Eu senti o orgasmo momentos antes dele chegar. As vibrações das ondas de prazer percorrendo meu corpo e enrijecendo cada ínfimo músculo. Desde as pontas dos meus dedos, o meu pescoço e por fim as minhas virilhas. O ecstasy foi tão intenso que me senti tonta, e tudo o que eu conseguia ver era o rosto dela. As bochechas e os lábios levemente vermelhos, os cabelos longos colados na sua pele suada. Seus olhos cintilavam de puro prazer. Senti as unhas cravarem nos meus ombros e meu corpo tremeu convulsionando numa gozada eletrizante.

E então eu despertei com os gritos de minha mãe sobre o quarto estar fedendo a cachaça. Abriu com violências a janelas e as cortinas e saiu dando ordens que sequer consegui assimilar menos ainda acatar.
Olhei para o lado e não havia moça bonita ou sinal de que meu sonho poderia em algum momento ter sido uma recordação de algo real que aconteceu a noite passada.

Voltei a deitar meu corpo febril e judiado no colchão com lençóis bagunçados e então a realidade começou a surgir pouco a pouco.

- Você vem até um bar para se sentar no balcão e jogar no celular?

Ela parou seu mundo por alguns instantes por minha causa. E eu estava gostando de ter ainda que por segundos a atenção daquela bela estranha. Seus olhos grandes de um castanho escuro encantador olhavam diretamente para os meus olhos miudinhos escondidos atrás da lente do óculos com armação marrom e desbotada após anos de uso. De repente eu me sentia tão mal arrumada e intimidada por aquela garota de pouco mais de metro e meio com rostinho de dezesseis e olhar penetrante. Ela vestia algo tão simples quanto minha calça jeans e camiseta azul, mas ainda assim me parecia tão deslumbrante.

Quando sua boca finalmente se abriu me peguei observando e analisando primeiro sua língua e depois seus dentes perfeitamente alinhados enfeitados pelo aparelho com borrachinhas cinzas. Não parecia fazer muito sentido dentes tão certinhos precisarem de ser contidos por aparelho, mas combinava com ela.

- Não é um jogo, mas...e se fosse? O que tem de tão errado em vir até um bar e gastar parte do tempo jogando no celular? - Eu tinha a resposta na ponta da língua quando ela foi mais rápida que minha língua aguçada me surpreendendo. - Muito melhor do que tomar um porre e sair carregada.

Porra! Era exatamente isso que eu pretendia fazer aqui hoje. Ela sorriu após erguer as sobrancelhas como se estivesse pensando coisas absurdas sobre mim e então me dei conta de que havia acabado de dizer a frase anterior em voz alta. O pouco do álcool correndo na minha corrente sanguínea causava alterações refletidas na minha linguagem corporal e não só...

- Terei de discordar.

Tudo o resto foram imagens soltas que surgiam e permaneciam na minha memória como se alguém colasse aleatoriamente e na ordem errada peças de um puzzle.

- Cadê você, morena? - murmurei sozinha com a voz rouca de sono e olhos que mal se abriam tentando focar algo no quarto que pudesse me ligar novamente a ela. Foi quando avistei a esperança no meio da trágica noite passada.

Lancei meu corpo naquela direção percebendo que minhas pernas não estavam preparadas para aguentar o peso do meu corpo.