Foi como levar um tapa. Cambaleei para trás um pouco tonta, piscando para tentar enxergar à minha frente. Eu vi o vulto de Nick se levantar rapidamente para correr em minha direção.

"Nós... não somos... irmãos?"

Não vi mais nada. Lentamente, não sei quanto tempo depois, eu senti uma mão suave em meu rosto.

"Kelly, por favor, acorde..." Era uma voz tão doce! De quem era mesmo aquela voz? "Querida, volte pra mim..." Ah, era a voz dele, do meu irmão. Mas ele não era meu irmão, não mais... que coisa louca! E aquele perfume? Era o maravilhoso perfume dele... "Kelly... será que ela está ouvindo?" disse ele. "Acho que está acordando." Era a voz da minha mãe.

Abri os olhos devagar, para ver os rostos passarem de preocupados a aliviados. Mas a tristeza não sumiu deles.

"Estou bem." Declarei, a lucidez tomando conta dolorosamente de mim. Me levantei. "Tem certeza de que está bem?" Olhei em direção à voz, para encontrar o preocupado Nick. "Sim." limitei-me a responder.

"Querida, sente-se aqui, vamos continuar esta conversa." Minha mãe me guiou ao sofá. "Não quero que você se sinta mal. Eu não queria te contar tão cedo, mas eu e o seu pai percebemos que entre vocês dois estava surgindo um sentimento além do de irmãos. Planejamos várias vezes iniciar este tipo de diálogo, mas não fomos rápidos o bastante. Vocês já estavam envolvidos. E então, houve o baile e..."

"Eu quero saber a verdade!" Gritei impaciente. Imediatamente me arrependi. Mamãe pareceu em choque. "Desculpe" pedi. "Estou um pouco estressada."

"Claro, querida. Bem, a verdade é que, quando você nasceu, sua verdadeira mãe faleceu em seguida. Então, você foi deixada num orfanato. Na época, eu havia perdido um filho, e a adotei, como uma filha minha. Nós a registramos e não tocamos mais no assunto. Para nós, filha minha, você vai continuar sendo nossa filha, tanto quanto o Nick. Mas vocês dois não precisam se sentir irmãos, se assim não quiserem. Não há nenhum pecado aqui, Kelly."

O silêncio que se seguiu foi pesado, quase palpável. E ninguém queria dizer nada, era como se quebrar o silêncio fosse tarefa minha naquele momento. Mas eu não estava pronta. Não ainda. Olhei para meus próprios pés, pensando no que eu deveria fazer ou dizer.

Suspirei e fiz a única coisa que eu podia naquele momento. Fugir feito uma criança. Corri e fui para o meu quarto, esperando que a velocidade impedisse qualquer um de me seguir. Tranquei a porta e pulei em minha cama, chorando tudo o que estava abafado dentro de mim. Então, parei. E não havia mais nada para chorar, eu estava completamente aliviada.

Duas batidas suaves na porta me fizeram pular. Fui até lá e abri, esperando uma mãe protetora, pronta para me consolar.

Nick me olhou com seus olhos profundamente azuis, e já não tão vermelhos quanto antes.

"Posso entrar?"