Chapeleiro estava à muito tempo procurando por Alice. Não sabia se eram dias, segundos, horas ou minutos, seu relógio não funcionava, independentemente de quantas colheres de manteigas passasse pelas engrenagens, e nem se a manteiga era da maior e melhor qualidade de todo o País das Maravilhas. E isso não o incomodava quando estava com Alice, por que de alguma forma, ele sentia que quando estava com ela, não só o tempo, como o País e o mundo paravam de girar, ele tinha certeza que o mundo subterrâneo sim, e que todos os outros que poderiam existir também.

Louco como só ele, pensava que todos os seres paravam apenas para que fizessem o mais absoluto silêncio, para que assim ambos pudessem se ouvir com clareza. Tinha certeza de que a parte dos exilados e o lado sombrio de onde estavam se iluminava apenas com o sorriso que ela lhe lançava sempre! Sabia que na hora do chá ela se atrasava três minutos, para poder lhe pregar uma peça antes de se juntar à ele e a Lebre de Março. Era Louco o bastante para sentir um formigamento na ponta do fio de seu cabelo ruivo até o dedão do pé que sempre dançava o Passo Maluco quando a pequena garota de cabelos dourados pedia com aqueles olhos brilhantes e encantadores. Era Louco o bastante para sentir os pulmões se inflarem e logo depois murcharem com uma rapidez incrível quando ela se aproximava. Era Louco o bastante, para quase uma vez ter beijado aqueles lábios rosados e carnudos em uma das festas que a Rainha Branca proporcionara aos amigos. Ela estava tão próxima dele, estava com os pequenos braços rodeados em sua cintura, com o ouvido em seu peito, podendo ouvir ele bater rápido o bastante, que o próprio Chapeleiro podia ouvir à quilômetros de distância. Era Louco o bastante para sonhar com ela todos os dias. Era Louco o bastante para se importar demais com ela. Era Louco o bastante por ter pensado em dar seu chapéu a Alice.

E afinal, era Louco o bastante por ter se apaixonado por Alice. Era Louco o bastante por amá-la.

Era um sentimento tão Louco que um Maluco que é não podia deixar de sentir. E ele sentia pela pessoa certa, sentia por Alice. A pessoa que mais entendia sua loucura, entendia mais que ele mesmo. A pessoa que sempre pensava por tempos na respostas para suas loucas perguntas. A pessoa que ele imaginava que poderia desvendar seu mistério do Corvo e da Escrivaninha. E que provaria milhões de chapéus, que os acharia lindos, mas dentro de tantos chapéus sempre iria preferir o seu.

Ele sabia de tudo isso, mas será que ela sabia também?

Não, ela não sabia, não para ele. Ele tinha que contar.

– Alice! - gritou para a menina de vestido azul que ele mesmo fizera que estava sentada no penhasco do Castelo da Rainha Branca.

Ela se virou para ele e lhe lançou o maior e mais bonito sorriso que podia! O coração do Maluco vacilou e ele cambaleou para frente caindo próximo a Alice. Ela gargalhou alto e isso o encheu de alegria. Cairia milhares de vezes para vê-la sorrir assim.

– Chapeleiro! - falava enquanto se deitava ao lado do homem alto. - Estava pensando em você..- sussurrou.

– Pensando em mim? - o peito inflou - Eu sou muito importante então. Para estar dentro dessa cabecinha linda!

– Você é a pessoa mais especial para mim!

– Sou? - falava encarando o céu e as nuvens com formatos estranhos e sem sentido, mas para ele, haviam o maior sentido do mundo.

– Sim.

– A ponto de quê pequena Alice?

– A ponto de tantas coisas, mas em especial uma.

– E o que é?

– Fazer com que eu sinta um sentimento um tanto louco.

– Eu sou Louco, talvez faça sentido.

– Faz todo o sentido, por que o sentimento que sinto é todo você.

– Se é todo eu, como eu fico? Se esse sentimento é todo eu, e você o sente, eu sou todo seu. Assim como você é minha, pois eu sinto um sentimento louco por você.

– Então você é meu. - falou se sentando a seu lado.

– Então você é minha.

– Mas, como posso denominar esse sentimento Alice?

– Amor.

– Então, eu te amo, e sinto dentro de minha alma insana e dependente de você que esse sentimento maluco será eterno!

Chapeleiro tirou seu chapéu e depositou em Alice, que logo em seguida o abraçou e ele a beijou, transmitindo através daquele apaixonado e sincero toque o louco sentimento que sentiam um pelo outro.