A saga de V - Immortalis escrita por Adriana Macedo


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bom, espero que goste e divulgue. E não esqueça de comentar. Muitos escritores deixam de escrever por causa disso.



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Capitulo I

Acordei suada, quente e ofegante. Tentava dizer a mim mesma que só tinha sido um pesadelo. Fui até a cozinha pegar um copo com água antes de voltar a dormir, o relógio em cima da geladeira marcava três e meia da madruga.

Tentei lembrar o sonho, só lembrava uma caverna e de dois cavalos e um campo muito verde. Corria desesperada, mas no final não conseguia escapar e então ouvia o estampido de uma arma. Era nessa parte que eu acordava desesperada.

Fiquei olhando o teto até pegar no sono, torcendo para não sonhar de novo.

- Bom dia! – respondi, já pegando uma torrada com geleia.

- Bom dia filhinha – papai desejou assim que abaixou o jornal e me deu um beijo na bochecha. Mamãe deve ter achado o bom dia do papai o suficiente e não se deu ao trabalho de responder também. Estava acostumada.

- Bom dia papai. – e engoli o resto do meu suco. – Cadê a Anita? Ela está atrasada para a escola, não?

- Ela já deve estar descendo. – papai respondeu – Por que a pressa Vinny? – disse ele quando me viu praticamente saltando a mesa.

- Wing está na porta. – sorri e dei um beijo no meu pai. – Até mais tarde. – e corri para abrir a porta.

- Bom dia Vinny. – Wing, minha melhor amiga, sorriu a me ver.

- Bom dia. – então puxei seu braço e corri para a escola.

A escola era um refugio sagrado para mim, não acho que seria mais feliz em outro lugar no mundo. Odiava os fins de semana e também os feriados. Salvo os dias em que meu pai ficava o dia inteiro em casa, esses eram suportáveis e raros.

Hoje havia um alvoroço estranho, como se tomos cochichassem violentamente. Minha escola é considerada a melhor da época e a mais cara também. E eu particularmente me orgulhava daquilo.

- Será que o aluno novo vai ficar na nossa sala? Soube que ele cursa a mesma série que nós. –Wing disse enquanto pegávamos nossos livros.

- Quem? – eu disse sem entender o que ela dizia

- O aluno novo! Não me diz que esqueceu que o bolsista americano chega hoje! Disse a você a semana toda! – ela exclamou.

- Ah sim – disse recordando, e ela não exagerava no “a semana toda” ela realmente disse isso umas cem vezes por minuto, especulando como ele seria. – Provavelmente será mais algum garoto nativo dos Estados Unidos. Nós ingleses não precisamos deles.

- Não seja tão arrogante Vi. Vai que ele é legal. – e nesse momento passamos pelo ultimo bolsista a entrar na escola. – Ou não. – ela disse baixinho, e nos duas rimos.

Quando chegamos à sala, sentamos em nosso lugar habitual e rapidamente começou o ritual de sempre.

- Bom dia Vinny. – disse um garoto magrelo e de óculos que sentava na primeira cadeira. E assim eu recebo “bom dia” até a professora chegar.

-bonne journée – disse a Sra. Laurence acomodando-se em sua cadeira.

-bonne journée dame. – respondemos.

- Queridos alunos, hoje começaremos falando sobre os pr.. – três toques interrompem a aula.

-Ah, sim. Pode entrar. – a professora aprova. Ouço cada respiração parar e prestar atenção à pessoa que acaba de entrar.

Minha primeira reação é ficar boquiaberta. Ele é lindo! Não digo do tipo bonitinho, mas do tipo que se vê e filmes ou na tevê, e quando ele vê que todos olham pra ele, ele sorri sem graça e se posta ao lado da professora.

- Esse é Traves Romer, nosso novo aluno. – começa a professora. – Vejamos você se sentará... – os poucos sons de respirações que restaram param, onde será que ele vai sentar. Com a minha sorte ele vai sentar... – Ao lado da Srta. Louis – então ela aponta para a cadeira ao meu lado.

Ele rompe a sala e se acomoda ao meu lado. Olho para Wing que está do meu outro lado, talvez ela esteja a fim de mudar de cadeira comigo. Mas ela segura a testa com força entre os dedos indicadores.

- Você esta bem? – pergunto

- Vou ficar. – ela sorri tristonha. E então levanta a mão. – Posso ir a enfermaria professora?

- Claro. – a professora responde e ela sai me deixando sozinha com o nativo.

O resto da aula de Francês passa tão lentamente que começo a considerar a hipótese de que alguém tenha se esquecido de tocar a sineta. Talvez seja porque eu não consigo parar de olhar para Traves. E graças aos céus, ele não me pegou no flagra nenhuma vez.

Ele rabiscava um caderno de desenho, e quando ele levantou o braço para apontar um lápis vi o fim de uma tatuagem. Seus cabelos eram loiros dava para ver apesar da sua boina de crochê, seus olhos azuis e profundos enquanto seus lábios eram rosa e carnudos. Usava uma camisa e tinha um moletom por cima do uniforme, apesar da roupa pesada seu físico não era forte, nem magro. Era perfeito.

Olhei seguidas vezes para o seu desenho, mas realmente aquele rabisco não fazia sentido para mim. Então desisti do desenho e foquei nele. Era como um viciado em obras de arte se ver obrigado a parar de olhar uma obra recém-descoberta de Da Vinci.

Sempre espiava por entre meus cabelos que formavam uma cortina vermelha entre nós. E ele nunca perdia a atenção do desenho.

- Sr. Romer pode dar a resposta? – a professora perguntou e para minha surpresa ele respondeu em um francês perfeito. Então, finalmente a sineta tocou.

Fui até a enfermaria ver como Wing estava. A enfermeira informou que ela já havia saído. Caminhei para minha aula seguinte, só veria Wing no intervalo. Como eu queria contar a ela que me enganei sobre o nativo, digo , Traves.

Na aula seguinte nem sinal do Traves, parte de mim agradeceu por isso. Matemática realmente exigia minha atenção, eu ainda tinha esperanças de entrar para a faculdade de Liverpool, com Traves por perto essas chances se reduziam drasticamente uma vez que eu não conseguia desviar minha atenção em mais nada.

Entrar na faculdade, esse era o assunto que mais me assombrava a cabeça. Minha mãe sempre se dava ao trabalho de me fazer lembrar que era tempo perdido pagar escola cara pra mim ou mesmo ter esperanças de me ver na faculdade, uma vez que como ela dizia eu era um caso perdido.

Sempre me perguntei por que minha mãe me odiava tanto. Nunca consegui responder essa pergunta. Espantei meus devaneios e foquei-me em matemática. Passado esse tempo, quando me dei conta já estávamos no intervalo. Procurei por Wing sem sucesso, onde teria se metido minha única verdadeira amiga?

Sentei-me em uma das mesas vazias do refeitório e puxei meu exemplar de “O morro dos ventos uivantes” e perdi-me entre Catherine e Heathclif. Até que senti um suspiro muito conhecido em minha nuca.

-Bom dia Vinny – ele disse sentando-se do meu lado.

-Bom dia amor. – beije-lhe os lábios. – Como foi seu dia?

-Hm, foi bom e o seu? Soube do garoto americano? Ele ficou em uma das minhas aulas hoje. – ele riu. – garoto estranho não acha? Tentei falar com ele, mas não entendi uma palavra do que ele disse. – seria mais estranho ainda se você entendesse, pensei comigo.

Não me leve a mal, eu amo meu namorado é claro. Só que hoje não sei mais se estou com ele por que o amo ou por que estou acostumada a tê-lo por perto. Peter não goza de muita inteligência, mas diz me amar e é apresentável. Por enquanto é o suficiente e me basta.

-Vi o garoto novo sim. Ele está na minha classe de Francês. – eu disse.

-Os meninos tentaram puxar ele pro nosso grupo e ele disse algo como: “Sinto muito cavalheiros, porém recuso satisfazer-lhes o desejo de terem minha presença.” – ele disse falando as palavras pausadamente, provavelmente com medo de erra-las. – Não entendi e nem acho que os meninos também entenderam então começamos a rir dele. – ele então me olhou como se esperasse aprovação pelo ato.

-Não acho que o que fez foi certo. Devia se desculpar! – eu disse de repente indignada com aquele ato. – Só por que ele vem de um lugar diferente e fala diferente não quer dizer que é pior que nós. Francamente. – e então levantei e deixei-o com uma cara de confusão.

Não sei por que fiz isso. Por que me senti tão injustiçada quanto o menino. Talvez nem fosse por ele, eu já estava aturando as idiotices de Peter há muito tempo, e então explodi. E talvez fosse nisso que eu queria acreditar.

Avistei Traves no segundo refeitório, não sabia muito bem o que fazer. Tinha certeza que Peter não se desculparia e então resolvi fazer isso por mim mesma.

-Posso me sentar aqui? – perguntei apontando para o banco vazio ao seu lado.

-Como queira. – ele não se deu ao trabalho de levantar a cabeça e me recepcionar, continuava seu desenho, sim o mesmo da aula de Francês, mas ao contrario do desenho de mais cedo este estava quase acabado.

- Vim perdi desculpas pelo meu... – hesitei – por Peter e seus amigos. – disse por fim. Ele então levantou a cabeça e por um momento perdi o folego.

- Desculpas dispensadas. – ele fitou meus olhos, eu tinha certeza por que podia ver o reflexo perfeito dos meus olhos verdes em seus olhos azuis.

- O que foi isso? – as palavras explodiram da minha boca antes que pudesse contê-las. Apontei para a cicatriz que maculava seu rosto de anjo.

-Uma cicatriz, não está a ver? – ele desviou os olhos de mim e voltou para o desenho. Eu esperei imóvel, então ele suspirou e murmurou. – Desculpe, não quis magoar lhe os sentimentos.

Entendi num súbito o que Peter quis dizer com estranho. Seu sotaque não era apenas de um adolescente americano tinha algo a mais. Algo que só ouvi em meu bisavô, algo melancólico e antigo.

Sua cicatriz, porém me fez esquecer todas as outras coisas. Era uma linha fina e muito próxima ao olho e formava uma linha de uns dois centímetros em direção a orelha. Como teria conseguido isso?

- Você mora em que parte de Londres? – perguntei depois de um silencio constrangedor. Ele murmurou o bairro e logo percebi que não era uma área muito ocupada. – Você mora sozinho?

- Sim. – ele respondeu. Mas logo percebi que era apenas por educação, ele não tinha a mínima vontade de continuar a conversar e nem de levantar a cabeça.

-Se não quer conversar por mim tudo bem. Tentei ser educada. – e saí furiosa novamente.

Bem, ultimamente andava mais furiosa que o normal. Qualquer coisa me irritava e isso se devia ao aparente objetivo de minha mãe em provar que eu estava mais gorda que o normal. Depois de caminhar pelo jardim da escola percebi que tinha ficado com raiva de Traves desnecessariamente. Talvez ele não tivesse intenção de ser grosso. Até eu seria se estivesse acabado de chegar a uma escola em um novo país e com novas pessoas e sem nenhum amigo conhecido, tendo acabado de passar por um aborrecimento.

Aborrecimento esse causado pelo meu namorado. Esse sim merecia toda e qualquer demonstração de raiva pelos próximos séculos. Havia semanas que ele não me ligava depois da escola e nem ficava comigo nas horas vagas e quando ficava sempre dava um jeito de me irritar. Estava dando nos nervos.

Voltei para sala e dediquei-me novamente aos estudos. Wing provavelmente foi para casa, achei estranho ela parecia tão bem hoje de manha, mas resolvi ligar para ela quando chegasse da escola.

Voltei para casa sozinha, Peter não me esperou novamente e nem Wing deu sinal de vida. Sinto-me completamente sozinha sem os dois. Não que eu não conheça mais ninguém, acredite conheço mais pessoas do que eu gostaria é só que é como se apenas eles dois não estivessem falando comigo por interesse. Mas tinha minhas duvidas para com Peter.

Cheguei em casa e ela estava completamente vazia a não ser pela empregada mas ela se ocupava nas tarefas da cozinha então não quis interromper, sabia muito bem que se eu a atrasasse minha mãe não a pouparia.

Larguei a bolsa no chão e fui direto ao telefone. Disquei o numero da casa de Wing e a dona Cho atendeu.

-Alô? – eu disse

-Alô. – disse ela.

- Wing está? Diga-lhe que é Vinny

-A senhorita Wing não esta em casa no momento. Ainda não retornou da escola. Quer deixar recado? – a dona Cho falou com seu sotaque japonês engraçadíssimo, mas é claro que eu não comentei isso com ela.

-A só diga-lhe que eu liguei. Cheguei mais cedo em casa e por isso não a vi. – tentei livra-la de uma possível bronca. - Obrigado e passe bem. – e desliguei o telefone.

Então Wing ainda não havia chegado em casa. Será que estava tudo bem? Ainda bem que ela não tinha uma mãe como a minha para ficar-lhe perguntando o porquê do atraso. Wing era órfã seus pais morreram em um acidente de carro no Japão e antes de morrerem deixaram um testamento alegando Wing em custodia da empregada de confiança e deixando-a também rica livrando-a de um orfanato, desde então ela mora somente com a empregada da família.

Eu a conheço há uns dois anos mais ou menos. Ela se mudou para a Inglaterra com a dona Cho em busca de esquecimento como uma vez me contou. Ela não é do tipo que se lamenta, não me lembro de ter visto Wing chorar uma vez por causa de seus pais e só fala deles se lhe fizerem uma pergunta direta. Alguns chamariam isso de frieza, mas eu admiro sua força.

-Vi? – uma voz infantil apareceu na porta do meu quarto.

-Entre Anita. – eu sorri para minha irmãzinha menor e ela correu para cima de mim.

-Pode fazer cachinhos em mim? – ela me olhou com aqueles grandes olhos cor de mel.

-Seu cabelo é liso Any. – eu sorri para ela.

-Queria ter um cabelo como o seu. – ela fechou a cara. Mais o pedido dela era impossível uma vez que ele era liso e loiro e o meu rebeldemente cacheado e ruivo. Herdados da família do meu pai como ele dizia.

-Um dia seu cabelo será tão cacheado quanto o meu. – prometi-lhe mesmo sabendo que era impossível. – e ainda mais bonito. – consegui arrancar um sorriso dela.

-Obrigada maninha. – ela me deu um beijo na bochecha e saiu em disparada.

Não desci para a cozinha naquela noite, estava cansada demais para aturar qualquer oscilação de humor de minha mãe. Só pedi para a senhora Nora me trazer um copo de leite morno.

-Posso entrar. – disse meu pai.

-Claro pai. – deixei meu livro sobre a cabeceira e dei-lhe espaço para sentar ao meu lado na cama.

-Como foi a sua aula hoje? – ele perguntou.

-Normal, muitos deveres e nada de interessante. – eu sorri

-E seu namorado? – ele perguntou simpático, ele não gostava nem um pouco de Peter.

-Nos brigamos. – eu sorri sem graça.

-De novo? Por quê? – ele realmente parecia interessado. Mas eu não queria atormentar meu velho pai com minhas besteiras de adolescente.

-Nada, coisa boba. Só me irritei por besteira. – olhei para seus velhos óculos. – Esta na hora de trocar os óculos não é pai? – ele sorriu

-Pois é, mas ando sem tempo como sabe. O banco tira-me as forças. – ele riu cansado.

-Devia pedir sua aposentadoria. – ralhei. – queria passar mais tempo com o senhor.

-Eu também querida, sinto mais falta de você e sua irmã do que imagina.

-Nos também sabemos o quanto doa seu sangue por essa casa. E ela nunca reconhece. – suspirei.

-Ok Vinny, paramos por aqui. – ele sorriu. – Boa noite filha, até amanha e durma com os anjos. – então ele saiu.


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Notas finais do capítulo

Obrigado.