A BIBLIOTECA

A biblioteca estava vazia. Um suspiro de alivio ecoou pelas prateleiras enfileiradas de livros. Hermione andou lentamente até sua mesa favorita num canto escondido entre as fileiras de livros, de onde poderia observar o ambiente sem ser incomodada.
Desde que o torneio tribuxo começara que ela perdera o pouco de paz que tinha. Todos os dias suas visitas regulares a biblioteca eram interrompidas pelas inúmeras fãs de Vitor Krum. Hermione desistira de freqüenta-la em alguns horários e passara a levantar-se antes das seis para ser a primeira e sair dali antes que ele viesse para seus estudos. Motivação frustrada, pois obviamente ele tivera a mesma idéia para fugir daquelas garotas bobas e fúteis.
Em contraponto um grotesco silêncio parecia irradiar por toda a sala de estudos. Sempre sentado em uma mesa próxima à coluna dos livros de idiomas, como inglês e outros, ele ficara horas e horas devorando livro apos livros. Não que Hermione perdesse seu tempo observando-o, mas em momentos como aquele, onde normalmente era a única ali dentro, sua atenção disperçava-se um pouco para longe das leituras.
Mas não queria pensar tanto. Era desgastante chegar a conclusões que a deixavam triste.
Não que fosse uma tragédia ou coisa assim, mas geralmente ela era dada a exagerar tudo. E daí que faltava pouco tempo para aquele baile idiota? E daí que todos os garotos pareciam interessados em convidas as garotas ‘bonitas’ e a deixavam de lado?
O que afinal era ser bonita? Ter peitos empinados e explodir em risadinhas bobas a todo o momento?
Seu lado pratica lhe dizia que as aparencias são superfulas. Mas no interior sentia-se magoada. Era bonita, sim. Mas tinha um grande e cruel pecado. Era inteligente.
Isso afastava as pessoas. Sua inteligência e esperteza incomodavam e irritavam todos a seu redor. Era só observar Rony. Ele detestava praticamente tudo que fazia e dizia.
Mas deixa isso pra lá.
Outro suspiro e abriu um livro pesado e de capa avermelhada em couro de dragão. Precisava encontrar um feitiço realmente forte e eficaz para que Herry pudesse usar no torneio. Um de proteção. Não que realmente estivessem esperando que alguma desgraça acontecesse, mas Hermione tinha medo do porque do nome dele Ter sido acrescentado no cálice.
Distraída não viu a porta abrir-se e alguém silencioso entrar e como de costume sentar-se na mesa perto da porta. Um exemplar de “Falando a língua das nações” foi posto sobre a mesa de madeira e a cadeira arrastada de leve para não incomoda-la.
O rapaz era alto e forte. Moreno, com o rosto um pouco carrancudo e a expressão fechada. Ele pretendia sentar, mas mudou de idéia munindo-se de coragem. Deixou a mesa e andou lentamente até o fundo da sala passando entre as prateleiras.
Hermione abandonou o livro e pegou outro. Havia um feitiço interessante para criar chifres eternos sobre a testa de normalistas, mas não era algo a ser aproveitado no torneio, a menos claro que Parvati continuasse gozando sua cara por ainda não Ter sido convidada.
Sem querer ou afastar os olhos do livro sorriu com a imagem de um enorme e brilhante chifre crescendo na testa da gêmea enjoada.
-Con licença?
-Hum? – não deu-se ao trabalho de erguer os olhos do livro.
-Poder sentarr aqui?
Estranhando o sotaque pesado, Hermione olhou para o visitante. Vitor Krum. Ponderou um minuto. Ele destruirá sua paz nos últimos dias, tornando a biblioteca, seu segundo quarto, quase insuportável.
Por outro lado, era alguém que gostava de estudar...
Deu de ombros e ele sentou na cadeira à frente da sua. Abriu seu livro e enfiou o nariz nele, como ela fizera também.
-Ôce estarr semprre aqui.
Bem, ele queria conversar. Era uma constatação interessante.
-Gosto de estudar. – realmente não estava interessada em bater papo com ele. Quem sabe ele quisesse que ela pedisse um autografo? O fato era, se ele oferecesse uma foto autografada, ela simplesmente teria de estupora-lo.
-Gostarr muito. Eu ter visto.
-Mesmo? Achei que também gostasse. – abandonou o livro temporariamente interessada.
-Eu gostar. Prrecisar melhorrar meu inglês.
-Está indo bem, eu acho. – sorriu gentil.
Estranhamente seu sorriso o fez parecer menos tenso e ele também sorriu.
-Ser péssimo em línguas. Meu professorr de inglês disserr que ter a língua prressa.
Hermione quis rir e não se conteve.
-Você não tem a língua presa! Precisa ver Rony tentando falar fraces. Isso sim é língua presa!
-Eu não conhecer ele...
-Eu sei. Somos amigos desde que começamos a estudar aqui. Ele e Herry. Você o conhece. Está competindo no torneio.
- Sim, Herry Potterr.
Um logo silencio seguiu a sua frase. Hermione resolveu voltar a sua leitura.
-Meu nome ser Vitor. – ele disse de repente e Hermione o viu corar, sobre sua pele morena. – é meio tolo, porque todos parecer me conhecerr menos ôce...
-Porque diz isso? – ficou surpresa – Eu sei quem você é! Vi seu jogo e gostei muito. Meus amigos são seus fãs...Eu apenas não sou muito interessada em quadribol... – deu de ombros. Querendo desfazer o mal entendido, afastou o cabelo do rosto e disse – Meu nome é Hermione Granger. – estendeu a mão e ele a apertou sem tirar os olhos dos seus. – Acho que estamos oficialmente apresentados.
-Sim...Seu nome não me ser estranho...Seus pais trabalhar para o ministerrio?
Hermione sentiu um balde de água fria cair sobre sua cabeça. Sua expressão fechou e soube que a conversa acabava ali. Esquecera que possuía outro defeito inaceitável: era uma sangue ruim.
-Não. Eles são trouxas.
Vitor abriu a boca para dizer algo, mas pareceu pensar melhor.
-E o que eles fazerr?
-São dentistas.
Ele pareceu não entender, mas não perguntou mais nada. Ambos voltaram a suas leituras por uma meia hora silenciosa. Ele olhava a todo o momento para a porta e Hermione imaginou que estivesse esperando sua legião de fãs aparecer e voarem em cima dele. Na verdade era surpreendente que ele já estivesse ali dentro há uma hora e nenhuma barejeira aparecera ainda.
-Herminone?
Hermione teve vontade de corrigi-lo, mas se conteve. Não era sua culpa ser búlgaro e ela Ter recebido um nome daqueles.
-Sim?
-Ôce terr companhia parra o baile?
Aquele assunto de novo. Porque todas as pessoas num raio de quilômetros precisavam falar apenas sobre isso?!
-Não...Ainda não. – confessou mortificada.
-Non? Porr que?
Havia realmente um tom surpreso na sua voz. Deu de ombros.
-Seus amigos non a querrem como parr?
-Eu disse que somos apenas amigos. Herry gosta de uma menina e o rony...Bem, ele tem outros critérios de escolha – revelou amarga.
-Eu ficar sabendo do baile antes de chegar aqui. – ele começou a falar. Hermione se impressionou em como ele poderia mudar de expressão tão rápido, parecia bem mais relaxado e até um pouco suave. –Meu diretorr avisarr que se não arrumassemos parr ele mesmo arrumaria parra nos...
Hermione sorriu de sua expressão de pânico por causa dessa hipótese.
-Porque não convidam uma dessas garotas que estão sempre...Ah...Bem... – ficou envergonhada.
-Non da parra pensar nisso! – ele riu – Ôce já ouvir o que elas disser?
-Na verdade eu procuro sair daqui antes de Ter essa oportunidade. – revelou sorrindo também.
-Eu perceber...Por isso enfeitiçar a porta.
-Como?
-Eu enfeitiçar a porta antes de entrarr...Para que ninguém possa entrarr...
-Como pode fazer isso? Quero dizer esse tipo de feitiço não pode funcionar aqui... – disse desconcertada.
-Eu pedir pra prof.Minerva que ela conseguisse um feitiço para me dar uma privacidade...
-Então acho melhor ir embora. – disse entendendo a deixa.
-Non!
Hermione havia se levantado e ele segurou seu braço antes que pudesse pegar um dos livros.
-Non era para ninguem entrar...Era para elas non entrar...
-Eu entendi – disse voltando a sentar – você pode retirar os livros e ler no seu quarto, sabia?
-Non temos uma livraria como essa na minha escola. Fiquei surprreso. – desconversou.
-Bem, eu realmente não posso ficar mais. – Hermione não estava mais conseguindo concentrar-se na leitura e resolver ir embora logo de vez.
-Porr que non ficar mais um pouco?
-Eu tenho que fazer umas coisas...
-Ôce non gostar de mim. – declarou com voz triste.
-Eu não o conheço a esse ponto, Vitor. – sorriu juntando os livros.
-Eu Ter aulas particular todas as noites com um professor que encantou meus livros...Eu só vir à biblioteca para poder ver õce...
-Acho que não entendi o que você disse.
Seu choque a fez parar de mover-se e ficar dura na cadeira.
-Eu a vir no dia do jogo com seus amigos e achar ocê interesante...e quando vir pra cá e a vi, quis convidar parra o baile...mas ôce sempre estar acompanhada de seus amigos...Que aqui é o único lugar que non ficam muito...Achei que pudesse falarr, mas ôce sempre sair quando eu entrar...e eu não conseguirr tomar coragem como queria....
-Está me convidando para o baile?
-Sim.
Uma parte sua gritou: Uau! E a parte chata: você sequer o conhece.
Deveria esperar um pouco mais. Quem sabe alguma coisa não acontecesse? Mas não podia desperdiçar um olhar tão intenso. Ele realmente estava interessado nela. Com seus cabelos crespos e sua inteligência. Com seus pais trouxas e tudo. Ele sabia que teria de entrar de braço com ela para toda a escola ver. E não se importava.
-Eu acho que quero ir com você sim...
-Mesmo? – um sorriso se abriu em sua boca.
Hermione maneou a cabeça concordando.
-Bem, agora tenho mesmo que ir. Tenho aula daqui a pouco.
-Cerrto. Até mais tarrde.
-Até.
Saiu e parou quando viu a fila de garotas esperando no corredor. Parvati batia o pé no chão bastante irritada. Obviamente contrariada por ela estar saindo dali quando ninguém mais conseguia entrar.Hermione abraçou os livros e sorriu. Estava sorrindo quando entrou na sala de aula do prof. Snap e sorriu durante toda a explicação sobre poções de carne de sapo... ainda sorria quando Snape chegou próximo a seu calderão e desdenhou sua poção que obviamente dera errado pela primeira vez em anos.
-Isso não é uma poção do amor, srta.granger. Preste mais atenção!
-Bem que ela precisa de uma para arrumar um par pro baile!
A voz sussurrada de Lilá a suas costas, alta o bastante para que todos ouvissem foi o bastante para que tomasse a decisão de não contar a ninguém sobre Vitor. Esperaria para ver suas expressões durante o baile. Ao contrario do esperado depois dessa provocação, Hermione virou-se sorrindo para Lilá e não disse nada...