Um Homem Sob Medida escrita por Gilraen Ancalímon


Capítulo 13
Capítulo 13 - Planos para o futuro


Notas iniciais do capítulo

Bem este vai ser o último por hj, tenho que ir para a minha aula, posto mais amanhã, bjs



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Kíria tinha a intenção de contar a verdade a Vinícius, mas encontrar o momento certo para isso era muito mais difícil do que ela esperava.

Vinícius saiu do hospital na segunda-feira e se hospedou em uma suíte no mesmo hotel onde estavam seus pais. Como precisasse deixar os casos que lhe haviam sido designados em ordem, antes de partir, Kíria teve de trabalhar até tarde todas as noites. Assim, só pôde ver Vinícius na noite em que haviam combinado jantar com os pais dele. E, portanto, só ficaram sozinhos bem tarde, quando os mais velhos se retiraram para seu quarto e Kíria e Vinícius se dirigiram para a suíte dele.

Naturalmente, a única coisa que queriam fazer era conversar. Somente bem mais tarde, permitiram que o mundo real invadisse seus momentos a sós.

― Esta suíte deve custar uma fortuna ― Kíria comentou.

Estava reclinada no sofá da saleta, nos braços de Vinícius, ainda atordoada pelos beijos ardentes que havia trocado. Sentiu o coração dele bater com a mesma violência que o dela.

― Posso pagar ― ele falou com objetividade.

― Está querendo me dizer que é rico? ― Kíria indagou com um sorriso.

― Sou muito bom no que faço ― ele respondeu, rindo.

― Você ê simplesmente rico, ou podre de rico?

― Podre de rico ― Vinícius fingiu seriedade. ― Está contente por se casar comigo?

― Vou me casar com você porque te amo, não pelo seu dinheiro!

― Ei! Eu só estava brincando.

― Não achei graça.

― Estou vendo. Querida, sei muito bem por que vai se casar comigo.

Kíria fitou-o por um momento. Aquela era sua oportunidade de contar a verdade, de limpar o caminho à sua frente, para que pudessem seguir adiante, juntos. Porém, quando abriu a boca para falar, foi atacada pela dúvida. O que aconteceria se ele não compreendesse a sua atitude? E se ele não fosse capaz de perdoar a sua mentira? Pior seria se Vinícius não pudesse perdoá-la! Nesse caso, Kíria o perderia. A possibilidade medonha roubou-lhe a coragem.

― Eu te amo, Vinícius, muito mais do que pode imaginar ― declarou em tom de urgência, antes de beijá-lo com paixão.

Em questão de segundos, estavam ambos perdidos nos prazeres daquele beijo. E a oportunidade se fora.

Mais dois dias se passaram, durante os quais Kíria se reprovou o tempo todo por sua covardia.

Na quarta-feira, almoçaram com os pais de Vinícius, a fim de discutir os detalhes do casamento.

― Rebeca e o marido, Mateus, virão, além de Evan ― Paula garantiu, quando tomavam café. ― Tem certeza de que não quer convidar mais ninguém para o casamento? ― perguntou a Kíria.

― Apenas Annie e Sérgio ― ela confirmou.

― Você não tem família? ― Paula insistiu.

Mais uma vez, pisavam em terreno minado.

― Nós ficamos órfãs quando ainda éramos muito pequenas ― falou sem pensar.

― Nós? ― Vinícius inquiriu, provocando-lhe um sobressalto.

― Eu... tenho uma irmã.

Paula exibiu um sorriso largo.

― Bem, então...

― Nós não nos damos muito bem ― Kíria a interrompeu depressa. ― Na verdade, nem sei por onde ela anda.

― Sinto muito, querida ― Vinícius falou, apertando-lhe a mão na tentativa de reconfortá-la.

― Não somos muito parecidas... ao menos, não no modo de pensar e agir ― ela acrescentou.

― O que aconteceu, quando ficaram órfãs, Kíria? Foram adotadas? ― Thiago perguntou.

― Não. As assistentes sociais não queriam nos separar e, na época, não encontraram nenhuma família disposta a adotar duas crianças de uma só vez. Vivemos em orfanatos, até termos idade suficiente para nos sustentarmos sozinhas.

― Pertencendo a uma família tão unida, tenho dificuldade em imaginar como foi a sua infância ― Vinícius confessou.

― Às vezes, não era tão ruim.

Era verdade que ela e a irmã haviam sido sempre bem vestidas e bem alimentadas, mas suas necessidades emocionais haviam sido ignoradas.

― Mas, às vezes, também não era tão bom ― Vinícius adivinhou.

Ela deu de ombros.

― Tudo melhorou quando fui para a universidade.

― Quando viu a sua irmã pela última vez? ― Paula perguntou com inocência.

Kíria sabia que deveria responder: "No dia do acidente, na UTI", mas por algum motivo, as palavras se recusaram a sair de seus lábios.

― Mamãe, não creio que Kíria queira conversar sobre isso ― Vinícius interferiu.

― Quando nos separamos, não foi exatamente como amigas ― Kíria murmurou, cedendo à covardia mais uma vez.

Apertando-lhe a mão, Vinícius mudou de assunto. Depois de conversarem por mais alguns minutos, os Maldonado se despediram, deixando o jovem casal a sós.

― Espero que desculpe mamãe ― Vinícius falou. ― Ela se interessa demais pelas pessoas e, às vezes, esquece-se de detalhes como tato.

Ainda sentindo nos ombros o peso da culpa, Kíria desviou o olhar.

― Tudo bem. Seus pais têm sido maravilhosos comigo.

― Eles gostam de você, o que não é difícil.

― Gostaria de tê-los como meus próprios pais ― Kíria murmurou com sinceridade.

Vinícius segurou-lhe a mão.

― Pobre Kíria.

― Não tenha piedade de mim, Vinícius! ― ela protestou, irritada, tentando retirar a mão da dele, sem sucesso.

Sabia que sua reação era exagerada devido à culpa que sentia, mas não pôde se controlar. Às vezes, mal reconhecia a mulher emotiva que havia se tornado.

― Piedade é o último sentimento que você me inspira, Kíria. É verdade que me senti triste pela garotinha solitária que você foi, apesar de ter uma irmã. Em se tratando da mulher para a qual estou olhando agora, piedade é o último sentimento que me ocorre ― Vinícius repetiu com voz rouca.

Bastou olhar para aqueles olhos cinzentos para Kíria saber do que ele estava falando. No mesmo instante, o sangue ferveu em suas veias.

― Acho que está na hora de eu ir para casa... para a cama.

Vinícius soltou uma risada.

― Qualquer menção a cama faz a minha pressão sanguínea aumentar ― comentou, provocante.

― Não há nada que eu possa fazer quanto a isso.

― Pelo menos, não aqui ― Vinícius concordou, lançando um olhar para os demais fregueses do restaurante.

Kíria não pôde conter uma risada.

― Talvez...

― Talvez? ― ele insistiu ansioso.

― Talvez você pudesse me contar sobre a sua infância ― ela sugeriu. ― Comece pelo dia em que nasceu.

― Está tentando desviar a minha atenção? ― ele perguntou.

― Não, a minha ― Kíria respondeu de pronto.

A chama do desejo iluminou os olhos de Vinícius e ele os fechou por um breve instante, antes de começar:

― Bem, deixe-me ver... Nasci em uma quinta-feira...

Kíria se recostou na cadeira e, com um leve sorriso, deixou-se hipnotizar por aquela voz profunda.

Ora, não era de admirar que ela tivesse tanto medo de perdê-lo. Vinícius era o homem mais perfeito do mundo. Como contaria a ele? Como poderia deixar de contar?

O dilema a perseguiu durante todo o seu último dia de trabalho, na quinta-feira. Kíria não esperava a festa de despedida organizada pelos colegas, nem pelo presente que haviam comprado. Lembrou-se de quanto fora feliz ali, o que justificava a tristeza que sentia por ter de partir.

Ainda assim, a realidade de seus atos somente a atingiu quando ela se preparava para jantar com Vinícius. Escolhera seu vestido preto de renda e estava admirando o próprio reflexo no espelho, quando a verdade se impôs em sua mente.

Ao pedir demissão do emprego, aceitar os parabéns dos colegas e concordar em se casar com Vinícius no dia seguinte, Kíria havia determinado que seu futuro seria ao lado dele. Portanto, só lhe restava uma atitude a tomar.

Permaneceu imóvel diante do espelho, como se sua imagem conversasse com ela.

― Não vai contar a ele, vai? ― o espelho acusou e Kíria leu a resposta nos próprios olhos.

Não, não contaria. Não podia. Durante toda a sua vida, Kíria fora vazia e carente. Agora, quando finalmente encontrara o que sempre estivera procurando, mesmo não sabendo que procurava, não poderia arriscar-se a perdê-lo.

O que seria uma forte possibilidade, caso ela lhe contasse sobre Aya. Bem, a alternativa também era arriscada, mas se Kíria não mencionasse o fato de serem gêmeas, Vinícius jamais saberia. Além disso, Aya estava a milhares de quilômetros de distância.

Tratava-se de um jogo de alto risco, o tipo de coisa que ela jamais pensara em fazer, antes. Talvez não fosse honesto, mas era a sua única alternativa. Sabia que poderia enfrentar problemas seríssimos, mas decidiu que valeria a pena arriscar.

A campainha tocou, provocando-lhe um sobressalto. Depois de alisar a saia, Kíria lançou um último olhar para o espelho. A decisão estava tomada. Não havia volta. Apanhou a bolsa e o xale e foi abrir a porta.

Vinícius estava mais lindo do que nunca, em seu terno preto e camisa de seda branca. Examinou-a da cabeça aos pés, sem esconder o prazer que a visão lhe proporcionou, antes de dizer:

― Vejo que tivemos a mesma idéia.

― Que idéia?

― Sobre jantarmos na privacidade da minha suíte, a menos que você tenha alguma objeção.

Kíria havia escolhido aquele vestido justamente por querer que aquela noite fosse especial.

― Nenhuma objeção ― declarou com voz trêmula.

Vinícius ofereceu-lhe o braço.

― O táxi está à nossa espera ― informou.

Fechando a porta atrás de si, Kíria aceitou o braço de Vinícius e deixou-se conduzir para fora do edifício. A idéia que ele não havia mencionado era que, naquela noite, finalmente fariam amor.


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