Do or Die escrita por LadyThyssa, Dr Hannibal Lecter


Capítulo 20
Capitulo 20 - Fase 5


Notas iniciais do capítulo

Capitulo novo para vocês, pessoal! Feliz ano novo meio atrasado... Enfim, espero que gostem! Fic indo para a reta final, entao se preparem!



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Agora era certeza que tínhamos perdido Alaric e Nicolle de vista. Os dois haviam corrido entre as fileiras intermináveis de corredores e deixado todos nós para trás. Corremos para tentar alcança-los, e quando viramos em corredor escuro tive a impressão de ter visto um vulto atrás de mim. Segurei meu machado com as juntas quase brancas pelo esforço, e me virei para ver o que aquele vulto tinha sido.

Ouvi os passos do grupo correrem para a frente, e no final ficamos apenas Tommy e eu. Inclinei meu corpo para olhar para dentro de uma porta onde o vulto havia corrido. Eu ouvia passos lá dentro, mas não pertencendo a apenas uma pessoa. Alguma coisa estava errada, e eu pude sentir isso. Tommy me seguiu de perto quando entrei na sala mal iluminada e então a porta se fechou atrás de Tommy em um ruído rápido. A fraca luz se apagou e ficamos em silêncio no cômodo.

Eu voltei desesperada para a porta, apoiei minha mãe nela e comecei a socá-la, quase como se tivesse esperança de que fosse abri-la assim. O metal envelhecido e enferrujado da porta estava frio como gelo, e as falhas do metal desgastado eram ásperas contra meus dedos.

–Mas que droga! Estamos presos aqui! – Gritei com uma voz frustrada.

– Shhh – Tommy disse em algum lugar do meu lado. A escuridão impedia que eu visse qualquer coisa. Me joguei de costas contra a porta, como meu único ponto de referência naquele quarto escuro. Eu podia ouvir a respiração pesada de um Tommy ferido e cansado ao meu lado. – O que foi? – Sussurrei.

Uma luz noturna se acendeu em algum lugar no quarto. Era uma luz fraca e verde que não permitia que víssemos detalhes de nada, apenas contornos das coisas ao redor: com algumas cadeiras e caixas empilhadas em um canto, a sala era bem pequena, e no outro extremo haviam três silhuetas de outros jogadores, meio espalhados e tão assustados quanto nós. Um deles parecia se mexer de mais, como se estivesse incomodado com algo. Espalhados, cada um portava uma arma á vista pela luz: o rapaz mais alto tinha um machado, a silhueta de cabeços compridos que tinha certeza que era uma mulher tinha uma espada e o outro rapaz uma faca.

Tommy engoliu seco ao meu lado. Ele encarava as silhuetas assustado. Quando uma sirene tocou, tão baixa que podia ser considerada um assobio, o rapaz com o machado se virou com uma velocidade incrível, e começou a brigar com a garota da espada. Eu via os vultos de luz verde contornando o movimento dos dois. Eles brigavam para matar. Quando virei para o lado, para me certificar que Tommy estava parado do meu lado, tive a surpresa de ver que o garoto de óculos não estava em lugar nenhum agora, quase como se tivesse sumido. ‘E pelo menos ele estava armado?’ Tentei me lembrar da faca que Tommy sempre usava: era prateada e comprida, com lâmina do dois lados, quase como uma estaca de metal. Pensei, com alivio, que ele ainda portasse a mesma.

E então algo passou assobiando pela minha orelha, quase como uma movimentação estranha do ar. Tive tempo de virar a cabeça para o lado, com espanto, quando vi que passei a centímetros de uma faca. Mas não sai completamente ilesa, a faca acertou bons milímetros na minha orelha, que agora ardia e com certeza sangrava. Foi o suficiente para me desequilibrar.

Levantei meu machado com muita dificuldade, e demorei tempo demais para conseguir empulhá-lo da forma correta, mas foi o bastante para atacar o agressor com as parte de trás do machado, a parte sem lâmina, mas que faria um bom estrago com o impacto certo. Pelo urro que ele deu, devo ter acertado em algum lugar perto do abdômen e ele recuou. O rapaz com a faca que eu tinha visto apenas a silhueta a instantes atrás agora havia tentado me matar. Ele recuou surpreso.

Levantei uma mão para tapar o sangue que escorria da minha orelha, e com a mão e o braço bom – o que não havia sido baleado algumas fases atrás – levantei o machado novamente, desta vez arrumando o lado correto da lâmina em direção ao rapaz. Foi com a força e a velocidade baixa demais, pensei, ao ver o corte que eu havia feito na lateral das costas dele. Ele emitiu um som como um urro, e ergueu a faca novamente. Dessa vez, ele foi mais rápido e levou a faca com toda as forças em minha direção. Ergui a perna para tentar empurrá-lo para trás, mas ele era o cara com a faca, que era uma arma leve, e então de repende a arma perdeu o foco do meu peito e se voltou para a minha perna. Ele esfaqueou minha coxa direita, e empurrou a faca bem fundo na minha carne. Eu gritei alto e cambaleei. Ele ficou surpreso o bastante para recurar, e acabou deixando a faca presa na minha coxa, fincada com força na minha carne. – Desgraçado, sussurrei para mim mesma, quando ergui o machado novamente, agora com as duas mãos – o braço machucado latejando. Ergui a arma, e com a melhor mira que se podia ter no escuro, golpeei com força a cabeça do agressor.

Não tive tempo para ver o estrago, mas sei que coloquei força o bastante para partir a cabeça dele em dois e, graças, estava escuro demais para ver isso com detalhes. O mais estranho foi que não me senti culpada ao matá-lo. Foi algo quase como automático, autodefesa misturada com um golpe de fúria e excesso de adrenalina. Mesmo assim, uma lágrima quente escorreu pelo meu rosto, talvez pela dor da faca ainda presa na minha perna, talvez pelo medo do que eu seria capaz de fazer a seguir, se continuasse ali por muito tempo.

Eu comecei a mancar em direção onde os três vultos ainda vivos brigavam do outro lado da sala. Espere... Três vultos... Tommy estava lá! E eu logo o reconheci como o mais alto, com a faca mais comprida. Ele estava de pé, um pouco desengonçado, atacando a garota com a espada. Ele parecia bem e eu ia tentar ajudá-lo agora. Ele estava ganhando conforme eu me aproximava devagar, porque cada passo com a perna esquerda era uma vitória. E foi quando ele golpeou o pescoço da garota com a espada,um golpe bem calculado que foi o bastante para derrubá-la. E por um instante ele ficou bem, parado, olhando a garota de cabelos compridos cair no chão. Mas ele havia se esquecido do rapaz com o machado, que erguia a lâmina pesada da arma atrás das costas de Tommy.

Eu tentei avisá-lo, mas minha voz saiu como um grunhido de dor ao invés de advertência, ele olhava para mim, esperançoso, quando o machado acertou suas costas em cheio e ele gritou. Um grito agudo e longo, que ele sustentou por um tempo, que pareceram minutos. Foi a última vez que ouvi a voz do garoto de óculos, conforme ele caía de joelhos no chão, gritando e se debatendo, até que ele se resumiu a nada além de mais um corpo caído ao lado do corpo da garota morta. Mais um corpo morto nesse jogo. Mais um.

Thomas. Foi tudo o que pensei. Lembrei-me de uma vez que Pan o chamou de Thomas, e então que eu percebi que esse deveria ser o nome dele, e não Tommy como eu o chamava – como ele me pediu para chamá-lo. Eu congelei por um instante conforme vi o corpo dele, o garoto que no inicio usava óculos, óculos que se perderam fases atrás. O garoto com o ar de inteligente que me ajudou a atravessar Pan pelo buraco do elevador. Não podia ser.

A luz verde continuava acessa, e agora apenas um ponto se movimentava na sala: o rapaz que havia matado Tommy, o rapaz com o machado. Eu encarei a silhueta esguia do rapaz enquanto ele se esgueirava pelos cantos do quarto. Eu o fitava com certa raiva. E então percebi que de algum modo, eu havia caído de joelhos no chão. Sentindo falta da força do meu corpo, lutei para me levantar, ainda cambaleante e arfando de dor a cada movimento que envolvesse minha perna ou meu braço.

E então eu entendi o que eu precisava fazer para sair daquela sala. Apenas quando restasse um vivo a porta iria se abrir de novo. E seria eu quem iria sair por ela.

Empunhei meu machado com ambas as mãos bem posicionadas. Segurei com tanta força que as juntas dos meus dedos acabaram ficando brancas. Minhas mãos tremiam um pouco, eu sentia o sangue quente escorrendo pela minha perna e pelo meu pescoço. Tentei manter a respiração moderada, mas era difícil. Eu estava nervosa, e quem não estaria?

Quando o rapaz começou a andar em minha direção, despreocupado, com passos firmes, tudo o que eu enxergava de sua silhueta eram vultos verdes, e ai ele começou a correr. E a carga de adrenalina foi tão grande, que não sei quando, nem como tomei essa decisão, mas corri em direção a ele, com o som dos nossos passos como sons agudos contra o metal do chão. Ele me atacou com uma investida direta, seu machado tão grande quanto o meu. Bloqueei o golpe dele com minha própria arma, fúria com fúria, lâmina com lâmina. O som das lâminas tinindo uma contra a outra era algo estranho, quase incomodo. Se eu desse um movimento em falso, ou se faltasse com um pouco de força, ele me venceria.

E é claro que ele era mais forte do que eu. Por isso, quando eu estava perto de ceder, empurrei meu machado para cima, e o dele foi junto, quase como uma surpresa. Distrai ele tempo o bastante para correr, ou melhor tentar me arrastar para longe. Ele parou para tomar fôlego, parecia confuso.

Parei de recuar quando senti a parede fria de metal atrás de mim. O machado bem apoiado em ambas às mãos. Sem fôlego, esperei ele me alcançar. Encostei minhas costas e minha cabeça na parede, quase como se estivesse me rendendo e esperando o golpe final. Quase.

Eu vi os contornos verdes de um sorriso em seu rosto. E ele me atacou com um golpe preciso que teria acertado minha cabeça, se eu não tivesse me abaixado, e golpeado ele no abdômen. Ele recuou tempo o bastante para se atrapalhar nos próprios movimentos. Deixei meu machado preso em seu abdômen para que ele ficasse incapacitado de se mexer muito e conforme me abaixei, alcancei o cabo da faca fincada em minha coxa e com grande força e relutância, retirei a lâmina da minha carne.

Tentei segurar a faca de forma firme, mas minha mão tremia muito. Minha perna inteira ardia, queimava, e meu roto suava frio. Era uma dor indescritível. Quando olhei para cima, levantei a faca com a mão direita, e com a maestria e surpresa me levantei o suficiente para alcançar a garganta do rapaz.

Um único corte. Um mar de sangue. Um corpo no chão.

As luzes se acenderam, quase me cegando e fazendo meus olhos arderem. O vermelho do sangue do rapaz tingia minhas roupas, e meus braços. O som mecânico da porta se abrindo era música para meus ouvidos.

Demorou um pouco para retirar os chips dourados com a sigla ‘Do or Die’ do pulso de todos eles, mas eu consegui. E com grande esforço porque me recusei a olhar para ele. Recusei-me a olhar para qualquer um dos quatro corpos. Principalmente o de Thomas. Quando alcancei meu machado ainda no abdômen do rapaz e o retirei com força, guardei a faca no cinto, e sem olhar para trás, passei pela porta com uma postura quase perfeita, exceto talvez por eu estar mancando.

_ _ _ _ _ _ _ _ _

Eu não sei quanto consegui andar até que minhas pernas começassem a cambalear, até que eu cedi. Ainda no corredor, eu não conseguia ver ninguém. Todos haviam entrado no interior daquela pirâmide e agora deveriam estar destruindo o 4º satélite. Eu não pude evitar de sorrir. Já deveríamos estar quase certos de que, mais um pouco, já estaríamos livres desse lugar. Mas eu não pude deixar também de contar as outras quatro mortes que pesariam nas minhas costas até depois que eu saísse dali.

Ajoelhada ao lado de uma parede, eu esperei. O machado sangrento caído aos meus pés.

‘Na quinta hora ao cheiro de sepulcro e com um corpo oco teremos a morte para a contemplação da vida;’ A frase veio de repente na minha cabeça, quase como uma oração. O quinto satélite... Tínhamos que encontra-lo, mas o cheiro de sepulcro... Um corpo oco... Isso não parecia certo.

Eu tinha que esperar os outros voltarem, e enquanto isso eu buscava em minhas memórias qualquer coisa que nos trouxesse mais próximos do satélite. Qualquer coisa... Sabíamos que os satélites eram numerados com algarismos romanos, ou algo como isso, como o número I, II e o III, como eu havia visto e descoberto com o pássaro da Maysa. Eu já tinha visto o pássaro da Maysa antes em outras fases, ele andou com a gente por muito tempo, e se eu também já não tivesse visto o quinto satélite por ai?

Comecei a vasculhar minha mente atrás de algum lugar onde eu já tivesse visto o número 5 na forma romana, ou qualquer coisa que me lembrasse dum V. Espere, um ‘V’? Como talvez... Não, não podia ser... Isso era ridículo. Mas talvez se...

– Layla? – A voz vacilante de Pan me pegou de surpresa. Primeiros sinais do delírio, talvez? Mas não, ela, Theo e Nicolle estavam caminhando de volta para a saída da pirâmide. Não respondi, porque minha voz se recusava a sair. Havia algo errado comigo, logo quando minha visão começou a embaçar, ouvi Pan gritando meu nome, e depois passos apressados. Era como se as minhas forças estivessem se esvaindo, todos os meus ferimentos começaram a arder ao mesmo tempo, minha cabeça a latejar. E então tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

E próximo capitulo promete, não percam! Sai logo amanhã, eu acho. Espero que gostem!



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