PS: este capítulo não será uma continuação do capítulo anterior. Será um capítulo novo, onde America já saiu da enfermaria e está num quarto da área restrita ao acesso apenas dos sargentos.

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Tamborilei os dedos nas beiradas da cama entendiada. Olhei para minha perna, completamente frustada. Ali estava eu, num quarto estranho, dando de vítima mais uma vez ao invés de pôr logo meu plano em prática. Me revirei na cama para me certificar de que conseguia mexer o corpo sem morrer de dor, mas só me frustrei mais ainda ao perceber que sequer podia sentir minha perna. Eu mal podia avaliar sua melhora, já que tudo o que eu fiz há uma semana foi praticamente entrar em coma. Foram sete dias sem ver nada e sem sentir nada. Completamente desacordada.

E agora eu estava ali. Olhava ao redor do quarto com medo de entender onde estava. Bem, até agora eu me considerava uma prisioneira dos sulistas, mesmo que na verdade Jason me fizesse sentir como uma visita. Então recapitulei os fatos: já estava na Base Sul há sete dias. Eu poderia ter feito um grande ato heroico nesses sete dias, mas claro, tive de levar uma braçada de robô na perna. Não poderia ficar pior.

Mas então veio Samantha. Sua conversa me deixou atordoada, e desde que acordei só conseguia pensar nisso. "Não subestime Jason", ela dissera. Mas por que diabos eu o subestimaria? Sabia muito bem o que alguém é capaz de fazer quando se aplica ao trabalho - Aspen me ensinara isso com excelência - só que eu tinha tanta certeza de que Jason não poderia fazer mal algum á mim que me irritei com Samantha. Se ela gostava dele, por que então me tinha por ameaça? Digo, ela o conhecia desde criança. Falava e convivia com ele todos os dias naquela Base, e esperou eu chegar para decidir que precisava dele? Fala sério. Era quase ridículo - se a forma como ela disse as coisas não tivessem me dado um certo... medo.

Olhei para minha perna de novo e me remexi na cama. Era estranho não poder andar, era um saco. O tédio já estava insuportável, não havia mais o que pensar, e isso se devia á quatro coisas. 1)Não podia andar sozinha. 2)Jason não dava as caras há mais ou menos quatro horas. 3)Eu não sabia onde estava e nem o que estava acontecendo. 4)Tinha que dar o fora dali. Havia um laptop na escrivaninha, mas era inútil porque toda vez que eu tentei mexer o aparelho pedia uma senha.

Dei uma olhada no lugar outra vez. O quarto era estranho, completamente diferente do que eu imaginara para prender um sequestrado ou algo assim. A não ser que o lugar onde os "prisioneiros" ficavam na Base Sul incluísse: uma escrivaninha cheia de papéis - ainda que organizados e completamente ilegíveis pra mim - e um monte de aparelhos tecnológicos que eu mal sabia dizer o que era, uma cama grande definitivamente macia (eu realmente pensava que os sulistas usavam redes, ou algo assim), uma tela de metal incrustada na parede, umas três armas penduradas na parede atrás da cama, e uma porta de metal idêntica a da sala do robô que eu não fazia ideia de onde dava.

Bem, Jason não aparecia. Eu precisava fazer algo.

Levantei da cama e sentei no chão, num ato inteligente de me arrastar. Eu tentei pular de um pé só, mas minha perna balançou tanto que eu não queria sentir a dor que a anestesia havia camuflado. Me arrastei até a escrivaninha, e peguei os papéis, certa de que tiraria alguma informação dali.

Comecei a ler alguns, por mais difícil que fosse. Eu sabia ler muito bem, mas devo admitir que de burros os sulistas não tem nada. Havia códigos por toda a página, de forma que poucas coisas eram palavras.

Até que pus os olhos numa folha preta escrita em branco. Não sei se deveria ter lido, mas foi simplesmente a coisa mais inteligente que fiz até aquele momento. " A Seleção: America Singer." era o título do papel. Devo admitir que tremi um pouco ao ler algo sobre mim, mas não me era novidade, eu sabia que os sulistas vigiavam o castelo e o que nele acontecia.

Abri o papel e comecei a ler.

"Senhor Comandante R.C,

Sua filha fez há pouco tempo um breve relatório sobre a selecionada America Singer. Já esta carta é um relatório pessoal sobre a selecionada, peço que a guarde em segurança, Senhor. Todas as informações citadas são verdadeiras e resultado de semanas de acompanhamento.

"America Singer, 17 anos. Ruiva, de beleza rara. Pianista, cantora e musicista. De família Cinco, pais também artistas. A garota possui um gênio desafiador, certas vezes rebelde. Possui um senso de justiça diferente de todas as outras selecionadas, se incomoda ao luxo e á arrogância. É a preferida de Maxon desde o início, não tendo nuances significativas de predileção entre as selecionadas. A Rainha Amberly demonstrou, também, gostar de America, sendo indiferente ás outras, exceto Kriss, a seu ver uma possível segunda opção. America conquistou a amizade de todos do palácio, menos a de Clarkson. Já descobriu sobre a garota, Celeste, e o rei.

America passa a boa parte de seu tempo tocando ao piano, quando não no Salão das Mulheres ou na companhia de Maxon. Demonstrou por muitas vezes ser indiferente á coroa e aos privilégios de ser uma Um, preocupando-se mais com os problemas das castas. Já teve um relacionamento com Aspen ou Soldado Leger, o soldado braço direito de Maxon. Trata as criadas tão bem como se fossem amigas, e demonstrou total compaixão ao ver Marlee sendo açoitada por traição.

America é o alvo de Celeste e Elise, porém mantém uma certa amizade com Kriss."

Dados secretos serão citados a seguir:

" Maxon já manteve um brevíssimo relacionamento com Celeste durante a metade da Seleção, mas isso está fora da ciência de America. Celeste desde o início mantinha um relacionamento com Clarkson em troca de garantia na competição. A modelo de casta Dois também já tentou tirar America da Seleção com a ajuda de Ashley logo no início, porém Maxon viu o ato de Ashley e a expulsou. Clarkson já tentou entrar no quarto de America, mas o soldado Leger omitiu a presença da selecionada no local. America já passou momentos íntimos com o soldado Leger quando este foi para o castelo transferido."

Senhor Capitão, peço com todo o respeito que não deixe este relatório ao alcance de qualquer outra pessoa. America Singer é a preferida dos chefes de inteligência da Base e isso colocaria em risco sua vida devido á presença de um recruta no local. Também devo ressaltar que sua filha está providenciando um acordo com os Mercenários, de forma que eles fiquem longe de Illéa até resolvermos a situação que o Senhor me impôs, até então, por mim desconhecida.

Sargento Jason."

Passei os olhos pela carta com os olhos arregalados, certa de que surtaria com o tanto de informação que sabiam sobre Maxon, Celeste e o rei. Por Deus, jamais imaginaria que Ashley pudesse me sabotar! E Aspen, eles sabiam sobre nós. Isso colocava muita coisa em jogo. Eu teria de me desdobrar para conseguir descobrir algo sobre os sulistas.

Tentei voltar para a cama e guardar a carta dentro de minha jaqueta, mas no momento em que me apoiei na escrivaninha, Jason entrou pela porta de metal.

Aparentemente, o lugar do qual ele vinha era de treinamento. Ou de um banheiro.

Jason estava só de toalha até a cintura, de forma que seu peitoral musculoso estava completamente á mostra. Ele passou as mãos no cabelo molhado, ainda entrando pela porta.

Olhei para ele paralisada pelo que via.

Até que voltei á mim e senti o papel em minhas mãos. Jason franziu a testa tentando ver o que eu estava lendo.

E eu tive de fazer uma loucura para me esquivar da situação.