Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, tudo bem com vocês?



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— Sem chance de eu ser uma morta-viva – gemi.

Mas ninguém prestou atenção. Meus pais estavam concentrados demais no pé machucado de Quinn Fabray.

— Sente-se Quinn – ordenou minha mãe, parecendo contrariada com nós duas.

— Prefiro ficar de pé – respondeu Quinn.

Minha mãe apontou com firmeza para o círculo de cadeiras em volta da mesa da cozinha.

— Sente-se. Agora.

Nossa visitante ferida hesitou, mas, depois, murmurando baixinho, ocupou uma cadeira. Mamãe arrancou a bota dela, que tinha a marca visível de um dente de forcado, enquanto meu pai estava na cozinha, procurando o kit de primeiros socorros embaixo da pia e fazendo chá de ervas.

— Só está roxo – afirmou mamãe.

— Ah, que bom – disse papai. – Não estou mesmo encontrando os curativos. Mas ainda podemos tomar o chá.

A sujeita esguia que se declarava sugadora de sangue e tinha ocupado o meu lugar à mesa da cozinha me olhou com irritação.

— A sua sorte é que o meu sapateiro só usa couro da melhor qualidade. Você poderia ter me espetado. E não vai querer espetar uma vampira. Além do mais, isso é jeito de receber sua futura esposa ou qualquer visitante, por sinal? Usando um forcado?

— Quinn – interrompeu minha mãe. – Você pegou a Rachel desprevenida. Como expliquei antes, o pai dela e eu queríamos conversar com a menina antes.

— É, certamente vocês demoraram pra cumprir a tarefa. Dezessete anos. Alguém precisava intervir. – Quinn soltou o pé que minha mãe segurava e se levantou, mancando pela cozinha calçando uma bota só, como uma rainha inquieta em seu castelo. Pegou a lata de camomila, cheirou o conteúdo e franziu a testa. – Vocês bebem isso?

— Você vai gostar – prometeu meu pai. E serviu quatro canecas. – É muito calmante num momento de estresse como este.

— Nada de chá. Só me digam o que está acontecendo – implorei, sentando-me para recuperar minha cadeira. Ela não estava nem um pouco quente. Nem parecia que alguém tivesse sentado ali um pouquinho antes. – Alguém. Por favor. Desembucha.

— Respeitando o desejo dos seus pais, repassarei essa tarefa a eles – declarou Quinn. Em seguida levou a caneca fumegante aos lábios, bebericou e estremeceu. – Santo Deus, isso é medonho.

Ignorando Quinn, mamãe trocou um olhar cheio de significado com meu pai, como se os dois tivesse um segredo.

— Leroy, o que você acha?

Aparentemente o papai entendeu o que ela estava sugerindo, por que confirmou com a cabeça e disse:

— Vou pegar o pergaminho.

E saiu da cozinha.

— Pergaminho? – Pergaminhos. Pactos. Noivas. Por que todo mundo está falando em código?— Como assim?

— Ah, filha. – Mamãe se sentou na cadeira junto à minha e segurou minhas mãos com carinho. – Isso é bem complicado de explicar.

— Tente. – resmunguei.

— Você sempre soube que foi adotada na Romênia – começou mamãe. – E que seus pais biológicos foram mortos num conflito...

— Assassinados por camponeses – completou Quinn, com uma careta. – Pessoas supersticiosas, inclinadas a formar hordas malignas. – Ela levantou a tampa da pasta de amendoim orgânico do papai, provou um bocado e limpou os dedos nas calças, que eram pretas e justas nas pernas, quase como calças de montaria. – Por favor digam que há alguma coisa palatável nesta casa.

Mamãe se virou pra Quinn.

— Será que poderia ficar quieta por alguns minutos enquanto conto a história?

Quinn fez uma ligeira reverência, com o cabelo loiro reluzindo sob a lâmpada da cozinha.

— Claro. Continue.

Mamãe voltou pra atenção pra mim.

— Mas não lhe contamos a história toda porque o assunto parecia transtorná-la demais.

— Agora poderia ser uma boa hora pra isso – não tem como eu ficar mais transtornada do que já estou.

Mamãe tomou um gole do chá.

— É, bem... A verdade é que seus pais biológicos foram mortos por uma turba furiosa que tentava livrar sua aldeia dos vampiros.

— Vampiros? — Ela só podia estar brincando.

— É. – Confirmou ela. – Vampiros. Seus pais estavam entre os vampiros que eu estudava naquela época.

Certo, eu costumava ouvir palavras como fadas, espíritos da terra ou trolls em casa. Cultura e lendas folclóricas eram o foco das pesquisas da mamãe. Papai fazia seminários de “comunicação com anjos” no salão de ioga. Mas, com certeza, nem meus excêntricos pais levariam monstros de Hollywood a sério. Não é possível que eles acreditassem que meus pais biológicos viravam morcegos, se dissolviam à luz do sol ou tinham caninos enormes.

Ou era?

— Você mencionou que estava estudando algum tipo de seita – retornei a conversa. – Um subgrupo cultural com rituais estranhos. Mas nunca falou sobre vampiros.

— Você sempre foi muito lógica Rachel – disse mamãe. – Não gosta de coisas que não possam ser explicadas pela matemática ou pela ciência. Seu pai e eu tínhamos medo de que a verdade sobre seus pais biológicos pudesse perturbá-la demais. Por isso mantivemos as coisas um tanto vagas.

— Está dizendo que meus pais biológicos acreditavam mesmo que eram vampiros?

Mamãe confirmou com a cabeça.

— Bom...é.

— Eles não achavam que eram vampiros – resmungou Quinn. Ela havia apanhado a bota e estava pulando num pé só, tentando calçá-la. – Eles eram vampiros.

Enquanto eu olhava a nossa visitante boquiaberta e incrédula, o pensamento mais repugnante no mundo me passou pela cabeça. Aqueles rituais aos quais minha mãe havia se referido, relacionados aos meus pais biológicos...

— Eles... Eles não bebiam sangue de verdade...

A expressão da minha mãe disse tudo e eu achei que fosse desmaiar. Meus pais biológicos: esquisitões bebedores de sangue.

— É uma coisa muito, muito saborosa – comentou Quinn. – por acaso vocês não teriam aqui, no lugar desse chá...

Mamãe lhe lançou um olhar enfurecido.

Quinn franziu a testa.

— Não. Acho que não.

— As pessoas não bebem sangue – insisti, a voz meio aguda. – E vampiros não existem!

Quinn cruzou os braços, carrancuda.

— Com licença? Eu estou bem aqui.

— Quinn, por favor – disse mamãe, no tom calmo, porém sério que reservava para alunos difíceis. – Dê um tempo a Rach para ela processar as coisas. Sua tendência analítica a torna hostil ao mundo paranormal.

— Sou hostil a tudo que é impossível— gritei. – Ao que é irreal.

Naquele momento, papai voltou segurando com cuidado um rolo de pergaminho mofado.

— Historicamente, muitos povos não simpatizam com a ideia de mortos-vivos – observou papai, colocando o documento sobre a mesa. – E o final da década de 1980 foi um período ruim para os vampiros da Romênia. Havia grandes expurgos de meses em meses. Muitos vampiros gente boa foram eliminados.

— Seus pais que eram bastante poderosos dentro do grupo perceberam que estavam marcados para morrer e entregaram você a nós, antes de serem mortos, esperando que pudéssemos mantê-la segura nos Estados Unidos. – acrescentou mamãe.

— As pessoas não bebem sangue – repeti – Não bebem. Vocês não viram meus pais agindo como vampiros, viram? – desafiei. - Nunca os viram com dentes compridos e mordendo pescoços, não é? Sei que não. Porque isso não aconteceu.

— Não – admitiu mamãe, segurando minhas mãos de novo. – Não tivemos permissão pra isso.

— Por que não aconteceu.

— Porque é uma coisa muito particular, muito íntima – se intrometeu Quinn. – Não convidamos pessoas pra olhar. Os vampiros são sensuais, mas não são dados ao exibicionismo. Somos discretos.

— Mas não temos motivos pra acreditar que tenham mentido para nós com relação a beber sangue – completou mamãe. – E não há nada de desconcertante nisso Rach. Para eles, era bastante normal. Se você tivesse crescido na Romênia, dentro daquele grupo cultural, iria parecer normal para você também.

Soltei as mãos com força.

— Não mesmo.

Com um suspiro fundo, Quinn voltou a andar pra lá e pra cá.

— Sinceramente, não suporto mais isso. A história é bem simples. Você, Anastácia, é a última de uma longa linhagem de vampiros poderosos. Os Dragomir. Realeza vampírica.

Isso me fez gargalhar. Um riso esganiçado, histérico.

— Realeza vampírica? Tá legal.

— Sim, realeza. Esta é a última parte da história, que seus pais ainda parecem relutantes em contar. - Quinn se inclinou por cima da mesa, de frente pra mim, firmando os braços e me olhando. – Você é uma princesa vampira, herdeira da liderança dos Dragomir. Eu sou uma princesa vampira, herdeira de um clã igualmente poderoso, os Fabray. Mais poderoso, na verdade, mas esse não é o ponto. Nós fomos prometidas uma a outra numa cerimônia de noivado pouco depois de nascermos.

Com um olhar, pedi ajuda à minha mãe, mas tudo que ela disse foi:

— A cerimônia foi muito bonita, muito elaborada.

— Numa caverna enorme nos Cárpatos – acrescentou papai. – Com velas por toda parte. – Ele olhou pra minha mãe com admiração carinhosa. – Nenhuma pessoa de fora havia conseguido esse tipo de acesso antes.

Olhei-os furiosa.

— Vocês estavam ? Nessa tal cerimônia?

— Ah, conhecemos um monte de vampiros naquela viagem e testemunhamos muitos acontecimentos culturais interessantes. – Mamãe sorriu um pouquinho, recordando. – Você deveria ler meu resumo da pesquisa no Boletim de Cultura Popular do Leste Europeu. Foi um trabalho bastante notável, se me permitem dizer.

— Deixem-me terminar, por favor. – resmungou Quinn.

— Alto lá – censurou papai com gentileza. – Nessa pequena democracia todo mundo tem a chance de falar.

Pelo olhar desdenhoso que Quinn dirigiu ao meu pai, pude ver que ela não ligava muito para democracia. O delirante projeto de Drácula voltou a andar de um lado para o outro.

— A cerimônia de noivado selou nosso destino, Anastácia. Devemos nos casar logo depois de você alcançar a maioridade. Nossas linhagens serão unidas, consolidando a força dos nossos clãs e encerrando anos de rivalidade e guerra. – Os olhos verdes reluziram e se desviaram para longe. – Nossa ascensão ao poder será um momento glorioso. Cinco milhões de vampiros, a sua família e a minha juntas, todos sob o nosso comando.

Minha suposta noiva retornou bruscamente a realidade e me olhou, fungando.

— Eu farei todo o “trabalho pesado”, é óbvio, no que diz respeito à liderança.

— Vocês todos perderam a noção – declarei, olhando o rosto de cada um. – Isso é maluquice.

Então, Quinn chegou mais perto de mim e se abaixou até ficarmos cara a cara. Pela primeira vez vi curiosidade e não desdém, zombaria ou prepotência em seus olhos verdes.

— Seria mesmo tão repugnante, Anastácia, ficar comigo?

Não tive certeza do que ela quis dizer, mas achei que era sobre nós duas juntas, não numa jogada de poder político, mas de modo romântico.

Não falei nada. Será que Quinn Fabray realmente achava que eu iria me apaixonar por ela, só por causa do seu rostinho bonito e seu corpo de arrasar? Acreditava que eu dava a mínima para o fato de ela ter o perfume mais sensual que já senti...?

— Vamos mostrar o pergaminho a ela. – Interrompeu papai, quebrando o clima.

— É, está na hora. – Concordou mamãe.

Eu quase havia esquecido aquele papel mofado, mas então papai se sentou e desenrolou cuidadosamente o pergaminho sobre a mesa da cozinha. O frágil material estalou enquanto ele o alisava com os dedos gentis. As palavras – em romeno, pelo jeito – eram indecifráveis pra mim, mas aquilo parecia algum tipo de documento legal, com uma porção de assinaturas na parte de baixo. Desviei o olhar me recusando a prestar atenção aquele absurdo.

— Vou traduzir. – ofereceu Quinn, levantando-se. – A não ser, é claro, que a Anastácia tenha estudado romeno.

— É a próxima prioridade da minha lista – falei com os dentes trincados. Poliglota nojentinha.

— Seria bom você começar a aprender, minha futura esposa – rebateu Quinn, chegando ainda mais perto e se inclinando por cima do meu ombro para ler. Pude sentir sua respiração na minha bochecha. Era fria e doce. Mesmo contra o bom senso, continue inalando aquele perfume incomum, levando-o para o fundo dos meus pulmões. Quinn estava tão perto que meu cabelo escuro roçou seu queixo e ela, distraidamente, afastou as mechas, o que fez com que seus dedos tocassem meu rosto. Estremeci com o toque.

Se Quinn sentiu o mesmo choque que eu, não demonstrou, permanecendo concentrada no documento. Será que eu estou ficando lesada de tanto sentir esse perfume? Estou imaginando coisas?

Ajeitei ligeiramente o corpo na cadeira, tentando não encostar de novo em nossa convidada arrogante enquanto ela passava o dedo sob a primeira linha do pergaminho.

— Isso declara que você, Anastácia Dragomir, é prometida em casamento a mim, Quinn Fabray, logo depois de chegar a maturidade, aos 18 anos, e que todas as testemunhas concordam com esse acordo. E depois do casamento nossos clãs estarão unidos e em paz. – Ela se inclinou para trás. – Como eu disse, é bastante simples. E veja só: a assinatura do seu pai adotivo. E da sua mãe.

Não pude resistir a espiar quando ela disse isso. E, de fato, as assinaturas da mamãe e do papai estavam no documento, entre dezenas de nomes romenos estranhos.

Traidores.

Empurrando o pergaminho, cruzei os braços e fuzilei meus pais com o olhar.

— Como vocês puderam me prometer feito...feito uma vaca premiada?

— Não “prometemos você” Rachel. – Disse mamãe. – Na época você não era nossa filha. Só estávamos lá para testemunhar o ritual único, no interesse da pesquisa. Isso aconteceu antes do expurgo, semanas antes de adotarmos você. Não sabíamos o que o futuro nos reservava.

— Além disso, ninguém promete vacas – zombou Quinn. – Quem prometeria isso? Você é uma princesa vampira. Seu destino não lhe pertence totalmente.

Princesa... Ela está mesmo crente que eu sou uma princesa vampira... A sensação estranha, quase prazerosa, do momento em que ela roçou meu rosto foi esquecida quando a realidade me acertou de novo. Quinn Fabray era uma lunática.

— Se eu fosse uma vampira, teria vontade de morder alguém. Sentiria sede de sangue. - Argumentei numa última tentativa de enfiar um pouco de razão numa conversa que tinha evoluído para o absurdo.

— Você assumirá sua verdadeira natureza – prometeu Quinn. – Está chegando a idade. E quando eu mordê-la pela primeira vez, você será uma vampira. Eu lhe trouxe um livro, um guia, por assim dizer, que vai explicar tudo...

Levantei-me tão depressa que minha cadeira caiu no chão com estrondo.

— Ela não vai me morder – interrompi, apontando um dedo trêmulo para Quinn. – E não vou para Romênia me casar com ela! Não dou a mínima para essa “cerimônia de noivado” que fizeram!

— Todos vocês vão honrar o pacto – rosnou Quinn. Não era uma sugestão.

— Não banque a ditadora conosco Quinn – interveio papai, empurrando a cadeira para trás e coçando a barba. – Eu lhe disse: isso aqui é uma democracia. Vamos todos respirar fundo. Como disse Gandhi: “Devemos nos tornar a mudança que queremos ver”

Estava claro que Quinn nunca havia enfrentando um mestre da resistência pacífica, porque pareceu surpresa pelo modo como papai avaliava a situação: firme, porém afável, e totalmente anticonvencional.

— Que raios significa isso? – Perguntou ela.

— Ninguém vai tomar nenhuma decisão hoje – traduziu mamãe. – É tarde, estamos todos cansados e um tanto abalados. Além disso, Quinn, Rachel não está pronta pra pensar em casamento. Ela ainda nem beijou alguém, pelo amor de Deus.

Quinn deu um sorrisinho, arqueando uma sobrancelha.

— Sério? Nenhum pretendente? Que inesperado. Imaginei que sua habilidade com o forcado seria atraente para alguns solteiros aqui no interior.

Senti vontade de morrer. Ali mesmo. Queria correr para a gaveta das facas, pegar a maior que encontrasse e cravá-la no meu coração. Contar que nunca fui beijada era quase pior do que ser uma princesa vampira. O lance dos sanguessugas era uma fantasia ridícula, mas minha total falta de experiência... Era real.

— Mãe! Isso é constrangedor demais! Precisava contar?

— Bom, Rachel é verdade. Não quero que Quinn pense que você é uma garota experiente, pronta para um casamento.

— Não vou me aproveitar disso – prometeu Quinn, séria. – E ela não pode ser forçada a se casar, é claro. Esta é uma nova era. Infelizmente. Mas devo dizer que sou obrigada a prosseguir com a corte até que Anastácia perceba que seu lugar é ao meu lado. E ela perceberá.

— Não perceberei, não.

Quinn nem deu bola.

— A ligação entre nossos clãs foi decretada pelos membros mais antigos e mais poderosos: os Anciões das famílias Fabray e Dragomir. E os Anciões sempre conseguem o que querem.

Mamãe se levantou.

— A decisão será de Rachel, Quinn.

— Certamente. – Mas o meio sorriso condescendente no rosto de Quinn dizia o contrário. – E onde vou ficar?

— Ficar? – indagou papai, confuso.

— É. “Dormir” – esclareceu Quinn. – Fiz uma longa jornada, suportei meu primeiro dia no que chama de escola pública e estou exausta.

— Você não vai voltar para a escola – protestei em pânico. Eu havia me esquecido da escola. – Não pode!

— É claro que vou frequentar a escola.

— Como conseguiu se matricular? – Perguntou mamãe.

— Estou com o que chamam de “visto de estudante”. – Explicou Quinn.

— Os Anciões acharam que seria difícil explicar minha presença prolongada de outro modo. Os vampiros não gostam de levantar suspeita, como devem imaginar. Gostamos de nos misturar.

Gostam de se misturar? Usando um sobretudo de veludo em pleno verão. No condado de Lebanon, na Pensilvânia? No coração conservador da região rural do estado, onde pessoas duronas, de ascendência alemã, ainda acham que orelha furada é radical e, possivelmente, um passaporte para o inferno?

— Você é mesmo uma aluna de intercâmbio? – Perguntou papai franzindo a testa.

— Sou. A aluna de intercâmbio que está morando com vocês, para ser exata. – Esclareceu Quinn.

Mamãe levantou a mão com cautela.

— Nós nunca concordamos com isso.

— É – acrescentou papai. – Não teríamos que assinar alguma coisa? E a democracia?

Quinn gargalhou.

— Ah, burocracia. Um pequeno detalhe que foi resolvido na Romênia. Ninguém com bom senso recusa um pedido do clã Fabray. É falta de educação. E as consequências de nos recusar um favor...Bom, digamos apenas que as pessoas em toda parte tendem a arriscar o pescoço quando fazem isso.

— Quinn, você deveria ter nos consultado antes – protestou mamãe.

Os ombros de Quinn baixaram, mas só um pouquinho.

— É. Talvez nós tenhamos passado dos limites nesse aspecto. Mas vocês devem admitir que é uma honra me receber aqui. Sabiam que este dia e eu chegaríamos.

Papai pigarreou e olhou para mamãe.

— De fato prometemos aos Dragomir, há anos, que quando chegasse a hora...

— Ah, Leroy, não sei. Temos que pensar nos sentimentos da Rachel.

— Vocês prestaram um juramento a minha família – lembrou Quinn de novo. – Além disso, não tenho outro lugar pra ir. Não vou retornar a pseudopousada na cidade, onde dormi ontem à noite. A decoração do quarto tinha temática suína, pelo amor de Deus. Papel de parede com porcos, badulaques em forma de porcos por toda parte. E uma Fabray não dorme com suínos.

Mamãe suspirou, me tranquilizando com as mãos nos meus ombros.

— Acho que Quinn pode ficar no apartamento de hóspedes em cima da garagem enquanto pensamos na situação. Certo, Rachel? É só por um tempo, tenho certeza.

— A fazenda é de vocês mesmo – murmurei, sabendo que estava derrotada. Meus pais sempre recebiam os desgarrados. Gatos arredios, cachorros agressivos... Qualquer coisa sem-teto poderia morar na nossa fazenda, mesmo que ameaçasse morder.

E foi assim que uma adolescente que se dizia vampira passou a morar na nossa garagem no início do meu último ano de colégio. E não era uma vampira qualquer. Era minha arrogante e intrometida noiva vampira. A última pessoa com quem eu queria ir para a escola, quanto mais me unir por toda a eternidade.

Passei metade da noite em claro, pensando na minha vida arruinada. Meus pais biológicos eram membro de uma seita que jurava que bebia sangue. Não havia nada que eu pudesse fazer com relação a eles, a não ser tirá-los da cabeça. Essa história poderia continuar escondida no passado. E ficaria lá.

Mas o futuro... Tudo que eu queria era uma chance de namorar Brody Weston, um cara normal, e em vez disso, ganhei uma noiva-aberração, bem na minha garagem. Como se todo mundo na escola já não achasse que minha família era suficientemente bizarra, com a ioga do meu pai e sua improdutiva fazenda orgânica anticarne, e minha mãe, a provedora da família e especialista em superstições idiotas. Agora, sim, eu seria mesmo uma excluída. A garota do ensino médio noiva da “vampira”.

E que vampira.

Deitada na cama, eu não conseguia parar de pensar no perfume de Quinn, que senti quando ela se inclinou perto de mim. O poder que manifestou andando na sala de aula. O toque dos seus dedos no meu rosto. A afirmação de que um dia cravaria os dentes em mim.

Meu Deus, que psicopata!

Jogando as cobertas para o lado, me sentei na cama e abri a cortina, olhando pela janela na direção da garagem. Ainda havia uma luz acesa no apartamento que ficava em cima. Quinn estava acordada. Fazendo o quê?

Voltei a me deitar e puxei as cobertas, apertando-as em volta do pescoço – meu pescoço macio, vulnerável, ainda não beijado -, com parte de mim desejando a manhã que viria e a outra parte morrendo de medo.


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Notas finais do capítulo

Galera, desculpe pelos erros, é que passam despercebidos. Vou postar mais um hoje. É sério, já está prontinho.



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