– Sejam bem vindos novamente! – Rose, a professora da terceira série, exclamou sorridente com o início das aulas. – Vejo que temos alguns alunos novos esse ano... Apresentem-se! – Pediu simpática.

– Me chamo Emily. – Uma menina com sardas no canto da sala praticamente sussurrou.

– Oi, sou Adrian. – Falou um moreninho fofo na primeira carteira de uma das filas.

– S-sou Lucy. – Gaguejou uma menina magrela, de cabelos castanhos e lisos com pregadores e olhos intensos da mesma cor de suas madeixas.

– Muito bem, espero que gostem da escola. – Disse a professora com o mesmo sorriso brilhante.

Quem poderia imaginar que a vinda da franzina Lucy para essa escola traria tanta alegria e ao mesmo tempo tristeza para vida da mesma...?

Naquele dia ela conheceu David, um menino com cabelos negros e olhos cor de mel que ela não parou de olhar. Pequena Lucy, com sete anos de idade e um coração inocente, tal coração que iniciou em uma jornada, não tão intensa, mas com certeza se tornaria.

No mesmo dia que ela avistou aquele menino, ela plantou uma semente em seu jardim. Desde então, ela cuidou da semente com muito amor e carinho. Aquela semente nunca floresceu, apesar da imensa vontade da menina.

– - -

Seis anos se passaram desde o primeiro dia da terceira série. Agora Lucy passara para a oitava, e o mesmo menino estava com o mesmo cabelo, os mesmos olhos, o mesmo sorriso, na mesma turma.

Quando conheceu David, a nossa pequenina era inocente e apenas achava o seu coleguinha fofo, mas, com o decorrer dos anos ela percebeu que talvez não fosse só isso que ela achava dele. Com esse tempo que se passou, ela descobriu que gostava realmente dele. Sem motivos, sem explicações, ela simplesmente pensava nele e devaneava.

Todos esses anos, todas essas divagações do pensamento da menina e ela nunca esqueceu ele, apesar dele nunca ter notado ela de alguma outra forma. Será que seu sonho irá se realizar, pequena Lucy?

Lágrimas ela deixou rolar quando a melancolia a tomava. Pensava em tudo o que sentia e em tudo que ela poderia ter em troca. Mas não tinha.

Sorrisos ela deixou escapar quando a memória lhe voltava. A memória dos sorrisos brilhantes e singelos de seu colega.

Você se pergunta como uma menina de treze anos pode se sentir uma boba apaixonada, não é mesmo? Mas porque quando se vive em um mundo onde a crueldade ainda reina, não se acredita em uma paixão infantil, adolescente, pura?

Para falar a verdade, às vezes ela se achava uma escrava do destino. Por mais que tentasse, ela não conseguia tirar ele do pensamento. Lucy ainda regava a semente que havia plantado.

Muitas coisas ela viveu. Nunca teve um diálogo longo com ele, nunca interagiu muito. Os dias do cansativo ano da oitava série se arrastavam e Lucy ainda chorava e sorria por causa dele.

Mais dias se arrastavam, até que em um abençoado dia, o sol nasceu reluzente no céu. A boba apaixonada e o bobo não apaixonado acordaram dispostos e foram para o colégio mais uma vez.

– Hoje teremos trabalho em dupla, eu as formo. – Anunciou a professora de Inglês. Os alunos não pareciam muito satisfeitos, com exceção de uma pessoa. Essa pessoa ainda sonhava em fazer pelo menos um trabalho com David, mas sempre dava errado. Será que dessa vez não?

Ora ora, parece que um coração apaixonado tirou a sorte grande! Sim. Lucy e David, finalmente um trabalho em dupla!

– Lucy, você entende a matéria, não é mesmo? – Perguntou David juntando sua carteira com a dela.

– S-sim. – Falou a menina com um pequeno sorriso.

Pelo visto David tinha se dado bem, e Lucy também, porém de outra maneira. O trabalho correu bem e a menina explicava tudo o que ele não sabia perfeitamente. Além do trabalho, a aula também correu bem, até mais do que o esperado, afinal, David havia a convidado para estudar Inglês na biblioteca. Só poderia ser um sonho para a bobinha apaixonada.

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Até a hora de ir para a biblioteca, ela não conseguiu relaxar, nem depois também. O garoto parecia despreocupado e relaxado à sua espera.

– Olá, Lucy. – Cumprimentou-a.

– Olá. – Deu um leve sorriso, corando com o fato de estar ali.

Eles estudaram praticamente a tarde toda. Realmente de Inglês a menina entendia. Ele era praticamente o oposto, mas graças àquela alma caridosa ele estava aprendendo bastante.

– Bom, parece que terminamos. – Disse Lucy ao ver que ambos já haviam estudado o bastante.

– É, parece que terminamos. – Concordou.

– Então eu vou indo para casa... – Falou a menina arrumando suas coisas.

– Quer que eu te leve até lá? – Convidou.

– Ora... – Ela estava controlada por fora, mas eufórica por dentro. – Tudo bem.

Eles pegaram seus materiais e tomaram rumo à casa de Lucy. As ruas estavam pacatas e os raios do entardecer tomavam as ruas. Não estava frio nem calor, as árvores chacoalhavam com a brisa leve. Em uma esquina, debaixo de uma grande figueira, ela parou de caminhar.

– O que houve? – Perguntou o menino.

– David, eu... – Estava com ideias na cabeça. Pensou em atitudes que jamais teria coragem de fazer.

O menino deu um passo em direção a ela encostando a mão no seu braço. Isso foi o bastante para que um raio de coragem invadisse o corpo da franzina e fizesse-a puxá-lo para um abraço. Era quentinho e confortável. Aquilo era tudo o que ela queria.

– Lucy... – Ele apertou-a entre seus braços e depois depositou um selinho em seus lábios rosados. Aquilo era real? Todos os sonhos... Tudo aquilo estava acontecendo. Era ela ali? Era ele ali? Agora ninguém mais sabia. Aquele selinho demorado foi o bastante para fazê-la derreter-se por inteiro. Momento único, que foi interrompido pelo próprio garoto, que colocou as mãos nos bolsos e saiu andando pelas ruas, do nada. Mas ela não se importou, pelo menos seus sonhos se realizaram

Ela caminhou o resto do caminho sozinha, porém feliz. Quando chegou em sua casa, foi regar a florzinha, e para sua surpresa, ela havia dado um lindo brotinho.

Lucy se acordou com um sorriso no rosto, que logo se desfez ao notar que todo aquele sonho ainda era apenas uma ilusão. Pelo visto esse foi mais um devaneio seu, menina. Será você uma tola sonhadora? Espero que não.

Pequena Lucy, não foi dessa vez, mas continue regando a sua plantinha.