuta do outro ouvido, com alguma criada.

Sí, sí, pero tengas atención a el tejido, és lo más importante! – ela disse rapidamente - Y pongas tres capas en el vestido! - e desligou o telefone, voltando á conversa com a criada pela escuta - Não, minha querida, não viaje! Ponha cinquenta mL de amaciante gasoso nas rendas e traga logo para a princesa!... Não, não use o Airflier! É da rainha, não da princesa! - e desliga o botão da escuta. - Oras, bolas, essas criadas estão de brincadeira! Que absurdo! Nefitilina... Quem põe nefitilina em vestidos? - Silvia perguntava a si mesmo, e então adentrou meu quarto rapidamente, deixando a porta aberta. O guarda percebeu a euforia e colocou a cabeça para o lado, perguntando com um olhar se fechava. Eu assenti.

– Silvia... Hum... Silvia! - chamei-a com calma. Ela olhou para mim assustada.

– Sim? Desculpe, princesa. O que deseja? - ela perguntou, com os olhos arregalados. - Quer que eu troque os vestidos? As damas? O buffet? Já está tudo pronto, mas mesmo assim...

– Silvia! - eu a interrompi, agoniada - Não quero nada! Só... Respire - ela fechou os olhos e suspirou, deixando os ombros caírem.

– Desculpe, princesa, eu estou muito estressada com o casamento... A realeza espanhola também tem me dado muito trabalho com as princesas caçulas - Silvia jogou os cabelos para trás e prendeu-os num coque improvisado.

– Rúbia e Dulce? - perguntei, me lembrando das duas e fazendo uma expressão de solidariedade ao recordar de como elas eram pestinhas - Eu sinto muito por você.

– Ah, não, tudo bem - Silvia sorriu, meio tímida.

– Qual o trabalho que elas têm te dado? - perguntei, me sentando na beirada da cama. Silvia me olhou desconcertada.

– Você está... Me oferecendo ajuda? - eu assenti com a cabeça - Ah, obrigada, ninguém nunca... Se importou assim antes. Mas, bem, as duas são gêmeas, e portanto iguais, mas não querem vestido iguais, como manda a regra de etiqueta da família da Espanha. Então eu decidi oferecer vestidos totalmente diferentes, mas elas não gostaram. Disseram que queria vestidos como os seus. - Silvia fez uma careta.

– Ora, então dê os meus vestidos para elas - eu dei de ombros e fui em direção ao closet - Nem vou usá-los mais.

– A senhorita está falando sério? - Silvia me perguntou com os olhos brilhando. Eu sorri, e tirei do closet dois vestidos que fizeram muito sucesso na época da Seleção. Um era roxo vinho, e o outro azul celeste

– Aqui. Se as duas não gostarem desses, então receio que elas tenham de vir de pijamas - dei um sorriso e Silvia empacotou os vestidos, me agradecendo pertinentemente - Mas o que temos... Para mim?

– Ah, sim, então... Seu vestido está pronto, já, já, Anne trará para o quarto. Ele é divino... - Silvia gesticulava nervosa, mas eu a interrompi.

– Hum, Silvia, agradeço muito todo o seu esforço, de verdade. Mas já que ainda não temos o vestido, acho melhor você ir para o seu quarto e descansar, afinal, já está tudo resolvido. - eu disse, me sentindo mal por vê-la daquele jeito, apesar de saber que Silvia tinha uma energia sem fim. Ela olhou para mim e quase cedeu.

– Não, não, não, princesa, se me pegam descansando... Eu serei escorraçada do castelo. Hum-hum, de jeito nenhum. - ela negou firmemente.

– Façamos um trato. Seu último serviço será enviar esses vestidos para as princesas espanholas, mas depois disso, me prometa que vai descansar para o casamento - eu negociei, e Silvia ergueu uma sobrancelha, sorrindo.

– Feito. Mas só porque você ordenou - ela se levantou e saiu do quarto, levando consigo todo o estresse daquela cerimônia.

Aliás, falar tanto do casamento me fez lembrar de Maxon. Por onde será que ele andava? Infelizmente eu não poderia vê-lo até de noite, e para o tempo passar mais rápido, fiz logo tudo o que tinha de fazer e depois fui passar a tarde com a minha família.

O tempo realmente voou. Mas eu mal sabia que a calmaria de toda a tarde seria um presságio da tempestade que viria pela noite.

***

"Princesa! Princesa! Por favor, aqui!"

"Onde estão os noivos? Rainha Amberly, fale conosco!"

"As mais recentes notícias sobre essa cerimônia têm deixado todo o mundo curioso e ansioso. O que será que a princesa vai vestir? E Maxon, o futuro rei de Illéa, como se sairá ao se casar com uma garota de casta 5?"

Murmurinhos ridículos como esses ultrapassavam as portas e janelas do meu quarto. O palácio fora invadido vorazmente pela mídia de Angeles. Nem mesmo a rainha, tão calma e paciente, estava aguentando. Do corredor pude ouvir reclamações vindas de Amberly. O rei se enfiara dentro de um abrigo no meio do castelo, pois já estava uma pilha de nervos com o que a mídia insinuava sobre ele e Celeste. Eu nem queria saber o que Amberly achara daquilo.

Exatamente ás seis horas da tarde, eu já estava quase pronta. O vestido que Anne subira para o meu quarto era divino como Silvia dissera. Branco-bege, com detalhes dourados e tomara que caia. Fora feito por semanas exclusivamente para mim, e as criadas realmente deram duro para criá-lo, mas sinceramente... Que vestido perfeito.

Mary trouxe luvas para as mãos da mesma cor do vestido, e um véu levemente dourado que descia junto ao vestido. Os saltos eram beges e envernizados, tão lindos quanto tudo o que elas me mostravam.

Depois de meia hora de molho numa banheira cheia de vanilla e rosas, elas me arrumaram. Meu cabelo estava solto, em cachos que desciam pelas costas nuas. Eu realmente estava linda, como nunca estive em toda a minha vida.

E em poucos minutos eu seria a esposa de Maxon e princesa de Illéa.

***

Tã tã tã... Tã tã tã... Tã nã nã nãããã...

– Ai, pai, acho que vou... Vomitar - eu disse, sentindo meu estômago queimar de ansiedade e medo.

– Ha! - ele riu - Não vai, não. Tenha um pouco de pena do seu marido, minha filha.

– Pai! - eu lhe empurrei com o cotovelo - É sério, eu vou morrer, me leva pra casa! - eu implorei, fechando os olhos enquanto descia as escadas do palácio com meu braço envolto no dele. Meu pai riu baixo em meu ouvido e então começou a sorrir para as câmeras. Já eu, estava praticamente cega pelos flashes.

A música da marcha nupcial aumentava de intensidade a cada passo. Meus ouvidos se concentravam na parte do pianista. Cada nota era uma batida do meu coração que praticamente pulava dentro de mim. Mesmo que aquele não fosse mais o meu conto de fadas, ainda assim era o meu casamento. E isso me deixava tão nervosa que eu arranhava sem querer o braço de meu pai.

– Chegamos? - eu perguntei, sem conseguir enxergar direito.

– Sim. Aqui é o fim da escada, mas falta um pouco até o Salão das Cerimônias - meu pai respondeu. Eu suava frio enquanto nos movíamos por entre os jornalistas.

Enquanto passávamos pelo salão, meus olhos pairaram sem querer sob o outro extremo do castelo, onde eu vira Celeste saindo de um quarto com o rei bem antes do ataque dos sulistas. Primeiramente, achei que estava delirando, mas constatei que ele estava mesmo ali quando ele me deu um sorriso meio triste e o aparelho que ele mexia causou um reflexo no lustre de cristais do salão.

Jason.

Vestido com sua roupa de sulista, pude perceber duas armas meio camufladas na sua cintura. Em suas mãos, havia algo metálico que eu não compreendi o que era. Meu coração acelerou suas batidas vorazmente quando ele sorriu pra mim, e eu sorri de volta, sem nem saber porquê. Foi então que meu pai me arrancou daquele reencontro com uma palavra apenas.

– Chegamos - ele sussurrou pra mim - Agora só temos de atravessar todo esse tapete vermelho e, então, é com você.

– Pai... Me segura, por favor - eu pedi, ainda com os olhos presos em Jason, que me observava do andar acima sem que ninguém pudesse vê-lo. Mas... Por quê ele viera? Ele não pôde ter achado que iria invadir meu casamento e ficar com a noiva, certo? Porque isso não aconteceria...

Quando pisamos o pé no Salão, a orquestra parou de tocar. Eu não entendi, até que os músicos foram abrindo espaço para alguém que tocaria sozinho. Havia um violino, e uma mulher. Até que eu olhei bem.

Minha mãe.

Ela começou a tocar a música, ainda a marcha nupcial, de forma lenta e linda. Olhei rapidamente para cima, e Jason ainda estava lá, me acompanhando com seus olhos. A cada vez que eu olhava para ele, ele sorria de lado, me encorajando a seguir em frente. E eu seguia. De repente, não havia mais ninguém ali, apenas eu, aquele tapete vermelho, a música, e Jason. Meu coração foi se acalmando, mas as lágrimas quentes não foram impedidas de descer. Ele me olhava de uma forma que eu mesma não entendia. Não era com solidariedade, bondade ou ternura, como fazia Maxon, e nem de forma desejosa, cínica ou amorosa, como Jason fazia. Mas era um olhar diferente.

De certa forma, eu pude ler sua expressão. Jason sabia que me perdera, mas estava ali para mostrar que ainda não fora embora de vez. Seus olhos tinham certa melancolia, certo orgulho, certa determinação. Mas nada que ele fingisse sentir camuflava o fato de que eles estavam marejando conforme eu chegava perto do altar. No entanto, Jason continuava ali, me dizendo que eu só devia seguir em frente, e eu seguia, sentindo meu coração se acalmar lentamente...

– Cuide da minha filha. Antes de sua princesa, ela é a minha princesa - meu pai disse para Maxon, interrompendo abruptamente minha fuga da realidade - Maxon, eu te dou a mão da minha filha. Faça ela... Feliz.

De repente, eu estava de braços dados com Maxon e nem sabia como chegara até ali. Meu pai estava do lado, um pouco atrás, e todos me observavam. Eu olhei para Maxon e percebi que ele parecia perdido enquanto me via. Ele estava lindo, é claro, mas... Como eu pude nem perceber tudo acontecendo? Jason... Eu havia atravessado aquele salão inteiro, com os olhos em apenas uma pessoa... Jason.

***

– Senhorita America Singer, repita comigo essas palavras - o bispo pediu, e eu fui repetindo cada uma delas, me obrigando a focar meus olhos em Maxon, apenas Maxon.

"Eu, America Singer, te recebo, Maxon Schreave, como meu marido e te prometo ser fiel, amar e respeitar... na alegria e na tristeza, na saúde e na doença...por todos os dias da nossa vida, até que a morte nos separe."

E então foi a vez de Maxon. Porém, num momento de distração, olhei para cima, e não vi Jason mais ali. Pensei tristemente que ele não tivesse dado conta de me ver casando com outro, mas logo percebi algo de errado no Salão. Olhei para os guardas que estavam na porta do castelo, mas eles também haviam saído. Os guardas de preto que vigiavam dos andares de cima subitamente saíram pelas outras escadas, conversando pelas escutas nervosamente. Olhei para Maxon, e ele me ergueu uma sobrancelha demonstrando a mesma curiosidade.

– America, você convidou a Samantha para o nosso casamento? - Maxon me perguntou incrédulo. Ele apontou com o olhar para o fundo do Salão, e foi então que eu avistei uma garota de cabelos cacheados e farda da Base passando por entre os guardas apressadamente enquanto falava com alguém por um pequeno fone no ouvido. Na outra ponta do Salão, Jason também passava entre os guardas, que sequer tentavam barrá-lo quando viam o seu distintivo. Ele também estava com a mão num fone de ouvido, provavelmente conversando com Samantha.

– Maxon, tem algo de errado acontecendo - eu falei, sentindo um frio na espinha. Os convidados nos olhavam sem entender a demora para o "sim" e o "não". Mas minhas dúvidas só aumentaram quando Clarkson foi retirado do lugar ás pressas por um soldado. Foi então que os guardas que estavam ás portas do Salão abriram-nas rapidamente. Jason deu meia volta enquanto Samantha corria para o lado de fora. Ela sacou uma arma da cintura e apontou para um cara que prendia Lucy com outra arma. O cara, porém, não a soltou, e tudo o que eu ouvi foi um barulho de tiro.

Depois disso, o caos tomou conta do castelo.

Jason correu para a frente do altar.

– Saiam todos do castelo, rápido! Evacuar castelo! Evacuar! - ele gritou fortemente, e eu e Maxon saímos de lá o mais rápido possível. Mas eu não pude deixar de olhar para trás para vê-lo.

Os nossos olhares se encontraram, e eu parei de correr.

Maxon teve de me puxar para que nós não morrêssemos. Todos já haviam saído do Salão. Os guardas correram para nos ajudar, mas Jason não nos seguia. Ele tinha entrado numa sala secreta, a mesma para a qual Amberly me puxou na noite do jantar. Provavelmente alguém ficara preso lá dentro, pois eu ouvi um barulho de chute, e então a porta caiu.

Quando eu pisei o pé fora do castelo, uma bomba explodiu, e a força das chamas me jogaram metros á frente. Mas graças ao vestido, não me machuquei. Maxon corria ao meu encontro, com fuligem pelo terno inteiro. As pessoas corriam desesperadas ao redor do castelo, sem ao menos saber pra onde ir. Maxon me levantou, e nós nos afastamos, assistindo o que aconteceria á seguir. A bomba havia destruído parte do lado direito do castelo, que estava em chamas. Eu não entendi o ato de terrorismo que aconteceu bem no dia do casamento, afinal os Mercenários já tinham sido exilados de Angeles por Jason...

– Senhor, o seu pai está chamando por você. Ele parece muito nervoso - um guarda chamou Maxon, e então fez continência (o que não fez sentido) e saiu.

– Eu... Você pode ficar aqui alguns instantes? - Maxon perguntou, assustado, e eu assenti. Ele assobiou para os guardas que estavam perto da Torre. Eles vieram correndo e fizeram uma espécie de barreira ao meu redor. Depois disso, Maxon saiu correndo.

Fiquei esperando por alguns minutos ansiosamente a saída de Jason. E quando eu pensei que ele pudesse ter morrido lá dentro, Jason saiu pelas portas do castelo com Lucy no colo. Ela estava desacordada. Mas ele parecia muito pior.

– Ajudem ele! - eu gritei para os guardas, que rapidamente agiram.

– Qual o estado dela? - um deles perguntou para Jason, que passou Lucy para os seus braços.

– Ela pode ter ficado intoxicada - Jason disse, com os olhos estáticos. Ele olhava para Lucy como se... Ah, meu Deus.

Lucy era a mãe de Jason.

– Levem ela para algum abrigo! Façam tudo o que puderem! - pedi á eles, que saíram e se embrenharam na floresta num segundo. Logo, restou apenas eu e Jason. Finalmente, nós havíamos nos encontrado. Infelizmente a situação não ajudava, mas o meu coração palpitava só de saber que ele estava bem.

Ali, ao meu lado, eu senti uma súbita vontade de abraçá-lo, de tocá-lo... De sentir novamente o cheiro que há tantas semanas eu não sentia. Aquela abstinência estava me matando, e tê-lo tão perto sem poder tocá-lo era um castigo imensurável.

"BANG!BANG!BANG!" Tiros ricochetearam no ar. Eu olhei para o lado e vi Samantha, junto com alguns outros sulistas, atirando em direção á Torre Principal, de onde vários caras com roupas pretas saíam - já mortos. Um deles, porém, conseguiu se esquivar, e num salto jogou uma bomba de tnt bem no centro do castelo, que explodiu em mais chamas. O concreto queimava tão vorazmente que eu apenas pedia á Deus que ninguém tivesse ficado lá dentro.

Samantha continuava atirando, quando outro daqueles caras saiu da floresta e a surpreendeu. Ele lhe deu uma rasteira, e ela quase caiu, mas num golpe certeiro Samantha passou sua perna velozmente pelo pé esquerdo do cara, que caiu no chão. Ela apontou a arma para ele e atirou sem hesitar. Depois, agachou-se e pegou a bomba que estava na sua cintura e deu para um de seus soldados. Ele afundou a bomba numa espécie de caixa, e logo ela estava inativada.

O cenário era de guerra. O castelo inteiro pegava fogo. Cinzas subiam até o céu, e logo toda a imprensa de Illéa filmava com helicópteros e motos o que acontecia. Samantha gritava para os sulistas ordens em códigos que eu não entendia, e eles obedeciam rapidamente. Logo Anna Parker também apareceu. Uma trupe de homens fortes e musculosos vinham atrás dela, que os liderava com vigor. Anna estava mascarada, mas uma garota como ela você reconhece de longe.

"MERCENÁRIOS!DESTRUAM OS INVASORES!" e "SULISTAS, ALA 9 JÁ, JÁ, JÁ!" Eu mal acreditava que os nossos piores inimigos seriam, um dia, quem estaria do nosso lado. E ver Jason, Samantha e Anna nos ajudando daquela forma fez meu coração acelerar. Eles nunca foram os inimigos.

Eu olhei para Jason, que estava parado do meu lado, assistindo tudo com uma expressão distante. Nós não estávamos tão afastados assim. Eu podia sentir o seu medo, sua raiva, sua vontade de salvar todo mundo. Seu peito indicava que as batidas cardíacas estavam tão aceleradas quanto as minhas - se não mais. Ele arfava, meio congelado no tempo. Eu mesma não entendia porque ele estava ali, ao meu lado e parado. Ele estava tentando me proteger?

– Jason - eu o chamei baixo, mas ele ouviu. Ele virou o rosto e me olhou. Me olhou com aqueles olhos azuis que eu não via há muito tempo... Eu não fazia ideia do que dizer àquela altura dos acontecimentos. O castelo estava sendo bombardeado, não sabíamos quem fazia aquilo, mas ainda assim, lá estávamos nós. Jason e eu. Parados, ao lado um do outro, no contexto mais apocalíptico possível. Mas juntos. Juntos.

Quando eu abri a boca para falar algo, senti uma gota cair em meus lábios. E então outra. E outra. E de repente, várias gotas começaram a cair. Eu ergui meu rosto para o céu, e vi que estava chovendo.

A água caia torrencialmente, apagando as chamas que queimavam o castelo. A brisa era quente, como se a própria natureza estivesse assustada pelas bombas e pelas chamas. A chuva vinha forte, e o céu trovejou por um momento, deixando um azul elétrico no lugar das nuvens calmas da noite.

Jason se virou para mim e seus olhos pareciam queimar de desejo, de saudade, de mil emoções que eu também tentei esconder durante todos aqueles dias. E, num ato súbito, ele puxou a minha cintura e colou seus lábios nos meus, beijando-me vorazmente como se fosse a última vez.

Eu passei as mãos por sua nuca, enquanto ele me segurava mais firme, retribuindo o beijo. Ah, meu Deus, como eu havia sentido falta de Jason... Como eu fui capaz de me enganar? De pensar que eu poderia ser feliz com qualquer outra pessoa que não fosse ele?

E ali, em meio ás cinzas, fumaça e caos, nós nos beijamos intensamente, enquanto a chuva caía sem previsões de acabar.


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Notas finais do capítulo

Continua... A fic está chegando ao fim, galera, por isso comentem coisas legais, por favor! Nada de "Legal" "Continua" ou "Gostei", os meus leitores são muito mais criativos que isso u_u