Flor De Lís. escrita por Cristina Rissan


Capítulo 1
Chapter I.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, comentem por favor.



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Antigo Egito. 3.000 a.C

— Joguem-no ao meri! – Rosnou o homem sentado com sua pose imponente sobre o enorme trono de ouro. – Isto é sacrilégio, oras veja! Como tens coragem seu ser imundo?! – Em seu rosto formou-se um sorriso maldoso cheio de desdém. Observava com repulsa o homem ajoelhado aos seus pés, sendo com brutalidade segurado por guardas reais. Este, que pobre e humilde, sentia-se fraco e enfermo demais para sequer responder ao poderoso faraó. – Escuta o que digo ser imundo? – Perguntou outra vez tendo o cuidado de manter afastado o bastante das mãos sujas e calejadas do habitante de sua cidade. – Devias ter vergonha de sua insignificante existência. Devias ter também homem, vergonha de roubar dos próximos a ti. – Continuou como se contasse a aquele homem como estava o tempo fora da enorme e esnobe construção em que vivia.

– P-p-por favor meu senhor. – Murmurou o homem resfolegando, parecia imerso na própria pena e decadência. – Eu não roubaria. Não o faria meu senhor. Deusa Nut és minha testemunha. Tenha piedade. – Continuava mesmo sem esperança, sabia que era uma esperança vã conseguir alguma piedade do faraó, este era conhecido por sua crueldade e arrogância.

– Não perca seu tempo imundo. – Respondeu impassível,alguns fios do cabelo negro escapavam pelo ostentoso chapéu. – Levem-no. – Declarou friamente aos guardas, estes assentiram escondendo os sorrisos maldosos.

Atrás de si, apoiada á pilastra, suspirava a bela esposa do faraó, estava resignada, nada mais podia fazer, sabia que seu marido era bom e gentil, mas também sabia que ele insistia em não mostrar tal bondade aos outros como fazia seu pai, - o antecessor do trono. – Aeron... – Murmurou em censura, fazendo os olhos do marido voltarem para si, ela sentiu seu coração aquecer ao vê-lo sorrir para ela. – Não faças isso. Não ajas sim meu marido. – Pediu e ele grunhiu.

– Não se intrometa no modo como governo meu povo Akaysha. És minha esposa e minha amada, não mais do que isso. – Apesar das palavras rudes, sua voz soou gentil. Amava-a com todo o seu ser, amava-a como amava a si próprio. Naquele mesmo dia, ao anoitecer, todo o povo dos desertos do norte reuniu-se. Seus alimentos foram postos sobre a terra, e estes clamavam para que a oferenda a Nut fosse o bastante, clamavam a mãe dos deuses para que finalmente houvesse paz e justiça entre seu povo. Pediam a ela para que finalmente pudessem criar seus filhos e os alimentar com a fartura existente em suas terras. E naquela mesma noite, enquanto povos clamavam pela piedade e pela justiça de Nut, Aeron amou sua esposa, amou-a como nunca, durante a noite, sentia-se no dever e na necessidade de faze-lo. Akaysha era seu bem precioso, sua joia rara. Ela amava-o como encontrou, amava-o acima de todos os defeitos, amava-o como ele a amava. Levantou-se, sentindo seu coração apertar ao deixar a amável esposa ressonando suavemente, sabia que algo acontecia, podia sentir, nunca acreditara em tais sentimentos tolos, mas não podia controlar-se, naquela noite, ele sentia que algo ruim aproximava-se. Pela janela podia ver as luzes, ele sabia o que significavam tais luzes, certamente. Não era tolo. As tochas iluminavam toda aquela área. Também sabia o que significava o tal canto, não era proibido, o povo podia livremente festejar, assim como podiam fazer suas oferendas. Sentiu a temperatura ao seu redor cair e o ar tornar-se denso.

– Eu não vou. – Declarou ainda sem virar-se. – Tenho uma esposa e um povo a liderar, não me levará agora. – Continuou, não sabia o que se encontrava atrás de si, mas sabia que não gostaria de ver. Sabia também que estava ali por ele, e que isto, possivelmente, tinha relação com seu povo fazendo oferendas e dançando as malditas músicas. Sua voz soara firme no quarto silencioso, sentia-se mortificado por dentro, mas manteve os joelhos eretos, assim como sua cabeça. Não se rebaixaria, algo que herdara do pai fora a honra, tinha suas convicções. O que quer que acontecesse futuramente, ele enfrentaria com sua cabeça erguida.

– Virás comigo. Querestes ou não. Não tens o privilegio da escolha mortal. – Soou a voz fria atrás de si e Aeron sentiu sua espinha se arrepiar e sensação de medo sufocar seu corpo. – Sabes bem porque estou aqui. Não fostes o exemplo de bondade durante teu tempo em terra. – Aeron soltou uma golfada de ar tentando ser silencioso, mais sabia que a criatura poderia cheirar seu medo a quilômetros. Então virou-se observando a face demoníaca a sua frente, não conseguia focar seus olhos nela por muito tempo, era impossível, não suportava tal visão, seus olhos focalizaram ao fundo as tochas tornando-se altas, e as chamas sobrenaturais saltando pelas mesmas. – Chegou a sua hora poderoso sacerdote. - Conjugou a voz agourenta mais uma vez, e o chão lentamente começou a se desfazer abaixo dos pés de Aeron. Pedaços do majestoso pisos iam pouco a pouco caindo em uma escuridão tão assustadora quanto um buraco negro. Não conseguia acreditar no que via, mas via e sabia que era tão real quanto sua carne poderia ser, e tão real quanto o amor que sentia por Akaysha, olhou sua esposa, sentindo-se infeliz por não ter se despedido enquanto pode. Sua bela mulher parecia dormir como se nada acontecesse, seu final trágico e macabro parecia não a afetar de modo algum. Garras surgiram pelo solo destruído dos aposentos e Aeron balançou os pés, chutou e esperneou tentando afasta-las de si, mais eram criaturas fortes e eram muitas, arranhavam sua pele, puxavam seus pés, seguravam sua canela, queriam a ele. O fogo parecia mais perto cada vez que ele erguia os olhos, não conseguia raciocinar com clareza, o calor invadia o quarto deixando-o temeroso, as garras continuavam a puxar, já estavam a altura da sua cintura, não conseguia mais lutar com aquelas criaturas, estava cansado, o fogo parecia deixa-o cada vez mais fraco, estava perdido. Aquelas criaturas pareciam uma espécie perdida de demônios, nunca citados nas histórias de terror. O fogo agora o cercava, deixando-o atordoado, sua visão embaçou e ele não pode resistir mais. Deixou-se ser consumido pelo fogo e puxado pelas esqueléticas e demoníacas mãos.


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