Apanhador De Medo escrita por Ju Mikaeltelli, Beatriz Hunter


Capítulo 4
Sem segredos


Notas iniciais do capítulo

Vamos parar de segredos e esclarecer as coisas Chester? Sim, vamos. Então sem mais delongas... Boa leitura.



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A madrugada chegara e Rebecca estava acordada, Azazel fora pro quarto há dez minutos atrás, mas ela sabia que ele não estava dormindo, não depois da conversa que teve com Chester. Ela estava sedenta para arrancar informações de Azazel, mas decidiu por esperar a manhã. Tinha que focar em recuperar suas forças, era hora de caçar. Calçou suas botas no pé da escada e as desceu com as mãos no bolso do casaco. Percorreu a estradinha de pedra até o portão de prata, ao fechá-lo olhou para a mansão, Azazel a observava da sacada do quarto. Ela se virou e continuou o seu caminho.

Estava uma noite fria em Londres, as ruas estavam desertas e Rebecca soltava aquele vapor condensado pela boca. Ela não precisou andar muito para achar um bar, beber era uma ótima ideia, mas não estava lá pra isso. Um homem estava encostado à parede de pedra fumando cigarro, visivelmente bêbado. Rebecca estava indo em direção a ele quando um homem cambaleante, de barba e olhos verdes foi jogado para fora do bar enquanto ria.

– Você está morto se encostar suas mãos sujas na minha filha de novo. – o baixinho de idade avançada soltava fogo pelas ventas. Ele entrou enquanto o homem ria segurando uma garrafa de bebida, ele não havia percebido a presença de Rebecca que o seguiu por um tempo até ele entrar em um beco. Rebecca perguntou-se se era uma boa ideia fazer dele uma vitima, parecia bêbado demais para sentir medo. Mas de qualquer maneira seria um favor para a humanidade tirar sua vida.

Ele continuou andando com dificuldade, Rebecca tinha que abordá-lo antes que ele cruzasse o beco. Não foi difícil alcança-lo, ela se pôs na frente dele, olhando-o com desprezo.

– Ei, quem é você docinho? – Rebecca sorriu. – Eu não me lembro de ter dormido.

– Eu sou o seu pior e mais real pesadelo. – disse clichê, o empurrando para parede com força. – Você é um monstro. – as veias pularam no seu rosto, seus olhos ficaram negros e brilhantes, os dentes enormes e afiados ficaram a mostra. Não parecia mais a Rebecca, mas um verdadeiro monstro. Ela apertou levemente o pescoço do homem, olhando para dentro de seus olhos verdes, ele estava com medo.

– O que vai fazer comigo? – ele pediu com um pouco de dificuldade, se Rebecca colocasse um pouco mais de força ele morreria, mas tinha que arrancar o máximo de medo dele. Ela sentia em sua pele, dos pés até a cabeça aquele medo alimentá-la. Estava há anos naquilo e era sempre estranho sentir aquela sensação.

– Eu vou te matar. – ela foi direta. – Você não merece viver.

Para acabar logo com o sofrimento do homem, ela quebrou seu pescoço. Encarou aquele corpo no chão, os olhos arregalados nunca iriam sair de sua cabeça. Ela tirou o isqueiro do bolso, segurando-o na altura do corpo, suas mãos estavam cobertas por luvas. Jogou o isqueiro no corpo, assistindo queimar. Pôs as mãos nos bolsos e tomou o rumo de volta a mansão.

Estava com a mesma roupa com a qual foi caçar quando acordou na manhã seguinte. Conseguiu alcançar o celular que estava na escrivaninha, pôs bem perto dos olhos, os espremendo para poder ver a hora. 08h15min. Virou-se na cama algumas vezes tentando achar uma posição que o sol não pegasse nela, mas foi em vão. Esfregou os olhos e se levantou pensando se Azazel estava em casa ou havia saído para evita-la de novo. Pouco tempo depois tinha tomado banho e estava vestida, pronta para sair se Azazel a tivesse deixado sozinha novamente.

Ela foi descendo as escadas lentamente, escutou vozes vindas da sala de jantar. Sentiu o cheiro de ovos e bacon. Perguntou-se se Azazel tinha decidido contratar uma empregada, desde que começou a dividir um apartamento com ele na Alemanha, ela reclamava de ter que fazer as tarefas, ele tinha dinheiro o bastante pra não precisar disso. Mas sempre que tentava persuadi-lo, ele justificava dizendo que era mais seguro não ter ninguém trabalhando em sua casa. Quando ela chegou à sala de jantar, encontrou Chester e Azazel em engajados em uma conversa, que pararam quando ela chegou.

– Bom dia! Vocês não precisam se calar quando eu chegar. Eu ouvi tudo ontem à noite. – Chester e Azazel se olharam enquanto Rebecca se sentava ao lado de Azazel. - Bom te ver de novo, Chester. – ele só assentiu, apreensivo.

– Foi você? – ela se referia ao café da manhã. Azazel confirmou. – Você já pode casar... Não que você seja do tipo que case. – ela disse e riu pelo nariz, tomando um gole de suco em seguida. – O que estão olhando? Vocês podem continuar a conversar. – ela esperou que alguém falasse, mas não aconteceu. Então pôs o copo na mesa.

– Ok. Eu começo então. – ela sorriu. – Respondendo a sua pergunta ontem Chester, sim, eu sou igual à Azazel. Não uma pessoa sem coração. Eu sou uma apanhadora de medo. E você é um vampiro... Ou estou errada?

– Rebecca... – Azazel a repreendeu, mas de nada adiantou, claro.

– Você não pode mais esconder as coisas de mim. – ela disse entre dentes. – Então, Chester...

– Você está certa, eu sou um vampiro.

– Tem mais alguma coisa tão interessante quanto sobre você que eu não sei? Talvez sobre você e Azazel...

– A história de como nos conhecemos é verdadeira.

– Não sei se isso explica o porquê dele confiar mais em você do que em mim que fiquei com ele todos esses anos. – ela cuspiu as palavras, olhando para Azazel.

– Vocês são... – Chester procurava a palavra.

– Um casal? Não, nós transamos às vezes, mas Azazel também não é do tipo que tem compromisso. – ela riu. – Mas conte-me um pouco mais sobre esse clã Chelsea...

– Chega Rebecca! Ele não vai te dizer nada.

– Vai se ferrar. Você não precisa me esconder nada e mesmo ainda assim ainda esconde. – ela gritou. Depois um silencio se instalou. – Perdi o apetite. Agora vocês podem voltar aos segredinhos não tão secretos assim. Eu vou sair. – ela se levantou.

Ela pôs as mãos na cabeça, olhou mais uma vez pra sala de jantar e saiu pela porta da frente. Estava ferida, isso é fato. Mas precisava esfriar cabeça. Rebecca andou até o bar da madrugada passada, mas dessa vez ela entrou no local. O bar lhe lembrava do Old Town Bar que frequentava em Nova Iorque. Murphy’s Bar and Restaurant, dizia o letreiro. O local tinha pouco movimento, talvez por ainda ser manhã. Mas Rebecca não se importava, estava ali para beber. Sentou-se no banco em frente ao bar, esperando alguém vir lhe atender.

Uma garota loira, de olhos claros com no mínimo vinte anos veio da cozinha com um sorriso no rosto e um cardápio na mão. Colocou-o entre os braços de Rebecca que olhou brevemente para ele.

– Bom dia, eu sou Amber, o que deseja? – ela perguntou, dócil.

– Vodka, pura. Ah, me dê à garrafa logo. – ela pediu deixando a mulher um pouco assustada, mas ela assentiu e foi pegar a garrafa. Colocou o copo e a garrafa uma do lado da outra. Abriu-a e serviu a dose para ela. – Obrigada. – Rebecca agradeceu virando o liquido de uma vez o sentindo queimar sua garganta.

– Desculpe. Mas você parece mal... – ela disse a observando, e logo tratou de completar. – Bebendo tão cedo.

– Desculpe. – ela repetiu a mesma palavra que a garota usou. – O bar oferece tratamento psicológico também? – ela deu um sorriso diabólico, calando a garota que andou até o outro do bar para limpar o balcão, deixando Rebecca sozinha com suas magoas.

Rebecca estava em seu terceiro copo quando um policial negro, alto e com bigode entrou no local. No mínimo cômico, mas ele não tinha uma expressão muito boa. Passou por trás dela indo em direção a Amber que sorriu ao vê-lo, o cumprimentou. Rebecca olhava para o seu copo, mas conseguia ouvir a conversa deles.

– O que foi? – ela perguntou a ele, que permaneceu calado. – Josh. – ela o encorajou a falar.

– É o Aaron. Ele foi encontrado morto em um beco perto daqui. – Rebecca ajeitou-se no banco, incomodada.

– O quê? Mas como...? – a respiração de Amber estava inquieta.

– Ainda vai ser investigado... Mas é definitivamente assassinato. Alguém o matou e ateou fogo nele.

– Mas quem faria isso? Aaron era uma canalha, mas não era capaz de matar uma mosca. – lágrimas silenciosas caiam do rosto da garota. Rebecca observou de longe, tateou o bolso a procura do dinheiro e o colocou em cima do balcão, indo embora em seguida com a garrafa na mão.

Agora não sabia para onde ir, não queria voltar à casa de Azazel agora. Talvez procurar outro bar. Respirou fundo bagunçando o cabelo e começou a andar pro lado contrario à mansão. Sentia alguns olhares sobre ela, e não eram de aprovação, sabia disso. E era obvio que não se importava.

– Está cedo demais para beber! – ela se virou pro Volvo prata, Chester sorriu sem mostrar os dentes para ela.

– E existe horário certo para beber? – ela continuou andando. Ouviu Chester saindo do carro, e logo ele estava em sua frente, segurando seus braços. – O que você quer? – ela lhe fez outra pergunta.

– Eu vou me sentir culpado se te deixar sozinha nesse estado... Bebendo sem nada no estomago. Não vai demorar muito para ficar bêbada. – ela o analisou.

– Você não precisa inventar desculpas. Diz logo o que quer ou me deixe ir. – ela disse com a voz firme, olhando bem nos olhos dele.

– Enquanto você come alguma coisa... Eu ficarei feliz em te contar tudo sobre o Clã Chelsea.

– O que te fez mudar de ideia? Você não está com medo do que Azazel pode fazer com você? – o desafiou, mas não o abalou em nada.

– Se você se importa... Você tem o direito de saber. – ela olhou nos olhos algum sinal de que podia duvidar de suas intenções. Mas não achou. – Ele pode ficar com raiva. Mas ele não vai me matar. – ele sorriu por fim.

– Ok... Mas você não vai me levar para um covil de vampiros ou algo assim, vai?

– Não. – ele sorriu torto.

– Droga. – ela disse o seguindo até o carro. Ele se apressou para abrir a porta para ela, mas Rebecca abriu sozinha. – Como você pode sair de dia?

– O quê? – ele olhou pra ela e entendeu. – Ah. A impossibilidade de sair de dia era um feitiço que as bruxas lançaram nos vampiros para controlar as mortes e esconder o mundo sobrenatural dos humanos. Mas se você conhece uma bruxa para enfeitiçar um anel... Você sai durante o dia. – Rebecca observou o anel brilhante em seu dedo.

– Você conhece o clã Chelsea?

– O clã Chelsea é um grupo de vampiros muito desconfiado, eles não se relacionam com outros vampiros se não tiver confiança total. São isolados, quase não saem de dia... – Chester pegou a estrada que levava até o centro da cidade. Aquela altura Rebecca tinha deixado a garrafa de lado.

– E por que o pai dele estaria entre esse grupo confiável...? Ele é um apanhador, como eu.

– E como Azazel.

– Azazel é um tipo diferente de apanhador, ele não tem a mutação física que a espécie pura tem. – ela lhe explicou.

– Mutação física como... Dentes afiados... Como vampiros.

– Mais que isso. Você não me reconheceria com a face de apanhadora.

– Você pode me mostrar? – ele perguntou curioso.

– Não sem te matar. – ela disse o sentindo ficar tenso. – Nós não somos como vampiros. Mostramos essa outra face apenas para matar.

– Mas por outro lado é um pouco parecido... Matar por prazer e necessidade. A super audição.

– Não temos a super velocidade... Tenho um pouco de inveja de vampiros. – era bom conversar com alguém que não demonstrasse apenas indiferença. – Você está me enrolando. Quando vai me falar algo que é segredo?

– Calma. Eu quero falar sobre você. – Rebecca revirou os olhos. Respirou fundo e decidiu se acalmar, precisava de um tempo longe de Azazel. – Como você conheceu o Azazel?

– Isso não é sobre mim. – ela disse séria.

– Sim, é. – ele olhou pra ela alguns segundos e voltou sua atenção a estrada.

– Depois que você me contar tudo o que sabe sobre o pai de Azazel, eu te conto.

(...)

Rebecca mexia com uma colher o café sem muito açúcar, do jeito que gostava. Aquele lugar tinha cheiro de comida caseira. Chester estava sentado de frente para ela, depois que fizeram os pedidos, Rebecca já pulou pro assunto Ivan que tanto despertava sua curiosidade. Azazel nunca falou muito sobre seu pai e Rebecca não ousava perguntar muita coisa. Não chegou a conhecê-lo, ele já havia ido embora quando foi morar na Alemanha.

– Então, quando que Azazel te procurou para saber do pai? – ela descansou a xicara sob o descanso de copo em cima da mesa de madeira. Encarou-o, esperando.

– Há três anos ele me enviou um e-mail. Ele descobriu que estava na Inglaterra, que tinha acabado de tomar o cargo de detetive em uma delegacia – ele se ajeitou no banco olhando para o liquido na xicara. Mais uma coisa que ela não sabia sobre ele, era um policial.

– Um policial vampiro. Daria um bom personagem... – Rebecca riu acompanhada de Chester. – Continue.

– Eu vasculhei Londres por dois anos. Há um ano Azazel parece ter achado algo que confirmasse que seu pai estava em Londres.

– O quê? - Rebecca inclinou seu corpo um pouco pra frente.

– Eu não sei. Só disse que estava ligado a vampiros. – ela olhou nos olhos dele sabendo que era verdade. – Sobre isso eu sei tanto quanto você... Eu vigiei a mansão durante dias até ver o pai de Azazel, para ter certeza.

– Qual o seu palpite sobre ele estar lá com eles?

– Ele deve ser algo importante pra eles. Não é uma divida... Ele é protegido a todo o momento. – ele opinou.

– Como ele é? Ivan... – ela perguntou curiosa.

– Perto dele, Azazel é um gatinho assustado. Você deve saber... Azazel não era assim.

– Eu não sei, eu conheci Azazel assim, do jeito que é agora. Mas entendo que a vida fez dele um apanhador mais frio do que o normal.

– Eu cumpri minha parte da promessa. Agora é a vez de você cumprir a sua. – ela suspirou. - Conte-me como se conheceram.

– Antes... E a mãe dele? Você conheceu?

– Karol... Bem, lembro muito pouco dela. Ivan não deixava ela se comunicar muito com as pessoas... Mas me parecia uma mulher adorável. Para de me enrolar e me conte como acabou se envolvendo com alguém como Azazel.


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Notas finais do capítulo

Hey, você que acabou de ler, o que acha de deixar um comentário sobre o que achou da história? Incentivo nunca é demais, concorda? (: Estou esperando de braços abertos como sempre.