A Lágrima da Escuridão escrita por danielv


Capítulo 11
Capitulo 10


Notas iniciais do capítulo

Buenos.

Não tenho muito a falar sobre esse capítulo, só duas observações. Uma delas é que é aqui onde podemos ver um pouco da capacidade de Dominic em lidar epicamente com os mais cabeludos dos problemas. A segunda observação, é que neste capítulo, um dos personagens mais fantásticos e fascinante (na minha opinião) faz sua primeira e breve aparição.

Boa leitura.

See ya! :)



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Duas semanas se passaram, e tudo parecia estar em uma estranha e sossegada paz externa. Mas Dominic estava com sérios problemas em conseguir seguir o que Leton havia lhe pedido há alguns dias atrás, pois seu instinto de Guardião implorava por uma caçada. Mesmo não saindo de casa quase nunca para evitar contato com o mundo exterior, a vontade e instiga não diminuía. Ele perguntava todos os dias para Leton se ele poderia voltar ao seu hábito, mas era sempre aconselhado a ficar em casa, pois ainda era perigoso.

— Sente-se Dominic, tente relaxar um pouco. — O Mestre dizia enquanto via Dom andar de um lado para o outro no terraço do prédio abandonado.

— Eu não consigo! Tem uma força maior dentro de mim pedindo para que eu volte a caçar.

— Você sabe que é perigoso. — O Mestre ressaltou. — Se Leton disse que ainda não é seguro, é mais sensato você ouvi-lo.

— Como? Ele me ensinou a ter essa vontade de caçar, dizendo que era meu dever e que eu precisava fazer aquilo pela humanidade e pelo mundo. E agora ele simplesmente me manda PARAR?

— Eu entendo sua frustação, mas você precisa equilibrar um pouco as coisas. Por que não tenta ler um pouco?

— Estou tentando fazer de tudo, mas eu não consigo me concentrar em nada, quanto mais ler.

— Você precisaria de alguns amigos nessas horas, ou uma namorada na melhor das hipóteses.

— Não começa. — Dominic sentou-se no chão bufando.

— O que? — Perguntou o Mestre rindo. — Vai dizer que uma namorada não lhe faria bem nessas horas?

— Você deve dizer isso, porque provavelmente não está na minha pele.

— Não é? Eu sou apenas uma parte de você pedindo coisas.

— Uma parte muito pequena e muito barulhenta, diga-se de passagem.

— Eu não pensaria assim.

— Mas eu penso, e é verdade. Além do que, eu não preciso de namoradas ou amigos, eu vivo bem sem qualquer um deles.

— Você já experimentou ter um dos dois?

Dominic ficou em silêncio.

— Às vezes eu penso que você deveria sair do seu mundinho fechado e confortável e tentar outras coisas. É fácil dizer que para você as coisas não são simples por ser o Guardião Sombrio, não ter família, ter passado por traumas na infância e dentre outras coisas. — O Mestre teve seu tom de voz se alterando aos poucos até ficar totalmente sério. — Entretanto, você usa isso como uma barreira para se esquivar das coisas boas do mundo, o que teoricamente isso deveria ser sua prisão.

— Isso não é verdade.

— Francamente Dominic! Pare de tentar se diferenciar dos outros pelos seus problemas, por favor. Você não é o único que possuí dificuldades na vida, as pessoas comuns também têm muitas coisas para enfrentar no dia-a-dia.

— Mas elas não precisam matar, nem ver cada segundo da vida de assassinos com os próprios olhos, ou viver no meio de uma guerra secreta de seres que nem deveriam estar vivos.

— Cada um precisa fazer a sua parte. — O Mestre rebateu mais brando. — A sua responsabilidade é maior porque sua capacidade é maior, mas ainda nós somos todos iguais e temos problemas proporcionalmente iguais.

— Nós? — Dom disse quase sussurrando enquanto encarava o Mestre apenas com o canto dos olhos.

Sem dizer mais nada, Dominic saltou do terraço para os outros telhados e desapareceu em meio a escuridão da noite. Sua cabeça estava estarrecida de problemas, duvidas e questionamentos que sua consciência fazia para si mesma e muitas delas Dom não tinha a resposta, e sabia que não conseguiria argumentar contra o seu lado “racional”, por isso decidiu se concentrar em algo que lhe ocuparia a mente: a caçada.

Pelos terraços dos prédios e edifícios menores, não foi difícil localizar um desequilibrado. Este era mais um dos mais comuns, assassino da periferia que normalmente matava por drogas ou brigas de gangues, devido a sua natureza agressiva e pelo mundo ao redor que na qual viveu durante toda sua vida, jamais se arrependeu de ter causado a morte de alguém com as próprias mãos, por isso caminhava tranquilamente pelas ruas da cidade.

Dominic o rastreava de perto, sempre andando como um felino pelos telhados com passos e saltos tão silenciosos quanto a própria noite. Seu Manto da Escuridão protegia seu corpo e sua presença, nem mesmo um animal com visão apurada conseguiria rastreá-lo naquele breu. Em certos momentos, Dom parecia sentir a sede de sangue das suas Lâminas da Morte e aquilo só atiçou mais ainda sua vontade de dar um fim naquela presa.

Não demorou muito para a hora chegar, logo o homem já havia se afastado da cidade e do movimento para entrar em uma rua que era coberta por árvores, mal iluminada e totalmente deserta. Ali não havia residências, pois de um lado havia um imenso terreno baldio e no outro um imenso ferro-velho. Dominic agradeceu pela oportunidade e no seu melhor momento saltou para o bote final.

No meio da queda, Dom pode sentir a Voele do homem se transformar em um furacão de adrenalina, medo e euforia, em seguida ela desapareceu e foi coberta por uma Sombra que se manifestou pela primeira vez. De repente seu corpo foi arremessado sem sequer ter tocado o chão e caiu metros para longe dali.

— Droga. — Dom praguejou enquanto se levantava. — Era só o que me faltava.

A sua frente Dominic viu que sua presa antes indefesa agora se transformava em um recém-nascido Filho da Sombra. A Sombra explodia como um oceano furioso em meio a uma tempestade, mas ainda era fraca e facilmente manipulável. Entretanto a coisa se complicou ainda mais quando outros quatro Filhos apareceram ao lado do mais novo membro.

— Está feliz por sua nova forma? — Um dos veteranos perguntou.

— Isso é demais... — Ele respondeu ainda pasmo olhando para as próprias mãos. — Eu me sinto um deus!

— E você é agora, um deus da Força. — Respondeu o outro. — Agora acabe com aquele que tentou lhe matar injustamente!

— Com prazer. — A voz era feroz e esbanjava orgulho.

Dominic, porém não se abalou, sua calma e paciência de um caçador prevaleceram dando-lhe tempo para manifestar sua Sombra e preparar uma rápida estratégia. Ele sabia que Filhos da Sombra recém-nascidos eram potencialmente perigosos devido ao seu choque inicial de poderes, ainda mais se a Manifestação atingisse o Nível B ou A, mas naquele caso Dom calculou por aquela fraca explosão que ele era um Nível D ou menos que isso, muito abaixo do que foi a de Alec.

O homem correu com uma velocidade consideravelmente alta para cima de Dominic, seus punhos já fechados se preparavam para um único e mortal golpe que seria o suficiente para fazer Dom voa quase cem metros, mas o que o recém-nascido não esperava é que faltando centímetros para tocar no rosto do seu alvo, ele se transformar em fumaça e se desfazer na sua frente. O rapaz passou reto, tropeçou devido a velocidade e foi titubeando para frente tentando recuperar o equilíbrio e quando o fez sentiu sua garganta e seu tórax serem atravessado por duas lâminas.

— Eles me disseram que eu seria... — A voz era fraca.

— Imortal? — Dom complementou. — É. Todos pensam errado nessa vida. — E empurrou o cadáver com o pé.

Dominic virou-se e viu agora seis Filhos da Sombra se aproximando dele, todos eram homens e aparentemente não muito poderosos, mas dariam muito trabalho. Dom sabia que poderia fugir sem dificuldades, mas deixa-los vivos provavelmente levantariam suspeitas e os Domínios começariam a investigar a existência do Guardião Sombrio.

– Suas habilidades são admiráveis. — Um deles falou batendo palmas. — De que Domínio será você faz parte?

Dom ficou em silêncio apenas os observando se aproximarem lentamente.

— Vejo que gosta de armas a moda antiga. — Outro falou colocando a mão direita atrás da cintura. — Isso vai ser divertido.

Três deles correram para cima de Dominic, no meio do caminho todos sacaram três facões da cintura. O primeiro ataque Dom desviou para o lado sem dificuldades, no segundo ele abaixou e o terceiro conseguiu desarmar o inimigo arrancando-lhe a mão com uma das Lâminas que nasceu sobre sua mão.

O grito de dor assustou e abalou um pouco os outros Filhos da Sombra que por um segundo não entenderam o que havia de fato acontecido, o que deu um intervalo para que Dominic corresse em direção de outro e desse um corte na horizontal com uma das Lâminas, mas foi bloqueado pelo reflexo sortudo do Filho que levantou sua arma bem na hora. Não demorou para que os outros três tentassem uma investida pelas costas, Dom conseguiu se esquivar, mas um soco lhe acertou em cheio na lateral do seu abdômen seguido de um chute no rosto que o fez girar uma vez no ar e cair no asfalto.

Mal conseguiu se levantar e Dominic estava sendo alvo de várias investidas de um deles que estava armado com o facão. Ele desviou-se como pôde, mas três estocadas lhe atingiram de raspão nos braços e no ombro, fazendo seu sangue escoar um pouco e manchar a roupa. Dom preparava-se para contra atacar quando foi pego de surpresa por um agarro violento pelas costas, seu corpo foi girado e arremessado para um lado qualquer, neste intervalo Dominic só conseguiu intensificar a sua Sombra antes de se chocar contra uma pilha de latarias velhas.

Eu não vou conseguir dar conta deles.” Dominic pensou saindo debaixo dos escombros e sentindo vários ferimentos se abrirem pelo seu corpo. “Se eu tentar neutralizá-los todos de uma vez será o meu fim. Apenas cinco ainda apresentam uma ameaça, talvez eu consiga acabar com todos eles de uma vez. Basta apenas ganhar tempo.”

Dom fechou os olhos, se concentrou e fez com que sua Sombra se intensificasse ao máximo, quase ultrapassando a sua zona de segurança. Seus sentidos se apuraram ainda mais e ele pode sentir os inimigos se aproximando, aparentemente eles não tinham pressa e estavam se divertindo, deixando claro que eram do Domínio da Força. Dominic sabia que o seu próximo passo lhe deixaria totalmente exausto e não conseguiria sequer mexer um músculo por pelo menos uma hora, por isso precisava tudo ser extremamente rápido.

Utilizando todo seu esforço mental, Dom fez com que mais da metade de sua Sombra se deslocasse para fora da Siela e se dividisse em cinco partes menores, as colocando próximo de cada um dos seus inimigos. Em seguida utilizando uma técnica semelhante a Translocação Sombria, distribuiu parte da sua própria essência vital para esses fragmentos da Sombra que se espalharam. Pouco a pouco seu corpo foi ficando mais rígido e tenso, como se estivesse com mais do triplo do seu próprio peso. “Calma...” Ele dizia para si mesmo “Calma, calma”.

Os cinco Filhos da Sombra restantes já havia o cercado e quando um deles fez o movimento de ataque com seu facão, tudo ficou escuro. De repente de trás de cada Filho, uma sósia do próprio Dominic se materializou atrás deles, e as cinco cópias fizeram exatamente os mesmos movimentos. Saque das Lâminas da Morte, impulsionar os braços para trás e simultaneamente cravar ambas nas costas de todos. Todas elas imitavam o original que fez o mesmo movimento, mas sem ter nenhum alvo.

Quando a escuridão se esvaiu, a única coisa que se viu foram cinco cadáveres caírem mortos. Dominic que estava absolutamente exausto, caiu de joelhos, seu rosto estava vermelho pela falta de ar, seu nariz sangrava, o coração batia numa velocidade que estava a beira do enfarte e os ferimentos pelo corpo pareciam ter se agravado ainda mais. Aos poucos sua visão ficou turva e a queda do seu corpo em direção ao chão foi iminente.

Pelo menos estava acabado, não havia sobrado testemunhas que soubessem da existência do Guardião Sombrio. Dom a principio relaxou enquanto tentava normalizar a respiração. Entretanto, o desespero lhe tomou conta novamente.

Dominic se viu cercado por vários Filhos da Sombra, agora mais de dez, todos do Domínio da Força.

— Aqui Lisa. — Apontou um deles para Dominic. — Parece que ele ainda está vivo.

Uma mulher que parecia liderar o grupo se ajoelhou ao lado de Dom. Era extremamente bonita, típica de alguém com uma Manifestação bem superior aos demais.

— Ele não me parece um Filho comum. — Ela comentou observando Dominic dos pés a cabeça. — Mas parece estar com o corpo totalmente exaurido, coisa que jamais vi.

— O que ele fez com estes homens foi algo realmente impressionante. — Outro respondeu. — Pela posição em que caíram mortos, parece que todos foram executados simultaneamente.

— Isso apenas aumenta o potencial deste garoto. — Lisa disse. — Vamos leva-lo para Paolo, com certeza ele vai querer conhece-lo.

Dom teve seu corpo virado por alguém. Aparentemente estava tudo calmo, entretanto a Siela de Dominic estava sendo atraída por outra que se aproximava cada vez mais dali. Ele não conseguiu reconhecer de quem era, mas tinha certeza de que não era de Siouxie ou de qualquer um dos membros da Última Noite. E quando estava prestes a ser levantado, alguém do outro lado berrou apavorado:

— ATAQUE! ESTAMOS SOBRE ATAQUE!

O homem que havia pegado Dom o largou no chão e antes que pudesse fazer qualquer coisa teve sua cabeça decepada por algo tão rápido que Dominic só conseguiu ver o vulto de algo metálico atravessar seu pescoço. Em seguida um a um dos Filhos foram tombando, muitos tiveram seu peitoral aberto, outros o crânio amassado e por fim os dois últimos foram levados por uma lataria de carro arremessada como se fosse uma bola de gude.

Dom que ainda ofegava com rapidez tentava entender o que estava acontecendo, mas só conseguiu distinguir melhor as coisas quando Lisa, a última sobrevivente, ficou de frente com alguém. Dominic não viu seu rosto, mas conseguiu observar seus coturnos negros desamarrados, um logo manto cinzento que descia apenas pelo lado direito do corpo, cobrindo sua mão que, mesmo oculta deixava escorrer gotas de sangue.

— Você... — Ela tentou dizer, mas foi interrompida ao aparentemente ser agarrada pelo pescoço e erguida do chão. A mão oculta do sujeito fez um movimento tão rápido que Dom sequer conseguiu acompanhar e após um curto intervalo de segundos, Dominic direcionou o olhar para Lisa que agora tinha seu rosto todo deformado, como se fosse atacada por um urso.

O estranho largou-a no chão, e por mais inacreditável que parecia ser Lisa ainda continuava viva, pelo menos o suficiente para se virar e sair correndo desesperada enquanto deixava uma trilha de sangue pelo chão.

Lentamente ele se virou, finalmente notando a presença de Dom ali estirado no chão e ainda tão ofegante que não conseguia simular uma palavra sequer.

E então os olhares dos dois se cruzaram pela primeira vez. Um deles estava assustado, cansado e extremamente desgastado. O outro tinha uma determinação e uma ferocidade que poucas pessoas naquele mundo possuíam transmitindo uma sensação de amedrontamento, mas que ao mesmo tempo era inspiradora. Entretanto, ambos compartilhavam algo em comum naquele instante, a coragem.

Além do olhar único, aquele homem moreno possuía os cabelos negros jogados para trás, eu volta do seu pescoço amarrava-se um largo lenço vermelho que por vezes cobria parte da sua boca e que descia em duas faixas para até a altura da cintura, tinha aproximadamente a mesma altura que Dominic, mas sua presença ali lhe dava o ar de um gigantesco titã, seu manto que cobria o lado direito do corpo repousava lentamente sobre o braço que agora derramava ainda mais sangue.

Dominic o viu se ajoelhar ao seu lado e, em seguida seu rosto foi tocado por algo metálico, gelado e húmido. Olhando para ver o que era aquilo percebeu que, o que o manto escondia era um braço metálico, feito de várias camadas com cada uma tendo suas pontas externas a mostra e extremamente afiadas. Os dedos pareciam se mesclar a unha que deixava a ponta dos dedos tão cortantes como a lâmina de uma faca.

O homem observou atentamente o rosto de Dominic e constantemente mexia delicadamente a sua cabeça de um lado para o outro como se estivesse procurando algo. Por fim, com a sua mão esquerda que aparentemente era normal revirou os bolsos internos do manto e retirou um aparelho celular, discou um número e o deixou ao lado de Dom, dando o sinal de chamada. O estranho desapareceu num piscar de olhos, e logo em seguida uma voz atendeu:

— Alô?

— Vesta — Dominic falou ofegante, totalmente confuso sobre o que acabara de acontecer. — Preciso de uma ajuda aqui!


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