Como Se Livrar De Uma Vampira Apaixonada escrita por Rafa


Capítulo 1
Conhecendo o meu carma


Notas iniciais do capítulo

A história está de volta, espero que gostem! Boa leitura!



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Na primeira vez que a vi, uma névoa pesada e cinzenta parecia se agarrar ao milharal, com faixas de neblina deslizando entre as plantas quase mortas. Era um inicio de manhã sombrio e eu estava esperando o ônibus escolar para o primeiro dia de aula, cuidando da minha vida, parada no fim da estradinha de terra que liga a casa de fazenda onde moro à estrada principal que leva à cidade.

Eu pensava em quantas vezes, nos últimos 12 anos tinha esperado aquele ônibus. Estava fazendo cálculos de cabeça quando notei a presença dela.

Então de repente aquele trecho familiar de asfalto pareceu terrivelmente desolado.

Ela estava parada sob uma enorme faia que ficava do outro lado da estrada, os braços cruzados na frente do peito. Os galhos baixos e retorcidos da árvore se enroscavam em volta dela, camuflando-a sob ramos, folhas e sombras. Mesmo assim dava pra ver que ela era alta e usava botas e um, sobretudo escuro que parecia uma capa.

Senti um aperto no peito e engoli em seco. Que tipo de pessoa fica parada debaixo de uma árvore, ao amanhecer, no meio do nada usando uma capa preta?

Ela deve ter percebido que eu a notei, porque se mexeu um pouco, como se decidisse se ia ficar ou ia embora.

Eu nunca havia me tocado de como ficava vulnerável todas aquelas manhãs, esperando sozinha ali fora, mas naquele momento essa constatação me atingiu como um soco no estômago.

Percorri com os olhos toda a extensão da estrada, o coração martelando. Cadê aquele ônibus idiota? E por que afinal meu pai precisa ser tão a favor do transporte coletivo? Por que não posso ter um carro, como quase todo colega do último ano do ensino médio? Mas, não, eu tinha que “compartilhar a viagem” par salvar o meio ambiente. Quando eu for sequestrada pela garota ameaçadora que está debaixo da árvore, é capaz do papai insistir para que minha foto de desaparecida seja impressa apenas em papel reciclado.

Na preciosa fração de segundo que perdi sentindo raiva do meu pai, a estranha saiu de onde estava, debaixo da árvore, e se moveu na minha direção. E no momento exato em que o ônibus, graças a Deus, surgiu no topo do morro uns 50 metros adiante, eu poderia jurar que a ouvi dizer “Anastácia”.

Meu antigo nome... O nome que recebi ao nascer, na Europa Oriental, antes de ser adotada e trazida para os Estados Unidos, onde fui rebatizada como Rachel Berry...Ou talvez eu tivesse ouvindo coisas, porque a palavra foi abafada pelo som de pneus sibilando no asfalto molhado, por engrenagens rangendo e pelo chiado da porta que o motorista, o velho Sr. Billy, abria pra mim. Eu te amo ônibus número 23. Nunca me senti tão feliz por entrar nele.

Com seu grunhido usual, “Dia Rach”, o Sr. Billy engrenou o ônibus e eu fui cambaleando pelo corredor, enquanto procurava um lugar vazio ou um rosto amigo em meio aos passageiros sonolentos. Às vezes era um saco morar na zona rural da Pensilvânia. Os adolescentes da cidade ainda deviam estar dormindo àquela hora, na segurança de suas camas.

Encontrei um assento bem no fundo e me deixei cair, com um suspiro de alívio. Será que estava exagerando? Talvez eu estivesse imaginando coisas ou minha cabeça estivesse confusa de tanto assistir àquele programa dos bandidos mais procurados do país. Ou, talvez, a estranha quisesse mesmo me fazer mal. Girando o pescoço dei uma espiada pela janela de trás e...meu coração se apertou.

Ela continuava lá, mas agora estava na estrada, cada uma de suas botas plantadas de um lado da faixa amarela, os braços ainda cruzados, observando o ônibus se afastar. Olhando pra mim.

“ Anastácia...”

Será que eu tinha mesmo escutado a garota me chamar usando aquele nome esquecido havia tanto tempo?

E se ela conhecesse esse fato obscuro, o que mais aquela estranha de cabelos dourados escondidos em meio à névoa saberia sobre meu passado?

Mais do que isso: o que ela estava querendo comigo no presente?

 

~*~

 

— Quer ouvir um resumo do verão que passei na colônia de férias? - Perguntou minha melhor amiga Melinda Stankowicz. Ela deu um suspiro, abriu a pesada porta de vidro da Escola Woodrow Wilson e disse:

— Crianças com saudades de casa, queimaduras de sol, urticária e aranhas enormes nos chuveiros.

— Parece que foi horrível trabalhar de monitora – comentei solidária ao entrarmos no corredor familiar, que cheirava a desinfetante e cera recém-aplicada. – Se serve de consolo, eu ganhei pelo menos dois quilos trabalhando como garçonete. Comia um pedaço de torta sempre que tinha uma folga.

— Você está com um corpão. – Mindy não deu bola pra minha reclamação – Já seu cabelo...

—Ei! – protestei, alisando meus fios desobedientes, que pareciam estar mesmo se rebelando na umidade do fim do verão. – fique sabendo que passei uma hora no secador e usei um “ótimo produto pós-escova” que me custou uma semana de gorjetas... – Parei de falar ao ver que Melinda estava distraída, sem me escutar. Acompanhei seu olhar pelo corredor, na direção dos armários.

— E por falar em corpão... – ela disse.

Brody Weston, que morava numa fazenda perto da minha, lutava com o novo segredo do seu armário. Franzindo os olhos pra um pedaço de papel na mão, girou o disco e chacoalhou a maçaneta. Uma camiseta branca nova em folha fazia seu bronzeado de verão parecer especialmente intenso. As mangas se apertavam ao redor dos bíceps volumosos.

— Brody está incrível – sussurrou enquanto nos aproximávamos do meu vizinho. – Deve ter entrado pra uma academia ou sei lá o quê. E não é que ele fez luzes?

— Ele juntou fardos de feno o verão todo sob o sol, Mindy – sussurrei de volta. – Ele não precisa de academia. Nem de água oxigenada no cabelo.

O moreno levantou os olhos enquanto passávamos e sorriu ao me ver.

— Oi Rach.

— Oi – respondi. Depois me deu um branco.

Melinda se intrometeu e evitou um silêncio constrangedor.

— Parece que deram o segredo errado a você – disse ela apontando com a cabeça na direção do armário ainda fechado de Brody. – já tentou dar um chute nele?

Brody ignorou a sugestão.

— Você não trabalhou ontem à noite, Rach?

— Não, saí da lanchonete. Era só um emprego de verão.

Ele pareceu meio desapontado.

— Ah. Bem, então acho que vou ver você só na escola.

— É. Com certeza vamos fazer algumas matérias juntos – completei sentindo minhas bochechas esquentarem. – A gente se vê.

Praticamente arrastei Mindy pelo corredor.

— Que papo foi aquele? – perguntou ela quando nos afastamos. Ela olhou para o garoto por cima do ombro. Meu rosto ficou ainda mais quente.

— Como assim?

— Brody todo triste porque você saiu da lanchonete. Você ficando vermelha...

— Ih, nada haver. Ele apareceu umas vezes perto do fim do meu turno e me deu carona pra casa. A gente conversou um pouco... E eu não estou vermelha.

— Sério? – O sorriso dela era presunçoso. – Você e Brody, hein?

— Não foi nada de mais – insisti.

Os olhos de Melinda brilhavam. Ela sabia que eu não estava sendo completamente sincera.

— Esse ano vai ser bem interessante – previu ela.

— E por falar em interessante...

Ia começar a contar a minha amiga sobre a estranha amedrontadora no ponto de ônibus, mas, no momento em que pensei nela os pêlos da minha nuca se eriçaram, quase como se eu tivesse sendo vigiada.

“Anastácia...”

A voz meio rouca e profunda ecoou no meu cérebro, como se fosse um daqueles pesadelos de que não nos lembramos muito bem ao acordar.

Cocei a nuca. Talvez eu contasse a história a minha melhor amiga mais tarde. Ou talvez a coisa toda simplesmente sumisse da minha memória e eu nunca mais voltasse a pensar na garota.

Era provavelmente o que iria acontecer.

Mas a sensação esquisita não passou.

 

 

~*~

 

 

— Esta matéria será muito estimulante – prometeu a Sra. Welmon, borbulhando de entusiasmo enquanto entregava a lista de leitura de literatura inglesa do terceiro ano, que ia de Shakespeare a Bram Stoker.

— Vocês vão simplesmente adorar os clássicos que escolhi. Preparem-se para um ano de sagas épicas, romances de acelerar o coração e confronto de grandes exércitos. Tudo isso sem precisar pôr os pés pra fora da Escola Woodrow Wilson.

Pelo jeito nem todo mundo ficou tão extasiado com confronto de exércitos e corações acelerados quanto a Sra. Welmon, porque ouvi um monte de gemidos enquanto a lista circulava pela turma. Minha cópia chegou pelas mãos do meu eterno tormento, Dave Karofsky, que havia se sentado na carteira à minha frente como uma enorme bola de gosma. Fiz uma avaliação rápida da lista. Ah, não. Ivanhoé, não. E Moby Dick... quem tinha tempo pra Moby Dick? Esse deveria ser o ano em que eu teria uma vida social. Para não mencionar Drácula... Dá um tempo. Se havia uma coisa que eu odiava eram historinhas macabras sem qualquer embasamento na realidade ou na lógica. Esse era o território dos meus pais e eu não tinha interesse em entrar nele.

Lancei um olhar rápido pra Mindy sentada do outro lado do corredor, e vi pânico e sofrimento nos olhos dela também.

— “Uivantes”? Essa palavra existe? – sussurrou ela.

— Não faço ideia – respondi. – A gente procura depois.

— Também quero que vocês preencham esse mapa das carteiras – continuou a Sra. Welmon, suas sapatilhas chiando no chão da sala.

— O lugar que escolheram para se sentar vai ser o mesmo o ano todo. Estou vendo alguns rostos novos e quero que vocês conheçam uns aos outros o mais depressa possível, portanto não troquem de lugar.

Afundei na cadeira. Maravilha! Eu estava destinada a passar o ano inteiro ouvindo os comentários maldosos e imbecis que Karofsky certamente faria sempre que se virasse pra entregar alguma coisa. E Kitty Wilde, a líder de torcida nojenta, havia ficado com a carteira logo atrás de mim. Eu estava encurralada entre duas das pessoas mais perversas da escola. Pelo menos Mindy estava ao lado. E, olhando pra esquerda, vi que Brody tinha encontrado uma carteira perto da minha. Ele sorriu pra mim. Acho que poderia ter sido pior. Mas não muito.

Dave se virou pra trás e jogou o mapa dos lugares para mim.

— Pega aí, Pacotão – zombou ele, usando o apelido que me dera no jardim de infância – Ponha isso no mapa.

É. Imbecil e maldoso, exatamente como eu havia previsto. E só faltam 180 dias de aula.

— Pelo menos eu sei escrever o meu nome – alfinetei. Babaca.

Karofsky girou para frente com uma careta de desprezo e eu enfiei a mão na mochila para pegar uma caneta. Quando fui escrever o nome, vi que a caneta estava seca, provavelmente porque tinha ficado sem tampa o verão inteiro. Dei uma sacudida nela e tentei de novo. Nada.

Comecei a me virar pra esquerda, achando que talvez Brody pudesse me emprestar uma caneta. Mas, antes mesmo de pedir, senti um tapinha no ombro direito. Agora não... Agora não... Pensei em ignorar, mas a pessoa insistiu.

— Com licença, você precisa de um instrumento de escrita?

A voz profunda, com sotaque europeu, vinda de trás. Não tive escolha a não ser me virar.

Não!

Era ela. A garota do ponto de ônibus. Eu teria reconhecido em qualquer lugar a roupa estranha – o sobretudo, as botas – para não falar de sua postura imponente. Só que dessa vez ela estava bem perto. O bastante para eu ver seus olhos eles eram verdes e parecia que escureciam e se cravavam em mim de um jeito tranquilo e um tanto irritante. Engoli seco, congelada na cadeira.

Será que ela tinha estado na sala esse tempo todo? Nesse caso, por que não a notei antes?

Talvez porque ela estivesse um pouco afastada do resto de nós. Ou porque o canto que ela ocupava parecesse mais escuro, já que a luz fluorescente sobre a carteira dela estava apagada. Mas era mais do que isso. Era quase como se ela criasse a escuridão. Isso é ridículo, Rach... Ela é uma pessoa, não um buraco negro.

— Você precisa de um instrumento de escrita, não é? – repetiu ela estendendo o braço, um braço comprido e definido, para me oferecer uma brilhante caneta dourada. Nada haver com as Bics de plástico que todo mundo usava. Só pelo modo como reluzia dava para ver que era cara. Quando hesitei, uma expressão de irritação atravessou seu rosto aristocrático e ela balançou a caneta pra mim. – Você conhece uma caneta, não é? Não se trata de um objeto familiar? - Não gostei do sarcasmo e nem de como ela havia surgido perto de mim duas vezes num mesmo dia, vindo do nada, e fiquei olhando estupidamente, até que Kitty Wilde se inclinou para frente e beliscou meu braço. Com força.

— Só assina o mapa, Jenn, beleza?

— Aiê!

Esfreguei o que iria virar um hematoma, desejando ter coragem de dar um fora em Kitty, tanto por me beliscar quanto por trocar meu nome. Mas a última pessoa a se meter com Kitty Wilde acabou se transferindo para Santa Mônica, a escola católica da região, para se ter ideia de como Kitty havia infernizado a vida dela na Woodrow Wilson.

— Anda logo, Jenn – repetiu ríspida.

— Tá, tá.

Com relutância, estendi a mão para a estranha e aceitei a caneta pesada. Quando nossos dedos se tocaram, tive a sensação mais bizarra de todas. Tive um déjà-vu trombando com uma premonição. O passado colidindo com o futuro.

Então ela sorriu, revelando os dentes mais perfeitos, alinhados e brancos que eu já tinha visto. Eles brilhavam. Acima dela a luz fluorescente se acendeu por um instante, piscando como um relâmpago.

Ok! Isso foi esquisito.

Minha mão tremeu um pouco enquanto eu escrevia meu nome no mapa de lugares. Era idiotice pirar daquele jeito. Ela era só outra aluna. Obviamente recém-chegada. Talvez morasse perto da nossa fazenda. Devia estar esperando o ônibus, assim como eu, e de algum modo não conseguiu embarcar. Seu surgimento meio misterioso na sala de aula – pertinho de mim – provavelmente também não era motivo pra alarde.

Olhei para Mindy procurando a opinião dela. Estava na cara que estivera esperando que eu fizesse contato. Com os olhos arregalados balançou o polegar na direção da garota. Falando sem som: “Ela é muito gata!”

Gata?

— Tá maluca? – sussurrei. É, a garota era tecnicamente bonita. Mas também era aterrorizante com o sobretudo, as botas e a capacidade de se materializar perto de mim parecendo vir de lugar nenhum.

— O mapa, anda! – resmungou Kitty atrás de mim.

— Toma. – Passei o mapa por cima do ombro, e quando Kitty puxou o papel da minha mão, ganhei um corte fino, porém profundo. – Ai!

Sacudi o dedo que ardia e sangrava, depois o enfiei na boca, sentindo o gosto salgado na língua, antes de virar para o lado e devolver a caneta.

Quanto mais depressa, melhor...

— Aqui, obrigada!

A garota que gerava sua própria escuridão olhou para os meus dedos e percebi que meu sangue tinha sujado a sua caneta cara.

— Ah, desculpa – falei, enxugando a caneta na minha perna, por falta de lenço de papel. Eca! Será que essa mancha vai sair da minha calça jeans?

Seu olhar acompanhou meus dedos e achei que ela tivesse sentindo repulsa por eu estar sangrando. Vi algo bem diferente de nojo naqueles olhos verde marelado. E então ela passou a língua devagar sobre o lábio inferior.

O que é que foi aquilo?

Joguei a caneta pra ela e me ajeitei na cadeira. Eu devia trocar de escola, como a garota que se meteu com a Kitty. Vou pra Santa Mônica. É o jeito. Não é tarde de mais...

O mapa dos lugares voltou à Sra. Welmon e ela leu os nomes, depois levantou a cabeça com um sorriso que se dirigia para além da minha carteira.

— Vamos dar boas-vindas a nossa nova aluna de intercâmbio Quinn... – franzindo a testa, ela olhou de novo para o gráfico. – Fa-bray. Falei certo?

A maioria dos alunos teria apenas murmurado “É, tudo bem”. Quem se importaria tanto com um sobrenome?

A minha perseguidora, é claro.

— Não – retrucou ela. – Não está certo.

Atrás de mim ouvi uma cadeira raspando no linóleo e então uma sombra se ergueu acima do meu ombro. Os pelos da minha nuca se eriçaram de novo.

— Ah – gemeu a Sra. Welmon, parecendo um tanto intimidada enquanto uma adolescente mediana usando um sobretudo preto de veludo avançava pelo corredor. Ela ergueu um dedo cauteloso, como se fosse mandar que se sentasse, mas a estranha passou direto.

Ela pegou um marcador no suporte ao lado do quadro branco, tirou a tampa com autoridade e escreveu a palavra Fabray numa letra floreada.

— Meu nome é Quinn Fabray – anunciou, apontando a palavra. – Fa-BRAY. Ênfase na sílaba final, por favor.

Cruzando as mãos às costas, ela começou a andar de um lado para o outro, como se fosse a professora. Fez contato visual com cada aluno da sala, obviamente nos avaliando. Pela expressão dela, senti que fomos considerados um tanto medíocres.

— O sobrenome Fabray é bastante reverenciado na Europa Oriental – disse em tom de sermão. – É nobre. – Ela parou de andar e cravou os seus olhos nos meus. – Um nome da realeza.

Eu não fazia ideia do que ela estava falando.

— Isso não faz “cair a ficha”, como vocês costumam dizer? – A pergunta era para a turma em geral, mas ela continuava me olhando.

Meu Deus, seus olhos agora estavam negros.

Encolhi-me, olhando pra Mindy, que estava se abanando e me ignorando. Era como se tivesse enfeitiçada. Todo mundo estava. Ninguém se mexia nem abria a boca.

Contra a vontade, voltei a atenção para a adolescente que havia se apoderado da aula de literatura inglesa. E era quase impossível não olhá-la.

O cabelo brilhoso e ligeiramente comprido de Quinn Fabray parecia deslocado no condado de Lebanon, na Pensilvânia, mas combinaria muito bem com as modelos europeias das revistas Cosmopolitan de Melinda. Ela tem um corpo definido e postura de uma modelo, também, com um rosto suave, nariz pequeno e queixo forte. E aqueles olhos...

Por que ela não parava de me olhar?

— Gostaria de nos contar mais alguma coisa a seu respeito? – sugeriu finalmente a Sra. Welmon.

Quinn Fabray se virou para encará-la e tampou o marcador com um estalo firme.

— Na verdade, não.

A resposta não foi grosseira, mas ela também não se dirigiu a Sra, Welmon como uma aluna. Foi mais como alguém do mesmo nível.

— Tenho certeza de que adoraríamos saber mais sobre suas origens – insistiu a professora. – Parece mesmo interessante.

Mas Quinn Fabray tinha voltado sua atenção pra mim.

Afundei na minha cadeira. Será que todo mundo tá vendo isso?

— Vocês saberão mais sobre mim no momento oportuno – disse Quinn. Havia uma leve frustração em sua voz e eu não entendi por quê. Mas isso me assustou. – É uma promessa – acrescentou ela me encarando.

Pareceu mais uma ameaça.

— Viu como a garota estrangeira estava secando você na aula de literatura inglesa? – berrou Mindy quando nos encontramos depois das aulas. – Ela é muito linda e está afim de você! E é da realeza.

Apertei o pulso dela, tentando acalmá-la.

— Mindy, antes de você comprar um presente para o nosso casamento “real”, tenho que dizer uma coisa sobre essa garota supostamente linda.

Minha amiga cruzou os braços, incrédula. Dava pra ver que Mindy já tinha uma opinião formada sobre Quinn Fabary, baseada totalmente em corpo atlético e atitude — O que você poderia saber sobre ela que fosse apavorante? Nós acabamos de conhecer a garota.

— Na verdade eu a vi hoje cedo. Aquela garota, Quinn, estava no ponto de ônibus. Me encarando.

— Só isso? – A garota revirou os olhos – Talvez ela venha pra escola de ônibus.

— Não veio.

— Então ela perdeu o ônibus – ela deu de ombros – Isso é idiota, mas não é apavorante.

— É mais esquisito do que isso – insisti – Eu... eu acho que ela disse o meu nome. No momento em que o ônibus apareceu.

Mindy pareceu confusa.

— Meu nome antigo – esclareci.

Minha melhor amiga inspirou fundo.

— Certo. Isso pode ser meio esquisito.

— Ninguém sabe aquele nome. Ninguém.

Na verdade nem Mindy sabia muito sobre o meu passado. A história da minha adoção era um segredo bem guardado. Se fosse revelado, as pessoas iam me achar uma aberração. Sem dúvida eu me sentia uma aberração toda vez que pensava na história. Minha mãe adotiva, que era antropóloga, tinha ido estudar uma seita clandestina e exótica na região central da Romênia. Estava lá com o meu pai pra observar os rituais da seita, esperando escrever um de seus artigos reveladores sobre subgrupos culturais. Mas as coisas se complicaram lá na Europa Oriental. A seita era um pouco esquisita demais, e alguns aldeões romenos formaram uma conspiração, decididos a dar um fim àquele grupo. À força.

Pouco antes do ataque, meus pais biológicos me entregaram ainda bebê, aos pesquisadores americanos que estavam de visita, implorando que me levassem aos Estados Unidos, onde eu ficaria em segurança.

Eu odiava essa história. Odiava o fato de que meus pais biológicos eram pessoas ignorantes, supersticiosas, que foram iludidas a ponto de entrarem para uma seita. Eu nem queria saber como eram os rituais. Sabia que tipo de coisas minha mãe estudava. Sacrifícios de animais, culto às árvores, virgens jogadas em vulcões... Talvez meus pais biológicos estivessem envolvidos em alguma bizarrice sexual. Talvez por isso tivessem sido assassinados.

Quem sabia? Quem queria saber?

Nunca pedi detalhes e meus pais adotivos não me forçaram a saber mais do que já sabia. Eu me sentia feliz em ser Rachel Berry, americana. Pra mim, Anastácia Dragomir não existia.

— Tem certeza de ela sabia o seu nome? – perguntou.

— Não – admiti. – Mas achei ter ouvido.

— Ah, Rach. – Mindy suspirou. – Ninguém conhece esse nome. Você provavelmente imaginou a coisa toda. Ou então ela disse uma palavra que se parece com Anastácia.

Olhei atravessado pra Mindy.

— Que palavra se parece com Anastácia?

— Sei lá. Que tal “atrasada”.

— Tá falando sério? Isso nem rima.

Mas até que isso me fez rir. Fomos andando até a rua para esperar que minha mãe viesse me pegar. Eu tinha ligado na hora do almoço dizendo que não ia pegar o ônibus pra casa.

Mindy fez sua última tentativa.

— Só estou dizendo que talvez você devesse dar uma chance a Quinn

— Por quê?

— Porque... porque ela é linda... – explicou a morena, como se beleza fosse prova de bom caráter. – E já mencionei que é europeia?

A velha Kombi enferrujada da minha mãe chegou chacoalhando junto ao meio-fio e acenei pra ela.

— É muito melhor ser perseguida por uma bela europeia do que por um americano baixinho e feio - ironizei.

— Bem, pelo menos Quinn está prestando atenção em você – fungou Mindy. – Ninguém nunca presta atenção em mim.

Chegamos até a Kombi e abri a porta. Antes que eu pudesse dizer “oi”, Mindy me empurrou de lado, se inclinou para dentro e declarou:

— Rach tá namorando, Dra. Corcoran!

 

 


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Notas finais do capítulo

Então vambora



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