A Morte Espera Uma Resposta. escrita por LuMartins


Capítulo 1
Mansão Claus.




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– Sabe que dia é hoje? – perguntou aquele velho com os óculos caindo em seu nariz.

– E como poderia me esquecer? – perguntou o garoto com um sorriso sinistro serpenteando seus lábios. – É Halloween, bom homem, e faz um ano que meus amigos morreram.

– E já faz exatamente um ano que aconteceu esse trágico incidente. – relatou o velho. – E mesmo assim, todas as coisas que me disse nunca fizeram sentindo.

– Não para o senhor, mas para a voz que ainda está comigo faz todo o sentindo. – Augusto retrucou.

– E como se sente depois de tanto tempo? – perguntou o doutor Moraes.

– A morte transborda de meus poros, meu caro, ela nunca me deixou. Sabe, nós poderíamos nos recordar quem sabe. – o garoto saltou de sua poltrona irritantemente marrom e olhou para as paredes insanamente brancas.

– Como queira jovem.

O garoto começou a se recordar de cada passo, era o dia mais temido da cidade de Westwood, não era comum as crianças saírem para pedirem doces, e muito menos os jovens poderiam se divertirem em festas, mas era comum todos se esconderem em suas casas, e rezarem incessantemente.

Talvez para aquele garoto fosse reconfortante relembrar de todos os acontecimentos, pois era o único a sair vivo de uma brincadeira maligna.

– Elisabeth quem deu a ideia de irmos até a Mansão Claus, todos nós sabíamos que ela era proibida, mas quem diria algo sobre a filha do prefeito. Bruno e Alyssa decidiram que iriam conosco.

Estranho que naquele dia, algo estava diferente, eu estava diferente, me sentia enjoado, fraco, e não queria por meus pés no chão. Mas Liz era tão persuasiva, linda e estranha. – o garoto riu seco. – Logo estávamos na trilha em direção a Mansão Claus, ela estava no relevo mais alto daquela cidade pequena, onde todos se conhecem e fofocam sobre a vida alheia.

Andamos pouco mais de duas horas, era inacreditável a força que eu tinha arranjado, talvez fosse à energia que passava das mãos de Liz para as minhas.

“Vocês sabem por que ninguém saí de casa no dia de Halloween?” perguntava Liz todo estridente. Ninguém queria saber, todos temiam o dia, mas mesmo assim ela continuou. “Por que um grupo de adolescentes morreram aqui!” Liz continuou com um sorriso que me fez estremecer, olhando para aquele portão velho e enferrujado.

“Eles eram jovens como nós, e sabe é loucura, mas estou tão excitada.” Nós ouvíamos apenas a voz de Liz e o vento forte que cortava em nossos rostos.

Paramos em frente a porta antiga daquele casarão que estava em péssimas condições, e uma sensação estranha me atingiu, era como se tivesse algo pesando em meus ombros. Estremeci.

“Acho que não devíamos estar aqui Liz.”. Disse logo, era evidente o quanto eu, Bruno e Alyssa estávamos com medo.

“Vocês são uns covardes” gritou Liz. “Querem viver como nossos pais imbecis, nós somos a revolução”.

Aquele peso todo em meu ombro estava se alastrando por meu corpo, e um vento forte bateu em minha orelha e um sussurro me fez estremecer. “Você é meu!”.

Entramos no casarão, e arrumamos nossas coisas ali mesmo na sala de estar, por mais que estivéssemos em um relevo maior, um frio insuportável começava a ser instalar naquela sala.

“Sabe, devíamos ir olhar a casa” disse Liz empolgada.

“Hoje não, amanhã o faremos.”. Respondi seco, mas parecia que ninguém me ouvia. Bruno e Alyssa se animaram e quiseram ir também.

“Augusto para de ser velho, vou contar toda a história daqui e principalmente a morte do grupo”.

Saímos nos aventurando naquela casa que me dava arrepios.

“Gente, aqui, segundo os relatórios que eu peguei emprestado do meu pai, aconteceu à primeira morte. E vamos assustar você um pouquinho, mas ele se chamava Bruno Medeiros”. E um sorriso macabro serpenteou os lábios de Liz.

“Que brincadeira tonta, Elisabeth.”. Gritou Bruno.

“Não é brincadeira, nunca perguntou pro seu paizinho por que ele te deu esse nome? Ah vamos, quem sabe não é por que ele é o seu tio morto.” Liz estava sendo cruel e passando dos limites.

“Cale a boca Elisabeth”. Gritou Bruno cabisbaixo e totalmente sem reação.

“Bom, agora vou contar como ele morreu não se importa né Bruno? É acho que não. Então, ele foi decapitado, dizem que pelo estado de decomposição ele foi o primeiro mesmo, ah é, ele foi decapitado, só uma informação.”. Liz disse tudo rapidamente e de forma irônica.

“Vadia.”. Bruno murmurou.

E assim continuamos o passeio, e logo subimos a escada e chegamos ao primeiro quarto. O cheiro de mofo era insuportável, mas, mais do que isso, era evidente o cheiro de morte, era tão claro.

“E aqui, Alyssa Norah foi encontrada enforcada, pendurada no ventilador de teto, e nua.”. E assim nós seguíamos nossa guia turística cruel. Mas, seguíamos por que queríamos, e por que a curiosidade era maior, e por que acima de tudo, por mais mesquinha que fosse Liz era nossa amiga.

E logo chegamos no banheiro, quando entrei senti algo forte, não como nos outros locais, era quase insano achar que eu estava me vendo ali, sendo estripado, dilacerado, e cada órgão sendo arrancado lentamente.

“Finalmente chegamos ao meu favorito, Augusto Marson, primo do seu pai, não Guto? É realmente, sua morte foi escandalosa, foi torturado, estripado e morto sem redenção alguma.”. Eu estava atordoado, não pelas palavras que ela proferia, mas sim com as sensações estranhas que eu tive.

“Bom, acabamos por enquanto nossa viagem galera.”. Liz continuou, porém foi interrompida por Alyssa.

“Espera Elisabeth, falta uma morte, e era da sua tia, não é isso?”

“Talvez esteja certa, mas a noite é uma criança.”. Retrucou Liz.

Estávamos prontos pra descansarmos, e era pouco mais das dez horas da noite, e ainda estávamos acampados ali na sala de estar.

O silêncio que se instalava era perturbador, e eu não pregava meus olhos, e parecia que Bruno também não, logo após aquele discurso desnecessário de Liz sobre seu tio, Bruno não abriu a boca, e ficou pensativo o resto da caminhada.

Era onze horas da noite, e um grito estridente e rouco rasgou meu peito em um susto, me levantei e olhei ao redor, eu apenas encontrei escuridão. Fui até os sacos de dormir, e encontrei apenas Alyssa que chorava descontroladamente.

“O que houve Aly?”. Eu perguntava incessantemente, mas minha resposta era apenas as lágrimas que pareciam engasgar em sua garganta.

“Liz, Elisabeth, Liz” eu gritava com a intenção de encontra-la.

E mais um grito ensurdecedor pairou no ar.

“Bruno, Elisabeth”, porém apenas a escuridão me engolia.

“O que foi? Por que tanto grita?”. Perguntou Liz logo ao meu lado, me assustando completamente.

“Não escuta os gritos? Cadê o Bruno?”. Perguntei desesperado.

“O Bruno disse que iria embora, eu estava lá na porta com ele.” Disse ela dando de ombros e Alyssa apenas chorava. “Deita e descansa e amanhã iremos embora.” Continuou.

Sentei ao lado de Aly e a abracei, e logo ela pegou no sono.

Menos de quinze minutos, um estrondo alto correu a casa toda, e eu me levantei em alerta, peguei uma lanterna da minha bolsa, e eu iria ver o que acontecia.

Caminhei até o começo da escada de onde vinham alguns barulhos, pisei em algo líquido e quase escorrei ali, joguei a luz naquela direção e encontrei sangue.

Corri a luz e encontrei uma cena detestável, e o meu mundo caiu, era meu melhor amigo, morto, decapitado, e eu jurava que estava vendo aquela cena de novo.

Era Liz, só podia ser ela, ela estava obcecada, ela sabia de tudo, eu quase não tinha mais dúvidas, quando escuto outro grito, de maneira automática, corri em direção ao primeiro quarto, logo me deparando uma cena estranha.

“Liz?” Perguntei atônito.

Elisabeth estava com os pulsos cortando e usando o sangue para fazer um enorme pentagrama no chão, e logo estava dentro, ela parecia em êxtase

E dizia palavras desconexas.

“Liz, o que esta fazendo?”. Perguntei novamente.

“Entregando-te para a morte.”. Apenas disse e voltou para o que parecia um ritual.

Logo senti uma pancada na cabeça, e acordei em um hospital, e nunca mais me lembrei de algo.

O garoto tinha terminado sua pequena lembrança, e o doutor ligou o televisor de plasma que estava bem acima de sua cabeça, ele tão bem conhecido pelo garoto.

“Entre os adolescentes mortos Elisabeth O’Connor, filha do prefeito de Westwood David O’Connor, a garota foi encontrada morta, de forma terrível que foi difícil para reconhecê-la, seus órgãos foram retirados de seu corpo, e seu rosto totalmente desfigurado.”

E isso era o que mais intrigava o garoto, ele realmente sentia que era para ter sido ele, mas nunca lhe passou pela cabeça o que ocorreu com Alyssa.

– O que aconteceu com Alyssa doutor? – perguntou Augusto.

– Esperei um ano por essa pergunta. – disse o velho sorridente. – Talvez devesse perguntar para ela.

A garota entrou na sala, assustando Augusto por completo.

– Olá Guto. – disse ela sorridente.

– Mas... Mas como? – Augusto estava totalmente confuso.

– Não como, mas por quê? Sabe Elisabeth era louca, e tudo, mas ela te amava, é realmente, ela te salvou, mas é Halloween meu amor, e nossa brincadeira não terminou ainda. – disse ela trancando a sala do psiquiatra que assistia tudo aquilo divertido.

– O que pensa em fazer? – perguntou temeroso.

– Lembra quando perguntei sobre a tia da Liz? – Alyssa perguntou e Augusto apenas assentiu. – Naquela época eu tinha descoberto que ela era minha mãe, irônico e que meu paizinho é esse velho inútil, me deram para a adoção, ah que pena de mim. Então, eu sabia que algo deu errado a vinte anos atrás, não era para ela ter morrido, curioso como, eu sei de todos os passos dela, e bom eu não terminei meu jogo.

E assim aquele doutor pegou algo pesado e lançou na cabeça do jovem, fazendo com que ele desmaiasse imediatamente.

Logo que o garoto acordou, ele estava pendurado na cadeira, com uma corda enrolada em seu pescoço, e amarrada no ventilador de teto, seus braços e pernas amarrados.

– Me tira daqui Aly, por favor. – começou a choramingar.

– Tenha uma boa morte. – disse ela chutando a cadeira que sustentava o garoto. E assim, o último suspiro do garoto ecoou pela sala.

Alyssa subiu na cadeira para desfazer as amarras dos punhos do garoto, e selou seus lábios aos do garoto já sem vida.

– Gostosuras ou Travessuras, meu amor?


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