A Lágrima da Escuridão escrita por danielv


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá.Aqui vai o primeiro capítulo (excluindo o prólogo) da Lágrima da Escuridão.Já são apresentados os personagens iniciais, um pouco da trama e algumas coisas relacionadas as mitologias da história começaram a ser explicadas.Eu sei que preciso melhorar em algumas na escrita, estou tentando melhorar nos próximos capítulos, tentando trazer um maior número de detalhes.



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As luzes do sol penetravam por dentre as frestas da sua janela quando elas bateram em sua cara criando uma iluminação desagradável. Deitado em sua cama, ele tentava compensar os 3 dias e as 3 noites que passara em claro fazendo seu desagradável trabalho. Mal humorado, o jovem se remexeu na cama murmurando palavrões enquanto desconectava dos seus sonhos coloridos e puxado contra sua vontade para a realidade preta e branca.

Ele então se sentou na cama e passou a mão no seu rosto tentando espantar o que sobrara do seu valioso sono. Sua face era magra, as bochechas pareciam ser contraídas para dentro, sua boca era pequena, os olhos estavam sempre envolto de uma olheira que quase ocultavam as cores castanhas de seus olhos. As sobrancelhas eram extremamente arqueadas por natureza, o que davam a ele um dos olhares mais esquisitos que uma pessoa podia ter.

Seu nome era Dominic, o sobrenome não era importante, tinha dezesseis e já estava há dois anos e meio naquela vida que poucos tiveram a oportunidade de serem dignos, ou indignos, dependendo do ponto de vista. Ele já havia perdido parte de sua humanidade aos oito anos, com quatorze anos outra parte foi consumida por algo maior e naqueles dias sua alma estava semelhante ao quarto em que dormia — pequeno, escuro, sufocante e com feixes pequenos de luzes que passavam por pelas frestas restantes.

Ainda expulsando com muita má vontade o seu sono, Dominic ouviu três batidas leves na sua porta de madeira que ficava há menos de um metro dos pés da cama.

— Quem? — perguntou.

— Sou eu, Leton, posso entrar? — respondeu uma voz masculina do outro lado.

— Eu não entendo, se você pode passar por qualquer esporo da parede, porque ainda pede para bater na porta?

— Eu gosto de manter esses bons hábitos dentro da minha etiqueta social, me desculpe. — Ele já estava sentado na cadeira que há um segundo estava vazia. Sua face ainda estava oculta pelo breu do ambiente — Como você vai?

— Um pouco fadigado pela última noite, não foi fácil caçar aquele maldito sem que estivesse sozinho. Mas ele não dará mais problemas ao menos, agora preciso focar no próximo alvo.

— Eu sinto muito por tudo isso, Dom — O homem baixar a cabeça, como se estivesse desapontado consigo mesmo. — É triste precisar matar alguém da sua própria espécie.

— Não se desculpe, o trabalho é meu, e estou fazendo isso por conta. Aliás, eles merecem isso, pode acreditar. E então quais são as novidades do seu lado?

— Está tudo correndo bem... — Leton cruzou os braços. — Ou pelo menos na medida do possível. Andei investigando e acho que finalmente encontrei uma pista que nos leve para o Domínio da Joia Despedaçada.

— Tem certeza? Da última vez que você me disse isso, fomos emboscados por três Filhos da Sombra — Dominic disse em um tom divertido. — Espero que desta vez, você não nos leve para a boca do Inferno.

— Está tudo bem, estou tomando todas as precauções necessárias para que não haja problemas semelhantes. Como pude ser tão tolo como daquela vez?

— Simples. É a mesma sensação de uma criança que corre em direção a um brinquedo desejado e tropeça no meio do caminho.

— Bela representação. Mas vamos pensar no futuro — Leton disse levantando-se — começando por abrir a janela.

— Não! Espera... — Dominic tentou pedir, mas já era tarde, seu quarto foi coberto por uma onda de claridade que o cegou por um momento. — ARGH! Droga, Leton, feche essa droga.

— Não xingue está bela janela Dominic — Leton respondeu em um tom divertido enquanto sorria. — É graças a ela que a luz pode passar pela parede e inundar este quarto e melhorar essa sua cara mal humorada.

— Minha cara deve estar muito pior agora. — Resmungou Dom recusando-se a abrir os olhos ainda.

Era engraçado como Leton conseguia ser um homem tão comum e tão fascinante ao mesmo tempo apenas ao olhá-lo. Seus longos cabelos desciam até a cintura e estavam presos ao um rabo de cavalo frouxo na ponta, seus olhos azuis e inconfundíveis pareciam reluzir em sua pele clara. Seu rosto era largo e fino, tinha um sorriso confiante, experiente e tão bondoso que poderia ser confundido com um anjo. Usava um casaco grosso por cima de um suéter e calças sociais.

Dominic levantou-se, vestiu uma blusa azul junto com uma calça da mesma cor, vestiu suas luvas sem dedos para esconder duas tatuagens incomuns desenhadas nas costas de suas mãos, pendurou um estranho pingente na forma de um prisma azulado no pescoço, pegou algumas moedas sobre sua cômoda que ficava ao lado da cama, contou uma por uma.

— Acho que consigo comprar dois pães com esse dinheiro. A bebida fica por conta da torneira.

— Dominic pare com isso, você sabe que posso lhe pagar um café da manhã. — Leton falou um pouco chateado.

— Meu quarto, minhas regras. — Dominic respondeu seco.

— Posso ao menos lhe acompanhar até a padaria?

— Mas é claro.

Dominic passou a frente rolando pela cama para que não se espremesse com Leton no minúsculo corredor feito entre a parede e a cama. Assim imediatamente ele parou a frente da porta.

Mesmo que seu quarto fosse grande o suficiente apenas para um guarda-roupa, uma cômoda, uma cama e com um pouco de sofrimento , o cômodo era bastante organizado e absolutamente nada ficava um centímetro desalinhado. Mas ao sair porta a fora, Dominic e Leton saíram em uma varanda interna que mais parecia uma ruína de uma casa com mais de duzentos anos.

Aquele era o lar deles, um prédio abandonado há mais de quarenta anos por falta de manutenção e que não fora destruído por estar rodeado pelo comercio e outros prédio menores. As suas entradas eram todas bloqueadas por concreto, para que não virasse um ponto de venda de drogas e prostituição, e apenas as janelas dos andares mais altos eram desobstruídas. Mas diferente do que a população achava, aquele prédio estava em perfeito estado de condições desde que Leton e os outros chegaram ali e que mesmo aparentando ser uma construção frágil, conseguia manter longe as más atenções.

Dominic e Leton andaram até o fim do corredor onde havia outra janela, desta vez maior. Eles deram uma olhada pelo lado de fora e viram que nada os observava, então um de cada vez pulou para um telhado mais baixo e que fazia parte de uma edificação que fora construída colada ao prédio abandonado. E assim eles foram descendo pelos tetos que formavam uma escada perfeita até o chão. Os dois, ao tocar no solo pararam em um beco que estava quase sempre deserto ou por um mendigo deitado em cima de entulhos.

Dominic passou pelo maltrapilho e deu um aceno, Leton, porém, ajoelhou-se para o homem, apertou sua mão, conversou cerca de cinco minutos, lhe deu alguns bons trocados e saiu arrancando um sorriso do pobre homem.

— Não sei como você consegue. — disse Dominic enquanto dobrava a esquina e saia em uma rua movimentada.

— O que?

— Com o dinheiro que você já deu para aquele maluco, dava para comprar uma casa.

— Você não quis, então achei que ele iria fazer um bom proveito dele.

— Ainda bem que você sabe que uma bebida barata é um bom proveito.

— Se isso deixa aquele homem feliz, quem sou eu para discordar?

Leton riu, Dominic esboçou um leve contorno em sua boca e continuaram andando reto. Durante todo o percurso eles conversaram sobre banalidades, coisas sobre o mundo, bobeiras e qualquer assunto que se poderia falar perto de pessoas normais. Leton explicava para Dominic diversos conceitos de economia e política, enquanto Dom tentava fazer o homem entender o prazer em comer chocolate.

Era uma tarde ensolarada, mas o frio castigava todo o estado naquela época do ano. O vento era como uma lâmina gelada e impiedosa, além da sensação térmica despencar mesmo com a presença do sol. Dominic andava encolhido com as mãos nos bolsos, suas luvas não esquentavam suas mãos já que tinham outro propósito e seus dedos pareciam estar desconexos do corpo. Aquela situação apenas piorava o contraste gigantesco entre comportamento e postura entre Dom e Leton.

Para quem passava pelos dois era engraçado e ao mesmo tempo espantoso ver um homem alto daquela maneira, com uma aparência exótica que lembrava os grandes combatentes de olhos azuis do outro lado do globo, com seus cabelos que avoaçavam ao vento inquieto e sua expressão serena ao lado daquele garoto miúdo, encolhido, com frio e com enormes olheiras em volta dos olhos.

Os dois por fim chegaram até a pequena cafeteria onde eles normalmente compravam o seu café da manhã matinal.

— Bom dia, senhores. — Respondeu um homem de meia idade, cabelos grisalhos, com um avental branco e sorridente. — Em que posso ajudá-los?

— Dois pães. — Dominic pediu.

— Também dois copos de café. — Leton também o fez sem a aprovação de Dom —, um deles com duas gotas de adoçante, por favor. Além disso, cinco fatias de queijo, manteiga, geleia de amendoim, um pedaço deste bolo de chocolate aqui — ele bateu com o dedo apontando para o suculento e tentador doce.

— Mais alguma coisa?

— Nada, e iremos comer aqui mesmo.

— Agradeço a preferência, em alguns minutos eu levo seu pedido a mesa.

Leton agradeceu com um aceno com a cabeça e um sorriso simpático. Ele se dirigiu para uma das mesas mais isoladas da cafeteria, enquanto Dominic o seguia de perto e emburrado. Ambos sentaram nos bancos confortáveis e almofadados em volta de uma mesa pequena de madeira.

— Que palhaçada é essa? Eu disse que eu iria pagar! — Dominic grunhiu baixinho e irritado.

— Você disse: Minha casa, minhas regras. —respondeu Leton levantando o dedo. — Não estamos na sua casa. E sei que faz dias que não come uma refeição direito.

— Eu não preciso de uma refeição.

— Você ainda é e será um humano, e precisa sim se alimentar, uma boa comida pode te manter sempre calmo e te ajuda a controlar o estresse.

Dominic apoiou o seu rosto nas mãos e bufou mal humorado, mesmo sabendo que no fundo Leton tinha razão.

— Falando nisso, como vai seu temperamento?

— Ele parece bem agora? — Dominic retrucou.

— Muito. — Leton sorriu. — Mas digo quando você precisa fazer seu dever.

— Está normal, há tempos que eu não explodo de verdade. Sinto-me no perfeito controle das minhas próprias ações.

— Isso é ótimo, continue deste jeito. — Leton se revirou um pouco na cadeira, então se debruçou um pouco sobre a mesa e falou mais baixo. — Eu realmente gostaria de vir conversar com você sobre essas coisas, caro Dominic, como dois bons amigos, mas infelizmente somos diferentes.

— Eu sei. — Dominic deu um suspiro e pareceu não se importar com a mudança de assunto. — O que houve agora?

— Parece que mais membros do Domínio da Força reapareceram por esses lugares. Tenho receio de que eles sabem sobre nós.

— Sem duvida. — Dom soltou uma risada. — Eu e Siouxie matamos quase uma dúzia deles.

— Arrisco dizer que este não é o problema, Dom. — Leton tirou de um dos seus bolsos interno uma foto e a colocou na mesa. Pelo ângulo e pelo zoom, a qualidade da mesma era baixíssima, mas Dominic pode reconhecer que nela havia dois homens conversando, um barbudo de casaco e outro era um moreno careca.

— Este não é Angus? O conversor ou algo assim? — Perguntou Dominic apontando para o homem moreno.

— Sim, e você sabe que ele só sai do ninho em uma única ocasião.

— Parece que vocês tem um novo irmão andando por aí.

— Não só isso. E parece ser algum em potencial, senão ele não precisaria do colega aqui. — Leton apontou para o outro homem.

— Kraven, o Farejador? — Dominic deduziu.

— Exatamente.

— Segundo os livros do Mestre, Kraven era apenas chamado para encontrar manifestações realmente grandes da Sombra.

— Nós precisamos encontrar esse novo Filho da Sombra Dominic. — Leton o encarou sério.

— Você fala isso como se fosse uma brincadeira de esconde-esconde. Kraven é um caçador sabe-se lá com quantos anos de prática, além disso, ele provavelmente tem um Nível de Manifestação B, no mínimo. Eu não dou conta dele sozinho.

— Realmente ele é poderoso, ainda mais perto de Angus que lhe fornecerá todo o suporte. Mas você como um bom perseguidor, está deixando passar dois fatos batidos.

— Quais?

— A primeira é que eles estão no nosso território, e provavelmente você conhece essa cidade melhor do que qualquer um.

— Espera aí! Uma coisa é você conhecer uma selva bem, outra coisa é você competir com um caçador CENTENÁRIO a achar uma pequena lebre num matagal. Primeiramente ele é um farejador de Sombra, mesmo não sabendo o caminho a Sombra vai mostrá-lo, o que reduz nossas chances em muito. E segundo, se ele souber que eu sequer existo, provavelmente ele vai me matar antes.

— Você é muito pessimista.

— Realista. — Dominic levantou o dedo indicador. — É diferente.

— Caro Dominic, ambos sabemos que você não é um lutador corpo-a-corpo como a Siouxie. Mas não negue que sua habilidade em perseguir os outros sem sequer ser notado é relevante. E outra, existe ainda o segundo fato que você não me deixou falar.

— E qual é?

— Kraven é o melhor rastreador de Sombra sem duvidas, mas — Leton encarou Dom com um olhar e um sorriso confiante — perto de mim, ele é uma criança.

Dominic sempre soube como a Sombra se manifestava em seus filhos, e até mesmo em humanos. Ela era uma das duas partes essenciais da Siela, ou também chamada de alma. Assim como todos os equilíbrios que existem dentro de uma pessoa, a Sombra nada mais era do que um fator que pesava numa balança e que se bem controlada ela era quase inofensiva. Entretanto, em alguns humanos, ela se manifesta de maneira mais violenta do que a outra parte da sua Siela, o que acaba criando uma desarmonia na balança.

Quase sempre a Sombra trás destruição e morte em volta daquele que tem esse desequilíbrio interno. A pessoa não só se torna um ser extremamente violento nos primeiros dias, como também adquire habilidades sobre-humanas, que se usada de maneira errada, irá causar uma onda de destruição por onde passa. Entretanto, a Sombra pode ser controlada mesmo estando em desequilíbrio em relação a sua contraparte, concedendo a pessoa uma força descomunal, além de sentidos aguçados, rápidos reflexos e em alguns casos um dom exclusivo que vária de um humano para outro.

Tudo isso Dominic sabia que vinha com um preço caríssimo para aquele que decidisse tentar “domar” sua Sombra. Mesmo com ela sob controle, ela ainda estaria em excesso na balança da Siela, isso faz com que o ser humano perca grande parte da sua capacidade de ter sentimentos, como amor, raiva, carinho, afeto e tristeza. Outra consequência do uso da Sombra é o fato de que com o tempo a pessoa ficaria tão arrogante e poderosa que ela começaria a querer mais e mais, aumentando sua Sombra e fazendo com que ela cobrisse totalmente a Siela, isso quase sempre ocasionou na morte.

Teoricamente as pessoas que dominassem a Sombra, poderiam ser consideradas superiores e tentar dominar as outras que não tem essa manifestação dentro da alma, assim criando uma divisão entre classes. Mas foi graças à um homem apenas, que isso não ocorreu.

— E então qual é o plano Leton? — Dominic perguntou enquanto os dois andavam de volta para o seu esconderijo.

— Esperar até hoje a noite, onde eles provavelmente vão ir a caça desta pessoa. Eu vou esperar Kraven pegar o rastro da Sombra, então eu irei criar um falso para atraí-lo, enquanto isso você e os outros vão até o verdadeiro e levem a pessoa para o nosso lar.

— Tem certeza de que é seguro? — Dom ainda estava inseguro a respeito daquilo. — As chances de que essa pessoa queira nos matar é grande, e as chances de ela poder nos matar são ainda maiores.

— Não se preocupe tudo vai dar certo Dominic, apenas siga minhas instruções.

— Diga isso pra Siouxie, não para mim.

Os dois seguiram até o esconderijo, subiram pelos telhados, escalaram por algumas janelas e logo estavam no corredor do prédio abandonado. Dominic e Leton entraram em outro corredor a esquerda, onde dava para uma sala com um pouco mais de cinco metros quadrados. E lá estavam eles, alguns sentados nas poltronas e outros de pé observando a janela.

— Olá, meus amigos. — Saudou um jovem de óculos moreno, com não mais de vinte anos.

Dominic encarou os quatro que estavam ali, para a maioria do mundo eles sequer existiam, para os outros Filhos da Sombra estavam mortos, mas para ele era ainda o que havia de resquício de uma família que jamais tivera. Na sua frente não estavam apenas pessoas estranhas, ou Filhos da Sombra genéricos como ele gostava de se referir aos outros, mas sim quatro seres que ainda seguiam suas origens e que sabiam sobre a sua verdadeira missão. Eles eram o menor dos Sete Domínios, o Domínio da Última Noite.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado deste capítulo. Tentarei manter o ritmo de pelo menos postar um por semana aqui para não ficar muito rápida a postagem e também não muito devagar.Caso tenham sugestões, criticas e duvidas. Deixem nos comentários que terei prazer em respondê-los.Obrigado e boas leituras.



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