Era de madrugada, a hora em que apenas as estrelas pairavam no céu, e a trilha que levava à Celtica estava deserta e diante dela, só dava para ver árvores e névoa.

Katarina não se importava. Na verdade, quando estava sozinha no meio da noite era a hora que ela mais se sentia confortável. Ela conseguia se movimentar mais furtivamente, e isso fazia com que fosse mais fácil, e até mais divertido, procurar suas presas.

Sorriu para si mesma ao lembrar dos olhares apavorados e dos ultimos suspiros de suas vítimas. Mas seu real prazer não era tirar vidas humanas. Queria tirar vidas de sua própria espécie, o gosto do sangue era muito melhor. Mas precisava controlar esse desejo, pois muitas vezes traziam problemas.

Talvez seu sexto sentido a tenha avisado, pois enquanto estava perdida em seus pensamentos, sentiu a presença de alguém. Continuou andando sem certeza de nada, porém seus ouvidos aguçados nunca a traiam, então percebeu que estava certa. Pôde ouvir o coração do ser logo atrás dela. Deu um pequeno sorriso ao pensar que sua próxima vítima fosse um alvo tão fácil.

Virou rapidamente para trás, assustando o homem que a perseguia. Porém o sorriso na face de Katarina sumiu ao perceber quem era. O padre em sua frente, com o símbolo de uma cruz tatuada em sua testa que estava sorrindo agora.

- Nos encontramos novamente, Katarina.

A mulher se permitiu arregalar seus olhos verdes, com uma cicatriz no lado esquerdo, e percebeu que foi um erro gravíssimo, pois o homem percebeu a incerteza nas esmeraldas. Logo se recuperou.

- Acho que estou ficando cansada desses seus joguinhos, Apollo. - Katarina disse em um tom ríspido, quase cuspindo as ultimas palavras.

O homem nada mais disse, apenas abriu uma bíblia. A mulher de cabelos longos e ruivos sabia muito bem o que isso significava. Recuou alguns passos.

Apollo começou a proferir algumas palavras em outra lingua e, por fim, jogou a bíblia no chão e dela surgiu dez shurikens, todas voando na mesma direção.

Katarina se desviou das cinco primeiras, conseguiu pegar o sexto shuriken, vindo diretamente em seu rosto faltando alguns segundos para fazer um corte profundo e jogou de volta, mas o padre não foi atingido. Dois shurikens passaram raspando em seu braço direito, rasgando o tecido de sua jaqueta, fazendo um corte em seu braço.

Depois que os objetos cortantes foram desviados, Katarina olhou para Apollo, seus olhos emitiam um brilho enfurecido. Pegou em um estojo que levava na cintura várias das mesmas shurikens, e se concentrou por alguns momentos, e antes de jogá-las, cuspiu um líquido esverdeado.

Quando jogou, Apollo arregalou os olhos, sabendo o que significava aquele líquido. Tinha que se desviar de todas, sem exceção. Um pequeno erro poderia ser fatal. Apenas um arranhão contendo aquele veneno o deixaria fraco, em seguida o mataria.

Porém sua missão não teve sucesso. Achando que tinha desviado de todos, relaxou. Katarina, ao perceber o gesto de seu inimigo, deu um sorriso frio. Jogou a ultima shuriken que ainda estava em sua mão, contendo o veneno. E quando Apollo percebeu seu erro, já era tarde demais. A shuriken cortou um pedaço de seu rosto, queimando sua pele.

Ele caiu de joelhos, gritando de dor. Katarina tirou sua faca de caça da bainha e foi andando calmamente em direção ao padre.

Segurou o rosto do homem em suas mãos em um gesto nada gentil. Colocou a faca perto de sua garganta.

Apollo já não estava mais gritando, alternava seu olhar ora para a linda e imortal mulher, ora para o brilho metálico em sua mão.

- Acho que seus amiguinhos deveriam pensar duas vezes antes de mandar apenas um de vocês virem me matar.

- Maldita seja você... - Apollo conseguiu dizer, sua voz trêmula. - Você e todo seu bando. Sua Assamita desgraçada, os Priest não vão descansar até enfiarem uma estaca em seu coração, saiba disso.

Katarina se permitiu dar uma risada maléfica.

- Pena que você não vai estar aqui para ver isso.

E em seguida cortou a garganta do homem. Limpou suas mãos sujas de sangue, recolheu as shurikens que ainda estavam ápitas para serem usadas e continuou a caminhar a trilha embaçada pela névoa, rumo à Celtica.