Havia poucas semanas que eles tinham chegado a Hidden Hills para compor o novo álbum. O Paramore vinha constantemente se desentendendo, muitas vezes pelos motivos mais banais que se possa imaginar. Era um dia calmo de verão, todos estavam na sala vendo um filme, e silêncio reinou até o fim do mesmo. Foi então que Jeremy decidiu tocar baixo, mas quando foi pegá-lo, notou que ele não estava ali. Procurou no quarto, na sala, na cozinha... do jeito que as coisas estavam, supôs que ele devia ter tido essa idéia e deveria estar achando a coisa mais engraçada do mundo.

 - Ok Zac, cadê meu baixo? – perguntou um Jeremy irritado. – Já chega dessas brincadeiras.

As circunstâncias eram tão extremas que até Zac, que possuía o bom humor e costume de brincar com tudo, não estava calmo.

- Sei lá, Jeremy. – disse Zac enquanto se levantava do sofá. – Você deve ter deixado por aí.

O caçula dos Farro tentou amenizar o clima, mas suas palavras fizeram o efeito negativo no baixista.

- Claro, sou como você. – respondeu ele irritado. – Não vê que você só está piorando a situação? A da banda toda.

Zac ficou surpreso, Jeremy estava jogando na cara dele coisas que sabia que não faziam o menor sentido. Os outros três continuavam sentados, vendo um canal aleatório, tentando dispersar a atenção de mais uma briga interna.

- Banda? Que banda? Se ainda pudermos ser considerados isso...

A fala de Zac deixou todos perplexos. Sim, eles tinham noção que era uma opção bem provável no momento, mas ninguém queria pensar nisso. Eles estavam mudando, e com isso a convivência vinha se tornando inesperadamente difícil. Hayley bufou irritada, levantando-se num pulo. Já estava cansada de repetir as mesmas coisas. – Vai dar tudo certo, parem de brigar. – e semelhantes. 

Nenhum dos garotos parecia querer ouvi-la, como se achassem que a vocalista não possuía mais a capacidade de resolver os problemas da banda. Ela foi andando em passos largos, subindo dois lances de escada e entrando à esquerda em seu quarto. Ainda refletindo sobre os acontecimentos, pegou uma folha e o lápis mais próximo, sentando numa escravininha, começando a escrever. Sabia que sua lucidez falharia se não pusesse tudo que sentia em forma de música. A irritação pelas brigas, o medo do fim do seu sonho, sua incompetência em dar um fim nisso tudo, a ignorância dos outros integrantes...

“Espera... ignorância?” – divagou Hayley perdida em pensamentos.

Decidiu batizar a música provisoriamente de Ignorance e prosseguiu escrevendo o que lhe vinha à cabeça fortemente com o lápis. Não perdia tempo, rabiscava o que achava que não tinha se encaixado nos trechos, e assim prosseguia, até que as vozes lá de baixo ficaram mais altas.

- Z, deixe-o sozinho para pensar, ele está precisando. – pronunciou-se Taylor com um timbre receoso.

- Não Taylor, preciso do meu baixo. – retrucou Jeremy no mesmo instante.

Foi a vez de Josh sair do assento, a beira de um ataque de nervos.

- Agora sou eu que preciso ficar sozinho. Jeremy acredite no Zac agora, cara. É só o que eu posso te aconselhar.

Hayley ouviu tudo, até que com força quebrou a ponta do lápis. Pegou o apontador mais próximo e refez a ponta, tentando ignorar os ruídos lá de baixo. Josh subiu cansado, e enquanto caminhava pelo corredor, percebeu a vocalista murmurando algo incompreensível. Esgueirou-se por trás dela sorrateiramente, lendo o que a garota tinha escrito.

If I'm a bad person, you don't like me
I guess I'll make my own way
It's a circle
I mean cycle
I can't excite you anymore
Where's your gavel? your jury?
What's my offense this time?
You're not a judge but if you're gonna judge me
Well sentence me to another life.

As letras variavam, hora escritas como em negrito, algumas palavras inclinadas, e partes riscadas. O Farro deduziu na mesma hora que se tratava de uma música, e deu uma risadinha sem perceber.

- Josh?! – assustou-se Hayley. – O que está fazendo aqui?

Ele suspirou brevemente por sua imprudência.

- Ah, cansei de ficar no meio da linha de fogo. – disse e sorriu em seguida. – Aliás, deixa eu ver isso aí.

O rapaz foi logo pegando o papel, mas Hayley puxava-o de volta inutilmente.

- Não! Josh Farro devolva agora! – ela falou, aumentando o tom.

Josh ria enquanto levantava ao máximo a folha, fazendo a garota pular para tentar alcançar. Deu uma breve olhada no trecho seguinte enquanto Hayley fazia uma careta.

Don't wanna hear your sad songs
I don't wanna feel your pain
When you say swear it's all my fault
Cause you know we're not the same
Oh we're not the same (2x)

Ele parou por alguns segundos, baixando o braço. A vocal ficou com cara de interrogação quando viu a face dele.

- Isso é alguma espécie de indireta por música, Hay? – enfim perguntou.

- Do que está falando? – indagou Hayley irônica.

Josh deu uma rápida olhada pelo quarto, pairando o olhar em uma pilha de papéis na mesinha, onde no primeiro se lia “Letras Rejeitadas”.

- Nada, só o seu trecho diz das músicas tristes de alguém... – revirou os olhos antes de continuar. – Sendo que sou o único da banda que tentou compor com você durante essa perturbação toda...

A baixinha desviou o olhar, irritada.

- Bom, você tem falado nelas demais de amor e dor, de forma bem melancólica. Acho que você está muito obcecado por alguém.

Josh corou. Presumia que Hayley já tinha colocado no fundo de um baú os possíveis sentimentos dele sobre ela. Nunca havia deixado de amá-la, e as coisas vinham se tornando cada vez mais difíceis. Estava feliz por ela ter terminado um namoro longo recentemente, porém pensava o quanto egoísta era esse pensamento. Repetia para si que o importante era vê-la feliz, mas por dentro sabia que queria que fosse com ele e ninguém mais. Tudo nela era deslumbrante: seu jeito, a forma de falar, seu sorriso...

- Já estive assim. – ela prosseguiu calma. – Somos melhores amigos, não é? Pode contar o que quiser.

A vontade de Hayley era falar que queria que toda essa obsessão fosse por ela. Mas sua voz se perdeu, receosa. Já não tinha sentido tentar esconder tudo que seu coração sentia por Josh. Parara de tentar negar tudo, e tinha consciência que ficar com outro não resolveria nada, muito pelo contrário, só estava doendo mais quando ela finalmente se deu conta de que o amava.

- Droga Taylor, pare de se meter! – a voz estrondosa de Jeremy ecoou do andar inferior.

Os dois garotos que estavam acima se entreolharam hesitantes. Josh se pegou pensando em tudo que a ruiva era para ele. Então soltou a folha e pegou as mãos dela com delicadeza até a altura de seus rostos.

- E se eu disse que estou obcecado por você?

Dessa vez a frase não se perdeu como muitas vezes pensara, e ele já não temia as possíveis reações dela. As palavras penetraram na mente de Hayley enquanto a mesma terminava de decodificar o acontecido.

- Mesmo no meio dessa guerra? – perguntou Hayley sorrindo.

Os dois riram, ignorando tudo que acontecia ao redor. Era o momento que esperavam, e nada poderia atrapalhar.

Ele encostou seus lábios nos dela, abraçando-a em seguida. Beijaram-se ternamente enquanto suas línguas exploravam a boca um do outro. Quando sentiram falta de ar, foram obrigados a se afastarem. Os dois respiravam pesadamente.

- Eu te amo, Josh – sussurrou Hayley no ouvido dele.

- Eu tam...

A vocalista não o deixou terminar e selou os lábios do jovem novamente, enquanto brincava com os cabelos dele.

- Hay... acho que não podemos deixar eles se matando o dia inteiro. – concluiu, beijando-lhe a testa e se afastando.

- É, acho que... – de repente foi interrompida.

B  A  M   !

- Que diabos eles quebraram agora?! – exclamou uma Williams atônica.

Ficaram estáticos enquanto ouviam mais barulhos.

- Ok, vamos rápido antes que destruam a casa. – disse Josh sem jeito. – Ou o que sobrou dela.

Hay gargalhou, abaixou-se e pegou a folha em que escrevera mais cedo.

- Realmente preciso mostrar essa letra pra eles. Você os acalma, eu termino e te ajudo? – propôs ela serenamente.

- Claro. Tenho certeza que vamos resolver isso.

Josh deu uma última olhada para ela antes de descer. No fundo eles sabiam que as divergências seriam consertadas, porque se a banda se desintegrasse, os sonhos de todos iriam seguidamente para o abismo. Relutantes, os outros integrantes leram a nova música de Hayley, intitulada definitivamente de Ignorance.

Aos poucos, foram se dando conta de como estavam agindo, e conscientizaram-se que nunca queriam que o Paramore tivesse um fim. Nesse conjunto estavam os amigos, os ideais e o amor pelos fãs. Nada disso iria acabar, ninguém permitiria. Assim, algo a mais se concretizou naquele dia: A paz, juntamente com o início de um novo álbum.