NICO

A escuridão o abraçara enquanto partia em direção ao Argo II. Odiava o Cupido. Odiava Percy Jackson. Odiava Jason Grace. Mas ele gostava da escuridão. Ela o entendia, ela o escondia quando não queria ser encontrado. As sombras nunca o decepcionaram ou o abandonaram. Ela, assim como os mortos, fazia parte da sua minúscula lista de amigos.

Mas o garoto não se importava em ficar na companhia de mortos e sombras. Era melhor do que ficar em qualquer acamamento e ser temido por ser filho de Hades. Ou pior, ter que ver Percy e Annabeth juntos, sabendo que nunca seria aceito ou amado por aquele que amava.

Odiava Percy Jackson. E odiava a si mesmo por estar apaixonado por ele.

Idiota, pensou. Isso é minha culpa, eu não deveria ter me impressionado por ele quando fui salvo pela primeira vez há alguns anos; não deveria me sentir assim, era errado.

É errado, errado! Gritava dentro da sua cabeça, como se tentasse fazer com o que sua mente o ouvisse. Errado.

Pelo menos, foi o que sua mãe lhe disse, mais de setenta anos antes, quando ele mencionou que vira um garoto bonito nas ruas italianas e que seu coração batera mais rápido.

Idiota

Nunca seria aceito, e ele estava exausto de fugir. Mas era melhor que ficar e ter que encarar seus olhos verde-mar e ter que vê-lo amar Annabeth. Não, isso doía demais.

“Tive uma queda por Percy. Essa é a verdade. Esse é o grande segredo”

As palavras rondavam sua cabeça enquanto uma pequena lágrima se fundia às sombras ao seu redor.

Era a primeira vez que admitia para alguém que não fosse a si mesmo os sentimentos que sentia pelo garoto. E ele odiou cada momento disso.

Nico estava com raiva, mas também se controlava para não derramar mais uma lágrima. Estava simplesmente cansado. Cansado de fugir e de se esconder. Ele gostava de ficar com os mortos, mas agora, ele também tinha outra irmã, e amigos. Mas ele sabia que os amigos o abandonariam assim que soubessem a verdade. Um filho de Hades gay. Isso não era justo, ele sabia, mas nada com os deuses era justo. Então, quando sentia que estava prestes à sucumbir à sua paixão e ao medo, ele corria. Corria pelas sombras e ia parar em lugar nenhum, e, às vezes, chorava.

Ninguém nunca o aceitaria. Percy sentiria nojo dele; Annabeth o odiaria; Hazel sentiria vergonha de serem irmãos. Eles não entendem! Queria gritar, mas ninguém iria ouvir, afinal.

Ninguém nunca ouvia.

Então, subitamente, ele se viu á bordo do Argo II. A viagem pelas sombras havia acabado.

Ele estava sozinho com Jason Grace e Festus, naquela região do navio. Nico estava indo embora com o cetro em mãos, quando o filho de Jupiter o chamou.

“Nico!” Falou e segurou o mais magro pelo ombro. “Olha, eu não sei o que você passou, mas sei que foi difícil. Então, eu estou aqui se você precisar, e eu juro pelo rio Estige que não me importo que você ame Percy Jackson. Isso faz parte de quem você é, Nico. Não me importo se esteja apaixonado por um garoto ou uma garota. Deuses! Não me importo se esteja apaixonado por uma ninfa! E eu sei que nenhum dos outros se importa também. Você é um cara legal, e se precisar de um amigo, você tem a mim. Você tem a todos nós”

O garoto foi embora e deixou Nico atônito, paralisado.

Ele não se importa. Meus amigos não se importam. Era tudo o que pensava naquele momento, enquanto uma pequena faísca se acendia em seu peito.

Há muito tempo ele não se sentia aceito.