Insane escrita por Estressada Além da Conta


Capítulo 1
Foi você...




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- Oh, você veio de novo. – A voz da moça de 18 anos ecoou pelas paredes impecavelmente brancas que a cercavam.

Era um lugar um tanto estreito, porém ela não se importava. Afinal, a camisa de força não permitia muitos movimentos mesmo. A jovem estava lá, no fundo da sala, encostada bem no meio da última parede, a que a separava do mundo lá fora. A única janela ficava bem perto do teto, e era tão pequena que mal passava a luz.

- O quê foi? Vai continuar sem falar comigo? Isso é irritante... – Mesmo falando isso, sua voz e anatomia continuavam calmas, serenas por demais para alguém naquelas condições – Vai me matar? Ah, claro, eu me esqueci. Você prefere torturar um pouquinho antes de dar o bote, né? Ainda acha que isso vai surtir algum efeito em mim?

Silêncio. Silêncio era sempre a resposta dele. Mas, por alguma razão, ela entendia suas respostas. Um sorriso se formou no rosto jovem, enquanto as longas pernas de garota se esticavam no chão frio e branco. O sorriso não era feliz, tampouco agradável. Era algo sombrio, sinistro, com deliciosa crueldade e satisfação medonha. Estava satisfeita com sua posição. Estaria satisfeita em qualquer lugar, desde que ainda conseguisse ter sua insanidade sádica.

- Sabe, aqui eles me rotularam como louca. Mas mal sabem eles que já estou bem longe dessa fase. Não adianta tentar joguetear com minha mente, Slender. Esse é o seu nome, não? Slender?

Silêncio: a resposta recebida. Sempre era, de qualquer forma Não que ela se importasse. Já estava acostumada com o silêncio, e não seria o dele que mudaria isso. Com toda a certeza que sua sanidade inexistente conseguia reunir.

- Minha mente já é insana por si só. Não preciso de outro para brincar com ela. Você não pode me matar. Ao menos, não como sempre mata suas vítimas. E então, o que vai fazer? Não tenho medo de ser morta por você, mas acho que já notou isso. Que venha a Morte, não me importa. Que venha a Liberdade, também não me importa. Não me importa de como ou onde eu esteja. Eu te pergunto, vai me matar? Ou não, vai continuar a perder o seu tempo vindo até mim? Afinal, tem milhares de pessoas a quem torturar e triturar por aí. O menino do quarto ao lado grita a todo momento. "Salve-me!", "Sempre assiste, mas sem olhos!", "Segue!", "Não pode correr!", "Não, não, não, não, não, não!", "Deixe-me sozinho!", "Não olhe... Ou ele te leva!"... Ou coisas como "Por entre as árvores!" e fica repetindo... Repetindo, repetindo e repetindo, até algum médico abençoado ir lá e sedá-lo.

Mais silêncio. Ela sabia que ele estava lá, sabia que ouvia. Sentia sua presença. E, por alguma razão, não erguia os olhos para ver o sujeito. E fazia diferença? Tinha importância? Claro que não. Além do mais, o branco daquele lugar feria seus olhos. Preferia mil vezes a escuridão aconchegante.

- E então, vai fazer o quê? Vamos, diga-me! – O sorriso psicopata se alargou, mostrando os dentes impecavelmente ainda mais brancos que a sala.

Ela estava se divertindo em sentir algo tão mortífero perto de si. Ah, a deliciosa sensação da Dama Fria arrepiando sua pele. Ela podia sentir os dedos frios indo lentamente em direção ao seu pescoço, preparando-se para fechar-se e estrangula-la. Podia sentir a baforada gélida em sua nuca. Seus pelos se eriçavam só de pensar. Seria ela aquela figura esguia com capa negra e foice que tantos imaginavam? Ah, que bela curiosidade. Qual seria o gosto da Morte? Amargo? Doce? Ou não teria gosto? Seria a Morte um grande nada? Se fosse, não faria diferença? Viver também era nada. Ah, que seja. Ela não queria saber. Não fazia questão nenhuma. Que ficasse viva. Tanto fazia.

- E então? Como vai ser? Vai continuar tentando me enlouquecer?

"Você é insana demais para viver...", uma voz sombria ressoou pela mente dela.

Ela arregalou os olhos, mas não os levantou. A cabeleira castanha escura caía como um véu pelas suas costas e ombros, e tapava lhe um pouco a escassa visão. O sorriso se alargou mais, se é que era possível.

- Oh, então é assim que você fala?

"Você é insana demais para viver..."

- Não tenho como contradizer essa frase. Então ande logo e me mate.

"Mas é insana demais para morrer..."

- Era só o que me faltava. Um psicopata indeciso.

"Você não deve viver, e mesmo assim vive. Você não deve morrer, e mesmo assim se sente alegre em abraçar a chance de morrer."

- E...? Até agora você só comentou o óbvio.

Passos se fizeram presentes cada vez mais. Ela finalmente ergueu os olhos azuis brilhantes para fitar o ser. Depois de meses, finalmente constatava o quão alto e esguio ele era. E albino. Não possuía face alguma. O sorriso se desvaneceu por alguns segundos, para depois voltar com força total.

- É mais bonito que eu imaginava. Agora entendo o "Sem olhos" do idiota ao lado.

Sem alguma outra palavra, Slender deixou os tentáculos em suas costas à mostra. Os braços finos envolveram o corpo um tanto rude da garota. Ficar tanto tempo sendo torturada fisicamente e com uma camisa de força não ajudava a deixar o corpo macio e flexível. Tudo ficou negro. Seus olhos se fecharam e só abriram após algum tempo. Quando abriram, o brilho pálido de uma manhã cinza os fez piscar incessantemente, até se acostumarem. Estavam do lado de fora do prédio onde ela passara mais da metade de sua vida. Haviam árvores com galhos retorcidos a sua volta.

- Esse lugar...

"Dê-me suas mãos..."

- Hã? – Só então a garota percebeu que seus braços estavam livres, e tudo que trajava era o vestidinho branco encardido de sempre. Não sentia frio, apesar de parecer ser inverno e das alças finas.

Notado aquilo, não hesitou em esticar os braços e estender as mãos para Slender. Mal as finas dele a tocaram, e uma torrente de cenas passou por sua mente. Pessoas hipnotizadas, pessoas tremendo de medo, pessoas esqueléticas e pálidas. Crianças tremendo de pavor, olhando diretamente para ela pelas suas janelas. Adultos paranoicos, com armas e outras coisas que julgavam ser algum tipo de proteção, todos magros, pálidos, quase como cadáveres. Depois, vieram outras imagens. Crianças cortadas em pedaços. Adultos nos altos das árvores, com sangue pingando de modo deliciosamente lento. Pessoas contorcidas de jeito bizarro, poças de sangue fresco, terror nos olhos já mortos, ossos quebrados. A última parecia borrada. Alguém se arrastava, todo ensanguentado e lutando bravamente contra as garras da Morte, em alguma direção desconhecida. Esse mesmo alguém estendia a mão ensanguentada para algum lugar, antes de finalmente desfalecer.

A jovem saiu de seu torpor. Piscou repetidas vezes, e a cabeça calva e albina de Slender tomou foco.

- Uau, não sabia que você podia fazer isso. Pode me ensinar? – Pediu tanto surpresa. Viu os ombros do ser tremerem como se estivesse... Rindo... Slender se aproximou mais e tocou a testa dela com a sua. O rosto (Isso, devo ressaltar, é modo de dizer, claro.) ficou extremamente próximo, porém logo sumiu, dando lugar à outra visão.

Uma mulher grávida de olhos azuis, olhando pela janela de uma casinha pequena e humilde. A cena se alterou, agora a mulher segurava uma criança de cabelo ralo e castanho. E, uma atrás da outra, as imagens iam e viam. Uma menininha de um ano, mordendo com voracidade uma bonequinha de pano. A mesma menininha, talvez com três anos, cortando, com prazer no rosto e tesoura na mão, as patas de um ratinho, e este guinchava, desesperado. Aos cinco anos, a garotinha brigava com os pais, com o cadáver de um morcego nas mãos e uma faca extremamente pontiaguda. Aos sete, a garota observava, impassível, sua mãe se arrastar até ela, totalmente ensanguentada e cortada, prestes a morrer. O corpo de seu pai jazia a apenas alguns metros, aos pés de alguém muito alto. Agora com oito anos, era empurrada para um veículo grande por pessoas vestidas de branco com o emblema de um Centro Para Pessoas Com Problemas Mentais a. Um hospício, em outras palavras. Ela não relutava, apenas sorria o mesmo sorriso que aparecia quando torturava algum ser vivo. Agora, a menina tinha quinze. O corpo já havia se desenvolvido bastante, já não era reta, e estava com curvas e as pernas estavam tomando formas. Então, a imagem passou para a jovem de dezoito anos de agora. A única coisa que se mantinha era o sorriso insano.

- Foi você... Você matou meus pais...


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Notas finais do capítulo

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