Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

OI gente, tudo certinho?



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Quinn estava me esperando lá fora, sentada num muro baixo de tijolos perto da entrada. Quando me viu, pulou e estendeu a mão para os meus livros, como sempre fazia quando conseguia me acompanhar depois da escola.

- Perdemos o ônibus – observou ela. Não parecia desapontada.

- Podemos andar até o trabalho da mamãe. Ela leva a gente.

A Faculdade Grantley ficava apenas a alguns minutos da escola.

- Excelente ideia.

Caminhamos em direção ao campus no ar fresco da tarde de fim de outono. Depois de alguns instantes de silêncio, Quinn tirou do bolso do sobretudo um lenço engomadinho de linho com monograma e me entregou.

- Seu rosto está manchado de lágrimas.

- Obrigada. – Enxuguei as bochechas e assuei o nariz. – Aqui – falei, devolvendo o lenço.

Quinn levantou a mão, encolhendo-se.

- Fique com ele. Eu imploro. Tenho outros.

- Valeu.

- O prazer é meu, Rachel.

O olhar de Quinn estava distante, o tom de voz, distraído. Cerca de um quarteirão depois ela avançou um pouco à minha frente, voltou e abaixou a cabeça, examinando meu rosto.

- Aquele garoto...aquele Weston atarracado...

- O que é que tem o Brody?

Foi a minha vez de desviar os olhos, focalizando a rua ladeada de carvalhos.

- Ele... É... Você se sente realmente atraída por ele?

Cruzei os braços sobre o peito, dando de ombros.

- Ah, não sei. Tipo...

- Bom, você vai acompanha-lo ao tal baile de gala do qual todo mundo anda falando.

- É uma festinha de ginásio. Não é um “baile de gala”. Ninguém diz “gala”. Pelo menos ninguém em Woodrow Wilson.

Quinn franziu a testa.

- Gala, festa, tanto faz. Você o está cortejando?

Isso nos olhos de Quinn é sofrimento? Ou é só a escuridão de sempre?

- É só um encontro, mas... É, acho que sim – admiti, sem saber por que me sentia subitamente culpada. Não tinha motivo para isso. O fato de Quinn acreditar que estávamos noivas não me tornava uma adúltera. Fala sério. Mas ela continuou a me encarar, por isso acrescentei sem jeito: - Espero que não haja problema. Com o lance do pacto e coisa e tal.

- Só acho difícil entender.

- O quê? – Isso eu precisava ouvir. – Achei que você sempre soubesse de tudo.

- Ele nem defendeu você – disse Quinn, coçando o queixo, realmente confusa.

Fiquei um pouco na defensiva.

- Aqui as mulheres se defendem. Os homens não precisam lutar por nós. Já falei que posso cuida do Karoufsky.

- Não como eu posso fazer por você. Não como Weston deveria ter feito. Gostando ou não, você é limitada por ser franzina. Pode bater numa mosca eu posso esmaga-la. Qualquer pessoa digna teria interferido.

- Ei – Protestei. – Brody tem dignidade.

- Não o bastante para proteger você.

- Ah, Quinn – gemi. – Brody acha que você passou totalmente dos limites e ele está certo.

Quinn balançou a cabeça.

- Então ele não viu o seu rosto.

Fiquei sem saber o que responder.

Voltamos a andar em silêncio. Quinn continha o passo para me acompanhar. Parecia mais distraída ainda do que antes, com a testa franzida.

Passamos pelo portão do campus da Grantley, indo na direção do prédio onde ficava a sala da mamãe. De repente Quinn se animou.

- Você sabe dirigir, não sabe? Tem carteira?

- Bom, claro. Por quê? Aonde você quer ir?

Ao banco de sangue?

- Acho que eu gostaria de comprar uma calça jeans – anunciou Quinn. – Talvez uma camiseta. E eles são muito rígidos quanto a usar certo tipo de calçado na quadra. Minhas solas romenas violam algum tipo de regra. Parece que preciso de calçados que tenham uma asa desenhada na lateral se quiser jogar vôlei.

Parei de andar.

- Você quer comprar roupas comuns?

- Não, quero atualizar meu guarda-roupa de acordo com as normas culturais – corrigiu ela. – Você sabe como chegar aos outles dos quais ouço tanto falar, não sabe?

Quase engasguei.

- Espere bem aqui – falei, cutucando o peito de Quinn com um dedo. – Não se mexa. Vou perguntar se a mamãe me empresta a Kombi.

Ela precisava ver isso.

O que será que Quinn Fabray considera normal? E, mais importante, como uma romena imperiosa, acostumada a andar com calças pretas de alfaiataria, ficaria usando jeans?

                                              ***

- Para ser sincera, não sei como algumas dessas histórias começaram – reclamou Quinn, mexendo no rádio da Kombi, provavelmente procurando canções folclóricas da Croácia, mas acabando por aceitar a música clássica da estação pública. – Culpa de Hollywood, eu acho.

Mudei para estação de música pop, só pra irritá-la.

- Então, você acha que é capaz de virar morcega?

Quinn abaixou a música e me lançou um olhar insultada.

- Morcega? Por favor! Que vampiro de respeito iria se transformar em roedor alado? Você viraria um gambá se tivesse habilidade para isso?

- Acho que não. – Parei num sinal de trânsito. – De repente só uma vez, para ver como seria.

- Bom, os vampiros não podem se transformar em nada.

- E o alho? Repele vocês?

- Só no hálito de alguém.

- E as estacas? Vocês podem ser mortos com uma estaca?

- Qualquer um pode ser morto com uma estaca. Mas, sim. Isso é verdade. Aliás, uma estaca no coração é o único modo eficaz de destruir um vampiro.

- Ah, é. Claro.

- Para poupar seu tempo, vou acrescentar que não dormimos em caixões. Nem de cabeça pra baixo. Obviamente, não nos desintegramos ao sol. Como seria possível levar uma vida prática e útil desse modo?

- Até agora estou achando que ser vampiro é algo bem sem graça.

- Correndo o risco de puxar um assunto inconveniente e, de novo, pedindo desculpas, você não pareceu achar que meus caninos eram sem graça naquela noite. Na verdade, reagiu com bastante intensidade à aparência afiada deles.

E à sensação de suas mãos, do seu corpo... Não entra nessa, Rach.

- Como fez aquilo? Você estava com, tipo, uma prótese de dentes de plástico na boca?

Quinn me lançou um olhar incrédulo.

- Dentes de plástico? Eles pareciam de plástico?

- Não – admiti. – Mas as dentaduras parecem de verdade hoje em dia.

- Dentaduras. – Ela fungou. – Não seja ridícula. Aqueles eram... são meus dentes. É isso que os vampiros fazem. Nossos dentes crescem.

- Então faz agora – pedi, pegando a autoestrada e enfrentando o transito.

- Ah, Rachel. Não acho sensato enquanto você está dirigindo numa via movimentada. Você entrou em pânico naquela noite.

- Não consegue, não é? – desafiei. – Porque foi um truque idiota e você está sem o brinquedinho agora.

- Não me provoque Rachel. A não ser que queira que eu faça o que está me pedindo. Porque eu posso e o farei.

- Anda!

- Como quiser.

Quinn se virou pra mim, e mostrou os dentes e eu quase saí da pista. Ela agarrou o volante e puxou o carro de volta.

- Cacete.

Ela tinha feito de novo. Tinha mesmo. Olhei na direção dela, com cautela. Os dentes pontudos haviam sumido. É um truque. Um truque. Eu não cairia nessa. Os dentes são cobertos de esmalte, uma das substâncias mais duras do corpo. O esmalte não pode mudar de forma. É impossível, ao nível molecular.

- Precisa se acostumar a isso – repreendeu-me Quinn.

- Você comprou esse truque, tipo, numa loja de mágica?

- Não é um truque, pare de usar essa palavra. – Quinn tamborilava no banco de vinil da Kombi. Dava pra ver que estava ficando frustrada de novo. – A transformação vampírica é um fenômeno. Se você lesse o livro que lhe dei...

- Ah, meu Deus, aquela coisa. – Meu exemplar não desejado de Crescendo como morto-vivo ainda estava debaixo da cama. Eu queria jogá-lo fora, mas ficava adiando. Não estava a fim de pensar no motivo disso.

- É, “aquela coisa”. Se você lesse o guia, como deve, saberia que, na puberdade, os vampiros guerreiros adquirem a capacidade de fazer as presas crescerem. Isso acontece quando estamos furiosos. Ou... Excitados.

- Então você está dizendo que as “presas” são como... – Ia dizer “tesão” como se falasse isso todo dia. Mas, a verdade é que quase nunca tinha falado essa palavra em voz alta e descobri que, naquela hora, não ia conseguir. Mas Quinn entendeu.

- É. Exatamente. Com frequência acontece uma espécie de reação em cadeia, se é que você me entende. Mas, fica mais fácil de controlar, com a prática.

- Então por que eu não consigo, já que sou uma megavampira?

Cedo ou tarde eu iria confundi-la com a lógica. Mas Quinn contra-atacou.

- Você precisa ser mordida primeiro. Eu preciso morder você. É um grande privilégio dar a primeira mordida em sua noiva.

- Não comece com esse papo de noivado outra vez – respondi, séria. Ao ver a primeira entrada do outlet, fiz uma curva rápida. – Nem de brincadeira. Isso já era.

Quinn inclinou a cabeça.

- Já era?

- Isso aí.

Estacionei numa vaga.

- E os espelhos? Quando você experimentar as roupas, vai poder se enxergar no espelho?

Quinn esfregou as têmporas.

- Você estudou física básica na escola? Conhece os princípios da reflexão?

- Claro que conheço. Sou eu quem acredita na ciência, lembra? Eu só estava brincando. – Tirei a chave da ignição. – Então, vamos recapitular. Você não pode virar morcego, não se dissolve ao sol e é visível em espelhos. O que os vampiros podem fazer? Por que é tão irado ser um deles, afinal?

- O que haveria de tão maravilhoso em se dissolver ao sol? Ou em não poder se olhar num espelho pra ver se você se vestiu direito?

- Você sabe o que eu quero dizer. Fica aí dizendo que os vampiros são tudo de bom e eu só quero saber por quê.

A cabeça de Quinn tombou de volta no banco. Ela olhou para o teto da Kombi como se implorasse por paciência ou orientação.

- Somos apenas a raça mais poderosa de super-humanos. Temos o dom físico da raça e da força. Somos um povo de rituais e tradições. Possuímos poderes mentais ampliados: capacidade de nos comunicarmos pelo pensamento quando necessário. Governamos o lado obscuro da natureza. Isso é suficientemente “irado” pra você?

Segurei a maçaneta.

- Por que beber sangue?

Quinn deu um suspiro fundo, abrindo a porta.

- Por que todo mundo é obcecado pelo sangue? Há tanta coisa além disso.

Deixei pra lá, tinha ficado meio distraída agora que íamos fazer compras.

- Onde quer ir primeiro? – perguntei.

Quinn deu a volta pela frente da Kombi e pôs as mãos nos meus ombros, me virando para a loja da Levi´s.

- Ali.

Cinco lojas e uns 500 dólares depois, Quinn Fabray quase parecia uma adolescente americana. E, eu precisava admitir: uma adolescente americana muito gata. Ficava ainda melhor numa calça jeans do que em suas calças pretas. E quando vestiu uma camiseta colada branca, bom, o efeito foi bem interessante. Eu não teria mais vergonha de ficar perto dela. Nem um pouco. Mindy provavelmente desmaiaria ao ver a garota.

- E que tal se livrar do sobretudo de veludo? – perguntei.

- Nunca.

Retiro o que eu disse sobre a vergonha.

Estávamos indo para o carro, fazendo malabarismos com todas aquelas sacolas de compras, quando Quinn e segurou meu braço, largando uma sacola.

Eu me virei.

- O que foi?

Ela estava olhando a vitrine de uma loja chamada Boulevard St. Michel, uma butique de alto nível com roupas muito, muito caras. O tipo de roupas que as mulheres ricas usam em festas chiques. Eu nunca tinha nem pisado lá. Para começar, meu pai não acreditava em lavagem a seco, por causa da emissão de gases que faziam mal ao meio ambiente. E, por outro lado, eu não poderia comprar se quer um pé de sapato na Boulevard St. Michel. Nem mesmo depois de um verão inteiro servindo hambúrgueres na lanchonete.

- O que você está fazendo?

Acompanhei o olhar de Quinn. Ela continuou a olhar a vitrine.

- Aquele vestido... O com flores espalhadas no corpete.

- Você falou “corpete”?

- É, e a saia...

- O vestido com decote em V?

- É. Aquele mesmo. Você ficaria deslumbrante usando algo assim

Quinn realmente era uma sem-noção. Não só achava que era uma vampira, como agora acreditava que eu deveria me vestir como uma mulher de 30 anos que frequentava coquetéis. Dei uma gargalhada.

- Você é pirada mesmo. Aquilo é para mulheres que fazem coisas, tipo, ir a recitais ou sei lá o quê.

Ela me lançou um olhar.

- O que há de errado com um recital?

- Nada. Só que eu não frequento essas coisas. Você consegue me ver naquilo na competição de hipismo, por acaso? E aposto que custa uma grana preta.

- Experimente o vestido.

Recuei.

- Nem pensar. Tenho certeza de que eles não gostam de adolescentes entrando ali.

- Eles gostam de qualquer um que tenha dinheiro suficiente – zombou Quinn.

- Não vão gostar de mim, então. Não tenho dinheiro suficiente nem pra olhar.

- Eu tenho.

- Quinn...

Vou admitir que fiquei meio intrigada. Era mesmo um vestido lindo. Eu nunca havia experimentado nada parecido. Era tão sofisticado! Cor de creme fresco, com minúsculas flores pretas bordadas, espalhadas por todo canto, sem formar nenhum padrão, o que só o tornava mais bonito. Fez com que eu me lembrasse da teoria do caos: aleatório, porém belo em sua simplicidade. O decote era mais ousado do que qualquer coisa que eu já vestira. Dava pra ver o volume dos seios de plástico do manequim espiando acima do tecido. Do tecido caro.

Puxei o braço de Quinn.

- Anda, vamos embora.

Quinn me puxou de volta e claro que ela era mais forte do que eu.

- Dá só uma olhada. Toda mulher precisa de coisas bonitas.

- Eu não preciso daquilo.

- Claro que precisa. Você poderia usá-lo, digamos, na tal festa a que vai com o Atarracado. Seria perfeitamente adequado para eventos desse tipo.

- Ele não é atarracado.

- Experimente o vestido.

- Eu tenho muitas roupas – insisti.

- É. E deveria jogar todas fora. Especialmente a camiseta com o cavalo branco e o coração. Qual é o propósito daquilo?

- Mostrar que eu amo cavalos árabes.

- Eu amo carne malpassada, mas não ando com a imagem de um bife sangrento no peito.

- Já escolhi uma roupa.

Quinn fez uma cara de desprezo.

- Algo brilhante do shopping, imagino.

Fiquei vermelha. Odiava quando Quinn estava certa.

- Acredite em mim – disse ela. – Se usar aquele vestido, não vai se arrepender. Ele foi feito para você.

Estreitei os olhos.

- O que você sabe sobre vestir garotas?

- Não sei nada sobre vestir garotas, sei sobre vestir mulheres. – Quinn deu um sorrisinho superior. – Agora venha. Realize meu desejo.

Ela foi entrando na loja e eu tive que ir atrás. Como eu havia previsto, a vendedora não parecia nada empolgada ao ver duas estudantes de ensino médio em sua loja. Mas Quinn nem pareceu notar.

- Aquele vestido da vitrine, com o bordado. – E apontou pra mim. – Ela gostaria de experimentar. – Cruzando os braços e se inclinando um pouco pra trás, ela mediu meu corpo com olhos da cabeça aos pés. – Tamanho 38?

- Quarenta – murmurei.

- O 40 está na vitrine, naquele manequim – disse a vendedora. E pôs as mãos magricelas com unhas vermelhas nos quadris. – É muito complicado tirar. Se você não está falando sério sobre isso...

Epa. Eu não sabia muita coisa sobre Quinn Fabray, mas sabia com certeza que o tom da vendedora não a agradaria.

Quinn arqueou uma sobrancelha.

- Eu não pareci séria? – ela se inclinou para frente e leu o nome no crachá da mulher. – Louise Ann?

- Anda, Quinn... – Chamei e fui andando para a porta.

- Estamos com um pouco de pressa, portanto você poderia pegá-lo agora, por favor? – pediu Quinn, sem sair do lugar. De repente ficou muito fácil vê-la dando ordens aos serviçais num castelo.

A vendedora estreitou os olhos, avaliando Quinn. Aparentemente sentiu o cheiro de dinheiro no perfume dela, ouviu-a em seu sotaque ou viu-a em sua pose.

- Tudo bem – bufou ela. – Já que você insiste. – Em seguida se arrastou para a vitrine e voltou alguns minutos depois com o vestido. – Aqui. – disse, despejando-o nos meus braços. – Os provadores ficam no fundo.

- Obrigada – disse Quinn.

- Disponha.

Louise Ann foi para trás do balcão e passou a nos ignorar. Quinn me acompanhou em direção aos provadores. Fiz com que ela parasse na entrada, pondo uma das mãos firme sobre seu peito.

- Espere aqui.

- Mas, deixe-me ver como fica.

Na privacidade do provador, chutei meu tênis, tirei a calça jeans e a camiseta e pus o vestido, desejando estar com um sutiã mais bonito. Um sutiã que fizesse jus ao vestido.

Mesmo parecendo delicado, o tecido era mais pesado e macio do que qualquer coisa que eu já houvesse provado. Fechei o zíper nas costas até onde pude. O vestido se ajustou em volta de mim e de repente todas as partes que eu mais odiava no meu corpo se transformaram nas melhores. Meus seios preencheram o corpete de um jeito ainda melhor do que os volumes angulosos e pequenos do manequim. Ao me olhar no espelho, lembrei o que Quinn falara sobre garotas “pontudas” e a vantagem de ter curvas. Naquele vestido, entendi o que ela queria dizer. A bainha, fazia redemoinhos em volta dos meus joelhos e dei uma rodadinha, olhando a parte da frente. As costas. O tecido descia justo pelos meus quadris e folgava perfeitamente sobre a bunda. Quinn estava certa. Eu fiquei deslumbrante. Era como um vestido mágico.

- E então? – Quinn gritou do outro lado do provador. – Como ficou?

- É bonito. – Admiti, entendendo como me sentia de verdade. Linda.

- Então saia.

- Ah, não sei...

Eu estava meio sem graça de mostrar a ela. Olhei para o meu peito. A pele que geralmente era coberta por blusas estava exposta. O volume dos seios que eu sempre tentava esconder estava visível para o mundo inteiro ver. Para Quinn ver. Não era obsceno, de jeito nenhum. Mas, para mim, era revelador.

- Rachel, você prometeu.

- Ah, tá bom. – Tentei puxar o corpete um pouco para cima, mas não adiantava. Minhas curvas se recusavam a se esconder. – Tentei não rir. Nem ficar olhando demais.

- Não vou rir – prometeu Quinn. – Não haverá motivo para rir. Mas talvez eu fique olhando.

Respirando fundo, empurrei a cortina de lado.

Quinn estava sentada na cadeira posta ali para maridos entediados, as pernas cruzadas à frente do corpo. Mas, quando me viu, ficou de pé em um salto, como se eu tivesse lhe dado um choque. Eu juro que vi admiração em seus olhos verdes.

- É aí? – Resisti a ânsia de cruzar os braços sobre o peito quando girei para me olhar pelo espelho. – O que acha?

- Você... Você está incrível.

Quinn ficou de pé atrás de mim, jamais afastando o olhar.

- Sério?

- Linda, Anastácia – murmurou ela. – Linda.

Antes que eu pudesse lembra-la de não me chamar por aquele nome, Quinn chegou mais perto ainda, passou a mão por baixo do meu cabelo comprido e puxou o zíper até em cima.

- Sempre precisam de ajuda nos últimos centímetros.

Engoli em seco. Até que ponto ela era experiente?

- Ah, obrigada.

- O prazer foi meu. – Depois, para minha surpresa total, Quinn passou os dedos pelos meus cabelos e puxou-o num coque torcido, grande e frouxo, no topo da minha cabeça. De repente meu pescoço pareceu muito comprido. – É essa a aparência que uma princesa romena deve ter – disse, aproximando-se para sussurrar no meu ouvido. – Nunca mais diga que você não é inestimável, Anastácia. Ou que não é linda. Ou, pelo amor de Deus, que é “gorda”. Quando sentir vontade de cair nessa autocrítica ridícula e sem sentido, lembre-se de si mesma nesse momento.

Ninguém nunca tinha me elogiado dessa maneira.

Por um minuto, ficamos ali, me admirando. Encontrei o olhar de Quinn no espelho. Naquela fração de segundo quase pude nos visualizar... Juntas.

Então ela soltou meus cabelos que caiu pelas costas. E o feitiço se quebrou quando olhei a etiqueta de preço.

- Minha nossa! Preciso tirar isso. Agora mesmo. Antes que eu sue nele ou sei lá o quê.

Quinn revirou os olhos.

- Se você precisa usar a palavra “suar” em referência a si mesma, algo que desencorajo enfaticamente, use a palavra perspirar.

- É sério, Quinn. Vou começar a perspirar só por causa do preço.

Quinn se curvou para olhar os números na etiqueta e deu de ombros.

Entrei correndo de volta no provador, colocando minha calça jeans e amarrando meu tênis velho. O efeito princesa desaparecera. Com relutância, entreguei o vestido à vendedora, que aguardava, segurando uma linda echarpe de caxemira.

- Vou colocar na caixa para vocês.

Olhei em volta procurando Quinn e a encontrei parada no balcão, batendo um cartão de crédito no tampo de vidro.

- É caro demais – sussurrei, indo depressa até ela.

- Considere um agradecimento pelas orientações nas compras de hoje. Meu presente para sua noite de gala.

Procurei ironia ou sarcasmo nos olhos dela e não encontrei nada. O que isso significa? Que Quinn Fabray estava desistindo de me cortejar? Duvido. Será?

- Obrigada – falei em dúvida.

Louise Ann colocou cuidadosamente o vestido e a echarpe em duas caixas e as entregou para mim.

- Sucesso com o vestido.

Ela ficou bem mais calorosa depois que o cartão de crédito foi aprovado.

- Tenha um bom dia, Louise Ann – disse Quinn, enlaçando minha cintura e me guiando para fora da loja.

- Realmente, não sei o que dizer – gaguejei quando estávamos do lado de fora. – É um presente absurdo. Só o vestido custa uma fortuna e a echarpe é de caxemira.

- Sem dúvida vai fazer frio à noite e você não pode usar uma jaqueta jeans com aquele vestido.

- Bem, obrigada.

- Eu lhe disse que toda mulher merece coisas bonitas. Só espero que o Atarracado aprecie você nessa roupa. – Ela parou do lado de fora, examinando as lojas ao redor. – Não gostaria de um Morango Julius agora?


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Notas finais do capítulo

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