Um Homem Sob Medida escrita por Gilraen Ancalímon


Capítulo 18
Capítulo 18 - Tomar uma decisão


Notas iniciais do capítulo

Aqui vai mais um capítulo, me digam o que acharam, bjs



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As poucas horas seguintes foram as piores da vida de Kíria. Simpático, Vinícius agiu como o melhor dos anfitriões, tratando os convidados como se estivesse tudo bem. E, para eles, tudo estava mesmo bem, inclusive para Aya. Kíria sabia que, quando eles partissem, a fúria de Vinícius estaria reservada somente para ela. Por mais que tentasse, não conseguiu comer e, pelo bem do bebê, bebeu apenas um copo de vinho.

Desapercebida do desprezo nos olhos de Vinícius, Aya se mostrava feliz e satisfeita, pois sabia que nada aconteceria a ela. Kíria, por outro lado, sabia que o marido a comparava à irmã, algo que ela sempre temera. Afinal, era evidente que Aya não passava de uma caçadora de fortuna, pois uma mulher jovem não se casaria com um homem como Jorge Torres por qualquer outra razão.

Foi um alívio quando Jorge anunciou que precisavam ir embora. Vinícius acompanhou-os até o carro, mas Kíria permaneceu na porta. Quando se afastaram, ela entrou e ficou parada no meio da sala, sem saber ao certo o que fazer.

― Finalmente a sós! ― Vinícius exclamou com sarcasmo, ao entrar.

― O que você fez foi horrível ― Kíria murmurou, infeliz.

― Ora, minha doce e amada esposa, acreditou mesmo que eu jamais descobriria?

― Vinícius, por favor...

― Fiz uma pergunta, Kíria! Achou que eu jamais descobriria?

Ela baixou os olhos para o chão e respondeu em um sussurro:

― Sim.

Vinícius respirou fundo, como se precisasse de um esforço enorme para se controlar.

― Como pude pensar que conhecia você? Simplesmente não sei quem você é!

― Não é verdade ― ela protestou desesperada. ― Sabe tudo sobre mim.

Ele soltou uma risada amarga.

― A única coisa que sei com certeza, minha querida esposa, é que você é uma grande mentirosa.

― Só menti uma vez porque achei que não suportaria que você me olhasse como está me olhando agora ― ela confessou, sentindo as lágrimas arderem em seus olhos.

Vinícius estudou-a por um longo e doloroso momento.

― E como estou olhando para você, Kíria?

Ela sustentou-lhe o olhar.

― Com desprezo.

Os lábios dele se curvaram no mais puro cinismo.

― Vejo que é muito perceptiva.

Kíria sentiu o corpo gelar.

― Vinícius, por favor, não faça isso. Deixe-me explicar ― implorou.

― E o que você tem a explicar, meu amor? Que você e sua irmã são duas caçadoras de fortuna? Não sei qual das duas é pior. Ela é tão interesseira, que não suportou a idéia de se ver presa a um aleijado. Você, ao contrário, decidiu que valia a pena correr o risco.

― Não foi nada disso!

― O que foi, então, Kíria? Conte-me. Estou ansioso para ouvir.

Kíria foi atingida pela frieza de Vinícius como se ele a houvesse golpeado.

― É verdade que Aya pretendia se casar com você pelo seu dinheiro, mas não foi o mesmo comigo!

Ele ergueu uma sobrancelha.

― Não? Imagino que vá me dizer que bastou você olhar para mim para ficar perdidamente apaixonada.

O coração de Kíria se apertou.

― Foi exatamente o que aconteceu.

― Espera que eu acredite em você? Se é capaz de mentir sobre a própria família, só me resta perguntar que outro tipo de mentira você seria capaz de inventar.

Kíria ficou petrificada.

― Eu jamais poderia mentir sobre o meu amor por você ― insistiu.

― Verdade? Mas mentiu com tanta facilidade sobre sua irmã! Disse que vocês não se davam bem, que você não sabia por onde ela andava.

― Não foi mentira! Aya sabe que não aprovo seu estilo de vida.

― Diz isso como se casar com um homem, fingindo ser outra pessoa fosse um comportamento perfeitamente aceitável!

― Sei que errei, mas tive medo de perder você!

― Teve medo de perder o seu sustento?

― Não! Será que não compreende? Eu me apaixonei por você e sabia que se contasse a verdade sobre Aya, você passaria a odiá-la... e odiaria qualquer pessoa que o fizesse lembrar dela. Quando olhasse para mim, não veria a pessoa que realmente sou.

― Por isso, você decidiu se passar por ela, para poder ficar comigo.

Ah, ele fazia tudo parecer tão sórdido!

― Não foi assim que tudo começou. Eu pretendia contar a verdade a você quando estivesse em condições de ouvi-la. Não me importava que as outras pessoas pensassem que eu era minha irmã. Mas, então, descobri que estava apaixonada por você e achei que se esperasse, você passaria a me conhecer melhor. ― Fitou-o com olhar de súplica. ― E foi o que aconteceu, Vinícius. Você percebeu a diferença. A mulher que você conheceu antes do acidente não era a mesma que você encontrou depois. Você se apaixonou por essa mulher... por mim!

― E por que não me contou, então? ― ele inquiriu, sem negar que se apaixonara por ela, mas se recusando a lhe oferecer qualquer tipo de conforto.

― Porque não achei que seria importante. Eu o amava e você me amava!

― Por que correr o risco, quando a situação era tão cômoda e conveniente? ― Vinícius completou com desprezo, partindo o coração de Kíria.

Naquele momento, ela se deu conta da dura realidade: ele jamais a perdoaria.

― Magoei você. Nunca tive a intenção de fazer isso. Minha única desculpa é que te amo muito ― murmurou, sentindo a garganta se fechar com as lágrimas contidas.

Vinícius aproximou-se e segurou-lhe o queixo, forçando-a a encará-lo.

― Você não me ama, Kíria. Nem sequer conhece o significado dessa palavra.

― Não é verdade! Eu te amo!

― Não. Você me deseja. Não posso negar a paixão que sente por mim, mas isso não é amor. Quem ama não faz o que você fez. Você tirou de mim a liberdade de escolha.

O desespero ameaçou cegá-la, à medida que Kíria via o que fizera, pela primeira vez, do ponto de vista de Vinícius. Só então se deu conta da gravidade do erro que cometera. Só lhe restava tentar fazê-lo ouvir e compreender suas razões.

― Conheço muito bem o significado da palavra "amor". Amar é me sentir só metade viva, quando você não está comigo. É a alegria que sinto ao ouvir o som da sua voz, ao ver o calor do seu sorriso. É sofrer quando você sofre. Amar é saber que não quero estar em lugar nenhum, que não seja ao seu lado ― declarou com voz embargada pela emoção.

― Mesmo sabendo que sinto desprezo por você?

― Mesmo assim, pois sei que você me ama.

Vinícius deu-lhe as costas e foi até a janela.

― Amo? Como pode existir amor onde não há confiança? Não confio mais em você, Kíria. Não sei se voltarei a confiar algum dia.

Aquelas palavras atingiram Kíria como um golpe físico e, com um gesto instintivo, ela levou a mão protetora ao ventre.

― Está querendo me dizer que quer o divórcio? ― conseguiu perguntar.

Vinícius voltou a encará-la, mas foi com expressão amarga.

― Essa foi à primeira idéia que me ocorreu. Queria me ver o mais longe possível de você, mas, então, pensei no bebê.

A sala pareceu girar e, por um momento, Kíria acreditou que fosse desmaiar.

― Está pensando em tirar o bebê de mim? ― inquiriu incrédula.

― Senhor! Acha mesmo que eu seria capaz de fazer uma coisa dessas? ― Vinícius retrucou, chocado.

― Desculpe, eu...

― Simplesmente, acredito que uma criança precisa do pai e da mãe ― ele a interrompeu.

― Acha que devemos ficar juntos pelo bem do nosso filho?

― Não tenho a menor intenção de abrir mão do meu filho. Lutarei por ele, se for necessário.

― E quanto a mim?

Kíria sabia que, se tivessem de recorrer ao tribunal, suas chances de ficar com a criança eram muito maiores, mas ela não queria criar mais problemas com Vinícius.

― Tenho plena consciência de que se quiser ter o meu filho perto de mim, terei de ficar com você. Estou preparado para isso, mas será um casamento de aparências, nada mais. Você terá tudo o que precisar. Pode ter certeza de que seu sustento estará garantido. Dê o seu preço e eu pagarei, sem discutir, mas terá de ficar aqui, como o bebê. Em minha opinião, trata-se de uma troca justa: um cheque em branco pelo meu filho.

Kíria sabia que deveria atirar o insulto de volta. O que ele estava propondo não era uma verdadeira escolha. Se partisse, Kíria mal o veria. Se ficasse, estaria se condenando a uma vida infeliz.

― Não precisa se decidir agora ― Vinícius declarou, voltando a olhar pela janela. ― Pode me dar a sua resposta amanhã.

― Vou ficar ― Kíria respondeu sem pensar.

Então, perguntou-se se havia enlouquecido. Ficar seria o mesmo que pedir para ser magoada a cada minuto. Porém, não via saída. Não queria levar o bebê e perder Vinícius. Queria os dois.

― Eu já esperava essa resposta ― Vinícius admitiu. ― Levarei minhas coisas para o quarto de hóspedes ― anunciou, já subindo a escada.

Kíria deixou-se cair em uma poltrona. Todo o seu corpo tremia em consequência de tantos choques recebidos em uma só noite. Era como se estivesse vivendo um terrível pesadelo. A diferença era que ela sabia que não ia acordar. Ainda assim, apesar da dor que tomara conta de seu coração, ela ainda contava com um fio de esperança. Afinal, em momento algum, Vinícius negara que ainda a amava.

Sabia que o magoara demais e, por isso, ele perdera a confiança nela. Um casamento se construía sobre a confiança. Kíria não sabia se algum dia recuperaria o que perdera, mas tinha de tentar. Amava Vinícius demais para, simplesmente, desistir. Mesmo sem saber o que viria a seguir, só lhe restava ficar e lutar. A alternativa era dolorosa demais para ser sequer considerada.


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