UM DESTINO CURIOSO

 Durante três anos houve uma paixão pelo desconhecido entre ela, conhecida por K, e ele, conhecido por Toni. Durante três anos, a garota sem nome, que veio da cidade grande, trocou bilhetes românticos com o garoto curioso, nascido naquela cidadezinha pacata do interior.

 Durante três anos eles mantiveram uma paixão ardente armazenada em simples bilhetinhos, que eram trocados no Baile de Fantasias. Seis bilhetes por Baile: três perguntas de um, três respostas do outro. Esse foi o combinado.

 Durante três anos muitos, para não dizer milhares, de bilhetes foram escritos com muito amor, mas nunca era suficiente. Ela, sempre num vestido cada vez mais deslumbrante chamando atenção de todos, e ele, que estava radiante independente da fantasia, nunca mostravam o rosto, mas sempre esperavam ansiosamente a próxima Sexta em que se encontrariam.

 No último ano em que se encontraram, K estava linda, como sempre, num vestido de pirata~fantasma que tinha um brilho misterioso e com uma máscara/chapéu que deixava apenas a boca à mostra. Toni também estava maravilhoso, vestido de mágico~vidente, com uma máscara branca e uma cartola mágica, de onde ele tira uma rosa branca que se tinge de vermelho quando K a toca.

 Mas isso tudo foi antes à nove anos atrás, antes da diversão ser banida do mundo. Antes das feiras serem fechadas e as praças ficarem imundas. Isso aconteceu quando o mundo ainda era livre. Quando o único problemas era ter que namorar escondido dos pais para não ter que ficar de castigo, ou até mesmo se mudarem.

 Carol não imaginava que, depois de tantos anos, o garoto que assinava os bilhetes com "Baile da Sexta. Meia-Noite. Minha resposta. Toni" estaria com os mesmos cabelos loiros macios, com os mesmos olhos verdes encantadores e com o mesmo sorriso simpático que viu num dos Bailes à muito tempo atrás.

 Antônio também não esperava encontrar os lisos cabelos cor de cobre e o sorriso mais encantador do mundo sorrindo para ele com o mesmo brilho de nove anos atrás. Nove longos anos que ele passou tentando contar quantos bilhetes eles perderam a chance de trocar por causa da injustiça desse mundo cinzento.

 Mas o destino é assim. Quando é pra dar certo, até o arco-íris aparece no momento certo. E depois de tantos anos esperando os Bailes coloridos que não voltariam à esse mundo preto e branco tão cedo, eles se encontram dois bilhetes que carregam consigo desde que se encontraram da última vez. 

 Ela, misteriosa que só, tinha simples palavras: "Meu nome é Carol, e eu descobri que te amo e quero passar o resto dos meus dias ao seu lado."

 Ele, com dois bilhetes: "Meu nome é Antônio e eu aceito seja lá o que for." e "Conto os dias desde que nos separamos. Eu nunca deixei de te amar."