Um Homem Sob Medida escrita por Gilraen Ancalímon


Capítulo 30
Capítulo 30 - Quero te pedir o meu perdão


Notas iniciais do capítulo

Ola moças, faltam mais dois capítulos para terminar esta fic, então deixe eu postar logo este e depois vcs me digam o que acharam, bjs



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Dias depois, com os braços apertados em torno do corpo a fim de espantar o frio, Kíria observava a chuva que banhava a noite, da varanda do chalé que alugara. Uma semana antes, partir fora uma necessidade urgente. Agora, porém, não sabia o que fazer dali por diante. Não tinha propósito, nem pressa. Tudo o que realmente importava deixara de existir.

Distraída, pensou que deveria comer, mas não sentia fome. Não sentia nada, exceto o frio, que lhe provocou um arrepio.

― Está com frio, Kíria? ― perguntou uma voz familiar.

Vinícius estava parado na outra extremidade da varanda.

― Não deveria estar no tribunal? ― ela perguntou ainda incapaz de sentir qualquer coisa.

― Quando meu pai telefonou, consegui um adiamento do julgamento.

E, depois disso, não fora difícil encontrar a enfermeira que sabia do paradeiro de Kíria. Mas, por que ele fora até ali? Não teria sido mais fácil deixar que tudo terminasse daquela maneira?

― Não ouvi você chegar ― Kíria perguntou, fitando-o nos olhos.

Como se examinasse outra pessoa, estudou os próprios sentimentos. Ainda o amava e amaria para sempre, mas não poderia tê-lo. Depois de tantas horas naquela varanda, olhando a chuva que caíra sem parar, desde que ela chegara a idéia já fora aceita e a dor não a perturbava mais.

― Vim caminhando desde a recepção ― Vinícius explicou. ― Não queria lhe dar a chance de fugir de novo.

― Existe uma diferença entre fugir e partir.

― O resultado é o mesmo.

Kíria concluiu que era isso mesmo o que ele pensava, pois não conseguia ver o que ela via com tanta clareza.

― Então, decidiu vir atrás de mim.

― Acreditou, realmente, que eu não viria?

― Teria sido melhor. Só está tornando as coisas mais difíceis para você mesmo. É evidente que está exausto e não estaria se tivesse feito o que eu sugeri.

― Agradeço a preocupação, mas o que a faz pensar que teria sido mais fácil deixá-la partir? ― Vinícius perguntou, aproximando-se alguns passos.

Kíria franziu o cenho. Por que ele se recusava a enxergar a razão?

― Você precisa se livrar de mim, Vinícius. Sabe disso tanto quanto eu.

― Se isso fosse verdade, por que eu teria pedido que você prometesse não tomar nenhuma atitude precipitada? ― ele argumentou.

― Porque você se sentiu responsável por eu ter perdido o bebê ― ela respondeu com voz totalmente desprovida de emoção e, por ter escolhido justamente aquele momento para afastar os cabelos do rosto, não viu a expressão dele endurecer diante de sua reação fria.

― Sou responsável ― Vinícius admitiu.

Kíria sacudiu a cabeça.

― Fui eu quem saiu correndo.

― Mas fui eu quem a fez correr.

― Nada disso importa, agora. Perdi o bebê e você está livre.

A indiferença de Kíria despertou a fúria de Vinícius. Com um movimento rápido, ele cobriu a distância que os separava e a segurou pelos ombros.

― Já chega! Nunca vou me livrar de você, Kíria, simplesmente porque não quero! ― declarou com veemência.

Em vez de reagir, Kíria manteve a mesma calma impassível. Sabia por que Vinícius estava agindo daquela maneira e estava decidida a fazer o que estivesse ao seu alcance para ajudá-lo a se livrar do sentimento de culpa.

― Você não sabe o que está dizendo ― falou.

― Sei, sim. Nunca tive tanta certeza de alguma coisa, em toda a minha vida. Diabos, Kíria! Por que é tão difícil acreditar em mim?

Um sorriso triste curvou os lábios dela.

― Vinícius, pare de se preocupar comigo. Eu estou bem. Já não sofro por causa de arrependimentos.

Vinícius fechou os olhos.

― Ah, esses malditos arrependimentos! Você não faz idéia de quanto eles têm me torturado!

― Você não tem culpa de sentir o que sente ― Kíria murmurou, tentando confortá-lo.

― Não foi isso o que eu quis dizer ― Vinícius corrigiu com paciência forçada. ― Não é o que está pensando.

― Não estou pensando nada ― ela garantiu, dando de ombros.

― Pois pode começar a pensar, agora mesmo! ― Vinícius explodiu. ― Ora, por favor, me desculpe.

― Tudo bem.

― Não está tudo bem, Kíria. Preciso encontrar um meio de atravessar essa barreira que você construiu em torno de si mesma.

― Estou ouvindo o que está dizendo, Vinícius.

― Está ouvindo com a cabeça, mas não com o coração. Quero explicar...

― Não preciso de explicações, Vinícius. Elas não vão fazer a menor diferença, agora.

― Mas fazem, para mim! Eu quero, ou melhor, eu preciso explicar. Vai me ouvir?

Kíria não queira ouvir coisa alguma, mas era evidente que Vinícius precisava falar. Quem sabe, depois de desabafar, ele pudesse ver a situação como ela via.

― Está bem. Vamos entrar ― convidou e conduziu-o para dentro do chalé. ― Você está encharcado. Pendure o casado atrás da porta e acenda a lareira. Vou preparar um chá.

Quando Kíria voltou, a lareira estava acesa e Vinícius se acomodara no sofá. Após alguns momentos de silêncio constrangido, enquanto os dois bebericavam o chá, Kíria falou:

― Estou ouvindo.

Vinícius respirou fundo, como se precisasse reunir coragem.

― Naquele dia, na cachoeira, depois que fizemos amor, você me perguntou se eu me arrependia de alguma coisa. Eu disse que tinha muitos arrependimentos, mas ter feito amor com você não era um deles. Eu jamais me arrependeria disso. Quando me dei conta do que você estava pensando, tentei explicar, mas você não me ouviu. Saiu correndo e, quando vi a direção que tomou, esqueci as explicações. Meu sangue gelou. Nunca senti tamanho pavor. Então, você caiu e eu pensei que fosse enlouquecer. Mas você estava viva... tão corajosa... Eu não queria deixá-la, mas era preciso. E você disse que confiava em mim... ― Vinícius ergueu os olhos atormentados para Kíria. ― Foi então que me dei conta do que tinha feito, de como havia desapontado você.

Kíria desviou o olhar, sabendo que isso não era verdade. Afinal, fora ela quem mentira e enganara.

― Não diga isso, Vinícius. Você nunca me desapontou ― declarou e, pela primeira vez, sua voz carregava um toque de emoção.

Percebendo a mudança, Vinícius agarrou-se à tênue possibilidade de falar ao coração de Kíria.


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