Begin Again escrita por Kira Queens


Capítulo 1
Begin Again


Notas iniciais do capítulo

Oi!!
É minha primeira one-shot klaroline, faz tempo que eu queria escrever algo klaroline, ainda mais agora que eu to morrendo de saudades do Klaus em TVD, então resolvi escrever essa aí.
Espero que gostem ♥



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Mystic Falls, Estados Unidos.

– Mãe, eu vou ficar bem – Caroline lhe garantiu.

A xerife Forbes estava com as bochechas úmidas por causa das lágrimas. Ela passou a vida toda se preparando para aquele momento inevitável na vida de todos os pais: o momento em que seus filhos crescem.

Caroline Forbes sempre teve talento para a escrita, então decidiu que era isso que ela iria fazer para o resto da vida, mas ela queria começar uma vida nova. Tinha um histórico complicado. Foi uma garota sozinha e calada na adolescência, sem amigos nem namorados e quando finalmente encontrou alguém que a amava, ele a magoou. Ela passou os últimos sete meses na tentativa de superar e finalmente compreendeu que nunca poderia seguir em frente se ainda estivesse presa à Mystic Falls.

– Mamãe, eu vou ligar todo dia – assegurou-lhe, mas a mãe estava em prantos – Eu nunca vou conseguir escrever meu novo livro e nem ficar melhor se eu ainda estiver aqui.

Liz assentiu com lágrimas nos olhos. Caroline sempre ficou muito sozinha, pois a mãe estava trabalhando a maior parte do tempo, por isso adquiriu certa responsabilidade e tornou-se independente cedo demais. Liz já havia deixado de cuidar da filha há muito tempo.

– Você vai saber se cuidar? – ela perguntou, segurando as mãos da filha. Caroline sorriu tentando passar-lhe confiança.

– Você sabe que sim – respondeu a filha.

E era verdade, Liz sabia que sua filha podia cuidar de si mesma, afinal, ela passou praticamente a adolescência toda cuidando de si mesma, mas deixá-la ir para onde Liz não poderia observá-la a preocupava. Ela temia que a filha não estivesse preparada para o mundo por não ter tido muito contato com outras pessoas de sua idade, mas a verdade é que ocorreu o oposto disso; Caroline sempre confiou apenas em si mesma e na única vez em que se permitiu confiar em alguém, ela se arrependeu.

– Paris não é outro mundo – Caroline tentava acalmá-la – Vai me ajudar a melhorar ainda mais o meu francês e talvez eu possa fazer amigos. Essa é uma cidade pequena, em Paris ninguém me conhece, eu farei uma nova imagem, mamãe, poderei ter outra vida.

– Você não pode fazer isso nos Estados Unidos? Precisa mesmo colocar um oceano entre nós? – perguntou Liz numa última tentativa, mas ela sabia que a decisão da filha já estava tomada e ela não mudaria de ideia.

– Eu quero pessoas completamente novas, cultura nova, lugares novos – explicou Caroline. A mãe sorriu e assentiu – Sem falar que meu próximo livro se passa em Paris, preciso buscar inspiração direto da fonte – Caroline sorriu inocentemente.

– Então eu espero que você ache tudo o que procura – ela disse honestamente.

Depois de ver o quanto a filha sofreu tudo o que ela queria era que achasse sua felicidade. E se ela tivesse que atravessar o oceano para isso então que seja.

– Promete que assim que terminar o livro você vai retornar? – perguntou Liz.

– Assim que eu colocar o último ponto final – ela garantiu – Afinal minha editora está aqui.

Liz abraçou a filha uma última vez.

Paris, França. Um mês depois.

Caroline estava começando a achar que havia alguma coisa de errado com ela e estava até considerando ir a uma psicóloga. Talvez devesse ter ouvido a mãe e permanecido nos Estados Unidos. Ela não estava reclamando, ir morar na capital francesa por um tempo era o que ela realmente queria, mas ao contrário do que pensou ela não conseguiu tudo o que queria. Seu livro estava indo bem e ela estava se sentindo satisfeita com os progressos nele, mas ela se sentia mais deslocada do que antes. Em Mystic Falls ao menos ela tinha sua mãe.

Bonjour, mademoiselle – saudou o homem que trabalhava na cafeteria que Caroline frequentava para escrever. Ela pediu o cappuccino que sempre pedia e se sentou em uma das mesas ao lado da janela. O sofá era confortável e o local era todo aconchegante e exalava ar quente ao contrário da temperatura externa que estava fria. O céu estava nublado assim como estava nos dias anteriores e chovia com frequência. Caroline preferia o tempo assim. De alguma forma ela se sentia mais inspirada.

Quando ela estava escrevendo ela esquecia, por alguns momentos, que todo dia ela se sentava sozinha na cafeteria enquanto a maioria das mesas ao seu redor estavam preenchidas por casais ou grupos de amigos. De alguma forma escrever fazia com que ela se sentisse bem, isso era o que fazia com que ela se sentisse segura do que escolheu para o seu futuro.

Ela ouviu a porta da cafeteria abrir e fechar e em seguida ouviu a voz de um homem dizer:

– Eu também sinto sua falta.

Caroline não se importava com quem entrava e saía da cafeteria. De vez em quando se sentia solitária, mas não era nada com que já não estivesse acostumada, de forma que ela não ficava olhando em cada esquina procurando alguém com quem quisesse fazer amizade, mas não conseguiu ignorar aquela voz pelo simples fato de ele ter falado em inglês. E ouvir alguém falando o mesmo idioma que ela quando ela passou todo o mês rodeada de franceses era algo que chamava sua atenção.

Ela desviou a atenção de seus papeis e caneta para observar quem era o dono da voz. Ele era alto e bonito, possuía cabelos castanhos e a barba estava por fazer. Caroline não costumava encarar as pessoas, mas abriu uma exceção para esse caso.

Ele guardou o celular no bolso e aproximando-se do balcão ele pediu um café. Quando seu café foi entregue ele se virou e seus olhares se encontraram. Caroline desviou o olhar imediatamente, voltando a prestar atenção nos seus papeis, mas seu rosto ruborizado o denunciou.

Puis-je aider? – ela o ouviu perguntar. Não precisou olhar para cima para saber que ele estava falando com ela.

– É só que eu ouvi sua conversa e... E você fala inglês. E bem demais e com sotaque demais para ser apenas um francês que fala inglês – ela explicou. Não se deu ao trabalho de responder em francês já que já sabia que ele falava inglês.

– Nunca te disseram que é feio ouvir a conversa das outras pessoas, amor? – ele falou com um sorriso divertido brincando nos lábios.

– Foi inevitável, você não estava falando baixo – Caroline respondeu.

– Eu só estou brincando.

– Eu só estou justificando – devolveu Caroline.

Ele riu baixinho. Caroline nem sequer sorriu. Era a primeira vez em um bom tempo em que ela trocava mais de duas frases com alguém que não fosse sua mãe.

O inglês – Caroline deduziu pelo sotaque – olhou seu relógio de pulso e então olhou de volta para a loira sentada.

– Eu preciso trabalhar, mas você me diria seu nome? – ele pediu.

Caroline hesitou e abriu a boca, sem saber o que dizer. Pensou no ex-namorado e em como fez tudo muito rápido com ele. Se ela não tivesse concordado em sair com ele no primeiro dia em que se conheceram talvez eles jamais se veriam novamente. Dizem que quando é pra ser acontece, então pra que facilitar?

– O que foi? – o homem perguntou, notando o desconforto dela – Muito cedo para apresentações?

A loira sentiu o rosto esquentar novamente. Ele debocharia dela caso ela confirmasse, mas ela simplesmente achou melhor não dizer ainda. Se ele tivesse seu nome ele poderia procurá-la de alguma forma e ela não queria que ele fosse o próximo a magoá-la. Mas quem poderia culpá-la? Como uma escritora era evidente que ela ainda acreditava no amor e no destino, acreditava que as pessoas estavam destinadas a conhecerem outras pessoas, mas às vezes algumas pessoas que não deveriam estar lá se perdem em nossas histórias e tentam fazer parte dela quando na verdade não são. E então, sem mais, nem menos, eles saem.

E embora ainda acreditasse nessas coisas que ditas em voz alta soavam como bobagens de conto de fadas, ela não acreditava muito em coincidências. E ela não acreditava de jeito nenhum que algo se repete por acaso. Se você vê um estranho na rua e o convida direta ou indiretamente para ser um personagem de sua história, foi uma decisão sua. Mas se você conhece um estranho, opta por seguir com a sua vida e ele reaparece, então não foi um acaso. Esse tipo de coisa está destinada a acontecer.

Ou pelo menos, era nisso que Caroline acreditava.

– Na próxima vez em que nos encontrarmos eu lhe digo o meu nome e tudo mais que você quiser saber – sugeriu Caroline.

O estranho sorriu em concordância e saiu sem uma despedida. Caroline o observou se afastando pela parede de vidro ao seu lado. Ela observou até que ele sumisse de vista e só então voltou sua atenção para o livro.

Caroline voltou para seu apartamento andando lentamente e observando o ambiente a sua volta. Ela não queria ser magoada novamente e ela se sentia até mal por deduzir que um homem que nem conhecia podia magoá-la sendo que eles mal conversaram, não houve nem demonstração de interesse, mas era compreensível ela ser assim para alguém que passou a vida toda se isolando do mundo por opção. E quando ela abre uma exceção, ela é magoada.

Diferente do que possa parecer, ela já superou Tyler completamente. Ela não tem problema algum em falar sobre ele e se acontecer de eles se encontrarem na rua ela não vai correr assustada, tentar se esconder e nem fingir que não o viu porque ela já superou há muito tempo. Ela só não superou o que ele fez com ela.

Como Caroline já suspeitava, o fato de ser afastada e solitária gerava comentários, pois todos sabem que se tem uma coisa em que todos são bons é cuidar da vida alheia, ainda mais sendo uma cidade pequena como Mystic Falls em que todos conheciam todos. E quando ela e Tyler Lockwood se esbarraram na rua, diferente do que ela pensou, não foi um acaso do destino. Ele a viu e ele foi até ela fingindo estar apenas passando. E quando ele a chamou pra sair, diferente do que ele disse, não foi porque ele a achou interessante e nem porque queria conversar, era porque ele queria provar que até mesmo a garota mais reservada podia cair em seus encantos. E enquanto Caroline pensava que finalmente encontrara alguém em quem podia confiar, ele estava só querendo provar o seu “valor”.

O caso entre os dois só durou até o momento em que ela desconfiou de suas intenções e conseguiu fazer com que ele falasse a verdade. Ele a subestimou, ele não sabia que ela era mais inteligente que as outras garotas que ele conseguia conquistar. Mas era evidente que ele não a amava de verdade. Ele reclamava quando ela usava saltos altos e questionava as músicas que ela costumava ouvir, pois não tinha a mente aberta e não compreendia os sentimentos por trás da letra de cada canção.

Caroline percebeu que naquela quarta-feira estava pensando em alguém que nem sequer conhecia. Ela teve medo disso, pois se pensava nele então inevitavelmente criava expectativas e ao mesmo tempo ela queria e não queria vê-lo novamente. Ela queria pelos motivos claros: de acordo com suas crenças, se eles se encontrassem novamente então ele estava fazendo mais do que passando em sua vida. E mesmo sendo reservada do jeito que era, ela ainda queria alguém em que pudesse confiar, alguém que fosse ficar ao seu lado. Por outro lado, ela não queria que ele fosse o próximo Tyler, procurando-a com segundas intenções.

Caroline não queria ser tão desconfiada e cuidadosa consigo mesma, queria conseguir arriscar mais, conhecer mais pessoas com quem pudesse conversar, mas era da natureza dela ser assim. Sem falar que ela nunca soube ao certo como se expressar, sempre optou pelas palavras.

Quando chegou a seu apartamento, decidiu não pensar mais em como ela queria ser de outra forma e também livrou seus pensados do desconhecido que ela nem sabia se chegaria a ver novamente. Ela ligou para sua mãe, como fazia a cada três dias.

– Eu conheci alguém hoje – Caroline contou, após ter ouvido a mãe falar sobre seu dia – Não conversamos muito, mas foi a única pessoa com quem eu tinha uma real conversa nesse mês.

– É mesmo? – Liz pareceu surpresa – Bom, e qual o nome dele?

– Não sei, eu não quis perguntar e nem falar o meu. Primeiro eu quero saber se ele é alguém para quem eu gostaria de falar meu nome – Caroline sorriu quando ouviu a mãe rir.

– Você nem sabe o nome dele, Care! Aqui em Mystic Falls ninguém se atreveria a fazer algo com a filha da xerife, mas aí você tem que se cuidar – Caroline revirou os olhos diante da preocupação da mãe. Era brincadeira, mas Caroline estava ciente de que a mãe estava falando sério ao mesmo tempo – Você sabe que é sensível.

– Não se preocupe, mamãe – falou a filha, tentando passar confiança. Então elas começaram a falar sobre o livro de Caroline que Liz estava ansiosa para ler, mas a filha não diria uma palavra a respeito da estória para não estragar a surpresa.

Caroline acordou no dia seguinte, tomou seu banho quente que tomava toda manhã, desceu até a portaria, cumprimentou o porteiro e caminhou pelas ruas ventosas. O céu permanecia nublado e estava tão frio quanto no dia anterior. Ela estava fazendo tudo como estava acostumada, mas resolveu tomar uma decisão diferente e seguiu reto quando passou em frente à cafeteria em que ia todo dia. Mas diferente do que possa parecer ela não estava sendo tão covarde assim, ela simplesmente percebeu que foi à Paris para focar em seu livro e em apenas um dia havia permitido que se distraísse com outras coisas, então cuidaria ela mesma para que não se distraísse mais e iria à outra cafeteria para que não olhasse para porta toda vez que alguém entrasse esperando que fosse o mesmo rapaz do dia anterior.

Foi então que, quando ela parou de reparar no ambiente, ela o encontrou caminhando em sua direção até parar em sua frente. Ela entreabriu os lábios ligeiramente.

– Você – ela disse num sussurro como se não estivesse acreditando – Aonde está indo?

– Bom, eu deixei meu carro no estacionamento no bloco de baixo e agora estava indo na cafeteria de ontem esperando te encontrar porque hoje eu não tenho nada pra fazer e poderemos conversar até quando quisermos – ele sorriu de forma encantadora enquanto ela não conseguiu fazer nada para mudar sua expressão de susto – E você não parece ter os mesmos planos que eu.

Era agora. Ele havia se convidado indiretamente para fazer parte da vida dela de alguma forma, mesmo que apenas por algum tempo, e Caroline precisava responder. A escolha era dela. A escolha de deixar ou não alguém entrar em nossas vidas é sempre nossa. Ela analisou a situação. Se ela tivesse ficado na cafeteria eles teriam se encontrado, mas ela optou por fazer um caminho diferente e mesmo assim se encontraram. Se um dos dois tivesse atrasado dois minutos eles não se encontrariam. Se Caroline tivesse optado por fazer o caminho inverso eles não se encontrariam. Mas lá estavam eles, caminhando um de encontro para o outro, ambos seguindo o mesmo horário. Era uma situação assim que Caroline acreditava que estava destinada a acontecer.

– Não, não – ela riu e olhou pra trás, observando a cafeteria – Eu estava indo pra lá, mas me distraí e caminhei um pouco mais. Eu moro aqui faz pouco tempo, ainda não estou totalmente familiarizada – ela tentou justificar.

– Então... Vamos? – ele perguntou. Caroline assentiu e o acompanhou até a cafeteria. Eles se sentaram à mesa em que ela estava sentada ontem. Ela pediu cappuccino e ele pediu café – Vai me dizer seu nome agora?

– Caroline Forbes – ela respondeu sem hesitação.

– Niklaus Mikaelson – ele se apresentou – Mas mais conhecido como Klaus.

Ela assentiu e colocou sua bolsa no espaço vago no sofá ao seu lado, já que Klaus estava sentado no sofá de frente para ela. Caroline apoiou as mãos sobre a mesa.

– Ontem você estava escrevendo, se vi corretamente – ele comentou. Caroline assentiu confirmando – Você escreve por diversão ou você publica?

– Os dois – ela respondeu fazendo-o sorrir – Esse é o segundo livro que eu escrevo.

– Você escreve sobre o quê?

– Romances frustrados – Caroline respondeu. Klaus ergueu as sobrancelhas e a olhou nos olhos até que ela ficasse constrangida e desviasse o olhar.

– E você já teve um – ele afirmou. Caroline o olhou novamente, deixando-o perceber sua confusão – Um romance frustrado. Você já passou por um.

– Não é porque eu escrevo sobre isso que já aconteceu comigo – ela respondeu, mesmo sendo verdade que ela já tivesse passado por um romance frustrado. Só que no caso dela o romance era um detalhe bem pequeno que só um dos personagens levou a sério, foi mais uma história de falsidade.

– Não foi o fato de você escrever sobre isso que te denunciou. Foram seus olhos – explicou Klaus. Caroline se assustou com seu poder de percepção, mas assentiu, confirmando que era verdade – Por isso é tão cautelosa.

– Não desvende todos os meus mistérios, assim logo vai perder a graça – ela falou com um ligeiro sorriso.

– Você é uma garota que escreve – respondeu Klaus – Sempre vai haver um mistério não desvendado em você.

A resposta a pegou de surpresa. Caroline nunca havia falado com alguém tão perspicaz. Ela gostava das palavras que ele usava e das respostas que ele dava. Ele foi a primeira pessoa que conseguiu deixá-la sem palavras e para uma escritora isso realmente significa algo.

– Então espero que você continue a tentar desvendá-los – Caroline tentou dar uma resposta à altura. Klaus sorriu novamente para ela.

– Você sempre sorri assim com tanta facilidade? – ela não conseguiu segurar a pergunta. Ela estava prestes a se desculpar, pois não achava que isso era algo que deveria perguntar às pessoas, mas então ele riu jogando a cabeça para trás como uma criança faria.

– Na verdade, você que aparentemente consegue me fazer sorrir com facilidade – e essa era mais uma resposta que a deixou sem saber o que responder.

Eles passaram a conversar sobre a vida um do outro, saber de onde eram, o que faziam na França. Caroline confirmou suas suspeitas, ele era mesmo da Inglaterra, mais especificamente, ele nasceu em Londres. Ele estava na França porque gostava da paisagem de lá e para um fotografo isso era mais importante do que provavelmente era para alguma outra pessoa. Ele se surpreendeu quando Caroline disse que entendia a beleza do ambiente e se sentia bem na presença de lugares assim. A vez dela de se surpreender foi quando ele disse ter lido “O Morro dos Ventos Uivantes”. Caroline revelou que era seu livro favorito e no princípio se perguntou se ele não estava apenas tentando surpreendê-la, pois por ser uma escritora era provável que também lia e como gostava de romances trágicos era elementar que havia lido esse clássico, mas então ela acreditou que ele não teria pensando em tudo isso apenas para ganhar alguns pontos com ela. Ela falou sobre como odiava o fato de mudarem a capa dos livros clássicos e Klaus concordou com ela, dizendo que as capas originais faziam com que o livro realmente parecesse antigo o que era bem melhor quando o livro era, de fato, antigo.

Em pouco tempo ele a fez se sentir confortável para falar sobre a sua adolescência um tanto quanto incomum, coisa que Caroline não fez nem com Tyler. Então quando ele pediu para que ela falasse mais sobre si mesma, contar algo que ele não imaginava, foi sobre isso que ela falou.

– Eu sempre escrevi porque foi a minha maneira de me expressar – contou Caroline – Era difícil pra mim me enturmar, eu sentia que não me encaixava, eu não gostava do contato com outras pessoas. E eles nunca tentaram também então eu comecei a achar que lugar nenhum era meu lugar. Foi aí que eu parei de achar que deveria fazer parte de um lugar em que eu não pertencia.

Ela falava com tanta tranquilidade e conforto que nem sequer percebeu o quanto aquilo era diferente e novo pra ela. Pra quem tinha dificuldades até em se comunicar normalmente, agora ela estava falando abertamente sobre seus problemas.

– Você realmente não é comum, Caroline – ele disse a ela – Isso é visível e foi possível perceber apenas pelo pouco que eu sei da sua maneira de ver as coisas.

E então ele também fez algo que ninguém mais tinha feito: fez com que ela se sentisse bem consigo mesma. Ele fez com que ela se sentisse especial, quando ela passou a maior parte do tempo acreditando que havia algo de errado com ela.

Foi assim que ela soube que não precisava ter medo de se magoar. Talvez ele acabasse fazendo isso com ela em algum ponto, mas naquele momento, olhando nos olhos deles que demonstravam real interesse nas coisas que ela falava, ela soube que ele não queria fazer nada além de bem para ela. Ele ria das coisas que ela falava e sorria constantemente. Ele parecia confortável em se abrir para ela da mesma maneira que ela se sentia.

E Caroline sentiu uma sensação nova, um calor dentro de si e a vontade de explorar o desconhecido, de se aprofundar numa relação que nem sequer começou e ela não sabia se deixaria de ser apenas uma conversa numa cafeteria, mas pela primeira vez ela não estava com medo e estava disposta a ter expectativas e esperanças como qualquer garota normal faria.

Klaus tinha vinte e cinco anos enquanto ela tinha vinte e três. Eles conversaram sobre faculdade e ela descobriu que ele nunca foi alguém querido por todos porque ele gostava de falar honestamente as coisas que pensava e as pessoas não gostavam de ouvir a verdade.

Eles conversaram a manhã toda até que decidiram ir embora. Ele tinha algumas coisas para comprar e ela iria voltar para casa para arrumá-la e descansar em seguida.

– Eu não escrevi nada a manhã toda por culpa sua – Caroline disse a ele. Sua intenção era soar ameaçadora, mas havia um sorriso involuntário em seus lábios.

– E você não me odeia por isso, é um bom sinal – ele respondeu. Eles se levantaram, Klaus pagou sua conta e também a de Caroline, recusando-se a deixar que ela pagasse e caminharam até a calçada – Vamos, eu te deixo em casa.

– Eu moro aqui perto – ela disse – Não há necessidade.

– Então eu vou pelo caminho mais longo – ele disse, sorrindo e segurando-a pela mão.

Caroline não pôde negar. Sem falar que estava se divertindo como nunca, não havia mal algum em prolongar o momento. Eles caminharam lentamente descendo o bloco para chegar ao estacionamento onde ele havia deixado o carro.

Ficaram em silêncio por um tempo então Caroline pensou em dizer a ele que há oito meses terminou um relacionamento complicado e ainda se sentia sensível por isso. Pensou em contar esse detalhe a ele apenas para ter certeza de que ele pensaria duas vezes antes de magoá-la, pois ela já possuía um histórico desagradável e não gostaria de aumentá-lo. Mas ela não teve mais tempo para cogitar a hipótese, pois ele começou a falar e ela realmente gostaria de ouvir.

– Sabe, há famílias em que todos os anos no natal eles fazem a mesma sobremesa ou refeição, mas na minha família a gente sempre assiste o mesmo filme, que é “Esqueceram de Mim” – Caroline gargalhou diante da revelação. Klaus riu também – Não estou brincando, todo ano o mesmo filme. É a nossa tradição de natal. Achei que você deveria saber assim pode pensar duas vezes antes de passar um natal comigo.

E então ela imaginou por um momento passando um natal ao lado dele e de sua família ou até mesmo tendo uma família com ele. Caroline nunca pensou muito a respeito de família, ainda não tinha uma opinião sobre isso, mas naquele momento não parecia uma ideia ruim.

Quando estavam no carro ele colocou uma música para tocar e ela se surpreendeu ao perceber que era uma música de sua banda favorita, então eles passaram a falar sobre seus gostos musicais. Caroline disse onde morava e ele fez o caminho mais longo até lá, como disse que faria.

– Ontem você disse que quando nos víssemos da próxima vez você me diria seu nome, agora da próxima vez que nos vermos que tal o número de seu celular? – sugeriu Klaus quando a deixou em frente o prédio que morava.

– Parece uma ótima ideia – ela concordou.

Caroline caminhou até seu prédio, sem despedidas como aconteceu no dia anterior. Klaus não foi embora até que ela já tivesse entrado.

Ela passou os últimos oito meses acreditando que tudo o que o amor fazia era quebrar e depois acabar, mas agora ela percebia o que quanto queria esse sentimento na sua vida.

Uma semana depois ela entrou no seu prédio e o porteiro avisou que alguém havia deixado um pacote para ela, mas não disse seu nome. Ela desembrulhou e encontrou um exemplar de “O Morro dos Ventos Uivantes” com a capa original. Ela arfou e passou os dedos delicadamente pela capa. Ela sabia exatamente quem tinha mandado. Não tinha nenhuma ideia de como ele havia conseguido aquele exemplar, mas mal podia esperar para falar com ele de novo e agradecer.

Meses depois Caroline não estava conseguindo dormir. Passava das quatro da manhã e ela estava muito entretida com seu livro para parar de escrever. Assim que o encerrou, colocando o último ponto final, ela ligou para a sua mãe, que atendeu com a voz sonolenta e preocupada.

– Caroline! – exclamou Liz – São mais de quatro da manhã, aconteceu alguma coisa?

– Eu só queria dizer que acabei de colocar o último ponto final no meu livro e receio ter que quebrar a minha promessa, não posso ir embora – ela olhou para Klaus que estava sem camisa, enrolado nas cobertas em sua cama e dormindo com a expressão serena – Encontrei alguém que me dá motivos pra ficar.


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Notas finais do capítulo

Cara, quando eu comecei a escrever essa one-shot eu tava meio insegura porque achei que ia ficar ruim mas acabou ficando bem melhor do que eu esperava e eu gostei bastante de escrevê-la e espero que vocês tenham gostado de lê-la!!!
Enfim, beijos e até a próxima ♥