Stormborn? escrita por Stemp


Capítulo 4
IV


Notas iniciais do capítulo

Sempre quis saber como era Valíria. Bem, não é a descrição do próprio Martin, mas espero que meus leitores não sejam tão exigentes. o/



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O mundo era tão grande lá de cima.

Drogon agitou suas asas nos céus de Valíria e uma rajada de vento sacudiu os cabelos de Dany. Estavam bastante longe da Frota de Fogo, e em determinada altura nada via-se abaixo exceto uma tênue nuvem branca.

Tyrion Lannister travava uma batalha sobre o dorso de Viserion. O pequeno e desajeitado homem encontrava-se agarrado ao pescoço creme do dragão. Dany olhou-o de seu Drogon. O Duende não gritou nem falou, mas em seu rosto o medo era claro.

Dany não tinha problemas para montar nos dragões. Fizera isso meia centena de vezesdesde que eles passaram a suportar seu peso em Meereen. No início era uma prática bastante difícil;omedo dominava-a mais do que a imperícia. Agora, sentia-se montada em um cavalo. Um cavalo alado e que cuspia fogo, e talvez cem vezes maior. A diferença era que o dragão quem a conduzia.

Lá do alto o calor não era tão intenso. O vapor quente que fumegava do mar não subia até tanto, tornando o ar lá em cima mais fresco. As orientações do Capitão Grunjar eram bastante claras, mas Dany esquecera-se delas no momento em que voara para o alto. Nada mais importava; nem o difícil trajeto que tinham de percorrer pelo Mar Fumegante, tampouco seus Sete Reinos.

As asas dos dragões eram tão grandes que reduzia o mundo, lá embaixo, em um simples rio cinzento. Dany afastara-se, com Tyrion e Viserion ao seu encalço, para dentro da grande ilha, para Valíria. Uma vez com o solo debaixo dos pés, e não o mar, o mundo mudara bruscamente. O solo era de um negro tão profundo quanto os olhos de seu Drogon. A terra era morta e ressequida, com esqueletos que a trezentos anos foram árvores, montes açoitados e transformados em cinzas, e os lagos que viram ainda borbulhavam da Perdição.

Dany olhou tudo que pôde com curiosidade ardendo nos olhos. Via-se apenas campos queimados e reduzidos a brasas apagadas, mas o que Dany ansiava era algo muito maior.

Tyrion Lannister gritou o máximo que seus pulmões de anão o permitiam, apontando para norte. Dany virou-se para contemplar uma vasta planície sem cor, sem árvores ou qualquer resquício de vida. Os dragões dificilmente se cansavam, mas era bom dar um descanso aos seus filhos depois de meio dia de voo. Drogon adiantou-se para a planície, e, quando pousou, o solo morto ameaçou rachar-se e ruir, mas não o fez. Viserion pousou mais ao lado, de peito aberto estufando ar.

Tem cheiro de morte e ossos, pensou Dany. O céu era envolto de uma nuvem cinzenta, e o sol nada mais era do que um círculo pequeno escondido atrás das nuvens; não se fazia tão calor, mas a sensação era sufocante.

– Seu povo deve estar preocupado, Vossa Graça – disse o anão aos gracejos, quando desmontou.

Dany não tinha pensado naquilo. Apenas deixara-se levar por Drogon e pelo vento. Às vezes era tão bom ser de novo menina.

– Voltaremos amanhã na alvorada. – Dany virou-se para inspecionar melhor o lugar. Nada havia para se olhar em um raio de centenas de léguas.

Tyrion olhou ao redor com seus olhos desiguais.

– Vamos dormir aqui? – quis saber o anão.

– Os dragões precisam descansar um pouco. Não quero sobrecarrega-los. Amanhã a viagem de volta deve ser longa.

O homem concordou.

– É sensata para sua idade, Vossa Graça. Arrependo-me não ter me unido à sua pretensão antes – Tyrion bamboleou-se ao encontro dela. Vestia um gibão de veludo que outrora ostentava o símbolo dos Lannister. Agora, via-se claramente onde o tecido grosseiro negro tampara o leão.

– Seus leões são bastante astutos, vejo bem. E você mais ainda. Escapou das garras afiadas como uma lebre – o Duende sorriu. – Mas cravou uma flecha bem fundo no maior deles, e agora os filhotes andam sem rumo pelos meus Sete Reinos, se o que dizem for verdade. Prestou um serviço ao bem do reino, Tyrion.

– Ao bem de todos. – Pelo tom de voz do homem, Dany viu que não se arrependia.

– Os cães do Usurpador estão mortos, e os leões em breve estarão também. Que resta pra mim quando chegar aos Sete Reinos? Terei chegado muito tarde? – a voz de Dany era melancólica.

O anão aproximou-se mais dela, com as costas apoiadas em Drogon.

– Os lobos nunca morreram. O verão os separou, e agora o inverno chegou aos Sete Reinos. Os lobos voltarão.

– Como tem tanta certeza? – interrogou Dany.

O Duende limitou-se a sorrir.

– Era tempo de verão; tempo de fogo, dos leões de Lannister. Mas o frio agora é certo, e os lobos sobrevivem. Que os deuses nos protejam. Os lobos são selvagens, e a caça é uma arte que fazem sem misericórdia.

O sol ainda brilhava quando Daenerys Targaryen emergiu para o alto. Esteve pensando no que dissera Tyrion, mas os pensamentos eram para lá de perturbadores. Ned Stark uniu as espadas às de Robert Baratheon para tirar meu pai do trono, Dany repetia para si mesma. Os homens que juraram proteger o rei; Lorde Arryn do Vale; Lorde Lannister do Rochedo, e o Stark de Winterfell. Estão mortos. Todos.

Os pensamentos de vingança fazia-a parecer com Viserys. Dany detestava quando isso acontecia. Acordar o dragão. Acabara por chegar à conclusão de que era o dragão, e inevitavelmente o animal tinha de acordar de vez em quando. Barristan contara-a, quando ainda estavam em Meereen, que ser Targaryen tinha os seus perigos.

– Durante o reinado do Rei Aerys, o seu pai, ouvia-se muitas histórias pelos Setes Reinos – dizia o velho. – Tem de me perdoar, Vossa Graça, mas o rei era um homem… difícil. Certa vez um cantor viera ao Trono de Ferro tentar amaciar seu pai. Rei Aerys detestava-os, mas recebeu o homem mesmo assim. O cantor tocara “O fogo do dragão”, uma canção desconhecida pelo o próprio Aerys. O rei gostou tanto que deu um dragão de ouro ao cantor. Depois, o homem atirou a moeda para o alto e pegou-a antes mesmo que caísse. Sempre que um novo Targaryen nasce, os deuses atiram uma moeda no ar e o mundo segura a respiração para ver de que lado caíra. Bem, todos sabiam qual era o lado da moeda de Aerys, e mesmo assim o cantor fora ousado o suficiente para dizê-lo.

– E o que aconteceu ao homem? – perguntou Dany, sentindo-se ingênua após feita a pergunta.

– O que sempre acontecia a quem desagradava ao Rei Aerys.

Fogo e sangue, Dany disse a si mesma.

– Seja sincero Barristan.

– Sempre fui, Vossa Graça.

– De que lado é a minha moeda? – perguntou Dany docilmente, mas com medo da resposta.

– São os homens que entalham suas próprias moedas – respondeu o velho, sabiamente. – Você quem escolhe de que metal será feita; prata, ouro, bronze? E que ferreiro a forjará? Seu pai tinha um temperamento ardente, tal como seus antepassados também tinham. Talhe-a do jeito que preferir, Vossa Graça, e mande fazer outra se lhe desagradar. Desde que esteja satisfeita com o resultado que obtiver.

O vento dançou nos cabelos de Dany, leve e pesado ao mesmo tempo. As primeiras estrelas da noite já salpicavam o céu negro.

Desta vez Dany não precisou ser avisada para ver.

Adiante, a fortaleza erguia-se tão alto que era capaz de tocar as nuvens. É tudo tão negro, pensou, contemplada. Tinha cem torres ou mil, Dany não sabia dizer. A maior parte estava enegrecida como uma vela queimada, com rombos no alto onde as bolas de fogo destruíram as paredes. Projetavam-se em diagonal para o solo, cada uma em uma direção diferente, e o lugar fez Dany lembrar-se do Trono de Ferro. Mil espadas forjadas das lâminas dos inimigos. As torres tinham tamanhos variados, algumas construídas por pura decoração. Dany imaginou o lugar a trezentos e um anos atrás, com meia centena de dragões rodeando a fortaleza de agulhas.

A Cidade Franca de Valíria podia ter sido magnífica em seu apogeu, mas agora reduzia-se a uma melancolia profunda. Uma grande ponte projetava-se para leste da fortaleza, com os pilares em arcos. Uma cachoeira, compreendeu. Lá embaixo, um buraco onde outrora havia um lago estava seco e com a terra rachada. As mansões mortas estavam por toda parte, e uma grande fortaleza com uma cúpula de vidro quebrada chamou atenção de Dany. Jardins suspensos percorriam a cidade, com rios em canais superiores e cachoeiras que caíam a centenas de metros abaixo. Um grande lago rodeava a Cidade Franca de Valíria, deixando-a em uma ilha de desolação.

O sol escondia-se por trás da fortaleza de mil torres, com o negro refletindo à luz. O céu era um misto de vermelho e laranja, com certo violeta que era dos Targaryen. Dany não imaginou cores mais apropriadas. Do alto do céu Drogon agitou as asas e silvou, e Viserion uniu sua voz ao chamamento. Eles compreendem. Por baixo daquela terra podre os dragões dormiam em seus túmulos de ossos. Se fosse capaz de trazê-los a vida novamente… Dany teria quantos tronos de ferro quisesse, e uma fortaleza de agulhas diferente para abriga-los. Valíria renasceria e o mundo se curvaria ao seu poderio.

Mas Dany só tinha três, e o seu mundo eram os Sete Reinos de Westeros.


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