Indolência escrita por Road-sama


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Bom, em meio a devaneios senti a necessidade de escrever essa fic. A princípio não terá uma continuação, até por que nem tenho ideias para continuar. Espero que gostem! *----*



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[...] Eu queria encontrar uma razão para terminar tudo o que começo. Trabalhos, projetos, quebra cabeças, relacionamentos... Não sei o motivo para que não o faça, só sei que apenas perco o interesse. Não me lembro quando isso começou, mas quando eu percebi já era tarde demais para tirar isso de dentro de mim. Sufoco-me em minha própria negligencia. Um querer que nunca poderá ser concluído; [...]

Ultimamente as coisas não estavam saindo do jeito que precisava, deixava as coisas por fazer, concluía até a metade e depois ia fazer outra tarefa que acabava por se tornar inacabada. Quantas vezes fizera isso? Sim, sua vida toda. Provas a serem terminadas eram entregues sem respostas concretas, suas notas – apesar de ter um Q.I muito maior do que sua idade permitia – eram razoavelmente boas, sua vida... Intensamente mal resolvida. Como uma equação de matemática onde se erra o número y assim ele estava.

Achava tudo problemático demais para se concluir, perdia o interesse nos objetos, nos lugares, nas coisas. Prometia terminar, mas de tanto prometer... Perdeu o interesse. Como num irritante romance entre uma mulher de quarenta anos e um amante de quinze, simplesmente o interesse se perdia. Era muito pouco esforço para muita vontade. Estava desmoronando em seu próprio mundo. Estava perdendo-se em seu próprio desafeto.

[...] Já faz tempo que não concluo algo, eu queria concluir, eu queria terminar, eu queria... Só queria... Queria poder ter dado um fim ao nosso relacionamento, Sensei. [...]

Só o além poderia dizer com a exata certeza as coisas que ele deixara por fazer, só o altíssimo poderia expressar com suprema exatidão a sua enorme falta de interesse nas coisas que ainda estão largadas, abandonadas em um canto esperando para serem concluídas. Mas seu corpo não permitia tal ato, sua mente desvalorizava qualquer indicio de vontade, sua alma clamava por mais alguns minutos deitada na cama macia e afofada. O universo girava ao seu redor, mas ele continuava parado – como se aquilo não o afetasse de forma alguma.

- Muitas vezes temos que fazer o que não gostamos, para no fim termos o resultado de que gostamos ! – A frase sempre repetida pelo seu Sensei tornava-se viva em seus pensamentos, numa cruel e dolorosa lembrança. Talvez se tivesse terminado o que lhe fora ordenado não estivesse nessa lamentável onda de depressão.

Tudo começava a se tornar chato e inebriante para seus olhos. O origami por fazer, o jogo de xadrez a terminar, as letras flutuando em sua vista para finalmente pousar no papel em branco, o projeto a se finalizar... Tudo ali, em sua mesa. Tudo em perfeita negligencia de sua preguiça. Naquele estado até a vida estava se cansando de sua falta de vontade.

[...]E o pior de tudo, Sensei, é que eu tenho uma chama dentro de mim que me faz querer terminar tudo isso, mas ela se apaga quando meu interesse muda de foco... [...]

Você se deixaria levar por sua onda de preguiça ou talvez fosse lutar contra esse mar negro e voltaria com força e chama nos olhos para sua vida? Não, não foi isso que o gênio preguiçoso escolheu. Muitos diziam que por ser tão inteligente que era assim, acreditava que tudo a sua volta se tornava inútil e desinteressante se comparado com sua inteligência. Mas não se formava a partir disso o resultado para sua incompatibilidade com a palavra “Terminar”. Ia muito além.

- Se você deixar-se ser dominado por isso, nunca passara de um fraco, Shikamaru! – Suspirou pesadamente ao lembrar-se de como era tratado pela pessoa que mais admirava. Se soubesse que aquele relacionamento que começara seria mais um dos que não terminaria, nem teria iniciado a conversa. Se soubesse que seu interesse – inimaginavelmente – seria propenso a aumentar ao invés de, como sempre, diminuir... Nem teria se aproximado. E mais uma vez fora vencido pela preguiça, preguiça de entender por que sentiu necessidade de algo mais daquele homem que tanto admirava.

[...] As coisas estão se tornando tão... Tão... Chatas. Juro que tento entender esse meu desanimo com coisas antigas que estão para serem finalizadas, tento entender e, de tanto tentar entender, eu me canso. Assim que eu funciono, assim que sempre funcionarei. Um ser transbordando preguiça e indiferença. Me perdoa por isso, Sensei? [...]

Era como uma marcha da cavalaria. Começava animada totalmente empolgante, mas a medida que o som ia passando os cascos iam diminuindo a batida, o ritmo ia perdendo-se entre o ar e os gritos da multidão. Essa era a metáfora de sua vida. Sua empolgação para concluir ia sendo devorada à medida que os minutos iam passando, logo mais passava a ser devorada pelo intuito de: Que merda eu estou fazendo? Preciso dormir.

Uma mania que estava acabando com sua vida. Um jeito que desmoronava quaisquer possibilidades de se reerguer na vida. Precisava de ajuda; Ou nunca mais voltaria a ser um cidadão comum. Queria ter ligado para pessoas importantes, ter dito ao seu pai que terminara a faculdade, ou afirmar para sua mãe que finalmente se tornara um engenheiro; Mas nunca concluíra qualquer coisa. Estava de mãos atadas em sua própria maneira.

Mas um dia – incrivelmente – passeando pelos corredores de sua antiga faculdade – que também não fora finalizada – encontrou-se com seu professor de quintas-feiras. Naquele dia sentiu que poderia, sim, terminar algo. Desejava, ansiava começar um relacionamento com o homem em sua frente, queria tanto que o fez. Ele que o seduziu primeiro, ele que tocou primeiro, ele que se afogou naquilo primeiro.

[...] Me desculpe por sempre fazer as coisas desse jeito, estou me tornando insuportável, eu sei... Essa é a terceira vez que escrevo essa carta e, espero do fundo do meu coração, que eu consiga termina-la. Pelo menos isso, não é, Asuma? [...]

Ainda lembrava-se de como era quente e torturante o toque do seu professor. Mesmo a preguiça o dominando e o impedindo de se levantar da maldita cama para ir atrás do homem que não via há duas semanas, sua alma o fazia para si, mas as vezes até ela sentia-se preguiçosa com tantas coisas a fazer.

Era tanta preguiça, era tanto “Depois eu faço” que se acostumou a deixar a vida para lá. Acostumou-se a ver o ponteiro do relógio mostrar os dias corridos enquanto permanecia no passado bem antigo. Tinha preguiça de seguir em frente; Algo que começava a prejudica-lo. Quando a vontade vencia o ser dominante dentro de si ele saia para um passeio rápido – afinal sua vontade sobrevivia apenas cinco minutos – e notava como as coisas mudavam; como o mundo girava; como as pessoas seguiam em frente concluindo suas coisas... E ele ali, parado;

[...] Você se lembra daquela maquete do prédio futurista que eu estava fazendo? Pois é, eu teria gostado de ver o resultado final, mas não tenho certeza do motivo para não tê-la finalizado. Você lembra? [...]

O artigo de seu projeto, mesmo tendo se passado dois anos, ainda estava por fazer. A secretaria da faculdade até desistira de tentar ligar para o gênio preguiçoso entregar o mesmo. Os professores, mesmo sabendo da incrível capacidade e inteligência do mesmo, desistiam daquele poço afundado em indolência. Alguns amigos – que acabaram por ser classificados como algo a ser concluído – ainda tiravam o pouco de suas vontades para anima-lo, mas se cansavam daquilo. O taxaram como causa perdida.

Se duvidasse, até a morte relutaria para vir busca-lo.

E foi pensando em todos que tentaram lhe tirar daquele mar de ociosidade que decidiu seguir em frente, mas fora parado em meio a tudo aquilo e pensou “Isso é muito problemático.”; Seu problema em tudo o que fazia tornava-se um ponto a favor para aquilo que não queria. Não queria ser daquela forma, odiava não ter a chama que via em todas as pessoas que tentavam, tentavam e tentavam para conquistar o que lhes era de desejo. Na verdade, a única coisa que desejava era poder desejar sem ser impedido por seu pessimismo. Sim, ele era pessimista. Quando começava algo já acreditava que nunca o concluiria, pois assim seria.

[...] Queria te encarar um ultima vez e dizer que terminei algo que você mandou, que, finalmente, pude apertar o ponto final do melhor projeto que você já vira. De tanto querer, eu me esqueci do que realmente sou. [...]

- Posso? – Asuma, mais velho que si, pediu permissão ao segurar seu rosto. E assim o fez. Quebrou a distancia entre eles, esfregando seu corpo ardilosamente ao do outro, tocando-o pecaminosamente. Há muitos dias que passara a se imaginar com o outro, há muitos dias que sua mente dotada de uma inteligência sobre-humana tentava traquinar maliciosas formas para conseguir a atenção do mais velho. E, finalmente, a conseguira; O começo lhe fascinava, mas o final lhe entediava.

Remexeu-se tediosamente na colcha amarela, suspirando ao elevar seu tronco e sentar-se no colchão macio. Olhava de soslaio para as malas no canto de seu quarto, nem acreditava que o conseguira fazer. Um ponto positivo para sua vontade, mas ela não era a vontade que realmente desejava. Estava muito longe disso, muito longe do que queria. Estava começando a mudar de cidade, algo que iria concluir, iniciando uma passagem somente de ida. Iria embora e deixaria para trás suas coisas inacabadas, fugiria das coisas que imploravam por sua vontade. E, covardemente, iria fugir do relacionamento que – novamente – não conseguiria terminar.

Sentia o peso do mundo em seus ombros quando, incrivelmente, levantou-se da cama. Admirava, pelo menos, a vontade que tinha de concluir algo que não necessário. Se poderia fugir do que realmente importava, sentia-se bem em fazê-lo, mas aquilo o inundava com uma angustiante depressão de eu me odeio. Apenas queria terminar as coisas que começava.

Segurou firma e forte a mala em suas mãos e, desanimado, partiu em direção ao seu novo destino, ao seu novo mundo inacabado;

[...] Eu queria, pelo menos, terminar as coisas que começo antes de iniciar outra que não será concluída; Me desculpe, Sensei. [...]

E, lendo a carta com a letra redonda e perfeitamente escrita, saiu correndo em busca de seu aluno. Não poderia deixa-lo partir assim, sem nem um adeus definitivo. Não poderia deixar seu aluno – pelo qual se apaixonara – escorregar entre seus dedos por causa da excessiva preguiça que ele tinha para aceitar seus sentimentos.

Desde o começo entendera como funcionava a mente do gênio preguiçoso que causava estragos em sua sala, desde o começo compreendera a massa que necessitava ser moldada. Entendia e se fascinava por tamanho desapego a vida, era indiferente para seu aluno se poderia fazê-lo ou se não poderia, a empolgação proveniente de apenas um estalo do menor lhe dava acesso a um mundo onde nenhum outro ser o teria. Era incrível a forma como ele via as coisas e, talvez, se Shikamaru tivesse se aceitado da forma que era – preguiçoso – poderia ter, sim, concluído várias coisas.

Era apenas um projeto a ser moldado ao seu bel prazer, por esse motivo que se interessou. Por isso permitiu-se ser seduzido por aquele jeitinho, pela frase que sempre saía de seus lábios “Que problemático”, pelo jeito como coçava a nuca quando algo começava a desestimula-lo, pela forma como suspirava e dizia “Eu desisto”. Por essas pequenas coisas que estava correndo loucamente na direção que sua intuição gritava, por amar cada detalhe do gênio preguiçoso que corria tão desesperadamente em sua direção.

Por ama-lo demais que o queria tão perto de si!

Talvez por ser tão preguiçoso ele nunca fosse terminar consigo. Pelas coisas serem complicadas demais o gênio nunca teria vontade de distanciar-se de si, mas para isso precisava tê-lo ao seu lado. Para que ele não escapasse necessitava ter o menor em sua posse, para que o desejo dele de ir embora fosse vencido por sua indolência.

Foi gritando o nome do menor que entrou no aeroporto. Muitos que ali estavam o olhavam assustados, acreditando que se tratava de um louco, mas ele estava apenas em busca de quem se apaixonara. Buscava entre rostos desconhecidos e característicos de alguma região, a face de apenas um. A expressão preguiçosa e entediada de apenas um homem. A fala arrastada de apenas uma voz.

- Shikamaru! – Repetiu o nome há muito aprendido. Estava determinado a não ser mais um item deixado para ser terminado na lista do presunçoso aluno. E foi tropeçando em pessoas e empurrando outras que alcançou a área de embarque do aeroporto, entre caixas de alto falante que alertavam o embarque para o voo 179-D viu a única figura que demonstrava claramente sua preguiça em estar ali. Os olhos arregalados de seu aluno o fizeram entender que talvez, somente talvez, Shikamaru não queria estar embarcando e que, possivelmente, queria terminar as coisas que havia começado;

- Mais uma coisa que eu não concluo! Você acaba comigo, Sensei.


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Notas finais do capítulo

Booooom... Espero que tenham gostado *---* Comentários??? Onegai!
O que acharam? haha
beijos, até a próxima