Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, estou meio triste hoje. Mas vamos ao capítulo.



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– Rach, o que aconteceu com você naquele apartamento? – Perguntou Mindy, apertando o meu braço e me puxando quando comecei a subir a escada em direção à sala de química. Seus olhos estavam arregalados, implorando que eu a tranquilizasse e dissesse que tudo estava bem. – Você pode me contar. Sou sua melhor amiga.

– Não aconteceu nada – menti.

Eu queria contar tudo a Mindy. Toda aquela história maluca. Estava cansada demais de carregar sozinha um peso tão enorme. Mas não podia. Ela jamais acreditaria. E, se acreditasse, o que pensaria de mim se eu dissesse que bebi sangue? Que queria beber mais sangue? Voltei assubir a escada.

– A gente vai se atrasar pra aula.

Mindy manteve a mão no meu braço, ainda me puxando.

– Dane-se a aula. Preciso saber o que está acontecendo com você. Está correndo um papo aí de que você estava com sangue na boca, Rach. Que estava saindo do apartamento da Quinn e estava coberta de sangue.

– Essa é a coisa mais idiota que já escutei.

Mentiras se empilhando em mentiras.

Mindy deixou a mão escorregar pelo meu braço, segurou a minha mão e apertou.

– É a Quinn, Rach? Ela está maltratando você? Pode me contar. A agente consegue ajuda!

Ah, meu Deus... É isso que ela pensa...

– Não, Min. Eu juro. Se fosse, eu contaria. Juro. Quinn nunca encostou a mão em mim. – Não de um modo que eu não quisesse, que não desejasse... – Não é o que você está pensando.

Ela me encarou e me toquei de que havia falado demais.

– Mas é alguma coisa, Rach. Acabou de admitir.

– Não é nada Mindy.

Mindy soltou minha mão bruscamente, como se eu a tivesse traído. E tinha mesmo. Havia mentido para minha melhor amiga e ela sabia disso.

– Não acredito em você, Rach. Como pode não confiar em mim? – Desabafou ela, com a voz embargada. Mindy subiu a escada correndo, para longe.

Deixei-me desabar no meio da escada vazia. Mais solitária do que nunca. Tinha perdido Quinn, Brody e, agora, Mindy. Até meus pais pareciam estranhos vivendo num mundo mais simples, que eu havia deixado para trás. Meu único amigo era um vampiro velho que gostava de tomar cappuccino.

E, para completar, eu estava ganhando inimigos.

– Ora, ora, ora, se não é a Pacotão.

A voz desprezível vinha de cima. Olhei por cima do ombro e vi David Karoufsky e Blake Strausser parados no patamar.

– Vão se catar – respondi.

Eles desceram a escada, batendo os pés, me cercando.

– O que você está fazendo aberração? – zombou David, chutando minha canela.

Levantei-me, pronta, quase ansiosa para confrontá-los.

– O que vocês querem?

– Queremos saber que aberração está acontecendo naquela garagem da fazenda dos seus pais – disse Blake. Eu nunca havia notado como sua cabeça parecia grande com aquele cabelo precisando de um corte.

– Vocês dois usam demais a palavra “aberração” – observei. – Deviam consultar um dicionário de sinônimos. Tem um na biblioteca. Sabem onde fica a biblioteca, não sabem?

– Uuuh, a Pacotão está respondona hoje – zombou David.

Tentei passar, mas eles bloquearam o caminho.

– Não tão depressa – disse David.

– É – garantiu Blake. – Queremos saber o que aquela aberração...

– Sério, arranjem um sinônimo.

– ... o que aquela aberração que mora na sua casa está fazendo com a minha namorada.

A namorada dele? Era pra rir?

– Acho que Kitty tem uma namorada nova, caso ainda não tenha notado.

Blake fez uma careta. Seu rosto ficava meio feio quando ele sentia raiva.

– Aquela garota fez alguma coisa com a Kitty. Ela não é normal. Ela... ela... tipo, hipnotizou a garota.

– Não sei do que está falando. E não seja mau perdedor. O futebol não ensinou nada a você?

David deu um peteleco na minha orelha.

– Não fale assim com o Blake.

Dei um empurrão de alerta em David.

– Eu falo com ele como eu quiser. E nunca mais encoste a mão em mim.

– Ou o quê? Vai mandar sua guarda-costas me pegar? Porque por mim, pode vir.

– Nós sabemos sobre ela – acrescentou Blake, querendo me intimidar.

– Vocês não sabem nada.

– Sabemos sobre o sangue em você – disse David. – E sabemos tudo sobre os Fabray. Nós pesquisamos na internet. A garota acha que é uma vampira.

Era a primeira vez que eu ouvia alguém, além de Quinn e da minha família, usar aquela palavra. Meu sangue congelou.

– O quê?

– Uma vampira – repetiu Blake.

– E você sabe disso – declarou David, cutucando meu ombro.

– Vocês dois são malucos. Prestem atenção no que estão falando.

– Existe um site só sobre a família da Q, os tais da Romênia – disse Blake.

David deu um risinho.

– E sabe o que fazem na Romênia com os vampiros?

Engoli em seco. É, eu sei.

David fez um gesto como se cravasse uma estaca no peito.

– Eles já fizeram isso. De verdade. Fizeram com a família da Q. com os pais dela.

– E a gente não gosta de gente esquisita por aqui – afirmou Karoufsky.

Havia algo realmente ameaçador no modo como ele disse aquilo. Eu me forcei a rir. Mas meu riso pareceu superficial e medroso.

– Vocês dois são sem noção.

– Ah, acho que não...

David foi interrompido pela batida de uma porta acima de nós e o som de tênis correndo na escada.

– Você está aí – gritou Kitty Wilde, jogando-se nos braços de Blake, quase me derrubando nos últimos degraus.

Ela começou a soluçar agarrando Blake. Ele a segurava frouxamente, com a confusão estampada no rosto apático e idiota.

– O que foi gata?

– Ela terminou comigo – choramingou ela. – Aquela aberração...

Pronto. Eu ia ter que comprar um dicionário de sinônimos para dar a cada um deles na formatura.

– ...terminou comigo – repetiu ela, afastando-se e apontando para o peito com o polegar. – Deu o fora em mim! Kitty Wilde!

De repente ela percebeu que eu estava ali e voltou sua ira para mim, apontando o dedo na minha direção.

– Você... vocês duas.. vocês são...

– Aberrações?

– É! Odeio vocês duas. – Em seguida se virou para Blake, abraçando-o. – Nem sei por que rompi com você. É como se ela tivesse me enfeitiçado. Mas agora tudo parece esquisito demais.

Ela começou a chorar, grudada no Blake. A coisa me pareceu um pouco exagerada, mas o cara estava engolindo. Deu um tapinha nas costas dela com a mão grandalhona.

– Senti tanto sua falta! – disse Kitty, soluçando. – Por que fui me ligar naquela garota?

Parte de mim estava imensamente aliviada. Quinn tinha voltado a si. Tinha mandado Kitty passear. Talvez, apenas talvez, fosse um sinal de que iria honrar o pacto...

Minha alegria durou pouco. Soltando-se de Blake, Kitty voltou a me encarar, os olhos estreitados em fendas, a boca retorcida de fúria. Apontou aquele dedo para mim de novo, falando por entre os dentes trincados e as lágrimas.

– Diga a sua preciosa Quinn Fabray que ninguém, ninguém, dá o fora em Kitty Wilde. Ela vai se arrepender.

Kitty ainda estava me encarando furiosa quando cheguei ao topo da escada e olhei pra ela.

– Ela me paga – gritou Kitty pra mim.

Acreditei nela.

Tudo que eu havia posto em movimento com aquele copo de sangue derramado estava fugindo ao controle mais depressa ainda do que eu poderia supor.

Eu nunca tinha acreditado que David Karoufsky conseguiria ligar Quinn à palavra vampiro. Mas ele conseguiu. E agora Kitty estava furiosa com Quinn.

Por mais idiota que fosse, David descobrira a verdade. E Kitty era a pessoa certa para usá-la sem misericórdia.

Eu tinha subestimado meus inimigos.

Quinn diria que eu havia cometido um erro de principiante. O erro de uma garota que não estava pronta para comandar legiões de vampiros. Eu tinha muito a aprender e não havia tempo suficiente para isso.

***

– Quinn? – chamei. Minha voz ecoou no ginásio quase vazio.

O amplo espaço estava praticamente escuro, com apenas uma fileira de luzes acesas. Na outra ponta da quadra, Quinn treinava arremessos sozinha - como fez na garagem na noite do jantar com o Brody – daquele modo repetitivo, ritualístico... de novo e de novo, jamais errando. Jamais hesitando. Ela não se virou ao escutar minha voz e, sem saber se ela tinha ouvido, fui andando em sua direção pelo vasto piso de madeira.

– Quinn? – tentei de novo quando cheguei ao garrafão.

Ela passou a bola pelo aro e deixou-a quicar para longe, virando-se para mim, perplexo. Nada satisfeita.

– Rachel... como me achou?

– Vi você sair com a bola e está frio demais para jogar lá fora – respondi. Olhei o ginásio vazio. – Resolvi ver se você estava aqui.

– Como entrou? A escola está trancada.

– Do mesmo modo que você. Bati na janela onde o zelador estava trabalhando. Ele disse onde eu podia encontrar você.

– Ele costuma deixar a porta que fica mais perto do ginásio aberta para mim. Garanti que violar as regras valesse a pena pra ele, é claro.

Parte da raiva parecia ter se esvaindo de Quinn, como se houvesse se curado junto com os ferimentos. Mas a antiga Quinn não estava mais de volta. A vampira em minha frente parecia uma encarnação novinha em folha.

– Você está bem? – perguntei. – Ouvi falar sobre Kitty. Que você terminou com ela.

– É. Já havia rendido o suficiente, como acontece com esse tipo de coisa.

Percebi que Quinn e eu estávamos bem perto do lugar onde havíamos dançado, no baile de Natal, que parecia ter rolado numa vida anterior, apesar de apenas algumas semanas terem se passado. Por mais que tivéssemos ficado próximas naquela noite – nosso sangue quase se misturando -, parecíamos completamente distantes no ginásio vazio. Era como se eu tivesse parada do outro lado da quadra. Em outro planeta.

– Eu cometi um erro, Quinn, bebendo o sangue e deixando que Kitty me visse.

– Já cometi erros piores, Rachel. Não se preocupe desnecessariamente.

– Mas agora David está falando que você é uma vampira, Kitty está revoltada e todo mundo está fofocando. Até Mindy se afastou de mim, com medo dos boatos.

– É, muitas coisas parecem estar convergindo.

Quinn deu um sorriso torto, como eu esperava. Estava estranhamente silenciosa. Numa calma quase sobrenatural.

– O que vai fazer, Quinn?

Ela me deu as costas e arremessou a bola, convertendo uma cesta com facilidade.

– Jogar vôlei e basquete, Rachel. E esperar.

– Quinn...

– Boa noite, Rachel – disse ela, abafando qualquer resposta que eu pudesse ter dado com o som da bola quicando no piso de madeira, o guincho do tênis na quadra e o chiado da bola passando pela borda. De novo, de novo e de novo.

***

– Oi Mindy.

Apoiei as costas na parede de ladrilhos do ginásio e me sentei ao lado da minha amiga, que tinha sido eliminada antes de mim.

– Parece que isso doeu.

Mindy evitou meu olhar. Ficou observando o jogo de queimado como se tivesse feito uma aposta de um milhão de dólares em quem venceria.

– Foi só uma bolada.

– Mas aquela idiota da Dani mirou bem na sua cabeça.

Mindy se afastou só um pouco. Continuava sem me olhar.

– Não doeu tanto assim.

– Ainda está com raiva de mim? Ou só assustada? – perguntei.

Mindy deu de ombros.

– Um pouco dos dois, eu acho.

– Ah. Porque primeiro parecia que você sempre tinha uma desculpa para a gente não almoçar juntas. Depois desaprendeu a retornar telefonemas... Está me evitando há duas semanas, Mindy.

Mindy remexeu os cadarços do tênis, amarrando-os de novo com um tipo de concentração empregada por crianças de 5 anos.

– Estou ocupada, só isso.

Finalmente Mindy me olhou.

– Desculpa Rach, mas...

– Mas o quê?

– A coisa ficou esquisita demais pra mim.

– Então você acredita nos boatos.

Ela voltou a acompanhar o jogo de queimada.

– Não sei no que acreditar. E você não me conta nada.

– É complicado. Mas se puder confiar em mim por enquanto, até eu resolver...

Mindy se virou pra mim de novo, e dessa vez havia medo em seus olhos.

– Não é só com relação a você, Rach.

– Então o que é?

– É... é ela. Foi ela que mudou você. Ela fez alguma coisa com você. E fez com Kitty também. Ela mostrou os arranhões para as pessoas...

Mindy não precisava esclarecer quem era “ela”: Quinn.

– Tudo estava normal até que ela chegou e mudou você – disse Mindy, com sofrimento na voz, como se Quinn tivesse roubado alguma coisa dela. E acho que, segundo o ponto de vista de minha amiga, tinha mesmo.

– Não é culpa da Quinn. Quero dizer, não é culpa de ninguém, porque tudo está tranquilo.

– Não está, Rach. – O controle de Mindy foi se desfazendo. – Você sabe que eu gosto da Quinnie... eu gostava da Quinnie. Mas estão dizendo que ela não é normal. As pessoas estão com medo.

– Você não tem do que ter medo.

Mindy tentou sorrir, mas não conseguiu.

– Se você diz, Rach...

– Você vai ao meu aniversário, não vai? – perguntei.

Faltavam poucas semanas para eu completar 18 anos. Mindy e eu sempre havíamos comemorado os aniversários juntas. Trocávamos presentes, comíamos bolo e fazíamos pedidos, lado a lado, desde os 4 anos. Sacudi a mão dela.

– Vai estar lá?

Mas a força com que Mindy puxou a mão de volta e o modo como olhou ao redor para ver se alguém teria visto aquilo me revelou que a tradição chegara ao fim.

– Foi mal, Rach – disse Mindy, a garganta parecendo apertada. – Não posso. Não se ela estiver lá.

– Por favor, Mindy...

Mas não tive a chance de convencê-la, porque uma bola perdida acertou a parede acima da minha cabeça. Meu grito involuntário alertou a professora Larson para o fato de que Mindy e eu estávamos ali, à toa, e ela soprou seu apito.

– Tragam esse rabo de volta pra cá ou vão correr em volta da quadra – berrou ela, batendo palma com força. – Não fiquem aí paradas engordando, suas preguiçosas!

Levantei-me lentamente, com as costas deslizando pela parede, sempre procurando gastar o máximo de tempo possível da aula de educação física. Mas Mindy ficou de pé num instante, entrando na confusão, pegando a bola e arremessando-a contra nossas colegas com uma violência que me deixou pasma. Eu nunca tinha visto Mindy Stankowicz participar de verdade da aula de educação física. Ela sempre se esforçava ao máximo para ser a primeira eliminada de um jogo ou fingir que havia se machucado. E era a atriz mais convincente que já conheci para representar uma crise de cólica. Num só mês conseguiu ficar menstruada durante três semanas seguidas. Mas agora Mindy corria pela quadra, pegando cada bola perdida em que conseguia pôr as mãos, disparando como uma metralhadora num filme de gângster. E talvez me imaginasse lá, encolhida contra a parede.

– Venha pra cá também, Berry! – gritou a professora Larson, soprando o apito de novo. – Agora!

Mas achei melhor ignorá-la. Fiquei só olhando para Mindy durante alguns instantes, depois fui para o vestiário, pedindo licença com uma dignidade que minha professora de educação física pareceu incapaz de contradizer, pois nem tentou dar a ordem outra vez.


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Notas finais do capítulo

É isso, por enquanto.



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