Ele estava no escritório naquele momento quando viu uma jovem florista do outro lado da rua vendendo rosas claras, passou a mão pelos cabelos nervoso, aquele tipo de garota bem como flores o faziam ficar assim, o duro comandante de gelo das empresas Mellark, ele sabia que esse era seu apelido pelos corredores daquele lugar, mas ele também não se importava... Saiu de perto da janela e andou até sua mesa pegando um livro que ele nunca tinha lido de dentro e tirando de lá a foto de sua única paixão platônica, sentou-se na cadeira sentindo o vazio de nunca ter sido correspondido, justo ele que nunca tinha anseio por nada na vida amou... E pior, nunca teve uma resposta, ela não lhe dispensou e nem lhe deu uma chance, talvez aquele fato da garota que ele amava ter lhe dado tão pouca importância fosse a maldição pela qual ele nunca amou outra mulher, nunca se apaixonou novamente... Sorriu tristemente levando ao peito a fotografia e sentindo o sentimento que nunca foi embora lhe encher o peito, ali estava ele, indo novamente para os seus dezesseis anos... Voltando para o único amor de sua vida.

Alguns anos no passado.

Peeta a esperava sempre no caminho de casa, não estudavam na mesma escola, ela e ele iam juntos sempre na mesma direção por boa parte do caminho, o garoto não sabia em que momento passou a nota-la, e mesmo que eles nunca se falassem ele sempre esperava ela vir para então seguir caminho... Nunca foi trocada uma palavra entre eles, quando ela chegava em casa entrava sem nunca olhar para os lados, nunca olhava para trás, para onde ele estava esperando algum sinal dela, então ele seguia em frente até onde morava... Durante a tarde ele sempre voltava pelo mesmo caminho, a floricultura continuava ali, cheia das mais varias flores e perfumes.

__ Bom dia.

Era o que ele dizia sempre que ia ali, sorria para ela que sempre correspondia, mas hoje para ele era um dia diferente, na noite passada seu pai havia lhe dito, ele iria embora esta noite, aquela era sua única chance de falar com ela, de lhe dizer que a amava, pegou um ramo de rosas e se dirigiu ao caixa, ela o olhava e desviava os olhos, parecia tão automático.

__ São pra você.

Ela levantou o rosto olhando profundamente, a garota que estudava numa escola onde garotos não eram permitidos, ele a amava tanto... Nem sabia explicar como ou por que.

__ Sabe... Pode ser repentino e eu nem sei se você já tinha me notado antes, mas... Eu amo você, eu não sei como ou onde isso começou, mas eu amo. Eu... Meu pai vai me mandar estudar no exterior, eu tenho que partir essa noite, mas eu realmente não quero ir, por que... Eu sinto que você vai me amar se eu continuar perto, então se existe alguma possibilidade de isso acontecer, você pode por favor me dizer para não ir?

Ele não sabia em que momento aquilo aconteceu, mas sentia os olhos encherem-se de lágrimas e o coração de expectativa, mas os momentos foram passando e ela continuava sem nada dizer, então ele juntou toda coragem que tinha e saiu correndo para fora nunca mais voltaria ali. Ele correu tão apressado que não notou as rosas caídas ao chão e nem quando a garota correu na mesma direção que ele com o pequeno rosto delicado cheio de lágrimas, ela juntou as pequenas flores e as levou ao peito, ela também o amava, mas nunca poderia lhe dizer, sempre o notara ao seu lado ou atrás de si como que a protegendo, ela o amava e só Deus sabe o quanto amava. Mas nada mudaria o destino, aquele foi o ultimo encontro deles.

Dias atuais.

Ele levantou-se da cadeira de sobressalto, desde o inicio da semana que estava pensativo, desde que fora marcado sua volta para a cidade natal, não queria nunca voltar para aquela cidade, queria nunca ter que voltar para ela... Pois ainda a amava, ouviu batidas na porta e sorriu ao ver uma cabecinha minúscula olhar por ali e de repente entrar de uma vez, era só o que ele esperava antes de pegar o avião.

__ Minha Katniss, vem aqui!

A garota correu até ele sorrindo, seu cabelo loiro com cachinhos adoráveis nas pontas balançavam a medida que ela andava, ali estava a única outra mulher que ele amou... Mas era diferente, aquela era sua filha... A outra Katniss era a mulher que ele amou como mulher... Aquele foi o único nome aceitável para a garota que se encontrava em sua frente, a pequena Katniss.

__ Papai você vai voltar logo?

__ Claro meu amor, papai te ama e não conseguiria viver longe de você, eu só vou me despedir do seu avô.

Ele sorriu para a garota que nem entendia o que aquilo significava... Brincou um pouco mais antes de partir, e final se foi, no avião sentia as mãos tremulas, o mesmo suor inundava sua camisa, apesar do frio que estava em Panem naquela época do ano ele sentia o calor de amar voltando para si. Assim que desceu na cidade a primeira coisa que fez foi aquilo que prometeu a si mesmo nunca fazer, voltou a floricultura, queria ver o quanto o tempo havia mudado a mulher que amava, queria que ela o visse e sentisse pesar por não ter ficado com ele, afinal, ele tinha se tornado alguém grande e ela o dispensou... Se decepcionou pois lá quem se encontrava era uma jovem garota que em nada lembrava a outra...

__ Olá senhor quer algo em particular?

__ Na verdade eu quero dois arranjos, um com rosas de uma tonalidade clara e um outro bem grande de rosas brancas.

A garota o atendeu rapidamente fazendo um grande buque de rosas brancas, e outro bem pequeno de rosas em tons claros... Muito parecidos com um de anos atrás.

__ Desculpe-me, mas você sabe me dizer se Katniss Everdeen ainda mora por aqui?

__ Katniss? Desculpe senhor eu realmente não sei quem é, algo mais em que possa ser útil?

__ Não obrigada.

Ele saiu dali sentindo finalmente o frio lhe preencher... Então ela não continuou ali para sempre, ele pensava que aquele seria o lugar de onde ela jamais sairia, então estava enganado, tentou tira-la dos pensamentos enquanto se encaminhava para o cemitério local, sua mãe estava lá precisando de sua atenção, mesmo quando ele tinha dinheiro suficiente para mandar os pais pra qualquer lugar do mundo os dois recusaram-se a sair dali, Peeta arrependia-se de nunca tê-los ido visitar, não lembrava mais nem da ultima vez que tinha visto seu pai, por dentro ele chorava, via as pessoas ali mas ele não as conhecia, nunca tinha voltado para casa...

__ Mãe, rosas brancas, papai as adorava...

E então ele deixou o buquê ali, em cima da lapide, o enterro tinha sido no dia anterior, ele novamente não chegou a tempo... Aquele era o homem de gelo do império Mellark, sem tempo nem para a família. Sorriu tristemente e observou todos que estavam ali irem embora, as pessoas tinham vindo apenas pela mãe que simplesmente recusava-se a ir embora, e ficavam perto dela, tentando consola-la.

__ Mãe temos que ir.

__ Não estou preparada Peeta...

E então ela começava a chorar, um casamento de quarenta anos, aquela era a sensação da perda depois de tanto tempo, ele resolveu acatar aquele momento dela, sabia que estava sofrendo e então se afastou, andou entre os túmulos olhando alguns dele, até que viu um pequeno girassol sobre um, achou aquilo interessante e se aproximou, apesar do gelo estava ainda em sua boa forma, o que significava que alguém tinha vindo deixar a pouco, seu choque foi tremendo ao ler o nome que estava ali, sentiu os joelhos tremerem e sentiu alguém lhe segurar antes de cair.

__ Você está bem?

__ Oh, sim, obrigada.

__ Você veio visitar o tumulo da Katniss? Ela se senti sozinha as vezes é bom saber que não sou o único a vir vela, eu sou o Gale.

O garoto moreno sorria enquanto Peeta continuava estático olhando para aquilo sem acreditar.

__ Eu sou Peeta... Peeta Mellark.

Gale o olhou intensamente por um momento então parecia que algo tinha estalado da cabeça dele.

__ Era você.

__ Eu o que?

__ Eu era irmão da Katniss... Você foi o primeiro amor da minha irmã, ela morreu tão nova, com 18 anos, quase um crime alguém morrer tão jovem...

__ Por que você fala que eu era o primeiro amor dela?

__ Por que foi isso que dizia no diário dela, o que ela me deixou antes de morrer, ela disse que se um dia eu te encontrasse eu poderia deixa-lo com você se quisesse.

Peeta hesitou por um momento, então se recompôs do choque.

__ Não acho certo ficar com algo de alguém que eu nem conhecia, melhor ficar com um membro da família, deve significar mais para você do que para mim.

__ Bem... Eu confesso que fico feliz de ouvir isso, eu amava a minha irmã e eu só queria cumprir o ultimo desejo dela, mas eu gostaria sim de ficar com o diário, ela escreveu uma coisa sobre você, a única vez que citou seu nome diretamente.

Peeta continuou ali imerso em pensamentos enquanto Gale continuava a falar, até que o garoto percebeu que ele não o estava ouvindo, então sorriu e se despediu caminhando para longe.

__ Gale... Só um momento, antes de ir, me diga o que ela escreveu sobre mim.

__ Ela escreveu que nunca poderia te dizer que te ama.

Ele falou isso se virando e encarando Peeta com o olhar encarando o nome na lapide, sentia seu coração apertando, então no final ela realmente não o amava... Então Gale se virou determinado a não olhar mais para trás, pegou uma sacola que estava no chão, tinha esquecido ali, por isso tinha voltado e se deparara com Peeta, quando já estava numa distancia razoável ele então gritou sem olhar para trás.

__ Ela não podia falar Peeta, Katniss era muda.

E então sumiu na imensidão do branco que a neve deixava sem conseguir ver a cena que se passou, Peeta então caiu de joelhos sobre aquele túmulo, sentia as lágrimas caindo tão intensamente, queria pela primeira vez ter voltado antes, ter esperado que ela lhe fizesse algum gesto, arrependeu-se para sempre, pois ele nunca ouviria a voz dela, não porque ela não o queria fazer e sim por que não podia, agora entendia, por que ela nunca lhe disse que o amava, naquele dia em que ele foi embora sem dar uma chance a garota de lhe demonstrar o amor, quem tinha dado um adeus silencioso era ele, ela só lhe podia falar com os olhos, se ele tivesse prestado atenção teria notado... Mas as oportunidades só acontecem uma vez na vida, e a de Peeta tinha partido para sempre, com seu amargo adeus silencioso.

Fim