Os convidados estavam espalhados pela casa, a maioria permanecia no hall de entrada, onde foi organizada uma recepção, os garçons passavam a todo momento carregando taças de champagne, vinho e outras bebidas apropriadas para a ocasião. O resto se espalhava pelo Grande Salão, onde em um pequeno palco montado perto da parede, a pianista tocava agora acompanhada de outros instrumentos e uma cantora ruiva com sardas no rosto que tinha uma bela voz. Com uma taça cheia na mão, Rebecca observava a performance da mulher enquanto Chester conversava alegremente com um casal de ingleses simpáticos, casados há menos de um ano.

Alguns casais dançavam lentamente no meio do salão, inclusive Abbie, que descansava sua cabeça no ombro de um garoto de olhos castanhos e cabelos negros. Ele segurava sua cintura e dizia algo em seu ouvido que Rebecca não se deu o trabalho de ouvir. A mão firme de Chester segurou sua cintura, chamando sua atenção.

– Você me concede essa dança? – ele estendeu a mão para ela.
– Claro gentil cavalheiro. Ficarei lisonjeada em concedê-la. – ela fez uma pequena reverencia e sorriu.

Ele pegou em sua cintura e entrelaçou suas mãos enquanto Rebecca segurava em seu ombro, era impossível ficarem mais próximos do que estavam. Apesar de estarem dançando como um casal e estarem ali como par um do outro, seus olhares não demonstravam nenhum sentimento romântico, mas não de uma forma rude, sorriam a todo o momento, conversando sobre coisas banais e o que tinham em comum. Estavam na segunda musica, Love Me Tender de Elvis Presley entoava suavemente pelo salão quando os olhos de Rebecca captaram algo suspeito.

Expressões tensas, sussurros e passos rápidos pro lado oposto do hall de entrada. Joel, Carmen e um homem desconhecido andavam juntos parecendo tensos. Rebecca foi rápida dando a desculpa clichê de que ia ao banheiro. Ela foi à mesma direção da onde o trio foi minutos atrás, tirou os sapatos altos vagorosamente olhando para trás para se certificar que não estava sendo seguida e desapareceu na curva indo em direção as vozes que ouvia. Pelo corredor havia outros quadros pendurados na parede de cor clara.

– Nós precisamos agir, por isso te trouxemos aqui. – ela reconheceu a voz de Carmen atrás da porta de madeira. – Achamos que Joshua está de volta e trouxe Azazel a Londres.

– O que precisam de mim? – a voz grossa era do homem até então desconhecido.

– Precisamos que você impeça-os de avançar na busca por Ivan.

Rebecca ouvia atentamente a conversa, tentando entender os motivos ainda ocultos.

– Eu sabia que esse garoto ainda traria problemas. É como a mãe, um bisbilhoteiro idiota.

– Não insulte os mortos. – disse Joel pela primeira vez.

– Logo ele estará morto como Karol. – Carmen disse. Rebecca tampou a própria boca pra não soltar um som de espanto. – Ele é esperto, mas creio que podemos contar com sua ajuda Mikael.

– E aquela amiga de Chester? – Joel perguntou.

– Ela não apresenta perigo, nem ela nem Chester, isso é muito maior que eles. – Carmen garantiu. – Mas temos que tomar cuidado, Chester ajudando Azazel pode nos ajudar ou prejudicar.

•••

Azazel estava sentado à frente da lareira, sentado na poltrona naquele seu passatempo de assistir o fogo consumir a madeira. Mas dessa vez ele já esperava a visita. Um vento entrou pela janela, ele sorriu de lado.

– Cheguei a pensar que tinha desistido. – disse de costas para imagem parada em frente à janela.

– Não te culpo. – ele disse dando uma pausa dramática. – Você não me conhece... Irmão.

Ele se levantou e de braços cruzados encarou-o de onde estava.

– Então, por onde começamos? – Joshua perguntou, um sorriso nascendo em seu rosto.

•••

Ao voltar ao salão encontrou Chester fazendo algumas senhoras rirem sobre algo que dizia. Rebecca parou na porta observando-o, aquilo era sobre ele também. Pensava em maneiras de lhe revelar que a mãe era uma vadia vingativa, que de alguma maneira ela estava por trás do sumiço de Ivan. E que seu pai era um traidor. Sua família vivia de aparências, isso era deprimente. Mas por outro lado se desesperava ao pensar na reação dele, ficaria do lado da família ou do irmão que parecia odiar? Aquela informação era uma granada em suas mãos, se explodisse no lugar errado poderia ferir muitas pessoas.

O homem a pegou o observando e foi ao encontro dela depois de pedir licença às senhoras. Rebecca se esforçou para sorrir quando ele se aproximou, já havia tomado a sua decisão, não abriria sua boca a Chester.

– Você está bem? – ele perguntou a Rebecca, mas ela não teve tempo de responder.

– Senhoras e senhores, o jantar será servido na sala de jantar, acompanhem-me por favor. – a criada anunciou para os convidados no salão, outros convidados já iam em direção à sala de jantar.

Rebecca passou o braço pelo de Chester pela segunda vez aquele dia e foi em direção à sala de jantar. Sentaram-se um do lado do outro como já era previsto. Charlotte, a empregada fuxiqueira estava parada com uma expressão simpática aos convidados que passavam, mas ao ver Chester e Rebecca de mãos dadas, sua expressão passou a ser séria.

– Boa noite Charlotte. – Chester a cumprimentou, sorrindo. Ela devolveu um sorriso forçado.

– Boa noite Sr. Powell, Sra. Moore. – Rebecca apenas assentiu.

– Eu acho que ela tem uma queda por você. – falou ao ouvido dele, dando risada.

– Ciúmes? – ele perguntou fazendo-a revirar os olhos. Puxou a cadeira como um cavalheiro e ela agradeceu, se sentando.

– É muito cedo para ter ciúmes. – toda a relação deles era um sobressalto. Viraram melhores amigos em apenas algumas horas.

– Eu não diria isso Becca. Isso é um inicio de uma grande amizade. – ele segurou a mão dela e os dois sorriram.